Benavidez ignora estatística e planeja roubar torcida de Formiga em BH
Ex-desafiante número 1 diz que sempre se sai bem contra
lutadores vindos do jiu-jítsu e espera subverter tendência de derrotas
de americanos no Brasil
Por Adriano Albuquerque e Evelyn Rodrigues
Las Vegas
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No último evento do UFC no Brasil, os lutadores estrangeiros
experimentaram o sabor amargo de se enfrentar um brasileiro em sua casa:
os atletas locais venceram todas as sete lutas internacionais do
evento. A tendência não é novidade: desde que o Ultimate voltou a fazer
torneios no país, lutadores brasileiros venceram mais de 80% de suas
lutas contra "gringos". Quando o duelo é contra americanos, o
aproveitamento diminui um pouco, mas segue excelente: 77,1%, sendo 27
vitórias em 35 lutas.
Quando aceitou a luta contra o potiguar Jussier Formiga no UFC: Glover x
Bader, no próximo dia 4 de setembro em Belo Horizonte, o americano
Joseph Benavidez
jamais tinha ouvido essa estatística. Apesar disso, o ex-desafiante
número 1 dos pesos-moscas não se preocupou ao ouvir a novidade, durante
uma entrevista para o Combate.com.
Joseph Benavidez: confiante para luta em BH contra Jussier Formiga (Foto: Evelyn Rodrigues)
- Do jeito que penso, ouvindo essas estatísticas, basicamente, penso
que é uma nova luta. Essas lutas não afetam a minha luta. Vou enfrentar
um cara pela primeira vez, essa é a estatística que interessa para mim e
não o resto delas, porque essas pessoas não são eu e nem o Formiga. É
assim que tenho que encarar quando tem algo tão louco quanto isso. Mas
se eu fosse brasileiro, por outro lado, eu iria certamente adotar isso!
(risos) "Se eles vierem aqui, vou ganhar deles", isso me daria
confiança, mas como não está do meu lado, vou ter que deixar de lado e
esquecer - explicou Benavidez.
Ao invés disso, o lutador da equipe Alpha Male espera fazer uma grande
luta contra o atleta da Nova União e roubar a torcida do adversário com
sua atuação.
- Não é nenhum segredo que os brasileiros são os fãs mais apaixonados
de MMA do mundo. Na primeira luta da noite, eles estarão na arena,
gritando. Vou enfrentar um brasileiro, então eles provavelmente vão me
odiar antes da luta, mas, ao final, planejo que eles estejam me amando,
torcendo por mim, e roubar o coração deles ao dar tudo o que tenho. Já
fui ao Brasil antes, no Rio, me diverti muito, então poder ir para lá e
lutar é incrível - afirmou.
Confira abaixo a entrevista de Benavidez na íntegra:
Combate.com: Na sua próxima luta, você vai enfrentar um brasileiro, no Brasil. Você está empolgado?
Joseph Benavidez: Sim, estou empolgado, vamos nessa.
Eu e Formiga nos enfrentarmos em setembro no Brasil... Não é nenhum
segredo que os brasileiros são os fãs mais apaixonados de MMA do mundo.
Na primeira luta da noite, eles estarão na arena, gritando. Vou
enfrentar um brasileiro, então eles provavelmente vão me odiar antes da
luta, mas, ao final, planejo que eles estejam me amando, torcendo por
mim, e roubar o coração deles ao dar tudo o que tenho. Já fui ao Brasil
antes, no Rio, me diverti muito, então poder ir para lá e lutar é
incrível.
Lembro que você esteve no primeiro UFC Rio para assistir. Qual
foi sua sensação? Você ficou surpreso com a paixão e intensidade da
torcida?
Foi surpreendente, com certeza. Eu certamente esperava que ficasse bem
barulhento quando Anderson Silva lutasse, aquele cara vai fazer você
gritar não importa aonde ele lute, mas estava em outro nível. Estava
louco, muito intenso. E não só isso, desde a primeira luta da noite! Se
você vai a Las Vegas, ou a qualquer outro lugar, e é a primeira luta da
noite, você tem sorte de sequer ter alguém na plateia assistindo. Lá,
não só há uma plateia, eles estão prontos para gritar. Foi
surpreendente. Foi a torcida mais barulhenta, apaixonada e intensa que
já vi. Isso traz o melhor de um lutador.
