Dinamite minimiza a crise financeira: 'Também nunca recebi salário em dia'
Em coletiva, presidente lembra sua época de jogador e
afirma que grupo atual já conseguiu bons resultados mesmo com
vencimentos atrasados
Por André Casado e Gustavo Rotstein
Rio de Janeiro
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Após um mês e meio de crise política e financeira cada vez mais
deflagrada no Vasco, o presidente Roberto Dinamite se pronunciou em
entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, na sala multimídia de
São Januário. Por cerca de uma hora e meia, esclareceu questões que
foram da venda de jogadores titulares - Fagner, Romulo e Diego Souza no
meio da temporada - ao novo CT dos profissionais, que iniciará as obras
no início de 2013. Além disso, o mandatário confirmou que acumulará a
vice-presidência de futebol até o fim deste ano, esperando a recuperação
da saúde de Ercolino Jorge de Lucca, que só pode assumir em doisa
meses. E indicou que Daniel Freitas não permanecerá como diretor
executivo.
Não houve informações concretas a respeito do futuro cruz-maltino.
Dinamite se defendeu, exibiu documentos relativos a diversos assuntos e
pediu compreensão à imprensa - criticada em determinados momentos pela
veiculação de notícias negativas e, segundo ele, inverídicas - e aos
torcedores vascaínos, ressaltando as dificuldades enfrentadas por
penhoras e bloqueios de dinheiro por causa de dívidas antigas e também
contraídas na gestão atual. Aliás, trabalhar este item junto ao
departamento jurídico foi a única saída considerada em suas palavras
para evitar que o clube entre num buraco ainda maior.
Roberto Dinamite se explica na coletiva, em São Januário (Foto: Gustavo Rotstein / Globoesporte.com)
O time dirigido por Marcelo Oliveira perdeu as últimas cinco partidas
no Campeonato Brasileiro, está praticamente fora da disputa por uma vaga
na Libertadores e estendeu a crise para o campo. O presidente disse, no
entanto, que a questão de salários atrasados é até normal desde a sua
época de atleta no Vasco, embora admita que não esteja correta.
- Com esse mesmo grupo, o salário já esteve mais atrasado e tudo deu
certo. É isso que precisamos mentalizar e inverter, porque temos 15
pontos para jogar ainda. Vamos buscar as vitórias, teve equipes que
ficaram nessa situação e se recuperaram. Vivi como atleta por 20 anos
aqui e nunca recebi meu salário em dia. Está errado? Claro, temos que
cumprir nossas obrigações. Mas hoje é um atraso de um mês, que muitos
clubes também têm. Quem milita no futebol sabe bem disso - argumentou
Dinamite.
Eu falei para o Diego (Souza), para os envolvidos, que a saída não era
boa para o Vasco. Mas o presidente tem um limite até onde pode chegar. A
permanência é importante quando ele (jogador) pensa da mesma forma"
Roberto Dinamite, sobre venda do meia
O presidente ainda afastou qualquer possibilidade de renunciar ao
cargo, debochando das especulações, e também negou uma suposta
aproximação com o ex-mandatário Eurico Miranda, com quem costurou um
acordo para que o balanço de 2011 tivesse mais 60 dias para ser revisto e
apresentado novamente ao conselho deliberativo. Ele se recordou do
episódio de 2006 em que foi expulso da tribuna do estádio por ordem de
seu opositor e disse que não gostaria de reviver a situação.
- Nada disso existe, vou estar sempre aqui junto com quem realmente
gosta do Vasco e o respeita. Vamos proporcionar dias melhores ao
torcedor e voltar a ter conquistas.
Confira os principais trechos da entrevista coletiva:
Relação recente com a imprensa- Quero esclarecer
alguns pontos na relação do clube com a imprensa. Sempre pautei que, na
vida, tudo é uma troca. Quando se tem o respeito, vai bem. E é nesse
sentido que quero colocar algumas coisas para que a gente não continue a
cair na mesmice e falar de alguém sem saber, acusar alguém. Vou exigir
por parte de todos o mínimo de respeito, como ao longo da minha carreira
sempre fiz. É por isso que estou aqui. Vamos acabar com o disse me
disse. O regime é presidencialista, mas todos os profissionais têm
autonomia. Aqueles que saíram tiveram suas discordâncias e escolhas.
