terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dinamite minimiza a crise financeira: 'Também nunca recebi salário em dia'

Em coletiva, presidente lembra sua época de jogador e afirma que grupo atual já conseguiu bons resultados mesmo com vencimentos atrasados

Por André Casado e Gustavo Rotstein Rio de Janeiro
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Após um mês e meio de crise política e financeira cada vez mais deflagrada no Vasco, o presidente Roberto Dinamite se pronunciou em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, na sala multimídia de São Januário. Por cerca de uma hora e meia, esclareceu questões que foram da venda de jogadores titulares - Fagner, Romulo e Diego Souza no meio da temporada - ao novo CT dos profissionais, que iniciará as obras no início de 2013. Além disso, o mandatário confirmou que acumulará a vice-presidência de futebol até o fim deste ano, esperando a recuperação da saúde de Ercolino Jorge de Lucca, que só pode assumir em doisa meses. E indicou que Daniel Freitas não permanecerá como diretor executivo.
Não houve informações concretas a respeito do futuro cruz-maltino. Dinamite se defendeu, exibiu documentos relativos a diversos assuntos e pediu compreensão à imprensa - criticada em determinados momentos pela veiculação de notícias negativas e, segundo ele, inverídicas - e aos torcedores vascaínos, ressaltando as dificuldades enfrentadas por penhoras e bloqueios de dinheiro por causa de dívidas antigas e também contraídas na gestão atual. Aliás, trabalhar este item junto ao departamento jurídico foi a única saída considerada em suas palavras para evitar que o clube entre num buraco ainda maior.
Roberto Dinamite na coletiva do Vasco (Foto: Gustavo Rotstein / Globoesporte.com)Roberto Dinamite se explica na coletiva, em São Januário (Foto: Gustavo Rotstein / Globoesporte.com)
O time dirigido por Marcelo Oliveira perdeu as últimas cinco partidas no Campeonato Brasileiro, está praticamente fora da disputa por uma vaga na Libertadores e estendeu a crise para o campo. O presidente disse, no entanto, que a questão de salários atrasados é até normal desde a sua época de atleta no Vasco, embora admita que não esteja correta.
- Com esse mesmo grupo, o salário já esteve mais atrasado e tudo deu certo. É isso que precisamos mentalizar e inverter, porque temos 15 pontos para jogar ainda. Vamos buscar as vitórias, teve equipes que ficaram nessa situação e se recuperaram. Vivi como atleta por 20 anos aqui e nunca recebi meu salário em dia. Está errado? Claro, temos que cumprir nossas obrigações. Mas hoje é um atraso de um mês, que muitos clubes também têm. Quem milita no futebol sabe bem disso - argumentou Dinamite.
Eu falei para o Diego (Souza), para os envolvidos, que a saída não era boa para o Vasco. Mas o presidente tem um limite até onde pode chegar. A permanência é importante quando ele (jogador) pensa da mesma forma"
Roberto Dinamite, sobre venda do meia
O presidente ainda afastou qualquer possibilidade de renunciar ao cargo, debochando das especulações, e também negou uma suposta aproximação com o ex-mandatário Eurico Miranda, com quem costurou um acordo para que o balanço de 2011 tivesse mais 60 dias para ser revisto e apresentado novamente ao conselho deliberativo. Ele se recordou do episódio de 2006 em que foi expulso da tribuna do estádio por ordem de seu opositor e disse que não gostaria de reviver a situação.
- Nada disso existe, vou estar sempre aqui junto com quem realmente gosta do Vasco e o respeita. Vamos proporcionar dias melhores ao torcedor e voltar a ter conquistas.
