Glover Teixeira sobre Jon Jones: 'Eu não ligo para o que esse peão aí diz'
Humilde, meio-pesado sabe onde precisa melhorar para ser
campeão, mas rebate críticas injustas: 'Tem gente que critica e que, se
eu gritar, sai correndo'
Por Alexandre Fernandes
Rio de Janeiro
190 comentários
Com andar tranquilo e de braços dados com a esposa, a americana Ingrid
Peterson, enquanto cruzava a Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de
Janeiro, para uma sessão de fotos, o meio-pesado Glover Teixeira nem de
longe parece com o lutador agressivo que sobe no octógono sempre em uma
busca constante pelo nocaute para encerrar a luta o mais rápido
possível. Tímido, mas sempre com uma piada na ponta da língua para
contar a qualquer momento, o mineiro de Sobrália aproveitou suas últimas
horas no Brasil - voltará para os Estados Unidos no fim da semana -
rodeado das coisas que ele mais gosta: A esposa, amigos e muitas
guloseimas trazidas da terra natal.
A tranquilidade do lutador, que enfrenta o vencedor do duelo do próximo
dia 21 de setembro, entre o campeão da categoria, Jon Jones, e
Alexander Gustafsson no UFC 165, só desaparece quando ele rebate as
críticas recebidas - mesmo com uma sequência impressionante de 20
vitórias seguidas - por não ter enfrentado grandes nomes da divisão
antes de ter a chance de disputar o cinturão da categoria até 93kg. Em
tom sério, Glover Teixeira usou da ironia para responder aos críticos na
entrevista ao
Combate.com no hotel onde ficou hospedado no Rio de Janeiro, afirmando que tem "cara que se você der um berro, é capaz dele sair correndo".
- Alguns fazem críticas boas, que a gente procura entender. Mas, tem
umas que não fazem sentido nenhum, e aí eu não estou nem aí também. Pô,
tem cara que não entende p*** nenhuma do que tá falando lá na internet.
Lá tem neguinho que assiste novela das oito. Sabe mais de novela das
oito do que de MMA e quer...sei lá...cara que se você der um grito com
ele, é capaz dele sair correndo. Mas, tem críticas boas. Fãs que sabem,
que criticam...e eu sou sincero, humilde e vejo "é verdade mesmo que
esse cara tá falando", "preciso melhorar essa parte". Agora, sobre
nomes...cara, eu nunca pedi luta nenhuma no UFC. Eles me deram e eu
peguei, entendeu? Agora, não sei quem eles poderiam querer. Me dá um
nome que eu vou lutar.
No
último dia de "férias" no Rio de Janeiro, Glover Teixeira passeou com a
esposa no calçadão de Copacabana. Agora, o mineiro quer estudar os
movimento do futuro adversário na disputa do título (Foto: Alexandre
Fernandes)
Contrariando as expectativas - a começar por não escolher nem o lado
alvinegro nem o lado azul de Minas Gerais no futebol - Glover Teixeira
não é adepto da costumeira falação entre lutadores de MMA. Apesar de
reconhecer a importância da prática para chamar a atenção dos fãs para o
"show" do UFC, o meio-pesado prefere ficar quietinho, e seguir ganhando
as lutas. Por esta caracteristica, e por não ficar procurando saber o
que os adversários dizem a seu respeito, Glover ficou surpreso ao ser
informado que Jon Jones o havia comparado a "Rampage" Jackson.
Entretanto, com o sotaque e a calma que são peculiares, o mineiro
afirmou não ligar para o que "esse peão diz aí".
Tem neguinho que sabe mais de novela das oito do que de MMA e quer te
criticar. Se você der um grito, é capaz de sair correndo"
Glover Teixeira
- Então, eu nem estava sabendo disso. Fiquei sabendo agora. Não fico
olhando entrevista de Jon Jones. Eu olho as lutas dele, mas não fico
querendo saber o que o Jon Jones está falando de mim, nem entrevista de
ninguém. Não fico vendo entrevistas desse peão aí, não. Com relação a
comparação, eu acho que eu e o Rampage temos algumas coisas a ver, mas
somos dois caras diferentes. Quando o Rampage entrou no ringue, ele já
tinha sido campeão, já tinha muito dinheiro no banco, não estava nem aí
mais para lutar. Eu não. Eu tô com fome desse cinturão e vou buscar esse
cinturão.
Leia a entrevista com o próximo desafiante dos pesos-meio-pesados na íntegra:
COMBATE.COM: Dizem que para falar com mineiro, primeiro tem que saber para qual time ele torce. Você é Galo ou Cruzeiro?
Glover Teixeira: É cara, eu vou ficar fora disso porque eu não
sigo tanto futebol. Se você me perguntar o nome de algum jogador de
futebol, eu vou ter que passar. Então eu torço para o time brasileiro
quando está jogando com algum time de fora, igual o Galo na
Libertadores, né? Eu fiquei torcendo para eles. Quando eu era menor,
gostava mais da camisa azul do Cruzeiro. Mas hoje em dia não tem muito
isso não.
