Elano se despede do Fla: "Foi uma decisão muito difícil de ser tomada"
Meia
admite rendimento abaixo do esperado, deixa futuro em aberto, revela
prioridade de jogar fora do país e admite que agressão a André Santos
pesou em sua decisão
Por Cahê MotaRio de Janeiro
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Uma passagem sem brilho, com muitas lesões e um título. Elano encerrou nesta quinta-feira sua história pelo
Flamengo.
Vestido com a camisa do Bom Senso FC, o meia fez questão de dar uma
entrevista de despedida no Ninho do Urubu para explicar os motivos que o
levaram a procurar a diretoria para encerrar o vínculo que iria até o
fim do ano. E as razões principais foram a vontade de estar mais próximo
da família, o rendimento abaixo do esperado confesso dentro de campo e a
postura de parte da torcida, que o ameaçou no embarque para Porto
Alegre, antes da derrota para o Internacional, por 4 a 0, e agrediu
André Santos na saída do Beira-Rio.
Elano concede última entrevista como jogador do Flamengo (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
A
partida contra o Colorado, por sinal, foi a última em que Elano foi
relacionado pelo Flamengo. Do banco de reservas, viu a goleada e sentiu
que deveria seguir outro rumo. Ainda em Porto Alegre, o jogador procurou
a diretoria rubro-negra para informar a decisão de antecipar o fim de
sua passagem pela Gávea. Os termos da rescisão apontam um
acordo com
os cariocas e o Grêmio, com quem também tinha vínculo até o dezembro,
para o pagamento de parte dos salários - o meia abriu mão ainda de um
pré-contrato que duraria todo o ano de 2015 com o Fla.
Queria ser mais útil, mas no momento não estava conseguindo fazer o que o
Flamengo queria. Não quero atrapalhar o trabalho de ninguém".
Elano, sincero
-
Há algum tempo eu tenho passado por muita coisa pessoal e profissional.
Tive algumas conversões e minha maneira de viver hoje é muito diferente
do que era. Quero me voltar para o lado social, para pessoas que
precisam, e senti que não estava rendendo como rendia. Isso estava me
fazendo mal. A decisão foi tomada e não tenho nada para fazer, não tenho
clube nenhum. Foi uma decisão para recomeçar. Esse é meu
ponto de equilíbrio
ao lado da minha esposa e filhas. Acho que estou precisando deste
momento, seja uma semana, dez dias, 20 dias. Isso só Deus sabe. Estou em
paz e com o coração tranquilo. Queria ser mais útil, mas no momento não
estava conseguindo fazer o que o Flamengo queria. Não quero atrapalhar o
trabalho de ninguém. Já tinha tomado a decisão antes do Vanderlei
chegar e não poderia voltar atrás, mesmo sabendo que é um amigo que
seria importante neste momento.
Elano fez questão de ressaltar que não generaliza as críticas para torcida do Flamengo, mas que o ato de uma minoria no
fim de semana da partida contra o Inter foi levado em conta em sua decisão. Episódios como a agressão a André
Santos,
inclusive, o fizeram refletir a respeito do momento vivido pelo futebol
brasileiro, quando o meia cobrou maior união, elogiou o movimento Bom
Senso FC e prometeu maior envolvimento na causa.
- Com certeza
pesou também. Minha maneira de não se manifestar é porque não posso
julgar uma torcida de milhões por 15 pessoas. Mas não me deixa contente,
não vou compactuar, é claro. Só que não vou julgar uma torcida que é a
maior do Brasil por 15 pessoas. Tenho que ter cuidado e não quero
criticar a torcida do Flamengo, mas pesou para que tomasse a decisão
também, principalmente o que aconteceu com o André. Há muitos amigos
flamenguistas, pessoas que conheci que merecem o meu respeito.
O agora ex-jogador do Flamengo revelou não ter definido o
futuro
e deseja um período de reflexão ao lado da família e mais próximo de
projetos sociais que tem em mente. A preferência, no entanto, é seguir a
carreira fora do Brasil. Confira abaixo toda entrevista coletiva de
Elano:
Pronunciamento- Foi uma
decisão muito difícil de ser tomada, mas acho que foi importante para
mim. Foi algo decidido com muita calma, coração tranquilo e em família. A
minha maneira de ser sempre foi entrar e sair pela porta da frente,
qual fosse a situação. Quero agradecer ao Flamengo, a todos que fazem
parte do clube, pelo tempo que tive aqui. A gratidão é grande. Às vezes,
o trabalho dá certo ou errado, mas a alegria é ter cumprido minhas
obrigações como profissional. As coisas não saíram como quis, conversei
com o Felipe Ximenes após o
jogo com
o Inter e precisava tomar uma decisão para mim e para o Flamengo. Foi
algo que partiu de mim e agradeço a diretoria que cumpriu tudo que foi
prometido. Saio daqui com muitos amigos.
