"Vou para arrancar a cabeça dele", diz Mendes sobre revanche com Aldo
Peso-pena americano explica por que combate será
diferente do primeiro e cutuca: "Posso levar a luta até o quinto round e
fazê-lo se cansar"
Por Evelyn Rodrigues
Las Vegas, EUA
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Chad Mendes esbanja confiança para o duelo com
José Aldo (Foto: Evelyn Rodrigues)
Próximo desafiante ao cinturão peso-pena de
José Aldo,
Chad Mendes
está ansioso para tentar devolver a derrota sofrida para o brasileiro
no UFC 142, no Rio de Janeiro, quando foi nocauteado com uma joelhada
faltando apenas um segundo para o fim do primeiro round. Companheiro de
treinos de
Urijah Faber e
TJ Dillashaw no Team
Alpha Male, em Sacramento (EUA), o americano tem duelo marcado contra o campeão no próximo dia 2 de agosto, em
Los Angeles,
no UFC 176. Diante desta nova oportunidade pelo título, o atleta de 29
anos conversou com o Combate.com, reavaliou o primeiro encontro com Aldo
e confessou que não estava pronto para disputar o cinturão naquela
época:
- Eu acho que era apenas a minha terceira luta no UFC, eu tinha feito
poucos duelos e já estava indo para a maior luta da minha vida. Além
disso, estava indo para um lugar em que eu nunca tinha estado antes, era
um país diferente, tinha a diferença de
fuso horário, a torcida estava contra mim (risos). Aquele Chad Mendes era 90% wrestling, eu não tinha desenvolvido as minhas habilidades
em pé
e não tinha um treinador principal. O nosso treinamento era basicamente
feito pelo nosso time, nós nos ensinávamos mutuamente no Alpha Male.
Desde que o Duane Ludwig assumiu o time, todo mundo melhorou muito na
trocação. Eu sinto como se eu tivesse me transformado em um lutador
completamente diferente nesses últimos dois anos. Hoje consigo nocautear
as
pessoas com apenas um
soco, sou atlético, meu condicionamento físico está melhor do que nunca e
ainda tenho a habilidade de misturar o meu wrestling com o meu jogo em
pé. Esse Chad que vai enfrentar o Aldo é um lutador completamente
diferente do que ele enfrentou na primeira vez. Eu acho que ele
realmente precisa tomar
cuidado com o meu jogo em pé e com o meu
jogo de chão.
Eu também posso levar a luta até o quinto round e fazê-lo se cansar… -
disse, aproveitando para cutucar o adversário, que tem sido criticado em
suas últimas performances por ter se mostrado pouco agressivo e mais
cauteloso em seus combates:
- Honestamente? Eu sinto que o Aldo está se tornando um lutador
cauteloso ao extremo. Ele vai lá e tem esse poder de nocaute com um
chute ou um soco, mas ele não está conseguindo nocautear. É como se ele
estivesse apenas lutando o suficiente para
vencer a
luta. Foi assim nas últimas duas lutas dele, Aldo meio que empurrou com
a barriga. Eu não sei se isso acontece por causa das lesões, porque ele
vem se machucando
o tempo todo
e luta apenas uma ou duas vezes ao ano. Talvez o corpo dele já não
esteja mais aguentando… Eu não sei, mas sinto que evoluí muito mais do
que o Aldo em suas últimas duas lutas - completou.
Desde a derrota para Aldo, Chad venceu as cinco lutas que disputou no
Ultimate, derrotando adversários como Clay Guida e Nik Lentz. Mais
maduro e experiente, ele acredita que enfrentará o melhor José Aldo de
todos os tempos, mas sente que o adversário talvez o esteja
subestimando. Ele enviou um recado para o oponente:
- Não me subestime. Eu ouvi em algumas entrevistas que você está
dizendo que já me nocauteou uma vez e que vai entrar lá e fazer isso de
novo, mas, como eu disse, sou um novo Chad Mendes e tenho treinado mais
duro do que que já treinei a minha vida toda. Eu sinto que evoluí muito
desde a primeira vez que nos enfrentamos e agora vai ser uma luta
completamente diferente. O nosso duelo vai ser uma guerra e eu vou
entrar lá para arrancar a cabeça dele.
