terça-feira, 15 de abril de 2014

"Vagabundo genial": Dener, garoto endiabrado em todos terrenos da vida

A personalidade difícil, que lhe rendeu uma detenção, foi moldada no carinho de casa, na dureza das ruas e na ausência do pai: "Não podia dar colher de chá", diz Leão

Por Rio de Janeiro
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Header_DENER (Foto: Infoesporte)




Tico deixa escapar um sorriso na maior parte do tempo em que lembra de Dener. Ex-ponta-direita da Portuguesa e um dos melhores amigos do craque, ele viu o “Reizinho do Canindé” em sua essência: desde a arte dos dribles e gols fantásticos até as travessuras e rebeldia do garoto que conheceu aos 12 anos. Foi ainda no dente de leite, em amistoso da Lusa contra o Vila Maria, um clube que era mais conhecido pelas disputas de futebol de salão na Zona Norte de São Paulo, que Dener se destacou e chamou a atenção do seu Pixú, falecido olheiro da Portuguesa que à época o levou para o Canindé.
- Ficamos amigos de cara - lembra Tico, hoje com 43 anos, e coordenador de uma escolinha de futebol na Freguesia do Ó, em São Paulo.
Era o início de uma trajetória marcada por uma ascensão fulminante, muita arte dentro de campo e, na mesma medida, polêmicas fora das quatro linhas.
- Ele andava com os meninos de mais idade, saía com eles para as festas - conta Vladimir Huertas, que foi treinador de Dener no Vila Maria.
O garoto aprontava e brilhava quase que com a mesma intensidade. 
- As irmãs dele vinham ver os jogos, às vezes, não era só para vê-lo jogar, mas para saber dele, porque ele não dormia em casa. Queriam ver se estava aqui mesmo – lembra o ex-técnico de futebol de salão. 
PESO DA AUSêNCIA PATERNA
Especial Dener - Time Vila Maria (Foto: Reprodução)Agachado, no Vila Maria, onde chegou a ser suspenso por indisciplina (Foto: Reprodução)
Filho da dona Vera Lúcia, que era cozinheira numa escola municipal próximo à Vila Ede, onde o garoto nasceu e cresceu, Dener mal conheceu o pai, de quem sua mãe se separou antes de o menino nascer e de quem o craque ficou órfão aos nove anos. Para muitas pessoas entrevistadas pelo GloboEsporte.com, a ausência paterna é fundamental para entender a personalidade controversa do garoto. 
- Dener era brincalhão, sorridente, mas tinha um ar meio triste, acho que era essa coisa de não ter conhecido muito o pai - conta Tico.
Amigo desde o início da Portuguesa, ele define o enigma em torno da história de seu Wilson, pai de Dener, como “segredo de família”. A tia Vanda, irmã de dona Vera, não vê um vazio na falta do pai na vida do garoto. Para Dener e para a família, o avô José Lourenço foi quem virou um pai para ele - assim como Seu Pixú, que o levou para a Portuguesa. 
Luciana Gabino pensa diferente e acha que Dener sentia falta do pai que conheceu pouco.
- Ele falava que queria dar tudo para os filhos dele. Queria ser o pai que ele não teve. Dener fazia de tudo pelos filhos - lembra a viúva de Dener, que o conheceu com 13 anos - ele tinha 15, idade de quando começaram a namorar.
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a DETENÇÃO
“Bicho esperto”, segundo descrição de Cristóvão Borges, técnico do Fluminense que jogou no meio de campo da Portuguesa no início da carreira do craque, Dener chegou a ser preso com outros cinco garotos menores de idade em 1987. A passagem é desconhecida da biografia do jogador e um ponto delicado para muitos dos personagens ouvidos pela reportagem comentarem.
Dener foi detido junto com outras cinco pessoas e levado para a 9ª Delegacia de Polícia de Carandirú, na Zona Norte da capital paulista. A detenção ocorreu no dia 17 de outubro de 1987, quando Dener tinha 16 anos e já era jogador de destaque da base da Portuguesa. 
Nos arquivos do processo no judiciário de São Paulo, aos quais o GloboEsporte.com teve acesso, consta o seguinte relato no boletim: “o menor foi orientado e advertido e convidado para uma vez por mês aparecer na Divisão de Apoio ao Menor na Comunidade Posto Norte. Frente ao exposto, considerando que o menor é primário, não denota vivência infracional, pareceu-nos sincero no discorrer de seu relato de que não participou do ato de furtos e danos, demonstra ser oriundo de família de boa índole, onde os membros são ativos. Não permaneceu em nenhuma unidade da FEBEM”. 
José Carlos, o Taquá, ex-jogador da seleção brasileira de futsal, era um dos amigos do futebol nessa época e foi quem o ajudou a logo deixar a delegacia. A pedido da mãe de Dener, Taquá foi até José Rubens, diretor do Colégio Bilac, onde o futuro craque estudava e jogava futebol de salão. “Rubinho” assinou um termo de responsabilidade, e Dener foi liberado dois dias depois da delegacia, encaminhado para o programa de liberdade assistida da Febem. O adolescente foi levado durante seis meses, uma vez a cada 30 dias, para consulta com assistentes sociais e psicólogos da instituição de recuperação de menores de São Paulo.
- Ele ia porque seu Mário Fofoca levava. Ele fez muito pelo Dener - recorda o ex-atacante Sinval, hoje dono de motéis no interior paulista.
Mosaico Dener jornais (Foto: Editoria de Arte)Os jornais guardados do museu da Portuguesa refletem as polêmicas na carreira do craque (Foto: Editoria de Arte)


