Diretor do WSOF paga para ver card do Bellator e pede dinheiro de volta
Ali Abdelaziz provoca evento rival, esclarece polêmica
com Toquinho, defende Renzo Gracie e diz que Marlon Moraes é o melhor
lutador da organização
Por Ivan Raupp
Las Vegas, EUA
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Ali Abdelaziz (Foto: Arquivo Pessoal)
Ali Abdelaziz é quem tem dado voz ao
World Series
of Fighting, e ele parece ter gostado de provocar o Bellator, evento
que concorre com o dele pelo posto de segundo colocado no mercado do
MMA. O vice-presidente executivo e matchmaker do WSOF já havia feito o
desafio de promover um card inteiro com lutas entre os atletas das duas
empresas, e agora cutucou ainda mais os rivais ao dizer que dormiu
assistindo no dia 17 de maio ao Bellator 120, o primeiro evento de pay
per view da história da organização e que contou com Rampage Jackson x
King Mo Lawal na luta principal. Abdelaziz admitiu que pagou para ver o
card, mas se arrependeu:
- Tenho que admitir que comprei o pay per view, mas quero meu
dinheiro de volta.
Comprei porque sou um fã de MMA, mas eu dormi duas vezes durante o
evento. Era muita falação. Quando você compra o pay per view do UFC, é
luta, luta e luta, você fica empolgado. (...) Se eu puder entrar com um
pedido para ter meu dinheiro de volta, vai ser ótimo (risos). Comprei e
caí numa pegadinha - ironizou, em entrevista ao
Combate.com.
O dirigente rasgou elogios a Marlon Moraes, campeão peso-galo do WSOF, e
disse que o brasileiro venceria um duelo contra Renan Barão,
considerado o
melhor do mundo
da categoria mesmo tendo perdido o cinturão para TJ Dillashaw no UFC
173. Para Abdelaziz, Marlon seria o número 1 peso por peso do World
Series se houvesse um ranking.
- Justin Gaethje seria o número 2, (Rousimar) Palhares o 3, e o Josh
Burkman viria em seguida. Depois teria o David Branch e talvez o
(Yushin) Okami - completou.
Ali Abdelaziz também saiu em defesa de
Renzo Gracie,
que é seu mestre e amigo e que foi preso após se envolver em confusão
numa boate em Nova York, esclareceu a polêmica situação com Rousimar
Toquinho e descartou a possibilidade de o WSOF ser comprado pelo UFC no
futuro, assim como foram o WEC e o Strikeforce. Ele ainda gravou um
vídeo comentando o plano de levar eventos da organização para o Brasil (
veja o vídeo no pé da matéria).
A seguir, leia a entrevista com Ali Abdelaziz na íntegra:
COMBATE.COM: Você está morando em Las Vegas. Por que decidiu sair de Nova York?ALI ABDELAZIZ: Decidi me mudar
para Las
Vegas porque meu escritório é aqui. Tenho a academia do Wanderlei
(Silva) para treinar aqui. Nova York é um pouco longe. Eu fiz esse
sacrifício pelo World Series of Fighting e vim para Las Vegas, que é
onde tudo acontece.
Se eu puder entrar com um pedido para ter meu dinheiro de volta,
vai ser ótimo (risos). Comprei e
caí numa pegadinha"
Ali Abdelaziz, sobre PPV do Bellator
Fale-nos sobre essa nova fase da sua carreira, como matchmaker e vice-presidente executivo do WSOF.
Eu continuo sendo um cara normal. Acordo pela manhã, vou treinar um pouco, vou para o trabalho e volto.
Brinco com
as crianças, levo para a ginástica, para a natação. Ligo para os meus
amigos, combinamos de treinar jiu-jítsu. Ligo para meus amigos em Nova
York. É a mesma coisa. Sou o mesmo cara.
Com a lesão de Jake Shields, Josh Burkman será o adversário de Jon Fitch pela terceira vez. Ele finalizou Fitch há pouco tempo no próprio WSOF. Foi fácil fazê-lo aceitar essa luta?
Josh Burkman é um daqueles caras que nunca recusa uma luta. Ele sempre
aceita no primeiro telefonema. Só tenho respeito por ele como atleta.
