Derrota de Renan Barão interrompe hegemonia do Brasil entre os galos
Americano TJ Dillashaw vira "intruso" entre os campeões
da categoria até 61 kg nos quatro principais eventos de MMA do mundo da
atualidade
Por Raphael Marinho
Rio de Janeiro
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A incontestável vitória de TJ Dillashaw sobre Renan Barão no último
sábado, em Las Vegas (EUA), pelo UFC 173, não significou apenas a perda
de mais um cinturão para o Brasil no Ultimate - que agora tem apenas o
de José Aldo nos penas -, mas também a interrupção do domínio dos
lutadores brasileiros nos pesos-galos nos quatro principais eventos do
mundo atualmente (UFC, Bellator, WSOF e One FC). Agora, o americano
surge como "intruso" no hall de campeões, ao lado de
Dudu Dantas, Marlon Moraes e Bibiano Fernandes.
TJ Dillashaw se tornou o intruso entre os brasileiros, após vitória sobre Renan Barão (Foto: Editoria de arte)
Apesar da derrota de Barão, o que não acontecia há nove anos, os
brasileiros provavelmente terão nova chance em breve de retomar o
monópolio da categoria, já que Dana White afirmou que o próximo
desafiante pode ser Raphael Assunção ou o próprio Renan Barão, que já
declarou que pretende fazer revanche imediata contra TJ Dillashaw em seu próximo duelo.
Se Barão e Assunção despontam como candidatos ao posto de número 1 da
maior organização do mundo, o trio de brasileiros que se destaca nos
outros eventos prova que existe vida fora do UFC e que o país está muito
bem servido dentro da divisão. O
Combate.com conversou
com os campeões em suas respectivas organizações e viu que eles pensam
de forma diferente quando o assunto é migrar para o Ultimate.. Enquanto
Marlon não esconde o desejo de ser contratado, Dudu evita falar no
assunto, garantindo que quer apenas se manter no Bellator. Já o mais
experiente dos três, Bibiano Fernandes, já teve chance de ir, mas
praticamente descartou qualquer possibilidade de deixar o One FC pela
diferença no valor da bolsa oferecida pelos dois eventos.
Marlon Moraes sonha com UFC e quer desafios no WSOF
Marlon Moraes chegou ao WSOF em novembro de 2012 e teve que encarar uma
pedreira logo de cara ao lutar com o ex-UFC Miguel Torres. O triunfo
veio por decisão dividida. Depois, ele venceu mais três adversários
(Tyson Nam, Brandon Hempleman e Carson Beebe) para ganhar a chance de
disputar o cinturão inaugural do peso-galo, quando ganhou por decisão
unânime de Josh Rettinghouse.
Hoje, é considerado uma das principais promessas do Brasil no MMA.
Porém, em 2011, chegou a possuir um irregular cartel de seis vitórias,
quatro derrotas e um empate. A partir daí, ele emplacou uma série de
sete triunfos consecutivos que culminou com o cinturão dos galos no
WSOF. A nítida evolução, segundo ele, é fruto da mudança de mentalidade
dentro do esporte. Antes, ele acreditava que ser especialista no muay
thai, seu carro-chefe, seria suficiente para vencer as lutas. Após
admitir que este pensamento está ultrapassado na modalidade, cresceu
como atleta. O próprio lutador hoje se coloca como um dos 10 melhores do
mundo na divisão e não esconde que sonha em pisar no octógono do UFC.
- Eu tenho muita vontade. Já falei para todo mundo que vou lutar um dia
no UFC, mas hoje a realidade é outra. Sou empregado do WSOF e estão me
botando para lutar em um período bom. Às vezes no UFC é só luta dura, aí
você perde uma e fica muito tempo sem lutar. A gente quer sempre estar
lutando e é uma estabilidade boa que tenho no WSOF para mostrar meu
trabalho. É o que a gente vive. Confio neles e tenho certeza que vão
cumprir o contrato comigo. Se um dia for ou não para o UFC, vou
continuar fazendo o que eu amo que é lutar - afirmou.
Marlon Moraes, com seu cinturão do WSOF (Foto: Evelyn Rodrigues)
Como o WSOF é um evento ainda novo, que surgiu em 2012, Marlon Moraes
ainda não vê muitos desafios para encarar dentro da organização. O
próprio cinturão dos galos foi criado este ano, quando o brasileiro se
tornou o primeiro campeão da categoria. Porém, ele tem planos até mesmo
de subir de categoria para realizar superlutas, caso lhe ofereçam.
Mesmo considerando que tem poucos desafios no WSOF, ele faz questão de
deixar claro que não desmerece a categoria e acredita que o nível dos
adversários é muito bom.
- Não é fácil não. Tem atletas duros, que já lutaram contra outros
muito bons, tem o Cody Bollinger, que vem como uma grande promessa do
UFC, mas não bateu peso na casa do TUF e por isso saiu do Ultimate e
veio para o WSOF. Tem o Pablo Alfonso, que é muito duro, o Josh
Rettinghouse, que está chegando e lutei com ele há pouco tempo, o Tyson
Nam, que já fez luta dura com muita gente, então o nível está bom. Como
falo para todos, estou em busca de desafios. E se um dia tiver que ir
para outro evento, vai chegar o dia - declarou.
A derrota de Renan Barão não mudou a opinião de Marlon Moraes sobre o
compatriota. Para ele, o lutador da Nova União continua sendo o melhor
do mundo na divisão e vai chegar mordido quando tiver a revanche com TJ
Dillashaw.
- Já tinha falado antes que o Dillashaw se movimenta bem, mistura bem
as artes marciais e conforme os rounds passassem, se tornaria perigoso.