Tico atribui os momentos mais difíceis de Dener às más companhias e a um comportamento um pouco permissivo, apesar da personalidade forte. Lembra que, às vezes, o amigo estava na concentração - a dupla dividia quarto na Portuguesa - “sossegado”, mas o procuravam e ele não sabia dizer não.
- Ele teve problemas na infância. Aquela coisa de criança pobre, criada na periferia, acontecem algumas coisas. Ele tinha andado por uns lados meio tortos, teve essa parte da Febem, começou a fazer umas artes erradas, mas graças a Deus apareceu o esporte, aquele amistoso com a Portuguesa, que o tirou da Vila Maria, e ele subiu. Entre erros e acertos, conseguiu chegar longe - lembra Tico.
REBELDia e títulos na quadra
Edinho, ex-goleiro do Santos, filho de Pelé e um dos grandes amigos da vida de Dener, define os problemas num período da vida como casuais de um “rebelde sem causa”, de um moleque criado na rua, que já tinha passado por muita coisa na vida.
- Ele já tinha superado vários desafios, várias armadilhas que a vida oferece para jovens sem muita direção. Mas o futebol deu um norte para ele. Dener superou tudo através do futebol. Virou atleta profissional e era cobiçado pelo mundo inteiro - destacou Edinho.
Antes disso tudo, no Colégio Bilac, onde ganhou bolsa de estudos e foi reprovado na 1ª série do Ensino Médio em 1988, Dener era o craque de um time multicampeão. Também pudera. Na mesma equipe jogavam Gilmar (ex-zagueiro, com grande passagem pelo São Paulo) e Sandrinho (ex-jogador da seleção brasileira de futsal). Anos mais tarde, o garoto pobre da Vila Ede reapareceu de Mitsubishi Eclipse para visitar professores e diretores.
Especial Dener: Écio Pasca, ex-técnico (Foto: Arquivo Pessoal)Pelo Colégio Bilac, Dener confirmou o talento no futebol de salão (Foto: Arquivo Pessoal)
- Ele uma vez me procurou dizendo que ia cancelar a matrícula no colégio, porque não tinha dinheiro para a passagem. Conseguimos arrumar passe (transporte) para ele, que ficou. Passados quatro, cinco anos, ele aparece com aquele carrão e, se quisesse, poderia comprar o colégio - lembra Rubinho, diretor da escola.
Paparicado desde os primeiros dribles na carreira, Dener fazia jogadas geniais quase na mesma proporção em que causava arrepios nos dirigentes. 
Pepe, bicampeão mundial com o Santos de Pelé em 1962 e 1963, foi técnico da Lusa em 1993. Ele se diverte com as recordações do menino-craque do Canindé, a quem julga ser um dos cinco maiores atacantes de todos os tempos - no hall de jogadores como Pelé, Puskas e Eusébio.
- Lembro que o Capitão, que era um líder do grupo, me chamava: “Seu Pepe, não se preocupe se ele não aparecer, se não treinar, ele aparecendo para jogar já é um grande ganho para a gente. Precisamos muito dele”. De vez em quando, ele aprontava umas, sumia, mas não adiantava essa coisa de “Ah, vamos multar em 60%". Tive que me moldar a um tipo de comportamento de um jogador fora de série. E valia a pena. Porque ele resolvia - afirma o ex-ponta-esquerda santista.
ESTREIA COM LOPES e dura de leão