Realmente o respeito muito.
Sabe quando o Shields deve voltar? E o que planeja para a volta dele?
Acho que quem vencer essa luta (Fitch x Burkman) vai enfrentar
(Rousimar) Palhares pelo cinturão. Não estou certo dos planos para Jake
Shields. Tenho o Brian Foster. Talvez eu tenha o Gerald Harris, se ele
decidir voltar da aposentadoria. Pode ser também o Marcelo Alfaya. Tenho
outros caras contra quem o Jake Shields pode lutar.
E você sabe quando o Toquinho vai voltar?
Neste momento não estou incomodando o Palhares. Estou deixando ele focar na mãe dele. Quando ele estiver pronto, vai voltar.
Toquinho finaliza Steve Carl para se tornar campeão meio-médio do WSOF (Foto: Reprodução / Facebook)
Você fez críticas após o Toquinho ter saído da luta contra o Jon Fitch, que deveria ser em julho. O que realmente houve?
Desde o início, ninguém queria contratar o Palhares, nem as próprias
pessoas do WSOF. Eu fui o único cara que quis contratá-lo depois que o
UFC o demitiu. Fui a
única pessoa
do planeta a querer o Palhares. O Renzo Gracie me disse que ele era boa
pessoa. Algumas pessoas da imprensa tentaram distorcer as coisas.
Disseram que eu falei que não queria deixá-lo ir cuidar da mãe. Isso é
uma mentira completa. O que eu disse foi que estava muito frustrado, não
com Palhares, mas com a situação, porque ninguém queria enfrentar
ninguém. Ofereci ao Gerald Harris a luta contra o Jake Shields, mas ele
recusou. Outros
lutadores
também recusaram lutas. E senti que o meu trabalho, como matchmaker e
um dos donos da empresa, estava difícil, porque eu não conseguia fechar
as lutas para o
entretenimento
dos fãs. Por que se tornar um lutador se você não quer lutar? Todo
mundo quis fazer seu próprio caminho. Um queria lutas fáceis, outro
queria ir para o UFC. Foi por isso que emiti um comunicado dizendo que
não liberaria mais ninguém para o UFC. Se o cara honra o contrato e
chega a hora de ir, ele pode ir, assim como Anthony Johnson e Andrei
Arlovski. Eles vieram até mim como homens, disseram que queriam ir para o
UFC. O contrato deles tinha terminado. Eu os parabenizei. Não estarei
sendo um ser humano se disser para alguém não ir cuidar de sua mãe. As
pessoas me entenderam mal. Eu já disse e reafirmo que o Palhares pode
demorar o quanto for preciso para cuidar da mãe dele. Quando estiver
pronto para voltar, pode lutar. Ele é o campeão.
Você mencionou o Renzo Gracie. Falou com ele depois da prisão? O que houve?
Vejo muita gente falando do Renzo. O Renzo Gracie alimenta os pobres,
dá agasalho para os sem-teto, coloca gente para treinar na academia por
mais de um ano de graça. Comigo foi assim. Ele me deu um lugar para
morar, me deu comida, emprego, tudo. Ele
várias vezes
encontrou um vagabundo na rua e o trouxe para jantar conosco. E as
pessoas já o insultaram muitas vezes na minha frente, e o que ele fez
foi sorrir para elas.
Renzo Gracie (Foto: Adriano Albuquerque)
Por que as pessoas insultam o Renzo?
Não muitas vezes, mas algumas vezes. Por exemplo, alguém no trânsito,
ou alguém que diz alguma coisa. O povo de Nova York é muito nervoso, o
tempo todo. Eu já quis discutir e brigar, mas ele fala para ficar calmo.
É uma ótima pessoa. O que aconteceu na boate foi que havia um cara
comemorando aniversário, não tenho certeza, e tem muito fanfarrão em
Nova York, muito cara que faz bullying. Tem muitos seguranças assim. E
acho que o que aconteceu foi um mal-entendido. As pessoas têm que
entender que Renzo, Gregor e Igor Gracie são caras ótimos, uns dos
melhores que você vai encontrar na vida. Esse lado da Família Gracie, o
lado do Carlos Gracie, só tem gente ótima, que ajuda os outros. Renzo
Gracie é como um Deus, um Deus humano. É uma pessoa incrível.
