'Arquivo vivo', ex-traficante deixa vida do crime e renasce a partir das lutas
Durante dez anos em que ficou preso, Fábio Leão largou
vício em drogas e se desligou de facção para dar aulas de artes
marciais. Hoje, coordena projeto
Por Ivan Raupp
Rio de Janeiro
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O ano era 2007, e o local em questão era a Penitenciária Moniz Sodré, situada no
Complexo
de Gericinó, em Bangu, no Rio de Janeiro. O diretor da unidade
prisional na época, Gilson Nogueira, leu a ficha de um dos detentos e
gostou de saber do envolvimento do mesmo com as
artes marciais. Em uma atitude inesperada, resolveu lhe dar uma oportunidade. O então traficante de drogas Fábio Leão, que era
gerente geral de uma facção conhecida, estava preso desde 1999 e havia acabado de ser transferido para lá.
Fábio Leão dá aula de artes marciais em presídios (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
- O doutor Gilson falou: "Fábio, você vai dar aula aqui dentro". E eu
falei: "Doutor, para mim não dá. Sou bandido. Tem mais de
15 anos que não boto uma luva na mão. Não consigo nem respirar direito, quanto mais dar aula". E eu era dependente químico,
viciado em cocaína,
maconha, cigarro, cachaça, tudo. Eu cuspia e saía igual à bandeira do
Flamengo (vermelho e preto). Meus pulmões estavam tomados, eu estava com
tuberculose. Era sangue, nicotina, cocaína, tudo de ruim.
A oferta era tentadora. Para cada três dias dando aula, Fábio teria a
pena reduzida em um. A condição era fazer uma oração antes e outra
depois de cada treino.
Larguei o crime e permaneci na minha comunidade, sujeito a morrer. Sou um arquivo vivo. Sei de muita coisa desde o lado da Justiça, dos corruptos, até as coisas erradas do tráfico"
Fábio Leão
- "Eu não sei rezar não, doutor. Minha mãe é macumbeira", eu disse. E
ele: "Fala com Deus do jeito que você sabe que Ele te ouvirá". Pedi uma
Bíblia à minha mãe e comecei a ver os
valores da vida.
Então eu botei fé. Creio que Jesus Cristo vive entre nós. Agarrei
aquela oportunidade. Aí tomei a melhor decisão da minha vida. Cheguei
dentro da cela, chamei todas as lideranças do Comando Vermelho e falei
que estava largando o crime. Eles não acreditaram. O cara que ganha R$
20 mil por mês com o tráfico, é dependente químico, tentou arrumar
emprego em tudo quanto é lugar e nunca conseguiu... Falei que eu tinha
entregue minha vida a Jesus e iria voltar a lutar. Eles riram e falaram:
"Você tá drogado. Tu é total flex, pó, maconha, cocaína... Tu vai
morrer no ringue". Ficaram me zoando. E eu larguei - disse Fábio, que
hoje faz parte de uma igreja evangélica.
Na época foi montada uma academia de artes marciais no Moniz Sodré, e
Fábio Leão seguiu a cartilha à risca. Mudou radicalmente de vida e
passou a ganhar a admiração dos funcionários da penitenciária. Era um
renascimento. E essa nova fase também teve grande contribuição de outra
pessoa além de Gilson Nogueira: a juíza Thelma Fraga, a mesma que o
condenou. Ela visitou Fábio em 2007, depois que ele começou a dar aulas,
e enxergou grande mudança através do esporte.
Ex-traficante ensina técnicas de defesa às
alunas (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
- Quando ela me viu batendo no saco de areia e pedra, ela falou que
iria me ajudar. Eu falei: "Doutora, a senhora me condenou a 17 anos de
prisão. Como a senhora quer me ajudar?". Ela respondeu: "Fábio, eu não
condenei você. Eu sentenciei o seu ato cometido". E eu colhi tudo o que
eu plantei. Ela falou: "Fábio, daqui para a frente é outra história. Eu
vou voltar e te ajudar" - contou ele, que na semana seguinte viu a juíza
levar Rogério Minotouro ao Moniz Sodré.