Antes de despontar na Copa São Paulo de juniores de 1991, Dener estreara nos profissionais da Portuguesa em 1989, com Antônio Lopes. O atual diretor de futebol do Atlético-PR foi responsável pelo resgate do garoto que se afastara da Lusa para jogar futebol de salão. Dener atuava em vários times na quadra de cimento. Tinha sido campeão diversas vezes de intercolegial pelo Bilac, campeão pelo Vila Maria, entre outras equipes que defendia e lhe pagavam bem melhor do que a Portuguesa.
- No futebol de campo, às vezes não tínhamos dinheiro para pegar ônibus, para ir para o treino. Eu jogava na General Motors já, o Dener foi para lá, saiu do Bourdon, já tinha passado pelo Água Branca. Era onde a gente ganhava dinheiro - lembra Taquá.
Sinval lembra bem desse tempo. Comparando com os dias de hoje, o ex-atacante, que brinca e diz que graças a Dener e Tico virou profissional (“eles me davam as bolas e era só eu botar para dentro”), diz que era uma diferença muito grande no pagamento.
Especial Dener - Écio Pasca técnico (Foto: Raphael Zarko)Écio Pasca, na Portuguesa, foi um treinador marcante na carreira de Dener
(Foto: Raphael Zarko)
- Se comparar com os dias de hoje, na base a gente ganhava uns R$ 200 por mês, por aí. No salão, Dener ganhava por jogo muito mais que o dobro disso. Então ele simplesmente sumia. Aí iam lá, buscavam-no, mas depois se aporrinhava e desaparecia de novo. Até que finalmente o valorizaram e prometeram pagar mais, ajudar a dona Vera. E ele ficou de vez - conta Sinval.
O presidente da época na Portuguesa era o deputado federal Arnaldo Faria de Sá. Em 1991, depois de vencer a Copa São Paulo de juniores em campanha brilhante, Arnaldo levou toda a garotada para o Planalto para encontrar o presidente Fernando Collor de Melo. O ex-presidente da Lusa cita como episódios de indisciplina as vezes em que o jogador forçava a barra para levar mulheres - “as loiras dele” - para a concentração. Dener chegou a morar em alojamento da Portuguesa, mas logo o clube alugou um apartamento para ele, para Luciana Gabino e para os filhos em São Bernardo, onde foi vizinho de Tico.
Uma vez ele (Dener) chegou no vestiário chorando, contou que estava com um amigo que tinha sido morto pela polícia. Falei para ele: "sorte sua que foi ele. Nessas horas a gente teme que seja você"
Leão
Centro das atenções da Portuguesa, Dener era o ídolo da garotada e assunto obrigatório da imprensa no Canindé. Como acontecia dentro de campo, os repórteres marcavam em cima o craque da Lusa e qualquer deslize já ia parar nas páginas de jornais. “Vagabundo genial” e “À procura de um rumo” foram algumas das capas da Gazeta Esportiva que questionavam a postura fora de campo de Dener.
- Não podia dar colher de chá para ele. Senão estava perdido - recorda Leão, que o cobrava na frente de todos. 
O treinador completa:
- Uma vez, ele chegou no vestiário chorando, contou que estava com um amigo que tinha sido morto pela polícia. Falei para ele: “Sorte sua que foi ele. Nessas horas a gente teme que seja você”.
Série especial
O GloboEsporte.com traz um especial para lembrar Dener e um webdoc sobre vida e morte do craque (assista no início da matéria). Depoimentos de amigos, família, ex-companheiros e técnicos. Casos dentro e fora das quatro linhas. Dribles e polêmicas. A história interrompida ainda nos seus primeiros capítulos.

