Achei! Mais brasileiro que uruguaio, Acosta quer vida longa no DF
Aos 35 anos, atacante planeja continuar morando no Brasil com a família quando encerrar a carreira. Ele defende o Brasiliense
Por Fabrício Marques
Brasília
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Português já é a língua oficial na casa do atacante uruguaio Beto
Acosta. Uruguaio? Nem tanto... Afinal, o sotaque espanhol é mínimo na
fala da esposa e das três filhas do jogador. E "portunhol", só mesmo o
do próprio Acosta, que, depois de seis anos no Brasil, ainda tem certa
dificuldade com a língua. Mas nada que tire do ex-jogador de Náutico e
Corinthians, hoje no Brasiliense, a vontade de ter a capital do Brasil
como moradia definitiva.
As provas do carinho pela terra que acolheu os Acosta são frequentes.
As viagens da família ao país de origem também se tornaram cada vez mais
raras. Quando acontecem, não duram muito tempo.
- Sinto um pouco de saudade do Uruguai, mas a verdade é que somos muito
felizes no Brasil. É até estranho quando vamos para lá. Ficamos um ou
dois dias e já bate a vontade de voltar. Nos acostumamos até com a
comida daqui. Por exemplo, no Uruguai não tem arroz e feijão, e eu como
arroz e feijão todos os dias - confessa.
Acosta, hoje no Brasiliense, celebra conquistas no Brasil (Foto: Fabricio Marques/GLOBOESPORTE.COM)
Com a chegada do filho caçula, no ano passado, a casa de Acosta se tornou ainda mais brasileira.
- Costumava dizer que a proporção era 50%-50%. Mas agora que tivemos
nosso primeiro filho nascido aqui no Brasil, acho que já somos 70%
brasileiros e 30% uruguaios - calcula.
Acosta no Náutico: 19 gols no Brasileirão de 2007
(Foto: Agência Lance)
Os 19 gols marcados no Campeonato Brasileiro de 2007 (foi o
vice-artilheiro daquele ano) levaram Beto Acosta a vestir a camisa 10 do
Corinthians, mas uma grave contusão atrapalhou a passagem dele pelo
clube paulista.
No Brasiliense desde julho de 2010, o atacante, de 35 anos, se prepara
para a disputa da Série C do Campeonato Brasileiro e já fala em encerrar
a carreira e seguir morando na capital federal.
- O futebol é muito dinâmico. Às vezes você planeja uma coisa e
acontece outra completamente diferente. Cheguei a pensar em parar com
36, converso muito sobre isso com minha esposa. Mas estou bem
fisicamente. Jogando mais uns dois ou três anos, está bom demais. Se o
Brasiliense deixar, fico aqui até o fim da minha carreira, e o nosso
plano é continuar vivendo em Brasília.
Começo difícil no futebol
Acosta guarda camisas que defendeu e enfrentou
(Foto: Fabricio Marques/GLOBOESPORTE.COM)
Filho do ex-jogador Juan Alberto Acosta Silva (passagens por Real
Madrid e Atlético de Madri), Beto Acosta sempre sonhou seguir os
caminhos do pai. No entanto, foi da mãe que recebeu apoio quando começou
a procurar um clube para treinar na adolescência.
- Meu pai era separado da minha mãe. Não estava presente. Fiz muitos
testes, e sempre me mandavam embora. Eu chegava em casa chorando, e era
minha mãe que me ajudava. Com 15 anos, consegui uma vaga no Defensor e
aos 17, fui para um clube da segunda divisão - lembra o jogador.
Com apenas dois anos de carreira, ainda atuando por times pequenos do
Uruguai, Acosta teve que abandonar os campos. O motivo: o nascimento das
gêmeas Martina e Micaela, as filhas mais velhas do jogador com a esposa
Daniela Capullo.
- Pagavam muito pouco no futebol. Fora dele, eu ganhava o dobro. Deixei
o futebol. Fiquei quatro anos fora. Só voltei a jogar com 24 anos,
quando recebi o convite de um time do interior. Foi uma época difícil, e
contei com muito apoio da minha esposa.
Daniela também lembra daqueles tempos de dificuldades. E comemora ter recebido a recompensa depois.
- Depois de um tempo, decidimos que ele ia parar de trabalhar um pouco
para se dedicar ao futebol. E eu mantinha a casa. Foi muito difícil, mas
valeu a pena. Deus deu a recompensa.
A recompensa citada pela esposa de Acosta começou a chegar quando o
jogador se destacou em campeonatos amadores no interior do Uruguai e foi
contratado pelo Cerrito, de Montevidéu. O time disputava a terceira
divisão nacional, e, em apenas duas temporadas, alcançou a elite. Então,
em 2004, aos 27 anos, Beto Acosta participou pela primeira vez de um
campeonato de primeira divisão. Jogando como meia, se tornou ídolo do
Cerrito e chegou à seleção uruguaia.
- Na época, isso chamou muito a atenção. Um jogador do Cerrito na
seleção era como imaginar um jogador do Brasiliense convocado pelo Mano
Menezes - compara Acosta.
Nova fase na carreira
Com bons jogos no clube e na seleção (tem nove gols com a camisa
celeste), Beto Acosta foi contratado pelo Peñarol, um dos dois times de
maior tradição do futebol uruguaio, ao lado do Nacional. E foi depois de
um clássico entre os dois clubes, em 2007, que começou uma nova fase na
carreira do jogador.
