Não foi preciso muito. Em ritmo de treino, a Argentina recebeu Trinidad
e Tobago em Buenos Aires e fez sua obrigação: venceu com placar
elástico e tranquilidade. E olha que ainda teve um festival de chances
perdidas. Sem duas de suas principais peças ofensivas,
mas com as principais -
Messi
e Di María -, os argentinos fizeram 3 a 0 em um Monumental de Nuñez
lotado e, até certo ponto, calado na fria noite de quarta-feira em
Buenos Aires. Sem forçar muito a barra diante de um adversário
infinitamente
mais fraco, Palacio, Mascherano e Maxi Rodriguez construíram o placar na última partida na capital antes da
Copa do Mundo.
Boa atuação, gol e assistência: Palacio ofuscou Messi e foi o cara contra Trinidad e Tobago (Foto: AFP)
Com lesões leves, Garay, Zabaleta e Agüero foram poupados por Alejandro
Sabella, enquanto Higuaín foi vetado com uma gripe horas antes do
duelo. Messi, não. Fominha, o craque do time não só esteve em campo,
como jogou os 90 minutos em um time onde todos os jogadores de linha à
disposição foram testados. Mais recuado do que está acostumado a jogar
no
Barcelona, arrancou,
tabelou, deu belos passes, mas desperdiçou oportunidades que não está
acostumado a perder. Mostrou que quer jogo, mostrou estar bem
fisicamente, só que faltou o gol. E ele acabou ofuscado no gramado por
Palacio, o melhor do jogo, autor do primeiro gol e a assistência para o
último. Nada, porém, que impedisse Messi de ser o mais ovacionado e
procurado pelos flashes do público que esteve no estádio do River Plate.
Se não joga mais em Buenos Aires, a Argentina ainda terá outro teste
antes de seguir para o Brasil. Sábado, às 15h45 (de Brasília), recebe a
Eslovênia, no Estádio Cidade de La Plata. Será o jogo da festa, do adeus
rumo ao Mundial. Será o sétimo desde a última conquista, em 86, ainda
com Maradona.
Cabeça de chave do Grupo F, os argentinos ficarão hospedados em Belo Horizonte, e terão pela frente Bósnia, Irã e Nigéria na primeira fase.
Festival de chances perdidas e só um gol
O repertório é vasto: pelo meio, pelas pontas, com tabelas curtas,
arrancadas e até chutão de zagueiro. Chegar ao gol de Trinidad e Tobago
não foi problema para Argentina nos 45 minutos iniciais. Balançar as
redes de Jan Michael Willians, no entanto, foi uma dificuldade. Com um
festival de chances perdidas, algumas impressionantes, os hermanos
sofreram para abrir o placar diante de um rival muito inferior
tecnicamente. No lance final da etapa, porém, Rodrigo Palacio conseguiu
soltar um grito tímido da garganta do torcedor que chegou atrasado, mas
acabou enchendo o Monumental de Nuñez.
Desde o minuto inicial, o que
se viu
em campo era um Trinidad e Tobago naturalmente acuado e mais preocupado
em não cometer vacilos fatais na defesa do que em atacar. Mesmo sem
dois membros de seu quarteto mágico - Agüero e Higuaín -, a Argentina
mandava no jogo. Bem centralizado, Messi tinha a aproximação de Gago e
Di María para tabela, e ainda abusava de passes que cortavam a defesa
adversária.
Messi desperdiçou chances inacreditáveis no jogo
em lances em que costuma ser decisivo (Foto: AP)
O camisa 10, por sua vez, não se privava de se meter entre os atacantes
Palacio e Lavezzi. E, inclusive, foi ali, no meio da área, que perdeu
primeira boa chance do time de Alejandro Sabella. Di María avançou pela
intermediária e encontrou Lavezzi livre na área. O jogador do PSG
dominou e logo serviu Messi, que, da marca do pênalti, chutou para fora.
O craque do Barcelona ainda perderia mais duas oportunidades claras na
pequena área.
A segunda, por displicência. Ao driblar o goleiro, Di María trocou o
gol por um presente ao amigo, que esperou a bola e viu a defesa cortar
para escanteio.