Icasa consegue liminar na Justiça do Rio para disputar Série A do Brasileiro

Verdão do Cariri alega que volante Luan, do Figueirense, foi escalado de maneira irregular na partida contra o América-MG, no dia 28 de maio do ano passado

Por Fortaleza, CE
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Coletiva da diretoria do Icasa STJD (Foto: Raquel Oliveira)Icasa consegue liminar para disputar Série A do Brasileirão (Foto: Raquel Oliveira)
O Icasa conseguiu liminar na Quarta Vara Cível do Rio de Janeiro, nesta terça-feira, para disputar a Série A do Campeonato Brasileiro. A informação foi confirmada ao GloboEsporte.com pelo advogado do Verdão do Cariri, George Ferrucio, nesta tarde. A liminar foi concedida pela juíza Erica de Paula Rodrigues da Cunha. O prazo para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acatar a decisão é de 24 horas. Caso não a cumpra, a entidade será multada em R$ 100 mil por dia. A CBF pode recorrer da decisão. Uma nova audiência está marcada para o dia 31 de julho.
- O Icasa realmente conseguiu acesso à Série A. Isso é fato. Agora a gente só vai se pronunciar quando a CBF for notificada. Estamos providenciando para que isso aconteça hoje (nesta terça-feira) - afirmou George Ferrucio.
No último dia 7 de fevereiro, o Icasa entrou com uma ação no STJD alegando a escalação irregular do jogador Luan, do Figueirense, na partida da equipe catarinense contra o América-MG, no dia 28 de maio do ano passado, pela Série B. O Verdão reivindicava uma vaga na Série A com base em tal alegação, entretanto, o STJD arquivou o caso. O advogado do time cearense garante que o clube tem provas concretas para disputar a elite do Brasileirão, que começa em quatro dias.
- Conseguimos elementos robustos e convincentes para garantir o nosso acesso à Série A. Fomos à Justiça comum e temos uma confissão de que a CBF reconheceu a irregularidade na escalação do atleta Luan, do Figueirense, que tinha contrato com o Metropolitano. Feito isso, entramos com pedido de liminar e hoje, com a ajuda de Padre Cícero, que é muito forte, a liminar foi deferida, colocando o Icasa na Série A.
A informação também foi ratificada pelo diretor executivo do Icasa, André Turatto.
- A liminar existe. Não tem nenhuma novidade. É justamente sobre o que falamos da outra vez. Sabíamos que tínhamos direito e continuamos atrás deles - pontuou o dirigente.
Figueirense se cala, e CBFirá se pronunciar
O Figueirense, através da sua assessoria de imprensa, afirmou que não irá se posicionar até receber uma notificação oficial.
- O Figueirense não irá se pronunciar. Caso o clube seja notificado de algo, aí sim vamos nos posicionar. O Figueirense está pensando no Fluminense - pontuou.
A assessoria de imprensa da CBF informou que a entidade só irá se posicionar sobre o caso por meio de nota a ser publicada em seu site oficial
Entenda o caso
A diretoria do Icasa, 5º colocado da Série B em 2013, anunciou no último dia 7 de fevereiro que havia entrado com uma ação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para ganhar uma vaga na Série A do Campeonato Brasileiro. A alegação é de que o volante Luan, do Figueirense, foi escalado de maneira irregular na partida do clube catarinense contra o América-MG, ocorrida no dia 28 de maio, no Independência, em Belo Horizonte, pela Série B do ano passado. No entanto, a CBF afirmou que o jogador não estava irregular, e o STJD arquivou a denúncia.

Maluf anuncia que Atlético-MG desistiu de Anelka: 'Não é profissional'

Diretor de futebol do Galo lamenta falta de comunicação com o atacante francês, que era esperado em Belo Horizonte nessa segunda-feira