Mendes ainda relembrou os bastidores da primeira luta no Brasil,
respondeu às críticas de que deveria enfrentar Cub Swanson antes de
receber nova chance ao título e deu a sua opinião sobre o futuro de seus
companheiros de time TJ Dillashaw e Urijah Faber no UFC. Confira a
entrevista na íntegra:
Combate.com: Como você recebeu a notícia de que seria o próximo desafiante ao título dos penas?
Chad Mendes: Nós já sabíamos que eu seria o próximo ao
título nos últimos meses, mas não conseguíamos chegar a uma data. Eles
nos ofereceram para lutar no dia 24 de maio, na luta principal do UFC
173, em Las Vegas, mas o Aldo disse que era muito cedo e que não podia
aceitar a luta com oito semanas. Então nos ofereceram a luta principal
do dia 5 de julho, e o Aldo novamente disse que era muito cedo. Mas
agora nós vamos lutar no dia 2 de agosto em Los Angeles. Eu sabia que
teria a minha
segunda chance
contra o Aldo, mas não sabia quando ou onde e eu meio que estava
pressionando para que a luta fosse nos EUA desta vez. E vai ser a
primeira vez que vou lutar no quintal de casa. Acho justo que o Aldo
tenha que vir até aqui dessa vez.
O que você se recorda do primeiro duelo entre vocês no Brasil?
A primeira luta no Brasil foi muito maluca. Eu me lembro da torcida
gritando “Uh, vai morrer!” na pesagem e nos treinos abertos (risos).
Eles são sempre muito empolgados lá e, até mesmo aqui, quando há um
lutador brasileiro no card, a torcida do Brasil sempre consegue fazer
muito barulho. Mas foi uma experiência muito maluca para mim. Eu acho
que era a minha terceira luta no UFC. Naquela época, eu tinha feito
poucos duelos e já estava indo para a maior luta da minha vida. Eu
estava indo para um lugar em que eu nunca tinha estado antes, era um
país diferente, tinha a diferença de fuso horário, a torcida estava
contra mim (risos).
Apesar de
tudo, eu amo o Brasil. Já estive lá com o Fábio Pateta, meu treinador
de jiu-jítsu, e nós nos divertimos em um barco, conhecendo todas as
praias e pescando, isso foi uma coisa que gostei muito de fazer sem ser
relacionada a luta. Porém, falando da luta, foi difícil me adaptar a
todas essas mudanças, fuso horário e mesmo à comida. Eu não sabia que a
maioria das comidas brasileiras tinham muito sódio e isso fez com que o
processo de
perda de peso
fosse mais difícil. Foram várias coisas que aconteceram ao mesmo tempo e
é por isso que dessa vez eu queria que a luta fosse aqui. Vamos ver
como será essa virada de mesa.
Na época você chegou até a tirar fotos com a camisa do Vasco da
Gama em provocação ao Aldo, que é flamenguista. Desta vez, você vai
deixar as brincadeiras relacionadas ao futebol de lado?
Eu nem acompanho muito futebol (risos). O Fábio é que é fanático pelo
Vasco e tinha umas camisas extras, então nós fizemos uma brincadeira e
eu vesti a camiseta e tirei algumas fotos. Eu sei que isso acabou
irritando um pouco o Aldo (risos), mas desta vez o futebol vai ficar de
fora da nossa rivalidade.
Qual foi a maior lição que você tirou desse primeiro duelo contra o Aldo?
Chad negou ter provocado o rubro-negro Aldo com a
camisa do Vasco (Foto: Reprodução/Facebook)
Viajar para outro país para lutar foi uma experiência diferente, que me
ensinou muito, mas, falando propriamente da luta, eu tinha feito poucas
lutas no UFC. Aquele Chad Mendes era 90% wrestling, eu não tinha
desenvolvido as minhas habilidades em pé e não tinha um treinador
principal naquela época. Então, o nosso treinamento era basicamente
feito pelo nosso time, nós nos ensinávamos mutuamente no Alpha Male.