Confira os principais trechos da entrevista coletiva:
Relação recente com a imprensa- Quero esclarecer alguns pontos na relação do clube com a imprensa. Sempre pautei que, na vida, tudo é uma troca. Quando se tem o respeito, vai bem. E é nesse sentido que quero colocar algumas coisas para que a gente não continue a cair na mesmice e falar de alguém sem saber, acusar alguém. Vou exigir por parte de todos o mínimo de respeito, como ao longo da minha carreira sempre fiz. É por isso que estou aqui. Vamos acabar com o disse me disse. O regime é presidencialista, mas todos os profissionais têm autonomia. Aqueles que saíram tiveram suas discordâncias e escolhas. Ninguém é obrigado a ficar.
Vendas de Fagner, Romulo e Diego Souza
- O Diego veio para o Vasco em uma situação em que adquirimos 33% do jogador, e tínhamos o direito de exercer mais 20% dentro do contrato. Pagamos € 1,2 milhão (cerca de R$ 3,2 milhões) para isso. Recebemos, então, uma proposta no período proximo à janela (de transferências), conversei com o jogador e pessoas envolvidas na negociação, falando da importância que ele tinha para o Vasco. Mas havia a realização dele como pessoa, porque era muito dinheiro na oferta. Num primeiro momento, não fizemos a operação, mas depois o jogador optou por sair do Vasco. Eu falei para o Diego, para os envolvidos, que a saída não era boa para o Vasco. Mas o presidente tem um limite até onde pode chegar. A permanência é importante quando ele (jogador) pensa da mesma forma. O exemplo é o Dedé. Só está no Vasco até hoje porque quer estar no Vasco. E a situação (de Diego Souza) quanto ao não pagamento (de parcelas que somam quase R$ 5 milhões) é essa: houve um encaminhamento à Fifa, que já foi notificada e temos até o dia 8 de novembro para ter uma palavra final com relação ao Diego (Dinamite, então, ergue um documento enviado pela entidade máxima do futebol). Já o Fagner veio por intermédio de seu empresário, Carlos Leite. Os 20% que o Vasco tinha foram quase dados. Ele teve contusões, mas se firmou como um jogador importante dentro do Vasco. E optou por se transferir porque financeiramente seria bom. Tentamos convencer a permanecer, mas não foi possível. O contrato estava perto do fim, não foi uma escolha da diretoria. Já o Romulo teve uma proposta muito boa para o Vasco (R$ 10 milhões) e para ele. Detínhamos 50%: 25% eram do Porto-PE e 25% dos dois agentes que tinham participação sobre o jogador. Foram (os recursos arrecadados) investidos nos pagamentos e compromissos diários que o Vasco tem. No aspecto técnico, foi ruim, sim, e no financeiro, no caso do Diego, não somou nada porque está aí até agora.
roberto dinamite vasco (Foto: Divulgação/Flick Vasco da Gama)Roberto negou aproximação com Eurico Miranda
(Foto: Divulgação/Flick Vasco da Gama)
Debandada de dirigentes
- Todos os profissionais que trabalharam nessa instituição tiveram autonomia para ajudar o Vasco, mas quiseram sair, e vamos dar continuidade. O desafio é muito grande, mas o Vasco é maior do que tudo isso.
Futuro financeiro do Vasco
- Um Vasco mais saudável, que possa estar cumprindo com as obrigações. Mas não é de agora esse problema, é lá de trás. Estamos vendo com o jurídico para diminuir os problemas tributários. Entrar nesse mérito é complicado, porque a conta é sempre do outro (antiga gestão, de Eurico Miranda), mas é o Vasco. Não posso pensar no amanhã sem ver o ontem. É justificativa? É também. Queria ter outras empresas, mas a Eletrobras é importante e está feliz da vida por ser parceira do Vasco, deu uma visibilidade geral a eles.