Por Belo Horizonte
Anelka já está no site oficial do Atlético-MG (Foto: Reprodução / Atlético-MG)Nome do atacante estava entre os jogadores no site do clube (Foto: Reprodução / Atlético-MG)
O diretor de futebol do Atlético-MG, Eduardo Maluf, descartou a contratação do atacante francês Nicolas Anelka. Segundo ele, o prazo limite para a apresentação do atleta era até a última segunda-feira, mas o evento em que o jogador se encontra no Kuwait prejudicou o fechamento do acordo.
Maluf afirmou que o nível de profissionalismo do jogador e de todo o seu staff fez com que ele e o presidente Alexandre Kalil tomassem a decisão de rescindir o contrato do jogador.
- Em nenhum momento conseguimos falar com o jogador. Falamos com o procurador e com o agente. A grandeza do Atlético-MG é muito maior do que o Anelka. Portanto, o Anelka é carta fora do baralho no Atlético-MG. A conduta dele mostrou que ele não é profissional.
Maluf explicou o andamento das negociações com Cristian Cazini, agente do jogador, Claude Anelka, irmão do atleta, e Robson Lima, intermediador do negócio.
- No fim de março o agente do Anelka estava no Rio junto com Robson Lima e nos colocou a possibilidade do acerto. No dia 4 de abril, quando emitimos a passagem do Anelka, do agente e do irmão dele, tínhamos um pré-contrato assinado pelo Cristian Cazini até dezembro de 2015. Vieram o Cristian e o Claude Anelka (irmão do jogador), chegaram a Belo Horizonte no dia combinado. Nos colocaram que havia um problema no embarque e que ele viria na semana seguinte. Ficaram em BH o Cristian, o Robson e o Claude. Visitaram o CT e foram a Lagoa Santa. O Anelka falou com Ronaldinho Gaúcho, disse que teve um problema, que o passaporte tinha problemas. Demos um limite para ele se apresentar, que era ontem (segunda). O presidente tuitou na sexta-feira, tinha tudo acertado. Hoje recebemos um email do Cristian, dizendo que o Anelka, que se tornou muçulmano, estaria participando de um encontro de muçulmanos no Kuwait. A grandeza do Atlético-MG é muito maior. Está cancelado. Vamos fazer uma representação contra o agente dele. Ele tinha a obrigação de nos confirmar do evento no Kuwait.
Anelka seria uma das opções do técnico Paulo Autuori para a sequência da Libertadores. Sem o acerto com o francês, Eduardo Maluf garantiu que não vai contratar outro jogador para o lugar do atacante. Com isso, apenas Emerson Conceição, lateral-esquerdo contratado junto ao Rennes-FRA, será inscrito para o mata-mata.
Atacante Anelka no avião (Foto: Reprodução / Twitter )Anelka esteve presente em um evento no Kuwait nesta segunda-feira (Foto: Reprodução / Twitter )

TCE aponta Maracanã superfaturado em R$ 67,3 mi e problemas na reforma

Tribunal de Contas do Estado lista falhas como assentos sem "resistência mínima" para uso, pagamentos indevidos e pede retenção de pagamento a construtoras

Por Rio de Janeiro
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De acordo com o relatório de auditoria do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), o Maracanã foi superfaturado. O documento aponta uma série de itens sem justificativa técnica ou suprimidos e substituídos com valor superior em um "jogo de planilha", somando R$ 67,3 milhões. O texto pede o cancelamento do pagamento desses valores às construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez. A reforma do estádio, orçada em R$ 705 milhões, tem custo final estimado em R$ 1,2 bilhão. O GloboEsporte.com teve acesso ao relatório que ainda está sob análise dos conselheiros do TCE-RJ, de acordo com a coluna "Radar", da Revista Veja, que divulgou o superfaturamento no último dia 12.

O documento ordena a notificação de diretores de órgãos públicos envolvidos na fiscalização e execução da reforma, como a Secretaria de Estado de Obras (Seobras), e a Emop (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro), enumerando questões que vão de controle deficiente a emissão de ordem de serviço sem aparo do projeto executivo. Hudson Braga, Secretário de Obras do Estado do Rio de Janeiro, é notificado para que seja feita, além de correções e possíveis reposições de corrimãos tubulares, uma adequação em função da instalação de grades não previstas no projeto inicial e correção de assentos instalados sem controle e "resistência mínima" para uso.
Montagem Maracanã auditoria (Foto: Reprodução)Relatório traz imagens de inspeções mostrando falta de padrão na instalação de assentos do estádio (Foto: Reprodução)


Grades e assentos

As divisórias para torcidas instaladas após a Copa das Confederações provocam pontos de visão obstruída na arquibancada, o que não é permitido pelo caderno de encargos da Fifa, ao qual o Maracanã supostamente deveria se adequar com a reforma bilionária. As orientações do TCE-RJ para Braga em relação às grades são melhoria do ângulo de visão para os espectadores em áreas contíguas às grades; eliminação de áreas não utilizáveis contíguas às grades; eliminação da "interface com os guarda-corpos de vidro que acarretam condição insegura aos usuários"; solução para a perda de função dos corrimãos devido à proximidade da grade; remoção dos parafusos remanescentes da retirada de assentos para instalação das grades, representando risco aos usuários.

Os demais itens das notificações ao secretário incluem ainda, além da retenção de pagamento, reparar muretas com rachaduras em frente ao acesso ao setor VIP do estádio; revisar as distâncias laterais entre assentos e corrigir o posicionamento dos que estão fora do padrão "demonstrando não ter havido controle na instalação das peças"; e revisar o sistema de fixação dos assentos "cuja instalação foi executada em desacordo com o projeto, conforme relatado no Relatório de Auditoria anterior (...) que evidencia não apresentar resistência mínima compatível com o uso".

