De férias, Barboza Jr. faz balanço do ano e não descarta troca de categoria
Dono
do terceiro melhor nocaute da história do UFC, lutador descansa em Nova
Friburgo e relembra a temporada em que disputou três lutas e venceu
todas elas
Por Felipe BasilioNova Friburgo, RJ
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De volta para casa e com histórias boas para contar. Essa é a sensação do lutador
Edson Barboza
Júnior depois de viver um ano de 2013 praticamente impecável na
categoria leve do UFC. Após três lutas e três vitórias, o friburguense
está na terra natal, aproveitando as férias com a família. Um momento
incomparável e raro para o lutador, que não passava o Natal e réveillon
em Nova Friburgo há pelo menos cinco anos.
Entre o período de
descanso, Juninho, como é conhecido na cidade, conversou com a equipe do
GloboEsporte.com. A entrevista foi na mesma academia que o lutador
arriscou os primeiros golpes. Ele chegou à pé, refazendo o mesmo caminho
de quando treinava e buscava o sucesso. Ao lado, o pai, Seu Edson, que
acompanha o filho em todos os momentos e sofre em dias de luta.
Edson
Barboza em frente ao quadro com a sequência do seu nocaute, considerado
o terceiro melhor da história do UFC (Foto: Márvio Filho)
Na
entrevista, um Edson bem autêntico, sincero nas palavras. Ele falou
abertamente sobre a troca de time (saiu da The Armory, em meados de
2012, e foi para a Ricardo Almeida & Valor MMA) e dos desafios após
a derrota para Jamie Varner, no meio de 2012. Edson também falou da
possibilidade de descer de categoria e ir para os penas: "Por que não
tentar?". E, como bom brasileiro e amante de futebol, falou da torcida
fanática pelo Botafogo. A íntegra da entrevista você confere abaixo.
Confira abaixo a entrevista completa com Edson Barboza Júnior.
Como está sendo esse período em nova Friburgo? É um momento pra descansar?É
uma bênção mesmo, estar junto da família e dos amigos. Descansar um
pouquinho, eu já acordo e vou para a academia. É bom demais, estar junto
com todo mundo, não tem nada melhor do que isso, estar junto das
pessoas que realmente estão junto comigo.
O que Nova Friburgo tem que os EUA não tem, e que fazem você vir pra cá sempre que tem um tempo?É
a família e os amigos. Estou nos EUA há cinco anos e até falei com meus
pais que não havia nada melhor que estar com eles. Já era o quarto ou
quinto natal que não passava com eles, e dessa vez estivemos juntos. Não
há nada igual. Não tem título do UFC nem dinheiro que compre esse fato
de estar junto com a família, essa é a maior bênção que Deus me deu.
Edson Barboza sofreu, mas conseguiu derrotar Danny Castilho (Foto: Getty Images)
No último dia 14 de dezembro você venceu Danny Castillo após quase ser nocauteado. Aquele foi o seu duelo mais difícil no UFC?Sinceramente,
acho que não. Até porque em nenhum momento eu temi que a luta poderia
acabar. Foi um flash muito rápido quando ele me acertou, eu fiquei no
chão, meio tonto, mas eu voltei, consegui acordar, saber onde eu estava e
o que estava fazendo. E dali para frente eu estava no controle. Ele me
acertava, mas eu pensava, olhava pro relógio, ouvia os treinadores. Isso
acontece muito nos treinos, e a gente aprende a lidar com essa
situação. Quem assistiu ficou realmente muito nervoso, mas para quem
treina passa por isso todos os dias, foi só mais uma vez, algo normal.
E então, qual foi a vitória mais difícil?Foi
contra o Anthony Njokuani (nigeriano, no UFC 128). Ele tem um estilo de
luta muito parecido com o meu, e eu machuquei o joelho faltando um mês
para o combate. Fiz um mês de treinamentos muito ruins. Não conseguia
correr nem chutar. A luta também foi bem difícil. Por tudo o que
aconteceu essa foi a mais difícil.
Depois da luta contra o
americano Danny Castillo, Dana White, chefão do UFC, declarou que o
combate deveria ter terminado empatado. Como você recebeu essa
declaração?Ele fala o que ele quiser. Muita gente me
perguntou sobre isso. Sinceramente, se eu achasse que a luta deveria ter
terminado empatada eu falaria, mas eu vi a luta, e em hipótese nenhuma
poderia ter terminado com empate. Ele realmente me acertou mas não me
deu um knock-down, ficou por cima me batendo. No segundo round eu
consegui um knock-down, tentei finalização... Eu tentei ver com os olhos
deles, ver o empate, mas não consegui.
O seu nocaute
contra Terry Etim, no UFC 142, foi eleito o terceiro mais bonito da
história do UFC. Como foi receber essa notícia?É sempre
bom colocar o nome na história do evento. São 20 anos de UFC, e eu
estou lá entre os melhores de todos os tempos. Muita gente fala disso
ainda, mas já passou, eu sempre penso no futuro. Fico feliz, mas estou
pensando no futuro. Foi legal, colho frutos até hoje daquele nocaute,
mas estou sempre pensando no futuro.
