Alecsandro diz só ouvir proposta com 75% de chance... e após meio-dia
Atacante garante desejo de permanecer no Vasco, mas
admite ouvir ofertas e lamenta queda da equipe após eliminação da
Libertadores
Por Gustavo Rotstein
Rio de Janeiro
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Depois de uma sessão de fisioterapia em São Januário,
Alecsandro
deixou o Rio de Janeiro na noite da última terça-feira e, rumo a
Fortaleza, deu início às suas férias. O principal objetivo será
descansar e curtir a família. Mas durante o próximo mês, apesar do corpo
relaxado, a cabeça não vai parar. O centroavante ainda tem um ano de
contrato com o Vasco. No entanto, admite que não vai fechar seus ouvidos
a conversas com clubes que aproveitam a crise financeira cruz-maltina
para fazer propostas.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Alecsandro deixa claro que sua
intenção é permanecer no Vasco em 2013, mas diz ter recebido duas
propostas concretas - uma de um clube brasileiro e outra de um clube do
Oriente Médio - e está atento às movimentações do mercado. Ao mesmo
tempo, garante confiar no esforço da diretoria para dar fim à crise
econômica que coloca em risco sua permanência e a de outros jogadores.
- Como não trabalho com a mentira, admito que a possibilidade de sair
existe. Sei que estou no mercado, que tenho minha valorização. Mas a
realidade é que tenho mais um ano de contrato com o Vasco e espero
cumprir. Quero ficar, até porque a diretoria já me mostrou que o
planejamento do clube é com o Alecsandro à frente do ataque. Fico feliz
por saber que a camisa 9 vai continuar a ser minha - disse.
Em
clima de férias, Alecsandro saboreia água de coco na praia da Barra da
Tijuca: contrato em vigor, mas possível saída do Vasco (Foto: Gustavo
Rotstein / Globoesporte.com)
Com 26 gols em 58 partidas disputadas, Alecsandro fechou o ano com
média de 0,45, passando perto da meta pessoal de 0,5 traçada no início.
Presença frequente no campo, fechou a temporada atrapalhado por lesões
musculares, consequência, segundo ele, do excesso de jogos. Ele terminou
2012 como segundo jogador que mais entrou em campo pelo Vasco, ficando
atrás apenas do goleiro Fernando Prass. Para ele, apesar de os objetivos
da equipe não terem sido atingidos, a avaliação, pessoal e coletiva, é
positiva.
GLOBOESPORTE.COM: Qual sua impressão sobre o ano de 2012 do Vasco?
Alecsandro: Em termos de grupo, lógico que não
conquistamos nosso objetivo principal. Terminamos o Brasileiro em
quinto, a primeira colocação depois daquela que era a nossa meta. Nada
disso estava programado, porque queríamos lutar pelo título e chegar
novamente à Libertadores. Acho que deixamos passar uma boa oportunidade
de voltar a essa competição. Mas a minha avaliação geral é positiva,
pelas circunstâncias. Assim como nosso torcedor, nós somos exigentes.
Então, se não conquistamos esse objetivo, não foi por falta de esforço
ou culpa de alguém.
Em termos pessoais, qual é sua avaliação da temporada?
Quando eu tinha seis gols no Brasileiro, disse que pela sequência que
vinha tendo brigaria pela artilharia, pois imaginava que o goleador
faria de 20 a 23 gols. Foi o que aconteceu, o Fred terminou com 20 gols.
Minha avaliação pessoal é positiva, mesmo ficando nove rodadas sem
fazer gol e sofrendo duas lesões no fim. Terminar a temporada com 26
gols foi bom, levando em consideração que outros centroavantes como Fred
(30), Barcos (28) e Luis Fabiano (31) tiveram números semelhantes. De
repente, se não tivesse me machucado, poderia ter disputado mais três ou
quatro partidas e aumentado minha marca pessoal.
Você foi um jogador frequentemente visto em campo em 2012, mas
teve problemas físicos na reta final. O corpo pagou a conta pelo excesso
de jogos?
Tive um desgaste grande pelo acúmulo de jogos. Não tem como culpar
ninguém até porque todos trabalharam para que eu jogasse. Foi válido,
mas claro que em alguns momentos joguei com dor. Em algumas partidas,
por exemplo, eu poderia ter saído antes do fim para descansar, mas
perdemos o Tenorio durante muito tempo e não havia um substituto
imediato. Em mais da metade dos jogos atuei no meu limite, e isso é o
que faço na minha carreira. Acabei forçando, e no fim a musculatura
acabou gemendo. O jogo contra o Atlético-MG foi o que eu mais joguei com
dor. Mas como o Vasco vinha de seis derrotas seguidas, queria ajudar o
time a sair daquela situação. Fiz tratamento quase até entrar em campo,
marquei um gol no empate por 1 a 1 e ajudei a dar fim àquela sequência
(assista ao vídeo).
O Vasco teve um primeiro turno de Brasileirão excelente, com
mais de 80% de aproveitamento. Que momento você identifica como o início
da queda de rendimento do time?