Hoje, aos 38 anos, Fábio Leão ainda mora na Vila Kennedy, comunidade
onde nasceu e foi criado, ganha a vida dando palestras pelo Brasil ao
lado da juíza Thelma Fraga e coordena o projeto "Lutando pela Vida",
onde ensina MMA, kickboxing e muay thai para detentos e detentas.
Especialista em trocação, ele já foi tricampeão carioca de muay thai,
campeão panamericano, sulamericano e brasileiro de kickboxing, e fez
três lutas de artes marciais mistas, com duas vitórias e uma derrota.
Por ter "fobia" de ser levado ao chão, casa dos jiu-jiteiros, optou por
não seguir no MMA.
- De pano eu não consigo treinar, fico agoniado. Botou um quimono em
mim, parece que botou um caixão (risos). Mas sou amante de todas as
artes marciais. Não acho que existe a melhor luta. Existe o melhor
lutador - disse ele, que se espelha nos irmãos gêmeos lutadores do UFC
Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro.
A história de superação vai virar tema do filme "O Campeão", cujas
gravações devem começar em março, e este mês Fábio já treina o ator
Thiago Martins, que vai interpretá-lo no cinema.
Com a esposa, Luciana, e a filha, Hillary, logo após sair da prisão (Foto: Reprodução / Facebook)
- A pior cadeia foi lá fora, a cadeia do preconceito, da rejeição, do
"não". Onde eu ia era rejeitado. Hoje sou professor, mentor de projetos
sociais nas comunidades e nos presídios, palestrante motivacional,
lutador, protagonista de filme, funcionário público... Tenho muitos
empregos. Graças a Deus hoje vivo do esporte. Tenho meu carro, minha
moto e uma casa de três quartos sem ter que roubar ninguém. Sou feliz
porque posso dormir com minha porta aberta, e com minha mulher e minha
filha. Antigamente eu dormia nas favelas, nas lajes, nas matas quando a
polícia entrava. Antes de Jesus me (re)apresentar às artes marciais, eu
era um corpo sem alma.
Fábio Leão olha para trás com o orgulho de quem venceu uma grande
batalha, e ao mesmo tempo com a exata noção do perigo que lhe rondou.
Ele se define como um "arquivo vivo":
- Larguei o crime e permaneci na minha comunidade, sujeito a morrer.
Sou um arquivo vivo. Sei de muita coisa desde o lado da Justiça, dos
corruptos, até as coisas erradas do tráfico - disse Fábio, que recebeu
gentilmente a reportagem do
Combate.com na penitenciária feminina Talavera Bruce em um dia de treino para uma entrevista exclusiva.
Início nas artes marciais e no crime
Fábio Leão hoje dá palestras motivacionais
pelo Brasil (Foto: Reprodução / Facebook)
Fábio foi preso pela primeira vez por assalto a mão armada. A segunda
foi por tráfico de drogas. A terceira, por clonagem de carros e formação
de quadrilha. Como era menor de 21 anos nas primeiras, não ficava muito
tempo na cadeia e respondia em liberdade. Mas como ele não parou com a
vida sombria, a maioridade chegou junto da prisão definitiva. O início
nessa área foi cedo:
- A gente não podia roubar na Vila Kennedy nem em Bangu. Os traficantes
matavam quem roubasse na área do crime. A gente ia para Madureira,
Campo Grande, e roubava qualquer coisa. No primeiro assalto a gente
roubou um caminhão, achando que era de eletrodomésticos. Quando abriu,
era um caminhão de biscoito. Só serviu para estragar os dentes de todo
mundo na favela (risos). E era biscoito ruim ainda. Eu queria roubar
porque queria ostentar fama e poder. A gente via os caras (traficantes)
cheios de mulheres, com carro, cordão de ouro, cheios de dinheiro.
Naquela época o crime era predominante mesmo. Era o poder paralelo que
mandava na comunidade. Não tinha entrada nenhuma do poder público.
