Dedé Pederneiras rebate críticas e diz que Barão não deve subir de divisão
Lutador, no entanto, passará por bateria de exames para
se certificar de que está tudo bem. Treinador deve pedir mais tempo
entre as lutas do pupilo
Por Ana Hissa, Evelyn Rodrigues e Ivan Raupp
Direto de Sacramento, EUA
Dedé Pederneiras (Foto: Ivan Raupp)
Todos foram surpreendidos na sexta-feira com a notícia de que Renan
Barão havia desmaiado horas antes da pesagem e não teria condições de
enfrentar TJ Dillashaw na tão anunciada revanche pelo título dos
pesos-galos. O americano acabou se mantendo no card e agora vai
enfrentar o ex-campeão do Bellator Joe Soto, que faria a sua estreia no
Ultimate no card preliminar. O episódio fez com que muita gente passasse
a questionar o processo do corte de peso do atleta da Nova União.
Momentos após a pesagem, o próprio Dillashaw afirmou que achava que
Barão era muito grande para a categoria, dando a entender que ele
deveria subir de divisão. O presidente do UFC, Dana White, tem a mesma
opinião e chegou a estender a crítica ao campeão peso-pena, José Aldo,
afirmando que tanto ele quanto Barão deveriam subir de peso.
Em entrevista ao Combate e ao
Combate.com depois do
incidente, o treinador principal da Nova União, Dedé Pederneiras, disse
não concordar com as críticas e ressaltou que o trabalho de perda de
peso de seus atletas é feito com acompanhamento médico. Para Dedé, o
problema ocorrido com Barão em Sacramento tem a ver com uma série de
fatores, incluindo o fato de ele ter feito três camps de treinamento em
cerca de seis meses:
O Barão precisa de um tempo maior entre uma luta e outra para não
fazer esses sucessivos treinos para uma luta de cinco rounds,
que são muito mais pesados do
que para uma luta de três rounds,
a cada três meses. É a primeira
vez que isso acontece comigo em
18 anos"
Dedé Pederneiras
- As pessoas ficam falando que Barão deveria lutar na categoria de
cima. Ele é realmente um garoto grande para a divisão de 61,2 kg, mas eu
acho que se a gente tiver o respaldo dos médicos com os quais a gente
trabalha e dos nutricionistas, não vejo por que ele trocar de categoria.
O que vejo é que o Barão precisa de um tempo maior entre uma luta e
outra para não fazer esses sucessivos treinos para uma luta de cinco
rounds, que são muito mais pesados do que para uma luta de três rounds, a
cada três meses. É a primeira vez que isso acontece comigo em 18 anos.
Venho acompanhando atletas há muito tempo e nunca tive um lutador que
apagou e teve que ser retirado de um duelo por não ter condições de
lutar.
Dedé, que estava com Barão no momento do incidente, explicou todo o
planejamento da equipe para que o corte de peso de seu lutador fosse
bem-sucedido. O treinador também ressaltou que Barão sempre perdeu peso
da mesma forma em todas as lutas anteriores ao UFC 173, única ocasião em
que o atleta decidiu chegar um pouco mais leve para lutar devido ao
fato de seu adversário, TJ Dillashaw, ser menor fisicamente e mais
rápido:
- Na verdade, o Barão já perdeu peso só aqui no UFC pelo menos 10 ou 12
vezes e nunca teve problema nenhum. O processo sempre foi feito da
mesma forma não só com ele, mas com todas as pessoas lá da academia. Na
última luta do Barão, ele resolveu perder o peso com uma antecedência
maior. E aí, quando você faz isso, você acaba não recuperando tão bem
quanto quando você perde o peso mais próximo da luta, que era o que ele
tinha feito na maioria das vezes. Na verdade, o Barão não deixou uma
quantidade de peso muito grande para esta semana, ele chegou aqui com
68kg*, a categoria é 61,2kg. No primeiro dia que ele chegou em
Sacramento, já tirou 3kg e se colocou bem próximo da meta, e foi batendo
essa meta dia após dia. Na quinta-feira, a gente terminou o corte de
peso umas 23h30. Ele tomou banho, comeu, foi dormir e acordou de manhã
para fazer a perda de peso, porque faltavam 2,25kg para ele chegar à
meta antes da pesagem.