Ninguém é obrigado a ficar.
Vendas de Fagner, Romulo e Diego Souza
- O Diego veio para o Vasco em uma situação em que adquirimos 33% do
jogador, e tínhamos o direito de exercer mais 20% dentro do contrato.
Pagamos € 1,2 milhão (cerca de R$ 3,2 milhões) para isso. Recebemos,
então, uma proposta no período proximo à janela (de transferências),
conversei com o jogador e pessoas envolvidas na negociação, falando da
importância que ele tinha para o Vasco. Mas havia a realização dele como
pessoa, porque era muito dinheiro na oferta. Num primeiro momento, não
fizemos a operação, mas depois o jogador optou por sair do Vasco. Eu
falei para o Diego, para os envolvidos, que a saída não era boa para o
Vasco. Mas o presidente tem um limite até onde pode chegar. A
permanência é importante quando ele (jogador) pensa da mesma forma. O
exemplo é o Dedé. Só está no Vasco até hoje porque quer estar no Vasco. E
a situação (de Diego Souza) quanto ao não pagamento (de parcelas que
somam quase R$ 5 milhões) é essa: houve um encaminhamento à Fifa, que já
foi notificada e temos até o dia 8 de novembro para ter uma palavra
final com relação ao Diego (Dinamite, então, ergue um documento enviado
pela entidade máxima do futebol). Já o Fagner veio por intermédio de seu
empresário, Carlos Leite. Os 20% que o Vasco tinha foram quase dados.
Ele teve contusões, mas se firmou como um jogador importante dentro do
Vasco. E optou por se transferir porque financeiramente seria bom.
Tentamos convencer a permanecer, mas não foi possível. O contrato estava
perto do fim, não foi uma escolha da diretoria. Já o Romulo teve uma
proposta muito boa para o Vasco (R$ 10 milhões) e para ele. Detínhamos
50%: 25% eram do Porto-PE e 25% dos dois agentes que tinham participação
sobre o jogador. Foram (os recursos arrecadados) investidos nos
pagamentos e compromissos diários que o Vasco tem. No aspecto técnico,
foi ruim, sim, e no financeiro, no caso do Diego, não somou nada porque
está aí até agora.
Roberto negou aproximação com Eurico Miranda
(Foto: Divulgação/Flick Vasco da Gama)
Debandada de dirigentes
- Todos os profissionais que trabalharam nessa instituição tiveram
autonomia para ajudar o Vasco, mas quiseram sair, e vamos dar
continuidade. O desafio é muito grande, mas o Vasco é maior do que tudo
isso.
Futuro financeiro do Vasco
- Um Vasco mais saudável, que possa estar cumprindo com as obrigações.
Mas não é de agora esse problema, é lá de trás. Estamos vendo com o
jurídico para diminuir os problemas tributários. Entrar nesse mérito é
complicado, porque a conta é sempre do outro (antiga gestão, de Eurico
Miranda), mas é o Vasco. Não posso pensar no amanhã sem ver o ontem. É
justificativa? É também. Queria ter outras empresas, mas a Eletrobras é
importante e está feliz da vida por ser parceira do Vasco, deu uma
visibilidade geral a eles.
Mudanças na base e CT do profissional
- Sobre a base, eu tinha amigos em quem apostamos, desenvolveram bem o
trabalho, mas não chegou ao que queríamos em um determinado momento. Não
poderia trocar uma pessoa só, e agora temos novos profissionais, uma
equipe inteira em todas as categorias. Temos um CT reformado e, tão logo
pudermos equilibrar as finanças, vamos dar apoio a esse trabalho com
mais força. A formação da base ajuda a captar recursos e fazer o jogador
com custo muito menor e resultados positivos. Nós estamos utilizando
esse espaço (em Itaguaí) há dois anos e as coisas vão estar melhorando.