Desde que o Duane Ludwig assumiu o time, todo mundo melhorou muito na
trocação. Eu sinto como se eu tivesse me transformado em um lutador
completamente diferente. Hoje consigo nocautear as pessoas com apenas um
soco, sou atlético, meu
condicionamento físico
está melhor do que nunca e ainda tenho a habilidade de misturar o meu
wrestling com o meu jogo em pé. Esse Chad que vai enfrentar o Aldo é um
lutador completamente diferente do que ele enfrentou na primeira vez. Eu
acho que ele realmente precisa tomar cuidado com o meu jogo em pé e com
o meu jogo
de chão. Eu
também posso levar a luta até o quinto round e fazê-lo se cansar…Estou
realmente muito empolgado! Da primeira vez, eu provavelmente não estava
pronto para lutar pelo título, mas você simplesmente não joga uma
oportunidade como essa pela janela neste esporte. E, sinceramente, eu
senti que estava indo bem naquele primeiro round. Eu posso não ter
vencido, mas foi um round parelho no qual eu estava puxando o ritmo.
Quem sabe o que teria acontecido se eu tivesse conseguido levar a luta
para águas mais profundas? Mas, como eu disse, esse Chad Mendes de hoje
se desenvolveu muito e está ansioso por essa nova oportunidade.
Como você vê a evolução do José Aldo desde que vocês se enfrentaram no Rio?
Honestamente? Eu sinto que o Aldo está se tornando um lutador cauteloso
ao extremo. Ele vai lá e tem esse poder de nocaute com um chute ou um
soco, mas ele não está conseguindo nocautear. É como se ele estivesse
apenas lutando o suficiente para vencer a luta. Foi assim nas últimas
duas lutas dele, Aldo meio que empurrou com a barriga. Eu não sei se
isso acontece por causa das lesões, porque ele vem se machucando o tempo
todo e luta apenas uma ou duas vezes ao ano. Talvez o corpo dele já
não esteja mais aguentando… Eu não sei, mas sinto que evoluí muito mais
do que o Aldo em suas últimas duas lutas.
O Aldo disse em algumas entrevistas que achava que você vem de
importantes vitórias, porém contra oponentes não tão bons assim. No ano
passado, ele chegou até a dizer que o Cub Swanson merecia estar à sua
frente na fila pelo título, mas depois voltou atrás afirmando que
concorda que você voltou ao topo da divisão e merece disputar o
cinturão. O que você acha desses comentários?
Eu sei que a decisão de quem seria o próximo adversário de Aldo estava
entre mim e Cub Swanson. O Cub venceu alguns caras bons, mas eu também
venci. Eu fui a primeira pessoa a nocautear Clay Guida e eu acredito que
os caras que eu venci, como o Nik Lentz, derrotariam Cub Swanson. E
olha que o Nik tem um queixo de pedra. Eu sei que eu bato mais duro do
que o Cub e eu acertei o Nik Lentz de todas as formas possíveis e não
consegui nocauteá-lo. Por isso, eu acho que o Cub não conseguiria
nocauteá-lo e, como o wrestling do Lentz é mais desenvolvido, eu acho
que ele o manteria de costas no chão a maior parte do tempo. De qualquer
forma, eu acho que esses caras que eu lutei e venci derrotariam o Cub.
Eu também venci o Swanson no passado, ainda pelo WEC, então eu já teria
uma vantagem. Sei que melhorei muito, ele também melhorou, mas só acho
que o meu nível atlético e o meu desenvolvimento são muito maiores.
Então, se eu tivesse que enfrentar o Cub para definir o próximo
desafiante, acredito que teria sido o vencedor, ou seja: não mudaria o
resultado. Eu acho que sou mais qualificado neste momento. Enquanto
estou aqui lutando pelo título, o Cub vai enfrentar Jeremy Stephens, que
é o número 11 do ranking...
Você e o Aldo têm alguma relação profissional? Já chegaram a conversar?
Não. Nós não temos nenhum tipo de relação. Eu não o conheço, e ele não me conhece.
Antes de você ser anunciado como o próximo desafiante ao
título, havia muita especulação sobre uma possível luta entre José Aldo e
Anthony Pettis. Você chegou a se sentir subestimado por conta disso?
Afinal, as pessoas pareciam mais interessadas em ver essa superluta do
que em você tendo uma segunda chance pelo cinturão...