Com 11 anos como lutador profissional, tendo passado por
problema com imigração nos EUA, e perdido por nocaute técnico na sua
estreia, você imaginava que chegaria à condição de disputar o título da
categoria?
Depois de um certo tempo, sim! Mas sempre foi um sonho, e que agora
está sendo realizado. Eu sempre tive esse sonho. Lá atrás eu não
imaginava. Mas depois de um certo tempo, sim. Eu pensava que mais cedo
ou mais tarde eu teria essa chance.
Das suas últimas oito lutas, seis você venceu no primeiro
round. Com a chance de disputar o título, você acha que é melhor se
preparar para uma vitória explosiva no primeiro round ou prefere
trabalhar o físico para aguentar cinco rounds desgastantes? Lembrando
que Jon Jones só foi para o quinto round uma vez, contra Rashad Evans...
Eu vou pra luta sempre para acabar no primeiro round. Mas claro que não
vai ser assim contra a maioria dos lutadores. Tem que acertar no lugar
certo e ir pra cima na hora certa. Eu acho que não só contra o Jon
Jones, mas contra a maioria dos lutadores, a luta vai passar do primeiro
round, por isso eu me preparo para cinco rounds. Vou estar super
preparado para essa luta. Mas comigo não tem esse negócio de estudar,
não. Eu vou partir para cima, para finalizar a luta no primeiro minuto.
Se for no primeiro minuto do primeiro round, melhor ainda. Eu vou tentar
fazer isso logo de cara.
Com
alto poder de ataque, Glover Teixeira coleciona nocautes e vitórias.
Após Ryan Bader, o mineiro foi confirmado por Dana White como próximo
desafiante ao título dos meio-pesados (Foto: Getty Images)
Por falar em título, já tem um lugar especial reservado para levar ou guardar o cinturão quando você for campeão?
Não, ainda não. O lugar que eu vou guardar é aqui comingo, na minha
cintura. Depois a gente vê se vai guardar em um cofrezinho ou em algum
lugar na minha casa, onde todo mundo que entrar vai ter que ver meu
cinturão.
Recentemente Chuck Liddell reclamou que os lutadores hoje em
dia parecem ter mais medo de perder do que vontade de ganhar. Você
treinou com o Liddell. Acha que conseguiu pegar a essência do americano
para seguir vencendo as lutas por nocaute?
Sim, captei muitas coisas dele. Principalmente esse instinto de buscar a
vitória. Independente de tudo, você tem que buscar a vitória para
levantar a plateia, porque a gente é pago pela plateia, a gente vive
disso. Eu acho que não teria graça lutar sem plateia, sem ninguém
assistindo. Quando eles gritam seu nome, isso te motiva e você vai pra
cima. Por isso você tem que motivar a galera, levar ao delírio. Eu
peguei isso dele, ir buscar o nocaute. Mas o poder de nocaute é uma
coisa que nasce com você. Tem gente que vai treinar a vida inteira e não
vai ser um striker... É o peso da mão.
No estilo mineirinho, você foi lutando, ganhando e agora está
há 20 lutas invicto. Isso te traz algum peso extra? Você faz algum
trabalho mental para seguir vencendo?
Sim. Sempre esqueço o passado, pensando que a próxima luta é a mais
importante. O que passou, passou. Mas ter 20 lutas me dá muita confiança
para seguir vencendo. Não tenho esse peso extra, não.
Não fico querendo saber o que Jon Jones diz de mim. Não fico vendo entrevistas desse peão aí, não"
Glover Teixeira
Mesmo com um cartel impressionante, uma das críticas feitas a
você, é que você não enfrentou grandes nomes da divisão por ter pouco
tempo de UFC. O que você acha disso?
Alguns fazem críticas boas, que a gente procura entender. Mas tem umas
que não fazem sentido nenhum, e aí eu não tô nem aí também. Pô, tem cara
que não entende p*** nenhuma e está falando lá na internet. Lá tem
neguinho que assiste até novela das oito. Sabe mais de novela das oito
do que de MMA e quer...sei lá... são caras que, se você der um grito, é
capaz deles saírem correndo. Mas tem críticas boas também. Fãs que
sabem, que criticam... e eu sou sincero, humilde e penso: "É verdade o
que esse cara tá falando". Agora, sobre nomes, cara, eu nunca pedi luta
nenhuma no UFC. Eles me deram e eu peguei, entendeu? Agora não sei quem
eles poderiam querer. Me dá um nome que eu vou lutar.
Jon Jones comparou você ao Quinton "Rampage" Jackson, apenas com um grappling melhor. Que você acha disso?
Eu nem estava sabendo disso. Fiquei sabendo agora. Não fico olhando
entrevista de Jon Jones. Eu olho as lutas dele, mas não fico querendo
saber o que o Jon Jones está falando de mim, nem entrevista de ninguém.