E as artes marciais sempre andaram paralelamente ao crime na trajetória de Fábio:
Eu era dependente químico, viciado em cocaína, maconha, cigarro, cachaça, tudo. Eu cuspia e saía igual à bandeira do Flamengo"
Fábio Leão
- Comecei vendo os filmes do Bruce Lee. Eu ficava quebrando as coisas
em casa. Mas a gente era pobre, não tinha nada dentro de casa. A minha
avó mandava eu ir para a rua. Quando eu ia para a rua, a 50 metros da
minha casa tinha uma boca de fumo. Eu via os traficantes fazendo papel
de governantes, dando cesta básica, gás, tudo. Uma vez minha mãe ficou
desempregada, e eles fizeram compra do mês para a gente. Então comecei a
idolatrar as artes marciais e os traficantes. Minha vida sempre foi
entre o crime e o ringue. Só que as artes marciais não davam dinheiro.
Aí com 10 anos comecei a roubar em supermercado. Com 13 para 14 anos eu
já tinha uma quadrilha de assalto a mão armada. Com 17 anos fui baleado
numa troca de tiros com a polícia. Tenho uma bala alojada nas costas por
causa disso.
Como era procurado pela polícia, Fábio não foi para o hospital nesse
dia e teve de se cuidar em casa. Foi quando a família descobriu o
envolvimento dele com o crime. Até lá ele dizia para a esposa, que
conhece desde os 13 anos, que os relógios de marca e a moto, por
exemplo, eram presentes do pai que morava longe. O pai, Gregório, na
verdade foi assassinado quando Fábio tinha apenas seis meses de vida -
seu filho recém-nascido, por sinal, recebeu o nome de Gregory. Depois de
Fábio contar a verdade sobre o que fazia, o pai de Luciana a tirou da
Vila Kennedy e a levou para Olaria. E a avó dele entrou em depressão e
acabou falecendo.
- Senti muito. Sei que ela morreu por minha causa, de desgosto. Fiquei
revoltado e embarquei de vez no crime. Minha mãe chorava muito.
Fábio Leão mostra títulos que conquistou na carreira de lutador (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Em 1998, antes de ir para a cadeia, Fábio foi campeão brasileiro de
kickboxing e convidado para defender o Brasil no Mundial da modalidade,
mas não tinha como arcar com as despesas de R$ 5 mil para viajar até
Veneza, na Itália, onde seria disputado o campeonato. Até então ele
mantinha uma vida saudável. Depois, começou a se drogar.
- Para ir, eu tinha de ir para o tráfico. Se eu fosse para o tráfico,
perdia noites de sono e não dava para treinar. Então, se eu viajasse,
gastaria dinheiro e não sabia se iria ganhar. No tráfico eu sabia que
iria arrumar dinheiro, aí acabei ficando no crime. A verdade é que minha
vida sempre foi paralela entre o crime e o ringue. O crime era minha
profissão, e as artes marciais eram meu hobby, porque eu não tinha
patrocínio. O esporte (vale-tudo) na época era meio marginalizado. Hoje
não. Hoje o atleta consegue viver do esporte, dando aulas, lutando, de
várias maneiras.
Fábio conversa com as alunas antes da aula no presídio (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Além da morte da avó, Fábio também perdeu a mãe enquanto esteve na
prisão. A família se afastou dele, com exceção da filha, Hillary, e da
esposa, Luciana. A filha tinha meses de idade quando Fábio foi preso
pela última vez, e durante dez anos o visitou no Complexo de Gericinó.
Atualmente Hillary está com 14 anos, e os três moram juntos.
- Elas acreditaram em mim. Graças a Deus hoje posso dar orgulho para
minha filha. Ela vê e fala: "Meu pai se transformou através do esporte. E
ele não ficou dentro de casa ou se acomodou. Ele se importou com os
amigos dele que estavam lá dentro". Ela diz que eu não quero que os meus
amigos passem o que eu passei.
Tentativas de suicídio e vida na prisão
Enquanto a família se afastava, o dinheiro vinha e ia embora num piscar
de olhos. Fábio, a princípio, seguiu comandando o tráfico de dentro da
prisão e faturava, segundo o próprio, R$ 5 mil por semana. A maior parte
ia para a filha e a esposa. O resto ele guardava para benefício
próprio:
A pior cadeia foi lá fora, a cadeia do preconceito, da rejeição, do 'não'. Onde eu ia era rejeitado"
Fábio Leão
- Muitas vezes paguei para sair da prisão. Existem muitas pessoas
corruptas. Aí estourava o inquérito. Eu tinha uma casa de três quartos,
sala, cozinha, banheiros, hidromassagem, piscina, sauna, tudo de luxo,
mas não podia ficar dentro dela. Fugia que nem um rato. Eu tinha R$ 10
mil, R$ 20 mil numa bolsa de dinheiro para fazer compras ou uma viagem,
mas não podia. Tudo eu queria, mas não podia. Estava sendo procurado,
tinha seis mandados de prisão.
