Torcedor do San José visita presos, e Itamaraty vê 'ausência' do Timão
Representante da 'Temible' presta solidariedade aos 12
corintianos, enquanto ministro diz que não recebeu qualquer contato do
clube
Por Diego Ribeiro
Oruro, Bolívia
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A tensão que tomou conta de Oruro desde a morte do garoto Kevin Douglas
Beltrán Espada, de 14 anos, teve um importante alento na tarde desta
sexta-feira. Um representante da torcida do San José, a “La Temible”,
visitou os 12 corintianos até então presos em uma cela da Corte Superior
de Justiça da cidade – eles já foram transferidos para uma
penitenciária. Na conversa, que durou poucos minutos, o “hincha” falou
em nome de sua torcida e tentou tranquilizar os brasileiros.
Dois representantes da embaixada brasileira na Bolívia presenciaram o
encontro: o funcionário administrativo Beymar Duchén Rojas e o consultor
jurídico Miguel Blancourt. O representante do San José disse que sua
torcida prestaria toda a solidariedade aos presos, e que “a La Temible
reconhece que a morte do garoto foi fruto de um acidente”.
– Esse encontro foi importante para que a tranquilidade seja
estabelecida. Aos poucos, os torcedores bolivianos entendem que não se
tratou de algo premeditado – afirmou Beymar Rojas.
Mulheres bolivianas entregam comida aos
corintianos presos (Foto: Diego Ribeiro)
Se o “hincha” do San José está em contato direto com os torcedores, o
mesmo não ocorre com o Corinthians. Os representantes do Itamaraty
reclamaram da “ausência” do clube na defesa dos 12 presos em Oruro e
disseram que não houve qualquer contato desde a chegada a Cochabamba,
segunda-feira.
O ministro conselheiro Eduardo Saboia informou que a maioria dos clubes
que jogam na Bolívia fazem algum tipo de contato com a Embaixada.
– O São Paulo jogou aqui há um mês (contra o Bolívar, em La Paz) e sua
diretoria nos fez uma visita, perguntou sobre logística, segurança.
Estamos aqui para atender a todos. Mas nenhum representante do
Corinthians entrou em contato conosco, nem antes, nem depois do jogo –
disse Saboia.
Esses torcedores estão abandonados aqui. Estamos tentando o melhor tratamento para eles"
Eduardo Saboia, ministro conselheiro do Brasil na Bolívia
– Esses torcedores estão abandonados aqui. Estamos tentando dar o melhor tratamento possível a eles – completou.
Eduardo Saboia e os outros dois representantes do Itamaraty acompanharam a
transferência dos corintianos para a Penitenciária de San Pedro, localizada a 200 metros do Estádio Jesús Bermudez.
O ministro conselheiro deve voltar a La Paz neste sábado, enquanto
Beymar Rojas e Miguel Blancourt ficarão em Oruro por mais alguns dias.
O embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Fortuna Biato, não pôde ir a
Oruro porque está em Guayarámerin, na fronteira com a cidade brasileira
de Guajará-Mirim. Lá, o embaixador está cuidando do processo de
reativação do consulado no local – também há unidades em Cochabamba,
Santa Cruz de la Sierra, Cobija e Puerto Suárez.
Os corintianos estavam detidos na Corte Superior de Justiça de Oruro, onde ouviram do juiz cautelar Julio Huarachi Pozo que
ficarão presos de forma preventiva até o julgamento.
Dois dos 12 foram indiciados como autores do homicídio porque portavam
sinalizadores idênticos ao que mataram Kevin. Os outros 10 foram
indiciados como cúmplices.
Eduardo Saboia, ministro conselheiro da
Embaixada do Brasil na Bolívia (Foto: Diego Ribeiro)
A tendência é que eles
fiquem na Bolívia pelo menos até agosto, segundo funcionários da embaixada brasileira no país. Desesperados, os corintianos
pedem ajuda até da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Representantes da embaixada brasileira na Bolívia preparam recurso para fazer com que o grupo responda em liberdade.
A análise será feita pelo juiz cautelar Julio Huarachi Pozo, o mesmo
que decretou a prisão preventiva. A decisão sobre o recurso pode demorar
horas ou dias. Na apelação feita durante a análise das medidas
cautelares, o juiz se mostrou irredutível.
– Decidimos manter os 12 encarcerados nessa fase de investigação por
questões de segurança. Sabemos que não há provas contundentes, mas vamos
mantê-los encarcerados porque sabemos que é muito fácil sair da Bolívia
– argumentou Julio Pozo.
Confira a lista dos presos:
Leandro Silva de Oliveira - 21 anos
Tadeu Macedo Andrade - 30 anos
Reinaldo Coelho - 35 anos
José Carlos da Silva Junior - 20 anos
Marco Aurélio Nefeire - 31 anos
Daniel Silva de Oliveira - 27 anos
Hugo Nonato - 27 anos
Clever Souza Clous - 21 anos
Cleuter Barreto Barros - 24 anos
Fábio Neves Domingos - 32 anos
Rafael Machado Castilho Araújo - 18 anos
Tiago Aurélio dos Santos Ferreira - 27 anos