No Rio, Big John McCarthy responde críticas de Dana White à arbitragem
Principal árbitro do Ultimate diz que dirigente nunca
exerceu sua função e, por isso, não conhece pressão que existe dentro do
octógono
Por Marcelo Russio
Rio de Janeiro
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Dono de um currículo, segundo ele, de milhares de lutas, sendo mais de
600 somente no UFC, o árbitro Big John McCarthy é uma lenda no mundo do
MMA. No Rio de Janeiro para arbitrar o torneio "Mestre do Combate", Big
John parece esquecer do tempo quando fala de lutas. Com uma memória
prodigiosa, de quem esteve no octógono mais famoso do mundo em momentos
históricos, como a primeira derrota de BJ Penn, as duas derrotas de
Georges St-Pierre e o primeiro título de Anderson Silva no UFC, o hoje
veterano decreta: arbitrar no MMA é uma pressão absurda, e só quem está
lá pode avaliar.
Big John durante a coletiva de imprensa do Mestre do Combate (Foto: Marcelo Russio / Globoesporte.com)
Em quase 30 minutos de conversa descontraída, Big John abordou assuntos
como a evolução dos atletas de MMA, a experiência de julgar e arbitrar
uma luta ao mesmo tempo no Mestre do Combate, e aproveitou para
responder a Dana White sobre as críticas que o presidente do UFC faz aos
erros de arbitragem nos torneios de MMA.
Confira a entrevista na íntegra:
SPORTV.COM: Como é a experiência de arbitrar e julgar uma luta ao mesmo tempo?Big John McCarthy:
Eu já fiz isso antes, mas a diferença agora é que eu não tenho que
preencher um cartão com as notas do lutador a cada round. Estou mais
livre para julgar quem venceu a luta, e isso facilita um pouco a função.
O julgamento é sobre o que acontece em toda a luta, e não em cada parte
dela. Será mais fácil para mim porque saberei quem está mais castigado,
quem está trabalhando melhor. Nesse sistema novo, toda a luta é
julgada, e se os dois lutaram bem, é empate. Não vou precisar pegar um
detalhe de uma luta equilibrada para dar um 10 a 9, quando o mais
correto é o empate.
Dentro do octógono, você sabe que um lutador venceu assim que acaba a luta?
Todas as vezes. Recentemente, em Abu-Dhabi, eu arbitrei uma luta em que
eu vi claramente que um lutador havia vencido, e na hora do resultado,
os juízes me fizeram levantar o braço do cara que perdeu, e eu sabia que
ele tinha perdido. É horrível. Fico louco quando isso acontece. As
pessoas que assistem aos torneios, sendo o UFC ou não, imaginam que um
lutador que vem sendo derrotado na trocação, ao levar o oponente para o
chão e o segurar por cinco segundos no chão, leva vantagem na pontuação.
Mas ele não fez nada ali. Não fez diferença alguma. Acho que a luta
deve ser julgada baseado em quem levou mais perigo ao adversário. Na
luta entre Jeff Curran e Takeya Mizagaki no WEC, em 2009, Curran ficou
por baixo toda a luta, e fez um trabalho esplêndido. Mas Mizugaki
conseguiu a vantagem de um ponto por round por aplicar um takedown em
cada, e ficar por cima a luta toda, sem fazer mais nada. Isso, para mim,
é errado. O juiz deve ser capaz de entender o esporte, e dar crédito a
quem cria a ação, e não a reação.
Então você é totalmente favorável aos critérios do Mestre do Combate?
Ele é muito parecido com o do Pride, em que o primeiro round tinha dez
minutos, o segundo tinha cinco minutos, e a luta como um todo era
julgada. Isso quer dizer que toda luta no Pride era julgada
corretamente? Não. Às vezes um lutador sabe o que juiz gosta, e atua
nesse sentido. Isso sempre pode acontecer. Eu posso achar que um atleta
venceu, e Rickson pode achar que outro venceu. No ringue, o árbitro vê e
ouve coisas que quem está fora não vê nem ouve. Na luta entre Vitor
Belfort e Tito Ortiz, o primeiro round definiria a luta, já que Vitor
definitivamente venceu o segundo round, e Tito, o terceiro. Não tenho
dúvida que Vitor venceu aquele primeiro round, mas dois juízes deram a
vitória para Ortiz. O que deu a vitória para Vitor no primeiro round
estava perto de onde toda a ação aconteceu, e ele viu e ouviu o que os
lutadores fizeram realmente.