(*Nota da Redação: Barão, na realidade, chegou com o peso entre 70kg e
71kg, conforme mostrou um vídeo gravado pelo UFC; esse peso, por sinal, é
normal para ele em semana de luta).
Renan Barão deu entrevistas um dia antes do incidente (Foto: Evelyn Rodrigues)
Dedé ainda contou detalhes do que aconteceu com o brasileiro no momento
do incidente e explicou que a decisão de cancelar a revanche com
Dillashaw partiu do próprio UFC por questões de segurança. Segundo ele,
Barão está bem fisicamente, apesar de muito triste e, quando voltar ao
Brasil, deve se submeter a uma bateria de exames a fim de determinar
outras possíveis causas do desmaio ocorrido na sexta. O treinador também
deixou claro que deve pedir mais tempo ao UFC entre lutas para evitar
um desgaste tão grande de seu atleta.
Confira o depoimento de Dedé Pederneiras na íntegra:
"Na sexta-feira, último dia de perda de peso para os atletas que fazem a
pesagem às 16h, o Barão estava fazendo o processo normalmente, faltavam
2,25kg para ele bater a meta da categoria. Barão se pesou às 9h e
faltava a quantidade de peso que a gente tinha deixado para o último
dia, dentro de uma tabela que a gente monta para a semana inteira. Ele
acordou bem, começou a fazer a perda de peso normal. Depois da pesagem
das 9h ele fez uma rodada de banheira e, como tinha o exame médico às
12h e estava fazendo sol aqui, ele quis dar uma corrida, pois já estava
de saco cheio de ficar na banheira. Então a gente foi correr por cerca
de meia hora, foi bem tranquilo. Depois nós voltamos para o hotel e aí
ele tirou a roupa, a gente passou o creme nele, e ele foi fazer a última
sessão de banheira.
Nesse momento, faltava cerca de 1,1kg para atingir o limite de 61,2kg e
era cedo ainda aqui em Sacramento, por volta de 13h, e ele só tinha que
descer para ir para a arena às 15h. E aí, nós começamos a fazer as
primeiras rodadas de banheira e, depois de cerca de 20 minutos, quando o
Barão estava saindo de uma dessas banheiras, desmaiou completamente. Na
hora em que ele estava caindo, eu o segurei, mas como ele estava com
muito creme, chegou a jogar a cabeça para trás e a encostá-la na parede.
A gente o colocou no chão, só que, a partir daquele momento ali, ficou
desmaiado por bastante tempo. Isso nos deixou bastante impressionados.
Na mesma hora, chamamos o médico do UFC, e eles resolveram por bem
chamar uma ambulância.
Quando os paramédicos chegaram ao nosso quarto, checaram os sinais
vitais do Barão e resolveram levá-lo para o hospital para fazer uma
melhor análise da situação. Eles fizeram exame de sangue, de urina e
constataram que o Renan estava desidratado. Então, não tiveram outra
escolha senão colocá-lo no soro. A partir do momento em que ele foi para
o hospital, o UFC na mesma hora teve que cancelar a luta. Foi uma opção
do UFC e, lógico que, pela situação em que o Barão estava, eu também
não via outro jeito dessa luta acontecer. Talvez o Barão pudesse se
recompor e lutar, mas ninguém tinha certeza de nada. Como foi uma
escolha do UFC, a gente aceitou e achou por bem ser o melhor naquele
momento, mas nós não queríamos que isso acontecesse, pois o Barão
treinou por quase três meses e muito duro para essa luta. Ele estava
muito bem preparado para essa revanche, mas vimos a chance escapulir
pelas nossas mãos por uma situação que ninguém consegue
controlar.
Na verdade, o Barão já perdeu peso só aqui no UFC pelo menos 10 ou 12
vezes e nunca teve problema nenhum. O processo sempre foi feito da mesma
forma não só com ele, mas com todas as pessoas lá da academia. A gente
monta uma tabela diária, e a pessoa termina o peso à noite e tem que
estar com o mesmo peso na parte da manhã. Então isso é feito de uma
forma que a pessoa consegue controlar exatamente a perda de peso dela
sem se desgastar muito, para chegar no dia da pesagem e se pesar sem
problema nenhum.
