'Vale-tudo', TUF, MMA feminino... Os 20 anos do Ultimate em capítulos
Do início com poucas regras ao show de organização e
entretenimento de hoje, sucesso do UFC se deve muito a um reality show e
a alguns brasileiros
Por Combate.com
Rio de Janeiro
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Quem começou a acompanhar o UFC há pouco tempo e vê a organização
chegar aos 20 anos sendo de longe a maior do mundo talvez não tenha
ideia das inúmeras mudanças por que passou desde a sua fundação. Criado
em 1993 para ser um torneio com o intuito de identificar qual a arte
marcial mais completa, o Ultimate tem hoje um conjunto de atletas que
treinam todas as variáveis possíveis dentro de uma luta. O mérito
esportivo ganhou o entretenimento como um forte aliado, e hoje milhões
de fãs pelo mundo transformam um evento em programa principal do fim de
semana.
O dia 12 de novembro de 1993 ficou marcado como a data da realização o
UFC 1, mas bem antes disso um brasileiro teve papel fundamental no
primeiro capítulo desta história. Rorion Gracie e os seus alunos Art
Davie e John Milius buscaram parceiros para tornar real um projeto para
fazer um campeonato com lutas entre atletas de diferentes estilos de
artes marciais.
Royce Gracie na conquista de seu primeiro título no Ultimate (Foto: Getty Images)
O UFC 1 começou com oito lutadores e, depois de três lutas no mesmo
dia, um outro Gracie se sagrou o vencedor. Mesmo sendo o mais leve de
todos, Royce Gracie finalizou todos os rivais e foi o primeiro campeão.
Uma propaganda indireta e tanto para o jiu-jítsu da família, que pouco
depois passaria a fazer parte do treino de todos os atletas de MMA.
Regras mais rígidas e 'fim do vale-tudo'
O trio de idealizadores não tinha intenção de fazer mais de um evento,
mas as circunstâncias - principalmente o sucesso das fitas de VHS - os
fizeram continuar. A máxima de que "não existem regras" (na verdade elas
eram poucas, mas existiam) acabou atrapalhando. O MMA chegou a ser
proibido em 36 estados americanos, e aos poucos os organizadores viram
que do jeito que estava o negócio não iria para a frente.
Aos poucos, com bastante negociação junto às comissões atléticas
estaduais, muitas regras foram criadas, até que em novembro de 2000 foi
realizado o UFC 28, o primeiro do Ultimate que foi sancionado. Àquela
altura, Rorion Gracie já não figurava mais entre os dirigentes. Vendeu a
sua parte no negócio, descontente com o rumo que a sua ideia tomou,
cheio de regras contrárias ao que ele imaginava ser o correto.
Dana White e sócios salvam o Ultimate
No ano em que o vale-tudo ganhou regras e passou a ser chamado de MMA
(sigla para artes marciais mistas, em inglês), a SEG (Semaphore
Entertainment Group), empresa responsável por colocar o UFC no sistema
de pay-per-view, estava perto da falência. Frank e Lorenzo Fertitta se
juntaram ao parceiro de negócios Dana White para salvá-la. Eles
compraram o Ultimate por US$ 2 milhões e criaram uma empresa para
gerenciá-lo, a Zuffa.
Lorenzo já foi membro da Comissão Atlética de Nevada e conseguiu
facilmente sancionar os eventos do Ultimate no estado, onde fica Las
Vegas, cidade famosa por suas apostas e realização de grandes lutas de
boxe. Era o lugar ideal para crescer.
Só que esse crescimento não foi fácil. Quando a Zuffa assumiu, a
organização tinha três categorias de peso - a criação dessas divisões
foi uma das exigências dos governos, que não queriam saber dos duelos
Davi x Golias para sancionar as lutas. A partir de 2001, os pesos-leves e
médios se juntaram aos pesados, meio-médios e meio-pesados.
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Com mais campeões defendendo seus cinturões, mais regularidade de
eventos, o Ultimate cresceu. Chegou a vender todos os ingressos do MGM
Grand Arena e 150 mil pacotes de pay-per-view para o UFC 40, em novembro
de 2002, duas grandes marcas para a época. Mas as dificuldades
financeiras persistiam.
TUF, o salto para o sucesso
Uma ideia dos dirigentes fez com que a organização se fortalecesse de
vez. Em agosto de 2005, começou a ser exibido na TV americana o The
Ultimate Fighter, um reality show que colocava lutadores em início de
carreira para viver na mesma casa e lutar entre si (no octógono) para
dar ao vencedor um contrato de seis dígitos com o UFC.
Stephan Bonnar x Forrest Griffin: TUF 1, em 2005, faz UFC ganhar mais fãs (Foto: Getty Images)
A ideia de humanizar aqueles homens estigmatizados como brutamontes que
só queriam saber de briga aproximou os fãs dos lutadores. E contando
com um pouco de sorte, a luta que definiu o campeão do TUF 1, entre
Forrest Griffin e Stephan Bonnar, foi muito disputada, cheia de
alternativas, e é apontada como uma das melhores até hoje. O programa
foi um sucesso total. Não à toa dura ate hoje.
Expansão de mercado
Apesar do sucesso do TUF, o UFC ainda vivia à sombra de uma outra
organização. No Japão, o Pride surfou por muito tempo a onda da boa
economia local, conseguia contratar os melhores lutadores e era
considerado o evento mais estável e organizado do mundo. A rivalidade
entre as equipes Brazilian Top Team, do Rio de Janeiro, e Chute Boxe, de
Curitiba, era um dos pilares de sustentação desse sucesso da companhia
japonesa.