Benavidez nocauteou Darren Uyenoyama em sua
última luta (Foto: Getty Images)
Sua equipe, Alpha Male, tem uma rivalidade com a equipe do Formiga, Nova União...
Nós temos? Não fazia ideia! (risos) Não, estou só brincando.
Vocês parecem sempre estarem se enfrentando e são considerados
os dois melhores times nas categorias mais leves. Isso te motiva mais?
Com certeza. Alguém mencionou isso para mim e eu nunca pensei nisso
antes. Nós lutamos individualmente e não notamos isso. Mas alguém
mencionou que não nos saímos muito bem contra eles. E dizem que nós
somos uma boa equipe de categorias mais leves, gostaria que parassem de
dizer isso e disserem que somos uma boa equipe no total, por que de que
importa (a categoria)? Somos todos grandes lutadores. Mas de qualquer
forma, isso não é minha maior motivação, bater alguém da Nova União.
Quero apenas bater quem estiver na minha frente e, se for um cara da
Nova União e eu puder honrar o meu time e meus treinadores desta forma,
melhor ainda. Só estou olhando para o Formiga como um lutador individual
que vou enfrentar.
O jogo do Formiga não é um mistério: ele gosta de colocar para
baixo e finalizar com seu jiu-jítsu. A chave para você é manter a luta
em pé?
Com certeza. Mas sou um lutador completo. Se eu derrubar Formiga, acho
que vou me dar bem e, se ele me derrubar, eu vou estar bem. Acho que ele
não vai me finalizar mesmo que me coloque para baixo. Tenho 100% de
confiança que posso me levantar e sair de baixo, passar a posição... É
uma luta, nós dois somos completos, e sei que o jogo em pé do Formiga
está melhorando. Estou empolgado, porque sinto que ele é quase uma
versão melhor e mais rápida do meu último oponente, Darren (Uyenoyama).
Um pouco melhor, mais rápido, mais jovem, melhor em pé, um pouco melhor
nas quedas e no jiu-jítsu. Então é perfeito. Eu destrocei (Darren),
então acho que é um bom casamento de luta para mim. Sempre me saio muito
bem contra caras do jiu-jítsu, não sei por quê. Estou muito animado.
Acho que tenho todas as ferramentas para fazer uma grande luta e
finalizar.
Você sente que esta é uma luta pelo posto de desafiante número 1?
Nem penso nisso. Mas, até onde ouvi, quando lutei com Uncle Creepy (Ian
McCall), poderia ter sido uma luta pelo posto de desafiante número 1,
mas queria me manter lutando, sem me estressar em lutar pelo título.
Quero melhorar luta a luta, pegar cada luta que vier. Acho que sou o
próximo melhor lutador da divisão após Demetrious (Johnson, atual
campeão), então qualquer luta que eu vencer, posso lutar pelo título em
seguida. Vamos ver o que acontece, a divisão é muito pequena, então não
há muitas outras coisas que eles possam fazer. Após eu vencer minha
terceira luta seguida, eles podem querer me dar outra chance e eu
estarei pronto. Mas, se tiver que lutar mais uma, estarei pronto também.
Joseph Benavidez perdeu a disputa pelo cinturão para Demetrious Johnson em 2012 (Foto: Getty Images)
Todos têm falado que os treinos na Alpha Male ficaram muito
bons depois que o Duane Ludwig chegou, mas você viajou e ficou um tempo
longe do time. O que você tem feito?
Eu sempre fiz isso. Eu costumava buscar treinos porque eu não estava
muito contente com nossos treinadores. Sempre gostei do time, somos uma
família e literalmente tenho os melhores caras da minha categoria para
treinar, e maiores do que eu, o que torna isso ainda melhor. Mas não é
nenhum segredo que, até Duane chegar, não havia muita direção. Eram
lutadores treinando lutadores, entrando no pau, e dizendo "É, cara, você
foi muito bem hoje!" Não tinha técnicos treinando, fazendo coisas de
treinador, como assistir vídeo e analisar oponentes, fazendo uma
estratégia. Eu viajava muito, fazia isso muito aqui em Las Vegas, mas
agora que temos o Duane, sinto que não preciso mais ir a lugar nenhum.