Não fico vendo entrevistas desse peão aí, não. Com relação à comparação,
eu acho que eu e o Rampage temos algumas coisas a ver, mas somos dois
caras diferentes. Quando o Rampage entrou no ringue, ele já tinha sido
campeão, já tinha muito dinheiro no banco, não estava nem aí mais para
lutar. Eu, não. Estou com fome de título e vou buscar esse cinturão.
Você é um lutador das antigas, e o Josh Barnett (peso-pesado
que retornou ao UFC após 11 anos) também é. Ele disse que os lutadores
hoje falam muito, promovem muito as lutas, enquanto os antigos lutam por
sangue e honra. Você tem isso também? Você acha que, apesar do UFC ser
show business, você luta pelo espírito guerreiro?
Eu adoro a luta, e acho que quem promove a luta faz bem para o esporte
também. Os fãs gostam de ver isso. É claro que eu não vou falar mal de
alguém que eu goste. Se tiver alguém que eu não goste, eu falo mesmo.
Mas o Josh Barnett é das antigas, antigas mesmo. Eu comecei praticamente
agora (risos).
Na sua cadeira, tranquilo, no dia 21 de setembro, com o status
de já estar garantido na próxima disputa de título, como você vai
assistir a essa luta entre Jon Jones e Gustafsson? Muito pão de queijo e
uma cachacinha para relaxar?
(Risos) Não, cachaça nada. Beber uma cervejinha só mesmo na semana
depois da luta porque é uma semana para comemorar. Mas eu já vou estar
treinando quando for ver essa luta, já vou estar observando de perto,
todos os movimentos. E é importante ver, analisar os movimentos que eles
podem fazer. Vai ser bom para mim.
Concentrado
apenas em subir no octógono para nocautear, Glover Teixeira não pensa
em fazer propaganda como outros ídolos do MMA nacional (Foto: Alexandre
Fernandes)
O Brasil tem alguns ídolos no MMA, como o Anderson Silva, Vitor
Belfort, José Aldo e você está surgindo. O público brasileiro está cada
vez mais te conhecendo. Você se imagina fazendo propaganda de
barbeador, de cerveja, de cueca para consolidar a sua imagem?
Eu não me imagino. Eu só penso nas lutas. Mas é claro que propaganda
vindo e me pagando, meu irmão, eu vou e faço. Faço o que for preciso.
Mas, assim, eu não fico pensando muito nesse lado de propaganda, de
dinheiro. O dinheiro que eu ganho no UFC é algo que eu nunca pensei em
ganhar, e estou feliz com o que está acontecendo. Só tenho pensamento na
luta, no esporte. Essa parte aí eu deixo para o meu empresário.
Faço o que for preciso. Mas, não fico pensando muito nesse lado de
propaganda. O dinheiro que ganho no UFC, eu nunca imaginei que ganharia"
Glover Teixeira
Foi divulgado que na sua última luta você ganhou mais de R$ 100
mil. Mas uma luta de título vale muito mais, o prêmio é muito maior. Já
pensou no que fazer ganhando R$ 500 mil, R$ 1 milhão, como outros
grandes nomes do esporte?
Não, não imaginei isso. Eu penso só na luta, mas claro, se ganhar um
dinheiro desses você tem que guardar, para depois não precisar fazer
mais nada e viver só da luta mesmo. Viver só do esporte, que é uma coisa
que eu gosto. Mas no momento eu só penso em vencer. Ir para a luta e
lutar. Claro que eu penso no dinheiro, mas eu quero o cinturão. Se
falarem que eu vou lutar de graça, eu vou lutar, mas para pegar o
cinturão para mim.
Você falou antes que não escolhe lutador. O que o UFC te
passar, você vai enfrentar. Aqui no Brasil sempre teve essa coisa de não
querer lutar com companheiro de treino, ou com um amigo... Você não
teria problema nenhum com isso?
É, eu não tenho nenhum companheiro de treino na minha categoria agora.
Tenho grandes amigos, mas é aquele negócio. É o esporte, e a gente tem
que lutar pelo esporte. E o único companheiro de treino que eu tinha na
minha categoria, era o Lyoto Machida, que baixou agora.
Trouxeram pra essa entrevista muitos doces, tem ali um
refrigerante, e os lutadores têm essa briga com a balança sempre. Você
acabou de passar por isso. Depois da luta você dá uma relaxada legal?
Mete o "pé na jaca"?
É, uma semana depois da luta eu sempre faço isso, mas também não é
assim. É moderado, eu como um doce aqui, uma coxinha nesse último dia de
mini-férias, mas amanhã já começa a rotina de treinos de novo nos EUA,
dando uma corridinha leve. Eu sempre tiro uma semana para fazer isso aí.
Comer e beber umas coisinhas.
E você, bom mineiro, come um pãozinho de queijo, um doce de
leite, um torresminho. Já levou lá para os gringos provarem? Qual a
reação deles quando você leva os quitutes para lá?
Agora eu tô levando rapadura, doce de leite e cachaça para eles lá. Pão
de queijo eles comem bem lá, porque tem uma padaria brasileira. Mas vou
levar uma cachacinha boa daqui para deixar eles bêbados (risos).