Rickson Gracie e Big John, juntos no Mestre do Combate (Foto: Marcelo Russio / Globoesporte.com)
Quão difícil é ser um árbitro? Quanta pressão existe sobre o árbitro, que precisa tomar uma decisão em um segundo?
É muito, muito difícil ser um árbitro. Quem está assistindo em casa ou
na arena não tem o impacto real da luta, e sempre há alguma simpatia por
esse ou aquele lutador. Como árbitros, nós não ligamos para quem está
lutando. O nosso trabalho é fazer com que as regras sejam aplicadas
corretamente.
Como você vê as críticas de Dana White aos árbitros? Ele se mostra muito irritado com os erros que vem acontecendo...
Dana é, antes de mais nada, um promotor de eventos, e um excelente
promotor. Ele quer as melhores lutas para vender o seu produto, que é o
UFC. Sempre que um árbitro comete um erro, ele fica insatisfeito, porque
esse erro prejudica o seu produto. Entendo totalmente que ele fique
chateado com os árbitros, mas o que precisa ser entendido é que os
árbitros são humanos, e muitas coisas acontecem durante uma luta. E,
apesar de Dana saber bastante de luta, ele nunca foi um árbitro. Ele não
sabe como é ser o terceiro cara no octógono, e as coisas que acontecem
lá dentro. Há coisas que acontecem para as quais você não está
preparado, ou são tão rápidas que não dá tempo de parar a luta na hora
exata. Os árbitros são humanos, e isso é parte do jogo.
Como você lida com os erros?
Eu tento aprender com eles e não cometê-los novamente. Eu cometi um
erro terrível com Murilo Bustamante, o maior da minha carreira, na luta
contra Matt Lindland, e eu aprendi com ele (na ocasião, Bustamante
encaixou uma chave de braço, e Lindland deu tapinhas tímidos de
desistência. Big John parou a luta, mas Lindland reclamou, alegando que
não tinha desistido, e os dois tiveram que recomeçar o duelo. O
brasileiro, então, aplicou outra finalização - uma guilhotina - e por
fim conseguiu a vitória). Eu não sentei e fiquei me lamentando.
Aconteceu e eu não vou errar assim de novo. É assim que se cresce como
árbitro. Todos vão errar alguma hora. A diferença é você isolá-lo e não
cometê-lo de novo.
Você acha que uma luta entre Georges St-Pierre e Anderson Silva seria justa? Quem seria o vencedor?
Veja bem, a minha opinião é a mesma de Dana White: Anderson Silva é o
melhor lutador de todos os tempos. E Georges St-Pierre é um lutador
fenomenal. Eu já arbitrei inúmeras lutas dos dois. Fui o árbitro das
duas derrotas de St-Pierre - e sei que ele não estava tão bem preparado
para elas - e arbitrei a estreia de Anderson Silva contra Chris Leben, e
a conquista do cinturão contra Rich Franklin. Ele foi fenomenal nas
duas lutas. Acabou com Leben em segundos, e destruiu Franklin. O que é
preciso entender é que Anderson Silva é humano, e pode estar em um mau
dia, como qualquer pessoa. Mas ele, mesmo num dia desses, consegue se
superar e fazer coisas incríveis. Mas Georges sabe usar o seu wrestling,
e consegue controlar seus adversários no chão. Ele pode usar isso
contra o Anderson. E Anderson pode usar seus golpes contra Georges muito
bem. Qualquer um dos dois pode vencer essa luta, e quem perder não
poderá dizer que foi derrotado, porque são dois atletas de elite. Eu vou
dizer quem vence? De jeito nenhum! Só quero ver essa luta como fã de
MMA e dos dois.
SporTV.com/Combate: confira as últimas notícias do mundo do MMA
Confira a programação completa do "Mestre do Combate":
EVENTO PRINCIPAL:
Vitor Miranda x Elton Monstro
COEVENTOS PRINCIPAIS:
Pety Mafort x Robert Peter
Luciano Correa Izzy x Oséias Vianna
TORNEIO SAMURAIS (RJ) X ESCORPIÕES (SP):
Peso-pesado - Fernando Camolês (RJ) x Kitnet Moura (SP)
Peso-meio-pesado - Armando Sixel (RJ) x Thiago Fernandes (SP)
Peso-médio - Gersinho Conceição (RJ) x Alexandre Sagat (SP)
Peso-meio-médio - Celso Farpado (RJ) x Udi "O Herói" Lima (SP)
Peso-leve - Jeffinho Nunes (RJ) x Glauke Eugênio (SP)