O que achou do evento do Bellator que teve pay per view?
Tenho que admitir que comprei o pay per view, mas quero meu dinheiro de
volta. Comprei porque sou um fã de MMA, mas eu dormi duas vezes durante
o evento. Era muita falação. Quando você compra o pay per view do UFC, é
luta, luta e luta, você fica empolgado. Na verdade a única luta que eu
queria assistir era a do Michael Chandler contra o Will Brooks. Não me
importava com as outras lutas. E o Bellator sempre tem problema com as
comissões. Não sei se são amigos ou algo assim, mas não acho que o
Rampage venceu aquela luta (contra
King
Mo). Ele perdeu com certeza. Se eu puder entrar com um pedido para ter
meu dinheiro de volta, vai ser ótimo (risos). Comprei e caí numa
pegadinha.
O que acha de Rampage e Tito Ortiz estarem lutando no Bellator?
Como fã assíduo de MMA, sempre vejo. Mas eles são dois leões velhos,
estão quebrados. Quando você vê Tito Ortiz, ele parece estar velho. Esse
cara, o Bjorn Rebney (presidente do Bellator), disse que (Alexander)
Shemlenko é o melhor peso-médio do mundo. Ele está louco. Shemlenko é um
cara novo num corpo velho. Tito Ortiz perdeu suas últimas lutas e está
com quase 40 anos. E porque venceu um jovem campeão deve ser considerado
o melhor do mundo? Isso mostra o tipo de qualidade dos lutadores do
Bellator. Até o Chandler não lutou como de costume.
Assinamos com Sheymon Moraes, Matt Hamill, Ronny Markes. E o Bellator assinou com o (Rameau) Sokoudjou (risos)"
Ali Abdelaziz
Você tentou contratar o Rampage quando ele saiu do UFC.
É verdade, tentei, mas achei que não seria inteligente gastar todo
aquele dinheiro nele. Ele pediu muito dinheiro. Acho que o Bellator paga
a ele milhões de dólares. É loucura. Para um cara como ele? Posso pegar
um cara como o Marlon Moraes, construí-lo e torná-lo uma grande
estrela. Prefiro investir no Marlon a longo prazo. Acho que foi uma
decisão ruim do Bellator. E ouvi que o Tito Ortiz ganhou US$ 2 milhões
na última luta.
O WSOF acabou de renovar o contrato do Marlon Moraes, certo?
Renovamos, mas não posso dizer por quantas lutas. Ele teve a opção de
ir para o UFC, mas optou por continuar com a gente. Ele disse que o
evento esteve ao lado dele, então ele vai estar ao lado
da empresa.
Ele quer ajudar a construir a empresa assim como a empresa ajudou a
construí-lo. Ele é um cara muito leal, e acho que é o melhor peso-galo
do mundo. Se ele enfrentar Barão, acho que vai nocauteá-lo. Realmente
acredito nisso. Em questão de estilo o Marlon não é um bom casamento
para ele. O Barão vai muito para cima na trocação, e o Marlon tem um
contragolpe muito bom. Ele é muito preciso. Eles já treinaram juntos,
nunca vi, mas soube que o Marlon sempre tirou o melhor do Barão.
Melvin Guillard vai enfrentar o Gesias Cavalcante. Se vencer, ele tem chance de lutar pelo cinturão em seguida?
Acho que não. Ele primeiro lutaria contra outro cara. O Luis Palomino
enfrenta o Brian Cobb em 5 de julho. Se Melvin e Palomino vencerem,
podem se enfrentar para ver quem disputa o cinturão. Não posso deixar o
Palomino para trás, porque ele venceu o (Jorge Patino) Macaco, e foi uma
grande vitória.
O UFC tem um ranking. Se existisse um no WSOF, o Marlon Moraes seria o número 1 peso por peso?
Sim, 100%. Não tenho dúvida de que ele seria o número 1 peso por peso.
Quem mais se destacaria nesse ranking peso por peso?