Nesse período, o lutador teve duas overdoses de cocaína e viu a morte de perto:
- Eu cheirava cocaína pura. Comecei a clonar carro e a mandar para o
Paraguai, e a cocaína vinha pura na minha mão. Depois eu vendia para os
traficantes, e eles faziam uma mistura. Quando ela vinha pura, eu
quebrava um pedaço para usar. Tive uma overdose, acordei em casa. Os
caras me jogaram lá, achando que eu tinha morrido. Minha mulher me
ajudou, mas sei que foi um milagre de Deus. Da outra vez acordei e
pensei: "Caramba, graças a Deus estou no céu". Vi todo mundo de branco.
Quando olhei para o meu braço, tinha soro na veia. Do lado tinha um
"coroa" respirando por aparelho. Aí vi que estava no hospital. Arranquei
tudo e fugi, porque eles estavam esperando eu acordar para fazer o
boletim de ocorrência. Eu iria ser preso.
Foto do casamento (Foto: Reprodução / Facebook)
A cocaína também fez Fábio querer se matar. E ele guardou na memória
uma frase que ouviu de um familiar numa dessas tentativas de suicídio:
- Já tentei me matar várias vezes. "Pancadão" de cocaína, queria acabar
logo com aquilo. Várias vezes coloquei a pistola na minha cabeça, mas
não consegui. Eu ficava pensando: "Eu que matei minha avó. Para mim não
tem mais jeito". O coração disparado, e aquela voz do "coisa ruim"
mandando eu me matar. Uma vez tentei pular do quarto andar, e minha
mulher me segurou. Ela ligou para um familiar meu, que já perdoei e não
vou falar o nome, e ele falou assim: "Deixa ele pular, que acaba o nosso
sofrimento e o da família toda. O perigo que tem é ele ficar aleijado,
porque aí vai dar mais trabalho para a gente". Eu escutei isso no viva
voz - contou Fábio, que garante nunca ter matado alguém, mas admite que
contribuiu para a morte de muitos por causa do tráfico de drogas.
Chance de ser treinador fora da cadeia e amizade com Glover
Anos se passaram até que Fábio se regenerasse por completo. Quando
ganhou a liberdade condicional em 2009 - ficou livre totalmente somente
no meio deste ano, com o término da pena -, foi levado pelo amigo Bruno
para fazer sparring na academia Delfim, na Tijuca.
Hoje eu ando na comunidade e sou que nem toco de enchente: paro num
lugar, paro em outro (risos). Minha mulher diz que eu não posso ir nem à
padaria"
Fábio Leão
- Cheguei lá e estavam Glover Teixeira, Rafael dos Anjos, Pedro Rizzo,
Zeilton Nenzão, aquele menino que morreu, o (Leandro) Feijão. Ele era
novinho e estava lá, e que Deus o tenha. Me senti um pinto no lixo. Na
época quem puxava o boxe era o mestre Claudio Coelho, e ele falou: "Oh
rapaz, você que veio da prisão? Bota a luva aí, meu filho. Quero ver se
você treinou lá mesmo". Aí fiz sparring com os caras. Tomei vários
knockdowns, mas levantava. Fiz com o Glovão, meu amigo. Ele me dava um
jab e eu sentava. A gente morou junto na academia, porque era muito
longe sair da Vila Kennedy para lá. Pegava ônibus, trem e metrô.
Gabriel Ribeiro foi outro nome importante na vida de Fábio Leão. Dono
da Delfim, ele deu o primeiro emprego de carteira assinada ao lutador.