Terry Etim jamais esquecerá do chute que levou de Edson Barboza no UFC (Foto: Getty Images)
Dentro
do octógono os adversários já olham pra você com respeito por conta
desse chute rodado. Essa virou sua marca, sua identidade? E você tem
aprimorado esse golpe?Acho que não é uma identidade. Eu
sou um lutador de artes marciais mistas, sou mais completo do que as
pessoas imaginam. Vou ter oportunidade de mostrar meu jiu-jítsu, meu
wrestling. O chute rodado é um golpe que eu faço muito bem, mas as
pessoas podem esperar coisas novas. Cada luta vai ter um Edson Barboza
diferente.
Em maio de 2012 você sofreu a primeira derrota
no UFC, por nocaute, contra o americano Jamie Varner. Como foi lidar
com a derrota naquela época? Teve muita pressão?
O que aconteceu de melhor na minha carreira foi aquela derrota (para Jamie Varner, em maio de 2012)".
Edson Barboza Júnior
Muitas
vezes as pessoas acham que a vitória é o melhor que temos no momento.
Eu posso falar que a melhor coisa que aconteceu na minha carreira foi
aquele resultado. Depois daquilo, foram três lutas, três vitórias, dois
nocautes, uma melhor luta da noite. Existe muita diferença para o Edson
Barboza de hoje. Nós trocamos tudo: treinador, estado... Eu não sentia
até o momento da derrota, estava tudo dando certo, mas depois eu vi que
tinha alguma coisa errada. Abriu os meus olhos. Eu treinava em um lugar
bom, mas faltavam parceiros de treino de alto nível. Eu precisava
treinar com pessoas melhores, de sparring melhores. Deus faz as coisas
certas e me deu o prazer de conhecer o Frankie Edgar, em New Jersey, o
Ricardo (Almeida, treinador). Troquei tudo e arrisquei. Tenho certeza
que fiz a coisa certa. O que aconteceu de melhor na minha carreira foi
aquela derrota.
Você pensa em revanche contra ele?Sempre.
Eu tive oportunidade de estar com ele. Hoje eu vejo o combate, vejo
várias coisas que eu poderia ter feito. Mas é luta, de repente acontece e
ele me ganha de novo. Tudo pode acontecer mas, se a gente lutasse eu
ficaria muito feliz. Eu sei que posso superá-lo.
Treinar com Frankie Edgar te dá uma bagagem maior?Sem
dúvidas, o cara é o ex-campeão da minha categoria. Sempre que treino
com ele eu lembro que o cara já bateu em quase todo mundo. E eu treino
com ele de igual para igual. Por treinar com ele, eu sei do meu nível.
Treino com os melhores do mundo. Isso faz muita diferença.
Aqui
na academia existe um projeto social que leva o seu nome, e que ensina
artes marciais para crianças. Como essa iniciativa pode contribuir para a
formação desses jovens?O que a gente está menos
preocupado aqui é em formar um lutador. Nosso objetivo não é esse. Pode
aparecer um, vou ficar muito feliz se isso acontecer, mas nosso objetivo
é tirar as crianças das ruas, dar uma oportunidade. A
grande
maioria não tem condição de pagar uma aula de artes marciais. A gente
deixa todo mundo brincar, se divertir. No fim do treino, ainda tem
lanche para todo mundo. É uma coisa muito pequena pelo que eu queria
fazer, mas no futuro a gente vai poder fazer mais.
E pro ano de 2014, qual a expectativa? Você planeja enfrentar um top 10 dos leves ou, talvez, descer para a categoria dos penas?
Então,
eu viajo dia 14 e vou direto pra New Jersey treinar. A expectativa é
ótima. Esse ano foi muito bom, abençoado, não me machuquei. Continuo nos
leves, mas se tiver boa proposta... Conversei com meu treinador, meu
empresá
rio. Tive uma
proposta boa de descer e chegar perto do cinturão, e por que não tentar?
Mas meu foco é na categoria dos leves, certamente é a mais difícil e
concorrida do UFC. Eu sei do meu potencial e creio em Deus. Ele sabe o
que faz e tem o melhor pra mim.
Você é torcedor assumido do Botafogo. De longe, como você está vendo esse momento do alvinegro, voltando à Libertadores?Eu
tento assistir ao máximo que eu consigo. Pelo fuso horário fica difícil
de acompanhar os jogos. Mas estou sempre acompanhando no Twitter e,
quando dá, eu assisto. Sou brasileiro, não tem como não torcer pro nosso
time e secar os outros. A expectativa é boa, sou botafoguense, a gente
não desiste nunca, vamos acreditar sempre. Nos últimos anos a gente
acreditou e deu tudo errado, dessa vez, pelo menos, nos classificamos
pela Libertadores. Vamos continuar torcendo.
Como você define hoje o lutador Edson Barboza Jr.? É um lutador completo?Com certeza. É um lutador completo, e que ama o que faz. Eu amo meu trabalho, pode ter certeza disso.