Entrevista de 21 minutos mostra
'novo Neymar' antes da Espanha
Mais sorridente do que em coletiva de duas semanas atrás,
atacante brinca com parceiro, revela admiração por rival e repete 11
vezes a palavra 'feliz'
Por Alexandre Lozetti, Leandro Canônico e Márcio Iannacca
Rio de Janeiro
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Neymar
mudou. Está mais sorridente e falante do que no dia 14 de junho, quando
deu sua última entrevista coletiva, antes de estrear na Copa das
Confederações. Os três gols, os prêmios de melhor jogador em campo e a
presença do Brasil na final do torneio mexeram com o atacante. Para o
bem. Nesta sexta-feira, ele respondeu a 26 perguntas. Foram 21 minutos
apenas de sua fala.
Um discurso que bateu em várias teclas. Neymar repetiu dez vezes a
palavra "feliz". Já os termos "campeão" e "vencedor" saíram de sua boca
em sete oportunidades. O respeito ao adversário também ficou claro.
"Admiração" foi uma das palavras mais citadas, e o craque também falou
por mais de sete vezes que a Espanha é a melhor seleção do mundo.
Neymar entrou no auditório quando o volante Luiz Gustavo ainda concedia
entrevista com mais de meia hora de atraso. Ele passou por trás do
companheiro e atraiu todos os flashes dos fotógrafos. Cada movimento
leve os fazia disparar. Primeiro ao colocar o casaco e arregaçar as
mangas. Depois ao colocar o cabelo para dentro do boné, com aba para
trás.
Até ao tossir ele foi fotografado. O atacante parecia levemente
gripado. Isso, aliás, tem preocupado o técnico Luiz Felipe Scolari. O
volante Paulinho e o auxiliar Murtosa são as maiores vítimas até agora.
Caras e bocas: Neymar era fotografado a cada gesto (Foto: Wagner Meier / Globoesporte.com)
Inquieto, ele observou em silêncio as respostas de Luiz Gustavo. Deu um
leve sorriso quando o parceiro começou a explicar o que poderia fazer
para marcar Xavi e Iniesta. Tirou o boné, mexeu no cabelo, e sinalizou
positivamente quando o diretor de comunicações Rodrigo Paiva afirmou que
só faltavam duas respostas do volante.
Logo na primeira manifestação, Neymar provou que está muito mais leve
do que no dia em que deu respostas aborrecidas, ainda na preparação. Deu
boa tarde a todos, e brincou com o vozeirão de Luiz Gustavo.
- Depois da voz grossa do Luiz Gustavo vem essa minha (risos).
Lá pela metade da coletiva, ele também provou o óbvio: estava
incomodado antes de o torneio começar, quando sofria com críticas às
suas atuações, e vivia um jejum de nove jogos sem marcar. Isso ficou
evidente quando disse que o gol na estreia contra o Japão foi seu
momento mais importante na Copa das Confederações.
- Foi bom para qualquer acabar com qualquer conversinha.
Sua primeira resposta teve duração de 55 segundos. Logo na terceira,
não concordou com a comparação do repórter entre a final do próximo
domingo e a decisão do Mundial de Clubes de 2011, quando o Santos foi
goleado pelo Barcelona. Mas em vez de dar uma patada, também optou por
sorrir, gesto que repetiu durante toda entrevista.
- Acho que nem preciso te responder, mas tá tranquilo - disse antes de falar por 31 segundos que eram situações diferentes.
Pouco depois, questionado sobre o fato de o Brasil ter iniciado a
competição desacreditado por torcida e parte da mídia, e chegar à
decisão, Neymar deu sua resposta mais extensa: um minuto e 34 segundos.
Disse que o futebol era maravilhoso por proporcionar ao time essa chance
de alterar seu patamar.
A cada frase, o atacante do Barcelona parecia realmente estar próximo
de um dia inesquecível. Ele até comentou com Thiago Silva que gostaria
de entrar logo em campo, e falou com encantamento da possibilidade de
enfrentar ídolos de videogame: Casillas, Xavi, Iniesta, Sergio Ramos...
Nenhum termo foi mais batido do que "grande partida", acompanhado da
expressão "histórica".
Em apenas 14 segundos, ele não quis apontar um palpite em um hipotético
bolão, mas disse que cravaria vitória do Brasil. Diante do silêncio
total dos jornalistas na sala, Neymar convocou, também com sorrisos:
- Vamos acreditar, gente!
Para entender uma pergunta em inglês, sobre as manifestações que têm
ocorrido em todo país, o jogador teve de colocar o fone de ouvido com a
tradução. Respondeu que todos são a favor de tudo que busque um país
melhor, desde que pacificamente.
Depois da última resposta, de 27 segundos, Neymar se levantou e foi
embora deixando uma impressão muito diferente daquele semblante fechado
visto em Brasília. E até um elogio de Rodrigo Paiva, diretor de
comunicação da CBF:
- Grande entrevista, muito boa.