Como num passe de mágica, toda a ansiedade e o nervosismo do Vasco
acumulados por 86 minutos se transformaram em alegria no Serra Dourada. A
preparação para o truque, na verdade, foi de Felipe, e a execução,
perfeita, de Juninho. Após tanto insistir, o time carioca furou a
retranca do Atlético-GO, neste sábado, e venceu por 1 a 0 o duelo pela
28ª rodada do Brasileirão. O combalido Dragão, cada vez mais lanterna,
até que suportou bem a pressão com um a menos desde a metade do primeiro
tempo, quando o zagueiro Gustavo foi expulso por xingar o árbitro, mas
não resistiu no fim.
O lance decisivo no Centro-Oeste é ainda mais singular pelo fato de os
ídolos cruz-maltinos pouco se relacionarem fora de campo, e de Felipe
ter pedido para
não atuar na posição em que vinha sendo escalado,
como último homem do meio-campo. Muito se fala a respeito das
diferenças entre ambos. A comemoração do gol, no entanto, mostrou um
abraço e um beijo fraternal, digno de quem embala para uma reta final
positiva, firme na zona da Libertadores e ainda de olho no título.
A segunda vitória consecutiva coloca o Vasco com 50 pontos, cinco à
frente do São Paulo e provisoriamente a dez de distância do líder
Fluminense, que enfrenta o Botafogo, no Engenhão. Já o Rubro-Negro, com a
terceira derrota seguida, estaciona de vez na lanterna, com 20 pontos e
remotas perspectivas de fugir do rebaixamento para a Série B.
Recheado de vascaínos, o estádio recebeu 13.212 pagantes, para uma
renda de R$ 411.155,00. Na próxima rodada, o Gigante da Colina encara
justamente o São Paulo, quarta-feira, em São Januário, às 22h (de
Brasília). Já o Atlético-GO visita o Figueirense, penúltimo colocado, no
mesmo dia, só que às 19h30m.
Felipe e Juninho se abraçam após o gol da vitória cruz-maltina (Foto: Adalberto Marques / Agência Estado)
Ao deixar o gramado, o zagueiro Dedé avaliou o triunfo:
- O time dos caras soube defender bem com um a menos, dificultou para a
gente. Não tivemos muitas oportunidades, não fomos agressivos, mas
conseguimos o gol com passe do Felipe para o Juninho - destacou o
zagueiro.
Do lado rubro-negro, resignação do atacante Felipe, de volta após mais de um mês parado.
- A derrota dói, sabemos que é difícil sair dessa situação. Mas,
aconteça o que acontecer, no dia 2 de dezembro temos que acabar o
campeonato com dignidade – afirmou na saída de campo.
Pressão vascaína x perigo rubro-negro
O início da partida já exibia o panorama natural em Goiânia: os
cariocas com mais posse de bola, e o Dragão em busca do contra-ataque,
reconhecendo sua limitação diante da consequente iminência do
rebaixamento. A postura das equipes também refletia na arquibancada, com
a superioridade cruz-maltina. Mas a etapa inicial reservaria outras
alternativas para este cenário.
Com dificuldade para penetrar na defesa goiana, o Vasco apostou nos
cruzamentos como válvula de escape. Foram dez escanteios nos primeiros
45 minutos. Mas esbarraram no jogo aéreo mais eficiente do rival e no
goleiro Márcio, que demonstrava segurança. Nilton, de cabeça, e Eder
Luis, em chute fraco, criaram as tímidas chances, longe de empolgar.
Por outro lado, a estratégia do Atlético-GO não soava tão equivocada.
Com espaço e velocidade, ganhava as disputas no campo de ataque e fazia
Dedé e companhia correrem atrás, apesar de certa desorganização. Até
que, com o nervosismo atrelado à posição na classificação, o zagueiro
Gustavo perdeu o controle. Fez falta, reclamou com o árbitro, levou um
amarelo e, não satisfeito, o chamou de "filho da p...", causando a
expulsão, com apenas 24 minutos de partida.
O Vasco, então, apertou a pressão, tanto na marcação da saída de bola
como nas jogadas ofensivas. Mas faltavam capricho e tabelas eficientes. O
técnico Artur Neto foi obrigado a tirar o meia Alexandre Oliveira para
colocar o zagueiro Diego Giaretta. Ainda assim, com o passar do tempo,
as melhores chances surgiram dos pés rubro-negros. Marino errou o alvo,
aos 36, Eron parou em Prass, aos 44, assim como Márcio, em cobrança de
falta, aos 47, sempre em contragolpes, preocupando Marcelo Oliveira, que
decidiu mexer no intervalo.
Carlos
Alberto, apagado em seu centésimo jogo pelo Vasco, e Ricardo Bueno
disputam a bola na lateral, ainda no primeiro tempo da partida no Serra
Dourada (Foto: Adalberto Marques / Agência Estado)
Cariocas se lançam, e Juninho decide
Com um novo desenho, o time da Colina voltou com Felipe como ponta
esquerda, no lugar de Thiago Feltri, e com Wendel dando suporte, e
Fellipe Bastos solto para ir à linha de fundo, tomando a vaga de Jonas,
que pouco explorou este recurso. Ainda sonhando com o título, o intuito
vascaíno era claro: não abrir mão de vencer, motivado pelas
circunstâncias. Mas, mesmo com o apoio da torcida, estava difícil. A
ansiedade com os erros na hora H só crescia.
Destaque na semana, a promessa Marlone substituiu Carlos Alberto e fez
sua estreia entre os profissionais. Na primeira jogada, meteu a bola na
pequena área, porém, como um repeteco de todo o jogo até então, não
havia ninguém posicionado para concluir. Como essa, ocorreram pelo menos
mais cinco, só trocando de protagonista Enquanto isso, o Dragão sonhava
com o encaixe de um lançamento, que até aconteceu. No mano a mano com
Renato Silva, Felipe bateu para fora, raspando a trave, e desperdiçou a
única oportunidade rubro-negra na etapa final.
Pouco a pouco, o duelo esfriou, e os vascaínos trocaram a euforia pela
cobrança das arquibancadas. O cansaço, no entanto, era notório, já que a
temperatura passava dos 30 graus. A dura mexeu com os jogadores, e
Nilton acertou o travessão aos 38, em bomba de longe. Logo depois, aos
41, a dupla de ídolos entrou em ação. Felipe foi à linha de fundo e
rolou para Juninho, que bateu de primeira e correu para o abraço com o
companheiro de longa data. Para deixar de lado as frequentes polêmicas
sobre a relação dos dois, o Reizinho tascou até um beijo na careca do
Maestro.
Daí em diante, o Vasco só tocou a bola e segurou a vitória que o
sustenta no G-4 e também mantém a chance de título. Houve tempo para
Alecsandro perder um gol, com a defesa de Márcio ao ficar sem ângulo, e
também para mais uma expulsão: o atacante Ricardo Bueno foi punido com o
cartão vermelho depois de um carrinho violento em Juninho, o rei do
dia.