Busca por recomeço-
Há algum tempo eu tenho passado por muita coisa pessoal e profissional.
Tive algumas conversões e minha maneira de viver hoje é muito diferente
do que era. Quero me voltar para o lado social, para pessoas que
precisam, e senti que não estava rendendo como rendia. Isso estava me
fazendo mal. A decisão foi tomada e não tenho nada para fazer, não tenho
clube nenhum. Foi uma decisão para recomeçar. Esse é meu ponto de
equilíbrio ao lado da minha esposa e filhas. Acho que estou precisando
deste momento, seja uma semana, dez dias, 20 dias. Isso só Deus sabe.
Estou em paz e com o coração tranquilo. Queria ser mais útil, mas no
momento não estava conseguindo fazer o que o Flamengo queria. Não quero
atrapalhar o trabalho de ninguém. Já tinha tomado a decisão antes do
Vanderlei chegar e não poderia voltar atrás, mesmo sabendo que é um
amigo que seria importante neste momento.
Aposentadoria-
Não passa pela minha cabeça encerrar a carreira porque não me sinto
tecnicamente inferior para fazer o que sempre fiz. Foi mesmo um desgaste
de tudo que ocorreu nesse tempo todo e o maior prejudicado fui eu.
Estou me sentindo leve, organizando tudo que tenho que organizar na
vida, e não tenho problema em recomeçar. Estou com o coração em paz e
livre para seguir o meu caminho.
Recado para o torcedor-
Vou falar para o torcedor que quero ser útil, fazer o que o torcedor
espera, e no momento da decisão eu não estava jogando, não estava sendo
útil. Ser criticado jogando, é uma situação. Ser criticado não jogando, é
outra situação. Ninguém me deu nada, eu conquistei as coisas. Peço
desculpas pelo que não deu certo e fui feliz no que deu certo. Tenho
certeza que o Flamengo vai sair dessa situação. Neste momento, preciso
pensar um pouco na minha família e em seguir a vida.
Peso da família na decisão-
A maior resposta do ser humano é quando toma uma resposta com o coração
em paz. E é isso que está acontecendo. Por trás de mim tem minha
esposa, minha mãe, meus pais, que não vejo há quase seis meses. Vejo
pouco minhas filhas. Com 33 anos, me sinto apto para fazer tudo normal. É
uma série de fatores que pesam. Quando não se consegue fazer o melhor
dentro do campo, não tem como se sentir bem. Hoje me sinto leve para
continuar minha vida. Quero fazer o bem para minha família, estar mais
próximo do que estava, além dos projetos sociais.
Decisão após derrota para o Inter-
Tive uma conversa com o Ximenes no quarto em Porto Alegre e falei com
ele tudo que sentia. Foi uma conversa muito produtiva. O que acontece
vendo de fora é o individualismo que existe em nosso futebol, é algo
muito grande. Precisamos rever os conceitos que estão sendo criados.
Nosso futebol está regredindo a cada dia. Tomo a decisão sendo crítico
ao ponto de que não estava fazendo o que posso, que poderia melhorar. O
problema do Flamengo não sou eu, somos nós, um grupo de 30 jogadores.
Futuro fora do Brasil-
Várias situações podem ser criadas, no Brasil ou fora do Brasil. No
Brasil, vou dar uma pensada, mas pretendo sair, ir para fora. Minha
decisão não foi sair daqui e ir para outro clube. Não vou fazer isso.
Vou para minha casa, curtir a minha família, tomar a minha decisão... Se
não acontecer, paciência. Olho para trás e minha carreira foi
produtiva. Olho para trás e tenho só amigos. Só deixei amigos, boas
impressões. Estou livre para jogar em qualquer lugar, mas não quero
cometer os mesmos erros que cometi. Quero chegar inteiro para fazer um
trabalho.
Várias situações podem ser criadas, no Brasil ou fora do Brasil. No
Brasil, vou dar uma pensada, mas pretendo sair, ir para fora. Minha
decisão não foi sair daqui e ir para outro clube. Não vou fazer isso".