Com relação ao CT do profissional, existe um documento com a Prefeitura,
e o Vasco já tem esse espaço na Barra da Tijuca, onde vai ser
construído o CT a partir do início de 2013. Alguém falou (na imprensa)
que o Vasco cederia o espaço da sede do Calabouço. Isso não é verdade,
não foi conversado nada sobre isso. Enquanto não temos isso pronto,
temos um compromisso com o CT (do CFZ) que vamos estar utilizando
durante este período.
Lamenta saída do diretor Rodrigo Caetano?
- Tentamos a permanência, sim, mas vou inverter o caso. O Rodrigo é o
que ele é porque o Vasco o ajudou muito também. Deu a condição de
trabalho para que se desenvolvesse como profissional. Acertou, errou e
foi um parceiro importante neste processo. Teve propostas de outros
clubes antes, mas houve entendimento e permaneceu dentro do Vasco. Num
segundo momento, aconteceu uma nova conversa em que se especulou, falou,
se oficializou o interesse do Fluminense e de outro clube. Tanto que,
antes da saída dele, conversamos por cinco horas na minha sala traçando
planos do Vasco para o ano seguinte. E aí, como há relação com A, B ou C
da imprensa, alguém falou que ele estava indo embora. E eu perguntei a
ele, que disse que não. Mas meia hora depois achou que estava cansado e
esgotado em razão da forma como ele trabalha e que não tinha condição de
seguir no Vasco no ano seguinte. Era uma proposta melhor para ele
(Fluminense), mas no segundo momento não foi a parte financeira. Diante
da resposta dele, nem fizemos nova proposta.
O Vasco mais do que nunca está muito aberto e democrático. Era bom ser
jogador, mas ser presidente é um orgulho. Não admito que alguém, hoje,
fale para mim que é mais vascaíno do que eu e que respeita mais o Vasco
do que eu. Duvido que haja alguém mais honesto com meu clube do que eu.
Se tiver, eu vou embora"
Roberto Dinamite
Reforma de São Januário para 2016
- O desejo do Vasco é fazer aqui uma arena. Estamos trabalhando o
projeto para fazer de São Januário um anel com uma empresa do ramo.
Inicialmente, Nelson (Rocha, ex-vice de finanças) e Fred Lopes (ex-vice
de patrimônio) tiveram autonomia nesse processo. Houve reuniões também
com prefeito e governador. Para fazer uma arena, passa por obras no
entorno de São Januário. É um projeto para o Vasco ser sede do rúgbi,
que passa pelo (Carlos Arthur) Nuzman (presidente do COB) e para termos
mais conforto para atender o torcedor. Amanhã (data para confirmação da
viabilidade do clube para arcar com o projeto) vamos entregar o
documento para que isso possa começar a ser realizado.
Contato com Eurico Miranda
Não existe nada que me coloque ao lado do ex-presidente. Quem está
falando isso é mentiroso. Não existe a mínima possibilidade de se
estreitar qualquer relação instituicional nesse momento ou em qualquer
momento. Sou uma pessoa simples, mas meus valores precisam ser
respeitados. Separo bem o instituicional, que tem que falar por ele ser
presidente do Conselho de Beneméritos e outra é pessoal. O que passei
com meu filho, (expulsos da tribuna em 2006) não quero passar mais. Não
criem duvidas em relação a isso.
Considerações finais
Estou feliz de falar o que sinto, o que eu penso. O Vasco mais do que
nunca está muito aberto e democrático. Era bom ser jogador, mas ser
presidente é um orgulho. Não admito que alguém, hoje, fale para mim que é
mais vascaíno do que eu e que respeita mais o Vasco do que eu. Duvido
que haja alguém mais honesto com meu clube do que eu. Se tiver, eu vou
embora. Estou cumprindo uma etapa dentro do Vasco e quero cumpri-la bem.