Jogo de planilha
É ressaltado que novamente se verificam deficiências já constatadas em duas auditorias anteriores: "os projetos executivos continuam a ser desenvolvidos com expressas modificações na medida em que os serviços são realizados. Constatam-se diversas incompatibilidades entre os serviços em execução e os projetos disponibilizados, além disso, os projetos, frequentemente, apresentam-se desatualizados ou incompletos, impossibilitando a avaliação da obra como materialização do que fora projetado".

Trecho extraído da folha 763 do relatório de auditoria fala em artimanhas para promover alterações no projeto: "supressão de vários itens, sob a justificativa de não ter sido necessária a utilização daqueles serviços existentes na planilha orçamentária, bem como o ressurgimento de itens de serviço anteriormente suprimidos, com valores superiores àqueles licitados, evidenciando o moderno jogo de planilha". Na folha seguinte, são enumerados argumentos qualificados como "evasivos" para tais alterações, como "recorrentes e recentes determinações da Fifa" e "sobreposição de atividades devido à nova dinâmica da obra".

Inspeções e serviços inacabados


Ao discorrer sobre a situação física da obra, o texto cita inspeções "in loco" nos dias 9, 12, 16, 18 e 23 de julho de 2013. Mesmo depois da Copa das Confederações, a conclusão das inspeções foi de que, apesar do prazo de conclusão da obra ter sido para 25 de março de 2013, portanto antes da competição, constatou-se que "serviços ainda estavam em execução, diversos deles apresentavam defeitos e outros inacabados". Mais à frente, o texto ainda afirma que os serviços pendentes ou inacabados "permaneciam sem qualquer ação corretiva, constituindo risco à segurança dos usuários". No caderno de encargos da Fifa para a construção de estádios, a segurança dos usuários é frisada como prioridade máxima sob todos os aspectos.

Montagem Maracanã auditoria (Foto: Reprodução)Parafusos com protuberâncias à mostra são apontados como risco aos usuários do Maracanã (Foto: Reprodução)
Pagamentos indevidos

O item seguinte do relatório trata dos "pagamentos indevidos": "somente nesta auditoria foi medido e pago indevidamente um valor inicialmente apurado e sem correção de R$ 67.312.986,89". Segue então uma lista dos valores apurados:

- Limpeza por hidrojateamento 10.000 psi.: R$ 2.160.894,97
- Hidrojateamento abrasivo: R$ 8.178.066,79
- Limpeza por hidrojateamento 6.000 psi.: R$ 1.463.836,20
- Saturação SSS: R$ 8.953.713,63
- Revestimento com argamassa polimérica 5mm: R$ 9.542.776,03
- "Reforço" c/PRFC das arquibancadas Norte e Sul: R$ 20.370.748,55
- "Reforço" c/PRFC das plataformas 2, 4 e 6 das rampas 1 e 4: R$ 7.310.980,95
- Estruturas metálicas das arquibancadas: R$ 513.783,75
- Revestimentos de alto desempenho (RAD): R$ 8.818.186,02


O relatório de auditoria fala em "encerramento do contrato 101/2010" - acordo para projeto e execução da reforma do estádio - e avisa que será sugerido ao Secretário de Fazenda a retenção de créditos das empresas constituintes do Consórcio Maracanã Rio 2014.

Materiais incompatíveis


Outro trecho do documento aborda ainda a "utilização de materiais incompatíveis". Cita que um determinado tipo de piso foi detalhado para áreas de circulação, de serviço, técnicas e sanitários, a um custo unitário de R$ 38,28, que depois foi suprimido. "O Projeto Executivo definiu novos itens de serviço para essas áreas substituindo o sistema de pisos monolíticos minerais por piso monolítico polimérico", constando duas propostas comerciais: Na primeira, o custo seria de R$ 115,60 por metro quadrado e, na outra proposta, o valor seria de R$ 231,24. O documento diz que foi adotada a segunda alternativa com argumento "não aplicável tecnicamente".
Mosaico Maracanã auditoria (Foto: Reprodução)Maracanã, menos de um ano após reinauguração, tem infiltrações e rachaduras (Foto: Reprodução)