Aos 35 anos, Fábio passou a dar aulas de boxe olímpico, depois também de
kickboxing e de muay thai. E a juíza Thelma Fraga voltou a interceder
de maneira positiva:
Com o treinador de boxe Claudio Coelho
(Foto: Reprodução / Facebook)
- Chegou lá na academia o juiz Carlos Eduardo Figueiredo, da VEP (Vara
de Execuções Penais). Chegou de terno, com dois seguranças armados.
Falei: "Pô, meu Deus. Paguei tudo que eu devia, não estou fazendo nada
errado. Não morri fazendo coisa errada e vou morrer trabalhando?". Ele
veio da minha direção e perguntou se eu era o Fábio Leão: "A Thelma me
contou sua história. Quero ter uma aula particular contigo". Ele gosta
de MMA, de jiu-jítsu. Botei ele para suar. Depois ele me falou: "Se você
se recuperou, quantos Fábios não existem lá dentro? Eu vou até o
secretário de Estado de Administração Penitenciária, o coronel PM Cesar
Rubens Monteiro de Carvalho, e vou conversar com ele. Te garanto que vou
trazer notícia boa", ele disse. Na outra semana o doutor Carlos Eduardo
voltou: "É, meu amigo, você queria ir a uma. Agora você vai a dez.
Teremos dez academias".
Mas Fábio não poderia entrar no presídio de novo por ainda constar como
presidiário no sistema, já que estava na condicional. O secretário
Cesar Rubens, então, nomeou o lutador como funcionário da Secretaria de
Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, num cargo de confiança
para poder tocar o projeto. No começo era só Fábio, agora são dois e, em
breve, quatro professores.
- Uma vez fui tirar uma moto na prestação, e o cara falou que meu CPF
estava dando problema: "Está falando aqui que você é presidiário". Mas
como eu era presidiário se eu estava lá? É constrangedor, né? Eu tinha
um entradinha boa para ir de moto trabalhar. Fiquei triste com aquilo.
Fábio Leão com os amigos Glover Teixeira e Pedro Rizzo (Foto: Reprodução/Facebook)
O projeto "Lutando pela Vida" vai completar dois anos, e 17 ex-detentos
já saíram de lá. Sete deles estão empregados na academia Delfim. O
atleta Rafael Correa, que hoje é sparring de Glover Teixeira, está perto
do UFC, garante Fábio Leão. O projeto também está na Vila Kennedy, com
cidadãos que largaram o tráfico, ex-dependentes químicos, entre outros, e
também com a missão de evitar que crianças sigam o mau caminho.
Os presos, para fazer parte das aulas, têm de preencher um questionário
com 20 perguntas, como por exemplo o motivo de quererem praticar artes
marciais. Os de mau comportamento são descartados. O segundo corte é
pelo questionário. Depois há exames psicológico, psiquiátrico e médico.
Respeitado na comunidade e exemplo de superação
Fábio Leão será tema de filme em 2014
(Foto: André Durão / Globoesporte.com)
A última luta de Fábio Leão foi em 2011, quando foi derrotado no
Campeonato Brasileiro de Kickboxing. Mas a maior exposição é mesmo por
conta do trabalho realizado nos presídios. Na Vila Kennedy, ganhou
status de popstar, principalmente com as crianças:
- Hoje eu ando na comunidade e sou que nem toco de enchente: paro num
lugar, paro em outro (risos). Minha mulher diz que eu não posso ir nem à
padaria. As senhoras que antes fugiam de mim agora levam os netinhos
delas para treinar comigo. Elas apontavam para mim e falavam: "Esse não
passa dos 18". E os garotos que estão hoje no tráfico são os que eu via
pequenininhos. Eles me respeitam muito. Quando eu estava armado na boca
de fumo, dava dinheiro para eles comprarem pipa, para ir no fliperama.
Eles me respeitam e dizem que vão sair dessa, mas que não conseguem por
causa da droga.
Assim como acontece com as crianças da comunidade, a filha Hillary
também vê em Fábio Leão um exemplo de superação. O caso dele foi tão
emblemático que ela se espelhou na juíza Thelma Fraga e quer seguir
carreira no Direito. E é justamente uma frase de Thelma que o lutador e
treinador de artes marciais usa como lema de vida:
- O homem sem trabalho não tem honra. E, sem honra, se mata e se morre.