Na minha opinião, o Barão é o melhor peso-galo atualmente, mas o
Dillashaw teve um dia bom, deu um show, lutou bem pra caramba. Temos que
reconhecer o mérito dele também. Vamos ver na próxima se ele vai
continuar lutando assim e tenho certeza que na revanche ele vai
encontrar um Barão mordido - analisou.
Dudu Dantas vê nível alto entre os galos do Bellator
No Bellator, Dudu Dantas é campeão desde abril de 2012, quando venceu o
hoje lutador do UFC Zach Makovski. Desde então, ele defendeu seu
cinturão duas vezes, contra Marcos Loro e Anthony Leone. Agora, deve
enfrentar o campeão interino Joe Warren em data a ser decidida pela
organização. Aos 25 anos, possui um respeitável cartel de 16 vitórias e
três derrotas e se firmou como principal nome da categoria dos galos no
Bellator. Para ele, o nível dos lutadores da organização não deixa nada a
dever para os do UFC. Como exemplo, ele cita o ex-campeão de sua
divisão,Zach Makovski, que atualmente é peso-mosca e, pelo Ultimate,
venceu Scott Jorgensen e Josh Sampo nas duas lutas que fez.
- Tenho um exemplo perfeito para demonstrar o nível: o Zach Makovsky
era campeão e tomei o título dele. Depois disso, ele saiu do Bellator,
hoje luta pelo UFC, e já tem duas vitórias no evento. Independente da
categoria que ele está hoje, mas prova que tem muitas qualidades. Tem o
Hector Lombard também, que saiu e agora é top no UFC. O nível aqui é
altíssimo. A categoria é cheia de caras fortes. Tenho uma história
inacabada com o Joe Warren, vamos acertar nossas contas em breve. Depois
disso, creio que o Rafael Morcego deva ter a chance ao cinturão que ele
conquistou vencendo o GP. Então, só essa sequência, já prova quão dura é
a divisão - disse o companheiro de Renan Barão na Nova União.
Dudu Dantas é campeão do Bellator desde 2012 (Foto: Fernando Azevedo)
Hoje, Dudu garante que sequer pensa em migrar para o UFC. Sua meta é
manter o cinturão do Bellator, sem se importar com rankings, mas não
descarta uma mudança de organização no futuro.
- Já pensei muito (em lutar no UFC), mas hoje não penso mais. Sou feliz
no Bellator, sou o campeão, muito bem tratado pela organização, então
não tenho motivos para mudar de lado. E o futuro está nas mãos de Deus,
vivo o meu presente, que é aqui. Vejo muita gente falando que os
melhores do mundo são Barão e eu, mas não ligo mesmo para isso. Não me
importo com ranking e nem com nada externo do meu mundo, que é treino e
luta. O importante é ser o número 1 no Bellator, e isso eu sou hoje,
então está bom (risos) - concluiu.
Feliz no One FC, Bibiano Fernandes praticamente descarta ir para o UFC
Pelo One FC, Bibiano Fernandes venceu todos os cinco compromissos que
teve. No segundo deles, ganhou o cinturão interino dos galos ao bater o
japonês Koetsu Okazaki. Na luta seguinte, se tornou campeão linear após
vencer o sul-coreano Soo Chul Kim e defendeu o título pela primeira vez
em maio, contra Masakatsu Ueda. O manauara já foi alvo do UFC em mais de
uma oportunidade. Em 2012, teve seu nome muito ligado à organização
como possível contratado, mas o negócio não foi adiante. A explicação é
simples: no One FC ele recebe mais de bolsa, o que tornou inviável a sua
ida para onde é o sonho de nove entre 10 lutadores de MMA. E a posição
dele segue firme sobre isso, praticamente descartando uma ida para o
Ultimate. O lutador, que tem 34 anos e um cartel de 16 vitórias e três
derrotas, diz não sentir falta da maior visibilidade que poderia ter e
garante estar feliz no evento asiático.
- Vivo minha vida. Não quero ser melhor do que ninguém. Gosto de lutar,
amo fazer isso por natureza. Tenho família, não posso pensar só em mim.
Se eu fosse um cara só, sem ter ninguém para ajudar, com certeza
lutaria (no UFC), mas não posso pensar assim mais. Sou profissional e
sei o que tenho que fazer. Muita gente quer que eu faça muita coisa, mas
a história é diferente. O UFC tentou me contratar duas, três vezes, mas
a bolsa impediu com certeza. Não tinha condições. É um grande evento,
bom pra caramba, mas com a vida que levo hoje, não tem condição. Não
estou lutando para ser famoso, é porque gosto. Não luto pelo ranking,
nem olho. Nunca fui ver onde estou. Só penso no dia da luta e que se der
meu melhor, vou ganhar - explicou.
Bibiano Fernandes: campeão do One FC já recusou ir para o UFC mais de uma vez (Foto: Isabella Pina)
A maior diferença de lutar em um evento asiático, onde a maioria dos
lutadores são japoneses, é a raça dos oponentes, na opinião de Bibiano.
Ele acredita que a tendência é enfrentar adversários cada vez mais
difíceis e elogiou seu último rival, Masakatsu Ueda, que foi derrotado
por decisão unânime.
- A última luta foi com um garoto muito duro, que já ganhou do Dudu
(Dantas), empatou com o (Marcos) Loro e ganhou do Royler (Gracie). Tive
uma luta muito dura porque ele era muito bom, escorregadio, e japonês
sobrevive mais. Quando se luta com japonês, tem que saber que tem que
nocautear ou finalizar porque eles gostam de apanhar e ir até o final. O
nivel está bom, os caras vem para cima e não querem saber quem é
Bibiano. Eles têm essa mentalidade e o evento está crescendo bastante -
finalizou.