Justin Gaethje seria o número 2, (Rousimar) Palhares o 3, e o Josh
Burkman viria em seguida. Depois teria o David Branch e talvez o
(Yushin) Okami.
Marlon Moraes é o campeão peso-galo do WSOF (Foto: Evelyn Rodrigues)
Algumas pessoas acreditam que o WSOF será comprado pelo UFC no futuro. Existe essa chance?
Isso nunca vai acontecer. Garanto isso. Acho que o UFC não consegue
comprar o WSOF. Gastamos muito dinheiro nessa empresa. E não acho que o
UFC queira comprar todos os eventos. Acho que eles querem concorrência,
contanto que seja limpa.
Vocês vão promover um card no dia 5 de julho. Por que fazer um evento no mesmo dia do UFC 175? Está preocupado com isso?
Não. É uma semana importante para as lutas (semana da UFC Fan Expo).
Nós vamos fazer o evento antes do UFC, vamos abrir o show para eles. O
evento deles começa às 16h (de Las Vegas), e o nosso já terá terminado a
essa hora. Se você é fã de lutas, vai sentar na frente da televisão e
verá ótimos cards. Estamos em 60 países agora.
Esse lado da Família Gracie, o lado do Carlos Gracie, só tem gente
ótima, que ajuda os outros. Renzo Gracie é como um Deus, um Deus humano.
É uma pessoa incrível"
Ali Abdelaziz
Já existe um local para o evento de 5 de julho?
Sim, mas não podemos revelar ainda, porque o negócio está sendo fechado.
E quais são os planos para Yushin Okami?
Eu pensei em pedir para ele subir de peso e enfrentar Ronny Markes.
Isso passou pela minha cabeça. Mas Ronny Markes x Matt Hamill faz mais
sentido.
O WSOF assinou com Sheymon Moraes...
Assinamos com Sheymon Moraes, Matt Hamill, Ronny Markes. E o Bellator assinou com o (Rameau) Sokoudjou (risos).
Você contrataria o Sokoudjou?
Não. Eu poderia, mas disse "não". Ele perdeu muitas lutas.
Falamos com o Ivan Jatobá, do Standout Fighting Tournament, e
ele disse que a negociação com o WSOF estava pausada, e não encerrada.
Você ainda considera um acerto com o SFT para o futuro?
É possível, porque gosto dele. Falei com ele e os parceiros dele, mas
eles pediram muito. Queriam que nós déssemos parte da marca a eles. Não
vamos fazer isso com ninguém. Mas o Ivan é um cara legal e gosto muito
dele. Não está acabado o negócio, com certeza.
E quando vocês enfim vão levar o WSOF ao Brasil?
Quando eu achar o parceiro certo. Estou procurando um parceiro forte
para levar o World Series ao Brasil. Tem que ser alguém brasileiro e que
entenda de negócios. O UFC, quando foi ao Brasil, contratou uma empresa
(IMX). Agora eles demitiram essa empresa e estão fazendo por conta
deles próprios. Não vou fazer isso. Quero um parceiro por um longo
tempo, não apenas por pouco tempo.
O parceiro tem que ser um evento de MMA ou pode ser uma pessoa só ou uma empresa fora do ramo?
Sim, pode ser um
cara com experiência, que tenha contatos para fazer um evento.
Acha que essa estreia no Brasil pode mesmo acontecer este ano, como era planejado?
Realmente quero isso. Essa é minha meta. O cenário não está muito bom
agora. Mas o Ivan (Jatobá) me ligou há pouco e, de repente, podemos
conversar.
E esse trabalho de matchmaker? É muito estressante? Está se sentindo na pele do Joe Silva e do Sean Shelby (matchmakers do UFC)?
Adoro essas caras. Eles vivem em cavernas, estão estressados o tempo
todo. São caras legais. Agora eu entendo o que eles passam. Não é um
trabalho fácil, é muito duro. Eu me sinto sortudo e abençoado por fazer
isso. Tento me divertir. Mas não é a única coisa que faço. Eu lido com
muitas outras coisas do WSOF, como patrocinadores, imprensa, relações
públicas. Tenho muitas obrigações. E tenho ótimos parceiros. Estou
apenas me divertindo.