terça-feira, 30 de outubro de 2012

Duque e Macaé tentam dar fim a jejum dos pequenos do Rio

Estado não tem dois clubes de menor investimento na Série B desde 2000. Dupla está nas quartas de final, o mata-mata decisivo da Terceirona

Por Carolina Burgos e Mariana Kneipp Macaé e Rio de Janeiro
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Em 2000, o Brasil completou 500 anos, a ciência fez o primeiro rascunho da sequência completa do genoma humano, e o mundo comemorou a sobrevivência ao "bug do milênio". Na memória, essas lembranças parecem distantes. Mais ainda para os clubes do Rio de Janeiro. Foi a última vez que o estado teve dois times de pequeno porte na Série B do Campeonato Brasileiro. Doze anos depois, Duque de Caxias e Macaé estão nas quartas de final da Série C, a uma fase de recolocar o futebol fluminense na Segundona.
montagem Duque de Caxias e Macaé times Série B (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)Duque de Caxias e Macaé: as esperanças do Rio na Série C (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
Na última vez em que o Rio teve dois times pequenos na divisão de acesso do Brasileiro, o Macaé tinha apenas 11 anos, e o Duque de Caxias ainda nem existia - foi criado em 2005. América, Americano e Bangu foram os representantes. O Botafogo disputou o campeonato em 2003, e o Vasco, em 2009 - mesmo ano em que o Duque disputou a Série B pela primeira vez, mantendo-se lá por três temporadas. Em 2012, porém, nenhum clube fluminense teve chance de tentar uma vaga na elite. A última vez em que dois times de fora da capital disputaram a Segundona foi em 1998, quando Americano e Volta Redonda fizeram companhia ao Fluminense.
Em doze anos, novos escudos surgiram, subiram e desceram entre as divisões, mas pouca coisa mudou em relação à dificuldade de manter vivo o sonho de um clube sem grande investimento. No Duque de Caxias, a falta de um CT obriga o elenco a se adaptar a três campos diferentes para treinar. No Macaé, o baixo público nos jogos e a perda de patrocinadores levou a diretoria a negociar valores com os jogadores, alguns chegando a receber apenas um salário mínimo. Neste cenário, a vaga na Série B se torna mais do que uma meta: é uma necessidade.
- A classificação seria a nossa autoafirmação. Podemos mostrar que estamos em uma competição de alto nível, em condição de dar visibilidade a investidores, patrocinadores. É a solidificação do Duque, para mostrar que somos um time intermediário, não pequeno. Com sustentabilidade, podemos atingir parâmetros e chegar bem perto da elite. Sabemos que a caminhada é longa, mas estamos nos preparando para isso - afirmou o supervisor de futebol do clube de Caxias, Luiz Oliveira.
Todos os nossos treinos são de competição, até o aquecimento é competitivo. Você vive para competir, tem que ganhar"
Vinicius Eutrópio, técnico do Duque
Se no fim de 2011 o Duque caiu da Série B para a C, o Macaé por pouco não parou na Quarta Divisão - escapou graças ao saldo de gols, após uma salvadora vitória por 6 a 4 sobre o Marília. Nesta temporada, o Leão oscilou no primeiro turno, mas conseguiu a classificação para as quartas de final com dois jogos de antecipação. Na última rodada, contra o Santo André, entrou em campo com sete desfalques e venceu por 3 a 1, garantindo a vantagem do empate no mata-mata.
- Começamos bem, foram duas vitórias. Depois, o desempenho não foi ruim, mas a equipe foi se ajeitando, fez algumas trocas e, com as vitórias, foi crescendo. Para nós, a fórmula desse campeonato, diferente da do ano passado, foi fundamental. Em 2011 não permitia recuperação. Neste ano, a maioria das equipes que se classificaram veio de momentos não tão bons no início - disse o técnico Toninho Andrade, citando a mudança no regulamento, que fez a primeira fase ser disputada com dois grupos de dez times (classificando-se quatro), e não mais quatro chaves de cinco equipes (classificando-se duas).
Macaé rejuvenesce o elenco em cinco anos
Zambi, Atacante Macaé (Foto: Tiago Ferreira / Macaé)Zambi, artilheiro do time, tem 25 anos
(Foto: Tiago Ferreira / Macaé)
Para a disputa do campeonato, ajustes foram necessários no Macaé. Houve uma reformulação de 50% do elenco, com a contratação de 12 jogadores, que resolveram outro problema. A média de idade era de 30 anos.
- O primeiro de tudo foi acreditar nesses acréscimos e no rejuvenescimento da equipe. Agora a média é de 24, 25 anos. Além disso, no ano passado, fizemos a Série C com dois atacantes apenas. Neste ano foi mais equilibrado em relação ao número de jogadores por posição, e isso facilita para o treinador - disse o técnico.
A ascensão de juniores também ajudou o lado financeiro. Com a perda de três patrocinadores - restando apenas dois -, a arrecadação não passa de R$ 200 mil, o que levou a diretoria do Macaé a renegociar valores com os jogadores. Quem veio das categorias de base, mas já joga como profissional, ganha o equivalente a um salário mínimo. A média de salário do elenco é de R$ 4.300.
Campanha do Macaé na Série C:
9 vitórias
5 empates
4 derrotas
 