Nitidamente, os argentinos não aceleravam o jogo e trocavam passes
tranquilamente na intermediária ofensiva. Lavezzi, duas vezes, e Palacio
também desperdiçaram chances em boa condição dentro da área. Di María,
em bonita arrancada, também tentou com chute de longe, mas o 0 a 0
teimava em não sair do placar. Por outro lado, Trinindad e Tobago,
surpreendentemente, conseguia se aventurar vez ou outra no ataque.
Basicamente, fazendo valer a velocidade e
força física
após desarmes no tik-taka sonolento dos donos da casa. No primeiro
tempo, foram três escanteios para os visitantes, e Fede Fernandez e
Demichelis foram obrigados a realizarem alguns bons desarmes.
É verdade que a correria dos trinitinos não levou muito susto a Sergio Romero, mas vale o alerta para um time
que tem
conhecidamente a zaga como seu ponto mais duvidoso. De positivo dos
raros ataques do adversário fica a velocidade do contra-ataque
argentino. Todas as vezes que Trinidad errou passe próximo da área
ofensiva, a Argentina chegou ao outro lado do
campo com poucos toques na bola e perdeu boa chance de gol.
Perder gol, por sinal, foi o que os argentinos mais fizeram. Até mesmo
depois dos 45 minutos de jogo, naquela bola em que Messi permitiu o
desarme do zagueiro já quase
em cima
da linha. Em seguida, após cobrança de escanteio, surgiu o gol. Di
María cruzou no primeiro pau, e Palacio cabeceou em cima do goleiro, que
vacilou na defesa e deixou a bola ultrapassar a linha. Valeu pela
vantagem, valeu pelas chances, criadas. Não pela pontaria.
Messi dá show rápido, atrai flashes, mas não marca. Palacio dá susto
Com Lucas Biglia no lugar de
Fernando Gago
e José Basanta no de Demichelis, a Argentina voltou para o segundo
tempo com uma missão: dar ritmo de jogo a todos os jogadores à
disposição. Ainda assim, fazendo valer sua superioridade técnica e ainda
com mais facilidade. Já sem tanta disposição física, Trinidad e Tobago
marcava pior, jogava pior, e via um Messi ainda com mais vontade do que
no primeiro tempo. Tanto que logo aos cinco minutos o camisa 10 fez a
diferença.
Em duas arrancadas consecutivas pelo meio, Messi foi parado com falta. A
segunda, na entrada da área, provocou um iluminação extra atrás do gol
defendido por Jan Williams só com flashes dos torcedores. Era a
oportunidade do primeiro gol do ídolo na caminhada para a Copa. Não foi,
mas por muito pouco. Messi cobrou com capricho na trave, e a bola
sobrou para Mascherano, um de seus melhores amigos no elenco, só escorar
com o gol vazio.
Mascherano também deixou o dele após cobrança da falta de Messi carimbar a trave (Foto: Reuters)
De sangue novo, a Argentina acelerava mais as jogadas do que no
primeiro tempo. Lucas Bligia deu mais dinamismo ao meio-campo, com
toques de primeira em vez do jogo cadenciado de Gago. Após a saída de
Lavezzi, Messi jogou mais avançado, mas, cansado, caminhava e
praticamente só corria com a bola nos pés. Aos poucos, o torcedor
começava a dar mostras de entusiasmo e chegou a cantar música
provocativa ao Brasil antes de aplaudir muito Angel Di María no momento
de sua substituição.
O terceiro gol era questão de tempo, mesmo com a Argentina teimando em
seguir desperdiçando oportunidades, e surgiu aos 18. Mascherano lançou
Palacio em profundidade. O atacante do
Inter de Milão
driblou o goleiro e viu a bola correr para linha de fundo. Com um
carrinho, a manteve em jogo e rolou para Maxi Rodriguez chutar para o
gol aberto: 3 a 0. Placar elástico. Faltava, no entanto, o gol de Messi.
A partir dos 30 minutos, a preocupação em não se expor a possíveis
lesões nitidamente tomou conta da equipe. Ao ver Palacio substituído por
pisar em falso e torcer o tornozelo, os argentinos evitavam o choque,
evitavam o combate direto, e administravam o jogo até o apito final, sem
nenhum acréscimo. Messi não fez o dele, talvez o tenha guardado para
Copa.