O Vasco tinha um time, uma boa estrutura. Diretoria, jogadores e
torcida vinham andando juntos até a eliminação da Libertadores. Depois
daquela derrota para o Corinthians, da forma frustrante como aconteceu,
começou uma queda. Ela não foi aparente, ainda nos seguramos nas rodadas
seguintes do Brasileiro. Mas num todo a desclassificação refletiu na
venda de jogadores, na falta de patrocínio, na saída do treinador...
Aquele jogo acabou nos trazendo prejuízos que aparecerem algumas semanas
à frente.
Durante a Libertadores o ambiente interno era melhor do que neste fim de ano?
Na Libertadores também havia atraso de salários, mas o objetivo era
maior do que tudo. Sabíamos que com as vitórias os patrocínios
apareceriam e as coisas se resolveriam. Quando saímos, tudo teve um
desfecho ruim. O clube precisou se desfazer de alguns dos seus melhores
jogadores. Mas em nenhum momento culpo o presidente. Convivo com ele e
sei as dificuldades que passa. Era impossível não ocorrer a negociação
de atletas.
E já chegou ao limite a sua paciência e a dos demais jogadores com o atraso de salários?
Em mais da metade dos jogos atuei no meu limite, e isso é o que faço na minha carreira."
Alecsandro
O jogador tem de ser inteligente e não pode agir na emoção. Em alguns
momentos tivemos o Roberto Dinamite no vestiário explicando o porquê da
situação. Sempre acreditamos que as coisas vão melhorar. Sabemos que a
maior parte dos problemas vem das gestões anteriores. No ano passado,
quando cheguei, a diretoria tinha recursos e fez um grande time,
conquistamos resultados importantes. Mas claro que há um desgaste de
todos, e o Vasco, pela sua grandeza, tem de se resolver e não esperar o
amanhã. Não diria que estou no meu limite porque vejo o clube se
movimentando.
Está otimista em relação às perspectivas para o ano que vem?
Com essas dificuldades, claro que existe a possibilidade de alguns
jogadores saírem. Podem ocorrer contratações, mas é mais difícil. O
primeiro passo é montar a diretoria com profissionais que podem trazer
bons frutos para o Vasco. Não se constrói um prédio pela cobertura.
Primeiro precisa ser feita a base. Com certeza teremos uma resposta
positiva, então esse meu limite vai se estender por mais um tempo.
Qual a sua expectativa em relação ao elenco do Vasco para 2013? Do jeito que está, a equipe começa o ano que vem enfraquecida?
Se formos pensar no elenco, vamos começar abaixo em comparação a 2012.
Mas ainda há um mês para contratações. Lógico que esperamos começar bem o
ano, mesmo com as dificuldades que ainda vão existir em janeiro. De
qualquer maneira, o Vasco precisa fazer um grande Carioca, porque com
bons resultados, de uma forma ou de outra, você consegue melhorar o
extracampo. Vamos brigar pelo título estadual para começarmos o ano da
melhor forma. Muitos não dão importância, mas o Carioca já derrubou
muito treinador e já mandou muito jogador embora.
E você? A expectativa é cumprir o contrato que termina no fim de 2013?
Alecsandro comemora gol: artilheiro do time
(Foto: Marcelo Sadio / Site Oficial do Vasco)
Já ouvi declarações de jogadores dizendo que não sairiam de seus clubes
e dois dias depois foram embora. Como não trabalho com a mentira,
admito que a possibilidade de sair existe. Sei que estou no mercado, que
tenho minha valorização. Mas a realidade é que tenho mais um ano de
contrato com o Vasco e espero cumprir. Quero ficar, até porque a
diretoria já me mostrou que o planejamento do clube é com o Alecsandro à
frente do ataque. Fico feliz por saber que a camisa 9 vai continuar a
ser minha (risos). O clube vive situação difícil, e se houver uma
proposta financeira interessante para ambas as partes a gente analisa.
Se for melhor para todo mundo, eu saio.
Dessa forma, vai ser possível estar completamente relaxado nas férias?
Não dá para desligar completamente. Leio muita coisa pela internet. Mas
vou viajar, dar atenção à família e descansar. Tenho um acordo com meu
procurador que, em termos de proposta, ele me passe somente o que tiver
no mínimo 75% de possibilidade de acontecer. Nada abaixo disso ele me
passa, porque o que mais tem no mercado é gente querendo ganhar dinheiro
e oferecendo o jogador a qualquer clube. Pelo mercado, acredito que
possa receber algumas ligações dele, mas só depois do meio-dia (risos).
E existe alguma negociação que está no mínimo nesse patamar de 75%?
Existem duas situações, uma do Brasil e outra do exterior, que o meu
procurador já comunicou à diretoria do Vasco. Uma, o Vasco descartou num
primeiro momento. Ela seria boa para mim, mas não seria viável para o
Vasco. Tenho que respeitar. Estou bem tranquilo, porque meu principal
objetivo é ficar aqui e fazer 50 gols pelo clube - hoje estou com 39.