- Tivemos que adequar dentro da nossa realidade. Foi sacrifício. O clube se espremeu e os jogadores também, com a possibilidade de contrato melhor no futuro, já pensando em possíveis bons resultados na competição. O que prevaleceu foi o empenho, e eles foram guerreiros - disse o supervisor de futebol, Guilherme Costa.
Apesar do esforço financeiro, a torcida do Macaé ainda não é muito presente. O maior público na primeira fase foi 344 pagantes, contra o Madureira. Mas os que vão à arquibancada usam a criatividade e até já criaram um apelido, Barçaé, que tira um sorriso de Toninho Andrade.
- O nosso time joga pelo conjunto. Talvez seja essa a semelhança. Pela parte técnica, não. A nossa equipe é mais voltada para a marcação - garantiu.
Técnico do Duque admite 'lavagem cerebral' para a vitória
Em sua terceira passagem pelo Macaé, Toninho já conhece cada canto do estádio Moacyrzão. É uma situação diferente da do técnico do Duque, Vinicius Eutrópio. Há apenas dois meses no clube, ele ainda tenta se adaptar à rotina de treinos em gramados emprestados.
Duque de Caxias (Foto: Divulgação)Eutrópio conversa com o grupo antes do início do treino (Foto: Divulgação)
- Nossa estrutura é muito humilde, temos uma rotina itinerante. Um dia o Fluminense cede o campo (Xerém), no outro vamos para a Reduc, no outro no Marrentão. É sempre assim: leva o café da manhã para lá, põe o material no ônibus. Mas esse grupo é muito bom. Apesar de tudo, ninguém perde um treino. Eles até se comunicam por celular para garantir que todos estejam lá - lembrou.
Campanha do Duque na Série C:
9 vitórias
2 empates
7 derrotas
Foi com Eutrópio que o Duque ressurgiu na Série C. Nas seis rodadas com Amilton Oliveira no comando, o aproveitamento foi de 16%, com uma vitória e cinco derrotas. O auxiliar Mario Júnior assumiu interinamente e garantiu o segundo triunfo no campeonato. Na oitava partida, Eutrópio já estava no banco. Desde então, foram sete vitórias, dois empates e duas derrotas, 69% de aproveitamento. O técnico justifica a evolução:
- O grupo é muito bom e comprou a nossa ideia. Quando cheguei, falei que não iríamos lutar contra o rebaixamento, mas sim pela classificação. Mudamos o foco. Também deixamos o trabalho físico mais na academia, para dar força. O restante foi todo voltado para o campo, modelo de jogo. A assimilação deles foi muito rápida, e tivemos resultados muito bons, como André Gomes, que, aos 36 anos, disputou todos os jogos até o fim - acrescentou.
Duque de Caxias (Foto: Divulgação)Eutrópio trabalha a competitividade dos
jogadores (Foto: Divulgação)
Eutrópio, porém, reconhece que o principal esforço foi com o lado psicológico dos jogadores.
- Trabalho muito a questão positiva. A conquista virou um mantra. Todos os nossos treinos são de competição, até o aquecimento é competitivo. Você vive para competir, tem que ganhar. Inserimos isso no dia a dia com alguns processos em sala de vídeo, mais o lado social, em casa. Jogador tem que estar feliz. Fiz uma lavagem cerebral mesmo - riu o técnico.
E o objetivo não para na classificação para a Série B, se depender do supervisor Luiz Oliveira:
- É como subir uma escada. O importante no próximo ano não é só voltar à Série B, é manter-se e dar o próximo passo rumo à A - concluiu.
O desafio começa nesta quinta-feira. O Duque de Caxias enfrentará o Icasa, às 21h, no Romeirão, pelo primeiro jogo das quartas de final. O segundo e decisivo será no dia 8. Já o Macaé decide a classificação em casa, no dia 10. Antes, nesta sexta-feira, inicia o duelo com o Paysandu, às 19h, na Arena Verde. Oeste x Fortaleza e Chapecoense x Luverdense completam as quartas de final.

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