Não me senti subestimado. Eu sei que o Pettis e o Aldo são os campeões
em suas respectivas categorias, os dois são muito dinâmicos e bons de
trocação. Quando eu ouvi que os dois podiam se enfrentar, isso seria uma
superluta e é o que as pessoas querem ver no esporte. Obviamente, o UFC
também quer fazer as lutas que os fãs pedem, então quando começaram a
falar sobre isso, eu sabia que era por conta do apelo que essa luta
teria. Sendo muito sincero, eu estava entre os que estavam empolgados
para ver essa luta (risos). Eu acho que seria um duelo excelente para se
assistir, mas eu ainda quero a minha chance primeiro. Então, quem sabe,
talvez eu vença o Aldo e ele vá para a divisão de cima enfrentar o
Pettis, que tal?
Quem você acha que venceria esse duelo?
Eu já treinei com o Pettis e já lutei contra o Aldo. Eu acho que o
Pettis é tão esperto com os seus chutes e ele tem uma força e uma
velocidade maiores que a do Aldo, além de ser um pouco maior do que ele
também. Então eu acho que o Pettis venceria.
Nos próximos três meses serão duas disputas de título entre Team Alpha Male e equipe Nova União. Como é essa rivalidade entre vocês?
Eu acredito que somos os dois melhores camps do mundo nessa divisão,
então quando você tem duas academias boas, com lutadores no topo do
ranking, não tem como esses dois times não se enfrentarem
frequentemente. Mesmo quando um de nós perde, tem essa coisa de
refazermos o nosso caminho para o topo. Eu sei que ainda não conseguimos
decifrar o código da Nova União, mas espero que o TJ consiga fazer isso
no dia 24 de maio e que eu possa fazer o mesmo logo em seguida para
acabar com essa desvantagem com relação a vitórias de títulos (risos).
José Aldo (esq.) manteve o cinturão no primeiro confronto com Chad Mendes (Foto: André Durão)
Como você acha que será o duelo entre TJ Dillashaw e Renan Barão?
Eu treino com o TJ e eu amo o estilo dele. Dillashaw tem essa
habilidade de buscar a luta o tempo todo, é um striker muito dinâmico e
tem excelentes ângulos. Ele consegue puxar o ritmo, além de ter um
excelente wrestling, então eu acho que ele tem as habilidades
necessárias para vencer o Barão. Ele luta para frente, pode confundí-lo,
além de conseguir bons ângulos e ter um bom chão. Eu acho que, se
alguém nessa divisão pode vencer o Barão, esse cara é o TJ.
Além de companheiros de treino e parceiros de time, você e o
Urijah Faber são amigos. Como você vê o futuro dele no UFC, depois de
ter perdido essa revanche contra o Renan Barão?
Aquela foi uma derrota difícil. O Faber aceitou lutar com poucas
semanas, teve alguns contratempos no camp e ainda assim lutou. Mas,
infelizmente, eu sinto como se ele estivesse começando a descer em sua
carreira. Você não consegue ficar no topo para sempre. Eu acho que ele
ainda tem muitas lutas pela frente e continua sendo tão bom agora quanto
antes, talvez na melhor forma de sua carreira. Também continuo achando
que ele vence todo o resto da divisão, mas não sei se ele conseguiria a
chance ao título novamente. Faber já teve três chances ao cinturão e,
geralmente, você tem poucas chances de disputar o título em uma carreira
inteira. Eu acho que é como se o Faber tivesse passado o bastão para o
TJ Dillashaw, não sei, mas acho que ele vai acabar investindo em algumas
superlutas, enfrentando oponentes contra os quais as pessoas querem
vê-lo lutar.
Se você pudesse mandar um recado a José Aldo, o que você diria?
Não me subestime. Eu ouvi em algumas entrevistas que você está dizendo
que já me nocauteou uma vez e que vai entrar lá e fazer isso de novo,
mas, como eu disse, sou um novo Chad Mendes e tenho treinado mais duro
do que que já treinei a minha vida toda. Eu sinto que evoluí muito desde
a primeira vez que nos enfrentamos e agora vai ser uma luta
completamente diferente. O nosso duelo vai ser uma guerra e eu vou
entrar lá para arrancar a cabeça dele.