Elano, visando um retorno ao mercado do exterior
Crítica a classe de jogadores- Acho que o jogador brasileiro é completamente desunido. Tem o movimento do
Bom Senso, que briga por questões importantes. Os
atletas
têm que respeitar quem está ali na frente e não precisa passar por
certas situações quando tem um monte de jogador escondido, sem meter a
cara. Tem a situação do
Botafogo,
um não recebe, outro não recebe, e todo mundo acha que é normal. Não é
normal. Tanta gente perdendo a vida e dizem que acontece. Não quero mais
compactuar com isso. Melhor eu ir para minha casa, é minha decisão. Tem
caras que eu conheço há tanto tempo e estão na frente do Bom Senso e
tem um monte nem aí. Está tudo normal no nosso futebol hoje em dia.
Sempre cumpri minhas obrigações.
Ofensas da torcida e agressão a André Santos-
Com certeza pesou também. Minha maneira de não se manifestar é porque
não posso julgar uma torcida de milhões por 15 pessoas. Mas não me deixa
contente, não vou compactuar, é claro. Só que não vou julgar uma
torcida que é a maior do Brasil por 15 pessoas. Tenho que ter cuidado e
não quero criticar a torcida do Flamengo, mas pesou para que tomasse a
decisão também, principalmente o que aconteceu com o André. Há muitos
amigos flamenguistas, pessoas que conheci que merecem o meu respeito.
Má fase-
No Santos, foi uma opção minha sair por tudo que aconteceu. Em um ano,
ganhei a Libertadores e dois Paulistas, sendo artilheiro em 2011. No
Grêmio e no Flamengo, acho que poderia ter sido melhor, às vezes por
tudo que foi acontecendo. Minha vida foi reconstruída, e você passa a
cada dia por situações que te constrangem. Não me vejo mal fisicamente.
Minha cabeça precisa desse momento, estou falando abertamente. Abri mão
do meu contrato de 2015, podia ficar aqui, em casa, jogar futevôlei, mas
isso não me completaria. Quero estar bem para fazer tudo que posso. Com
essa parada, com certeza voltarei melhor do que estava, quando buscava,
buscava e não tinha seguimento. Meu forte sempre foi a regularidade.
Aqui no Flamengo e no Grêmio, sempre fazia dois bons jogos, um mais ou
menos e outro não tão bom.
O que fazer no primeiro dia desempregado-
Acordar meio-dia amanhã. Esperar minha filha às 15h para almoçar. Aí,
está nas mãos de Deus. Estou muito tranquilo, completamente em paz. Foi
uma das melhores decisões que tomei na vida. Já decidi muito para o lado
errado. Agora, é correto porque tomei a decisão para minha família. E
isso eu não largo.
Ajuda ao Bom Senso-
Jogando ou não, agradeço a Deus todo dia pelo dom de jogar futebol.
Pensava todo dia se não estava sendo ingrato. Não sou um cara presente
no Bom Senso, mas procuro ajudar com minhas ações, atitudes. Percebo que
o Juan, o Alex, o
Paulo
André e o Dida estão à disposição toda hora. Quero reconstruir minha
parte humana, voltar a estudar, estar no meio do futebol, e ver se
aparece algo fora, onde o caminho é mais organizado, o calendário.
Despedida do elenco-
Dei um abraço em cada um e agradeci por ter feito parte do Flamengo.
Caminho que segue. Desejei sorte a todos eles e fico feliz. Espero ter
ajudado aos mais jovens, é sempre bom deixar algum legado.
Rio de Janeiro-
Aprendi a conhecer o Rio de Janeiro, o carioca de perto. Tenho grandes
amigos aqui. Fiquei muito feliz pelo tempo que estive aqui. Conheci
alguns lugares que eu não conhecia, pude ganhar o Estadual, e tiramos de
cada lugar o que é bom.
Novamente Bom Senso-
É importante não só quem está em atividade, mas também quem é ex-atleta
e tem uma força muito grande. O Romário agora faz parte. É uma alegria
muito grande e é desse tipo de coisa que precisamos. Que coisa bonita
foi a nossa Copa do Mundo no Brasil. Há coisas que acontecem nos clubes
que são prejudiciais ao nosso futebol, cada vez estamos revelando menos,
e isso é algo que terá interferência lá na frente.