Depois de tudo o que aconteceu, o Barão está muito bem agora, pelo
menos fisicamente, graças a Deus ele teve nada sério, mas está muito
triste porque estava muito bem treinado para essa luta. É até difícil
falar o quão treinado ele estava, porque o Renan acabou não se
apresentando, né? Então fica parecendo que estou falando isso porque o
cara não lutou, mas não, o Renan realmente estava muito bem preparado
para essa revanche, como vai estar para as próximas lutas. O que eu
conversei com o Barão depois da saída do hospital é que ele tem que dar
um tempo para o corpo dele descansar. Por mais que ele seja novo, pois
tem 27 anos, se você for ver, só de fevereiro para cá, ou seja, em seis
meses, Barão iria fazer a sua terceira luta. Então é uma sobrecarga
muito grande de treinamento em cima do corpo. É um desgaste físico e
mental. Você pega três meses de treino duro pensando na luta, existe
todo aquele camp que realmente te desgasta muito, e você precisa de um
período para descansar o corpo antes de começar uma nova fase de
treinamento.
Eu falei para ele: 'Barão, talvez o que aconteceu hoje seja um acúmulo
do que você já fez só esse ano. Chegou uma hora em que o teu corpo
decidiu se desligar porque não estava aguentando mais, e aí aconteceu
isso'. Então a gente vai pedir um tempo maior para o UFC para ele se
recuperar fisicamente. Ele chegou nesse camp milagrosamente sem nenhuma
lesão, foi um camp perfeito. Mas, quando você acaba de sair de uma luta,
é normal você ter algum tipo de lesão, e ele vem emendando isso há
algum tempo. Então, talvez o corpo dele realmente nesse momento tenha
dado esse estalo.
Quando chegarmos ao Brasil, vamos fazer uma bateria geral de exames no
Barão para avaliar tudo, ver como ele está hoje em dia e ter uma visão
geral de todos os aspectos. Depois vamos sentar e conversar. As pessoas
ficam falando que ele deveria lutar na categoria de cima. Ele é
realmente um garoto grande para a categoria de 61,2kg, mas eu acho que,
se a gente tiver o respaldo dos médicos com os quais a gente trabalha e
dos nutricionistas, não vejo porque ele trocar de categoria. O que vejo é
que ele precisa de um tempo maior entre uma luta e outra para não fazer
esses sucessivos treinos para uma luta de cinco rounds, que são muito
mais pesados do que para uma luta de três rounds, a cada três meses.
Treino forte, desgaste físico e mental, perda de peso... O corpo precisa
realmente de um descanso.
É a primeira vez que isso acontece comigo em 18 anos de carreira. Eu
venho acompanhando atletas há muito tempo e nunca tive um atleta que
apagou e teve que ser retirado de um duelo por não ter condições de
lutar".
A luta entre TJ Dillashaw e Joe Soto é a principal do UFC 177, que será
realizado na Sleep Train Arena, em Sacramento, neste sábado. O evento
terá os brasileiros Bethe Correia e Carlos Diego Ferreira em ação no
card principal. O
Combate transmite tudo a partir das 20h45m (de Brasília), e o
Combate.com
acompanha em Tempo Real, transmitindo em vídeo a primeira luta da
programação, entre os pesos-leves Cain Carrizosa e Chris Wade.
UFC 177
30 de agosto de 2014, em Sacramento (EUA)
CARD PRINCIPAL
Peso-galo: TJ Dillashaw x Joe Soto
Peso-leve: Danny Castillo x Tony Ferguson
Peso-galo: Bethe Correia x Shayna Baszler
Peso-leve: Ramsey Nijem x Carlos Diego Ferreira
Peso-leve: Yancy Medeiros x Damon Jackson
CARD PRELIMINAR
Peso-médio: Lorenz Larkin x Derek Brunson
Peso-pesado: Ruan Potts x Anthony Hamilton
Peso-leve: Cain Carrizosa x Chris Wade