- Joguei muito bem e marquei dois gols em um clássico. Depois disso,
apareceram propostas da Colômbia, da Argentina e a do Náutico. Eu
ganhava cerca de US$ 3 mil no Peñarol e me ofereceram R$ 13 mil para ir
jogar no Recife. Eu fiquei louco. Ainda tinha meus direitos presos ao
Cerrito, e o cara de lá queria US$ 20 mil para me liberar por um ano. O
Náutico não queria pagar, e eu tive que pedir ao presidente que me desse
o dinheiro e fosse descontando aos poucos do meu salário. Paguei minha
própria transferência - conta o jogador.
Foi um investimento que valeu a pena. Em apenas um ano no Náutico,
Acosta se tornou o melhor atacante do Brasil. Adaptado à função de
goleador, marcou 19 vezes no Campeonato Brasileiro de 2007, ficando com a
vice-artilharia da competição e o prêmio de melhor atacante concedido
pela CBF. Tanto destaque despertou o interesse de vários clubes grandes
do país.
- Em 2008, eu tinha proposta de Santos, Palmeiras, São Paulo,
Corinthians e Fluminense. Alguns ofereciam um pouco mais, outros um
pouco menos. Ganhar dinheiro é bom, mas eu queria ir para um time onde
pudesse ganhar títulos. Perguntei pro meu empresário qual seria melhor
e, na época, ele recomendou que eu fosse para o São Paulo. Quando estava
tudo certo, o presidente do Corinthians subiu muito a proposta. Não
resisti e assinei.
No Timão, Acosta recebeu a camisa 10 e a missão de conduzir o time na
campanha da Série B do Campeonato Brasileiro. Mas a adaptação em São
Paulo foi complicada, e o atacante não conseguiu repetir o bom futebol
dos tempos de Náutico.
- Sofri muito. A cidade de São Paulo é totalmente diferente de Recife. O
Mano Menezes me ajudou muito e depois de alguns meses comecei a fazer
meus gols
(veja quatro deles no vídeo acima). Só que aí machuquei sério - conta Acosta.
Em agosto de 2008, em uma partida contra o Criciúma, pela Série B, o
uruguaio fraturou a tíbia e ficou afastado dos gramados por oito meses.
- Quanto voltei a jogar, já tinham contratado Ronaldo, Jorge Henrique. Tinha ainda o Dentinho. Foi muito difícil.
Sem espaço no Corinthians, Acosta foi emprestado para o Náutico por
duas vezes, mas não conseguiu se firmar. O contrato com o clube paulista
não foi renovado e, em 2010, ele voltou para o Cerrito, com o qual
ainda tinha vínculo trabalhista.
Homem de família
Quando abandonou o futebol por conta da gravidez da esposa no início da
carreira, Acosta deu mostras do quanto valoriza a família. E foi
pensando na mulher e nas filhas que ele voltou sozinho para o Uruguai em
2010 para cumprir os últimos meses de contrato com o Cerrito.
- Minha família estava muito bem em São Paulo e não queria voltar. Eu
fui sozinho para o Uruguai. Fiquei quatro meses e terminou meu contrato.
Recebi propostas de clubes de lá e também do Brasil. Fui para o
Brasiliense.
Em pouco tempo, o atacante estava morando novamente com a família na
capital federal. Eles se adaptaram à cidade, ganharam mais um integrante
(o filho caçula, de um ano) e compraram uma casa em um condomínio a
cerca de 20 quilômetros do centro de Brasília.
Acosta com a esposa e os filhos no Distrito Federal (Foto: Fabricio Marques/GLOBOESPORTE.COM)
No fim de 2011, Acosta foi dispensado pelo Brasiliense, e a
possibilidade de mudar de cidade voltou a assustar a família. O jogador
acertou com o Central-PE e foi sozinho para Caruaru, novamente, para não
prejudicar os filhos e a esposa. Mais uma vez, a experiência não deu
certo.
- Acho que 99% do motivo de eu ter voltado do Central foi a minha
família. Tive até outras propostas para disputar a Série B, mas estava
com muita saudade. Como minha esposa e meus filhos estavam aqui em
Brasília e gostam bastante, voltei pra cá - conta Acosta.
Jogador exibe camisas de Náutico, Brasiliense e
Corinthians (Foto: Fabricio Marques)
Para alegria da família, o jogador assinou novamente com o Brasiliense.
Por enquanto, eles vivem tranquilos no Distrito Federal.
- A gente gosta muito daqui. Já nos acostumamos. Temos muitos amigos - diz a filha Martina, de 13 anos.
- Nossa vontade é de ficar aqui (em Brasília). A cidade está crescendo,
e vamos ter mais oportunidades de estudo e trabalho - explica a esposa.
Feliz no Brasiliense, Acosta acompanha de perto os estudos das três
filhas, que se destacam na escola, e o trabalho da esposa, que é
decoradora e tenta montar um negócio na cidade. O uruguaio de coração
brasileiro também não perde tempo e já começa a planejar o futuro do
pequeno Alberto Martín Acosta Júnior, de apenas um ano.
- Vai ser jogador de todo jeito. Brasileirinho, tem que sair jogador.
Meu pai foi, eu sou e ele também vai ser - projeta o papai Acosta.