Mudanças na base e CT do profissional
- Sobre a base, eu tinha amigos em quem apostamos, desenvolveram bem o trabalho, mas não chegou ao que queríamos em um determinado momento. Não poderia trocar uma pessoa só, e agora temos novos profissionais, uma equipe inteira em todas as categorias. Temos um CT reformado e, tão logo pudermos equilibrar as finanças, vamos dar apoio a esse trabalho com mais força. A formação da base ajuda a captar recursos e fazer o jogador com custo muito menor e resultados positivos. Nós estamos utilizando esse espaço (em Itaguaí) há dois anos e as coisas vão estar melhorando. Com relação ao CT do profissional, existe um documento com a Prefeitura, e o Vasco já tem esse espaço na Barra da Tijuca, onde vai ser construído o CT a partir do início de 2013. Alguém falou (na imprensa) que o Vasco cederia o espaço da sede do Calabouço. Isso não é verdade, não foi conversado nada sobre isso. Enquanto não temos isso pronto, temos um compromisso com o CT (do CFZ) que vamos estar utilizando durante este período.
Lamenta saída do diretor Rodrigo Caetano?
- Tentamos a permanência, sim, mas vou inverter o caso. O Rodrigo é o que ele é porque o Vasco o ajudou muito também. Deu a condição de trabalho para que se desenvolvesse como profissional. Acertou, errou e foi um parceiro importante neste processo. Teve propostas de outros clubes antes, mas houve entendimento e permaneceu dentro do Vasco. Num segundo momento, aconteceu uma nova conversa em que se especulou, falou, se oficializou o interesse do Fluminense e de outro clube. Tanto que, antes da saída dele, conversamos por cinco horas na minha sala traçando planos do Vasco para o ano seguinte. E aí, como há relação com A, B ou C da imprensa, alguém falou que ele estava indo embora. E eu perguntei a ele, que disse que não. Mas meia hora depois achou que estava cansado e esgotado em razão da forma como ele trabalha e que não tinha condição de seguir no Vasco no ano seguinte. Era uma proposta melhor para ele (Fluminense), mas no segundo momento não foi a parte financeira. Diante da resposta dele, nem fizemos nova proposta.
O Vasco mais do que nunca está muito aberto e democrático. Era bom ser jogador, mas ser presidente é um orgulho. Não admito que alguém, hoje, fale para mim que é mais vascaíno do que eu e que respeita mais o Vasco do que eu. Duvido que haja alguém mais honesto com meu clube do que eu. Se tiver, eu vou embora"
Roberto Dinamite
Reforma de São Januário para 2016
- O desejo do Vasco é fazer aqui uma arena. Estamos trabalhando o projeto para fazer de São Januário um anel com uma empresa do ramo. Inicialmente, Nelson (Rocha, ex-vice de finanças) e Fred Lopes (ex-vice de patrimônio) tiveram autonomia nesse processo. Houve reuniões também com prefeito e governador. Para fazer uma arena, passa por obras no entorno de São Januário. É um projeto para o Vasco ser sede do rúgbi, que passa pelo (Carlos Arthur) Nuzman (presidente do COB) e para termos mais conforto para atender o torcedor. Amanhã (data para confirmação da viabilidade do clube para arcar com o projeto) vamos entregar o documento para que isso possa começar a ser realizado.
Contato com Eurico Miranda
Não existe nada que me coloque ao lado do ex-presidente. Quem está falando isso é mentiroso. Não existe a mínima possibilidade de se estreitar qualquer relação instituicional nesse momento ou em qualquer momento. Sou uma pessoa simples, mas meus valores precisam ser respeitados. Separo bem o instituicional, que tem que falar por ele ser presidente do Conselho de Beneméritos e outra é pessoal. O que passei com meu filho, (expulsos da tribuna em 2006) não quero passar mais. Não criem duvidas em relação a isso.
Considerações finais
Estou feliz de falar o que sinto, o que eu penso. O Vasco mais do que nunca está muito aberto e democrático. Era bom ser jogador, mas ser presidente é um orgulho. Não admito que alguém, hoje, fale para mim que é mais vascaíno do que eu e que respeita mais o Vasco do que eu. Duvido que haja alguém mais honesto com meu clube do que eu. Se tiver, eu vou embora. Estou cumprindo uma etapa dentro do Vasco e quero cumpri-la bem.

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