Outra coisa boa de ser do Alpha Male é que temos muitos caras do mundo
inteiro vindo até nós para treinar conosco. Teve uma vez que tivemos uma
"invasão japonesa", tínhamos uns seis japoneses ao mesmo tempo. Mas
outra semana, fui a Cingapura para treinar na Evolve MMA, um ótimo
lugar, com grande time e academia, uma das academias mais bonitas que já
vi, tive bons treinos, com ótimos caras do jiu-jítsu. Temos caras muito
bons no jiu-jítsu, mas quando você treina com faixas-pretas de alto
nível, é outra coisa. E como vou enfrentar um cara do jiu-jítsu agora,
funcionou ainda melhor. Também fui à Tailândia para treinar um pouco,
viajar é muito bom e conhecer novos caras. Mas, sinceramente, a única
coisa que eu sentia falta lá era que pensava que eu estava perdendo a
aula do Duane (risos). Pensava no que ele estava ensinando e melhorando,
e pensei, "Droga! Eu estaria melhorando tanto com isso e aquilo!" Mas
eu gostei de viajar e farei mais no futuro.
Você viu as estatísticas que fizeram de americanos lutando no
Brasil contra brasileiros? Desde que o UFC começou a ir ao Brasil (em
2011), americanos enfrentando brasileiros só venceram cerca de 23% das
lutas. Os brasileiros vencem 77% das vezes em casa. O que você acha
disso?
Também tem que ser considerado que os brasileiros são grandes lutadores
em geral. Estamos falando de como a torcida é tão apaixonada, e isso
deve fazer alguma diferença - deve inspirar muito ter uma cidade inteira
te apoiando ao entrar. Mas talvez tenha sido o casamento das lutas. Do
jeito que penso, ouvindo essas estatísticas, basicamente, sinto que é
uma nova luta. Essas lutas não afetam a minha luta. Vou enfrentar um
cara pela primeira vez, essa é a estatística que interessa para mim e
não o resto delas, porque essas pessoas não são eu e nem o Formiga. É
assim que tenho que encarar quando tem algo tão louco quanto isso. Mas
se eu fosse brasileiro, por outro lado, eu iria certamente adotar isso!
(risos) "Se eles vierem aqui, vou ganhar deles", isso me daria
confiança, mas como não está do meu lado, vou ter que deixar de lado e
esquecer.
Sua última luta foi uma de suas melhores atuações. Você sente
que tem que vencer de forma enfática para provar que está à frente dos
outros?
Sem o título e sem as pessoas estarem querendo julgar se devo estar na
luta pelo título, sempre quero me provar e bater o cara tanto quanto eu
puder. Sempre me arrisco e faço minha luta não importa o que haja. Posso
tentar três guilhotinas contra um faixa-preta que é excelente por cima.
Vou sempre dar tudo de mim e tentar bater o máximo que posso. Perder a
luta pelo título certamente me deu uma motivação extra para lutar e dar o
meu melhor. É muito cliché, mas dizem que você aprende muito com suas
derrotas, e eu aprendi muito mentalmente com esta. Eu melhorei muito.
Tenho uma visão muito melhor da luta agora, que não é vida ou morte.
Isso não sou eu. Eu sempre me diverti, vencendo ou perdendo, e a luta do
título, eu encarei como se fosse vida ou morte. Perdi e não morri,
minha família ainda me ama, minha namorada ainda gosta de mim. Não dá
para levar tão a sério. Estou lutando como eu lutava e estou me
divertindo. Duane também tem um papel nisso. Acho que eu não teria
destroçado o Uyenoyama como fiz se não fosse a tutelagem do Duane por
todo o ano. Eu sempre estive confortável no ataque, mas agora estou mais
limpo e mais técnico. Quero entrar e mostrar que sou o melhor do mundo,
mas isso não importa, porque você vai ter que provar outras vezes.
Então, quero apenas lutar, melhorar, receber meu pagamento, e lutar para
quando chegar ao título, fazer a melhor luta que posso. Você não pode
controlar o resultado. Isso é outra coisa que aprendi. Era uma coisa que
estava tentando fazer naquela luta, controlar o resultado, e não soltei
meu jogo.