Entretanto, aos poucos foram surgindo notícias sobre a ligação dos
dirigentes do Pride com a máfia japonesa. A organização perdeu sua
principal fonte de renda, o contrato com uma emissora de TV do país, e
então os dirigentes se viram obrigados a se desfazer do negócio.
Assim como fizeram com o UFC, os irmãos Fertitta e Dana White compraram
o Pride. Não viram um cenário favorável no Japão e optaram por acabar
com a organização em 2007.
Wanderlei Silva x Ricardo Arona: rivalidade entre BTT e Chute Boxe esquentava o Pride (Foto: Getty Images)
A consequência disso foi que o Ultimate adquiriu os contratos dos
lutadores que estavam no Pride. Nomes como Rodrigo Minotauro, Wanderlei
Silva, Quinton Jackson, Mirko Cro Cop, entre outros, agora estavam
prontos para se transferir para o Ultimate e elevar a qualidade de uma
organização em crescimento.
Pouco antes do Pride, a Zuffa já havia comprado o World Extreme
Cagefighting (WEC), outro concorrente do Ultimate, mas o manteve ativo
até dezembro de 2010. Em 2011, Dana White companhia compraram também o
Strikeforce, principal concorrente na época, aumentando ainda mais seu
plantel de grandes lutadores.
Chance aos levinhos e às mulheres
As aquisições do World Extreme Cagefighting e do Strikeforce deu ao
Ultimate a oportunidade de criar novas categorias. Estrelas do WEC, como
José Aldo, Urijah Faber, Dominick Cruz, Renan Barão e outros deram o
pontapé inicial dos pesos-penas e dos pesos-galos, em 2011. Em 2012
surgiu também o peso-mosca, que não teve relação com WEC, e assim
chegou-se à oitava categoria masculina.
Já o MMA feminino sempre foi visto com ressalvas por Dana White. Mas
ele se rendeu ao sucesso de Ronda Rousey e também absorveu para o
Ultimate algumas das lutadoras que já estavam no Strikeforce. Apesar das
desconfianças, as meninas não fizeram feio e hoje até estrelam uma
edição do TUF, com a própria Ronda e Miesha Tate como técnicas da 18ª
temporada.
Spider e GSP, as estrelas da companhia
Anderson na luta do UFC que lhe garantiu o título,
contra Rich Franklin, em 2006 (Foto: Getty Images)
Anderson Silva é um ex-lutador do Pride. Mas deixou a organização
japonesa não porque ela fechou as portas. O Spider atuou no Japão pela
última vez em dezembro de 2004, quando foi finalizado por Ryo Chonan.
Sem muito sucesso na principal organização de MMA da época, rodou em
eventos menores e pensou em parar. Foi convencido por Rodrigo Minotauro a
continuar e ganhou uma oportunidade no Ultimate em junho de 2006.
Começava ali uma história inigualável dentro da companhia.
Logo na segunda luta, Anderson Silva já estava disputando o título do
peso-médio. Ele derrotou o então campeão Rich Franklin em outubro do
mesmo ano e a partir dali quebrou diversos recordes. Foi um domínio de
quase sete anos, que se encerrou em julho deste ano com o nocaute que
ele sofreu de Chris Weidman. Anderson é apontado como o melhor lutador
de todos os tempos do UFC por Dana White, além de diversos outros
lutadores e especialistas.
Praticamente ao mesmo tempo, só que em outra categoria, o
peso-meio-médio Georges St-Pierre também construiu o seu reinado. Assim
como Anderson, foram 11 vitórias em disputas de cinturão.
Carismático para os fãs masculinos e dono de um certo sucesso com as
mulheres, St-Pierre se tornou um garoto-propaganda e tanto para o
Ultimate no fim da década passada e início da atual. Foi com ele no card
principal, por exemplo, que a organização teve seu maior público na
história: 55 mil pessoas no Rogers Centre, em Toronto (CAN), quando ele
enfrentou Jake Shields no UFC 129, em 2011.
UFC 129: recorde de público no Canadá para ver Georges St-Pierre (Foto: Getty Images)
Um jovem destruidor de campeões
Com Anderson Silva destronado por Chris Weidman, e Georges St-Pierre
acusado por fãs, especialistas e outros lutadores de se tornar um
lutador burocrático, que só entra no octógono para vencer por pontos, um
outro campeão vem ganhando cada vez mais espaço. Jon Jones chegou ao
UFC em 2009, aos 21 anos, mostrando que ainda tinha que evoluir. Só
finalizou um lutador nas quatro primeiras lutas, e em uma delas ainda
foi desclassificado em luta polêmica com Matt Hamill - o árbitro
considerou que ele usou cotoveladas ilegais. Mas depois foi só alegria.
Jones bateu três adversários e ganhou a chance de desafiar o campeão
Maurício Shogun. Em março de 2011, aos 23 anos e 242 dias de vida,
passou a ser o campeão de divisão mais jovem da história do Ultimate. Na
sequência, derrotou outros quatro lutadores que já foram donos do
cinturão da categoria - Quinton Jackson, Lyoto Machida, Rashad Evans e
Vitor Belfort - e até hoje domina o peso-meio-pesado, além de ser o
número do ranking peso por peso.
Jon Jones, campeão de categoria mais jovem da história (Foto: Getty Images)
Os 20 anos do Ultimate tiveram alguns heróis como Jones e também muitos
vilões que atrapalharam bastante a imagem da organização. Mas a verdade
é que o que aconteceu até agora fez a companhia chegar onde está hoje,
no topo do esporte. Nos próximos dias, o Combate.com vai continuar
contando um pouco dessa história. Siga acompanhando as matérias no site.