Diretor médico da CABMMA explica
teste antidoping de Chael Sonnen
Márcio Tannure esclarece dúvidas sobre exame surpresa que
o americano passou em Nevada e diz que responsabilidade dos resultados é
do lutador
Por Evelyn Rodrigues
Los Angeles, EUA
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A notícia de que
Chael Sonnen foi flagrado em exame antidoping
surpresa com
substâncias proibidas em seu organismo pegou muita gente desprevenida e
acabou por colocar um fim na carreira do falastrão, que anunciou a sua
aposentadoria do esporte nesta quarta-feira. O lutador, que admitiu ter
tomado hCG e clomifeno como parte do período de adaptação após a
proibição da terapia de
reposição de testosterona
(TRT) no MMA, alegou problemas de fertilidade e acusou a Comissão
Atlética do Estado de Nevada de ter mudado as regras do exame
antidoping.
A fim de esclarecer as dúvidas sobre o assunto, o
Combate.com conversou com o
diretor médico
da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA), Márcio Tannure, que
explicou que, apesar das justificativas de Sonnen, as substâncias
flagradas em seu exame antidoping constavam na lista de
substâncias proibidas durante e fora do período de competições da WADA (Agência Mundial Antidoping), que regula os
esportes olímpicos.
- Eu acho que são duas coisas distintas e cabe até abrir essa
discussão. Uma é a das substâncias que foram pegas e que estão na lista
de doping. Todo atleta tem que estudar essa lista e, se tiver alguma
dúvida sobre uma medicação que lhe for receitada pelo médico particular,
deve procurar a comissão atlética e perguntar se é doping ou não para
ficar tudo muito claro. Todo atleta tem essa obrigação de procurar saber
o que pode e o que não pode. Outra coisa é se esse tipo de substância
realmente melhora a performance ou não. Isso é uma outra questão que eu
acho que deva ser debatida sim, com certeza - disse, antes de se
aprofundar um
pouco mais na explicação.
- A WADA é uma entidade bem antiga que regulamenta o esporte olímpico no mundo. Então, esta é uma
lista única
que é válida para todos os esportes, independentemente da idade ou
atividade. Como ela engloba todos os esportes na mesma lista, é um
doping que é muito sensível, porém pouco específico. Isso gera algumas
discussões, como essa, por exemplo, porque algumas substâncias em certos
esportes são consideradas doping e são realmente e, em outros esportes,
não têm esse efeito de melhoria de rendimento ou, em sexos opostos, não
tem esse mesmo efeito. Mas isso é uma outra situação que merece ser
discutida um pouco melhor, merece ser reavaliada, porque realmente
existem substâncias que, na minha opinião, são consideradas doping, mas
que não têm função ergogênica no atleta. Mas, no presente momento, elas
continuam proibidas.
O diretor da CABMMA ainda explicou como é o processo de licenciamento
de um atleta de MMA e esclareceu dúvidas sobre exames antidoping
surpresas feitos pelas comissões.
Tannure afirmou ser a favor de discussão sobre as substâncias consideradas doping (Foto: Evelyn Rodrigues)
Confira a entrevista completa:
Combate.com: Como é o processo de licenciamento de um atleta para uma luta?Márcio Tannure:
Isso não parte do UFC. Na verdade isso é através das comissões
atléticas. Cada comissão atlética tem os seus pré-requisitos, mas
normalmente o lutador tem que realizar alguns exames e aqueles que já
foram pegos no doping e que vinham fazendo o tratamento de reposição de
testosterona (TRT) têm que fazer também, que foi o que aconteceu agora.
E, estando tudo correto, estando tudo ok, ele recebe a licença.
Quem dá a entrada no licenciamento: o lutador ou o UFC?
O lutador dá entrada na licença. O UFC, algumas vezes, ajuda nesse
processo encaminhando os documentos e fazendo esse intercâmbio entre a
comissão e o atleta. Mas isso aí é uma obrigação do atleta.
Qual a validade de cada licença?
Normalmente ela tem a validade de um ano.
E como funcionam os testes antidoping surpresa?
Todo atleta que é associado a uma comissão pode ser testado a qualquer momento. Isso varia de
acordo com a comissão, porém, no momento em que a comissão quiser testá-lo, ele tem que estar apto para isso.
Chael Sonnen foi pego no exame antidoping pelo uso de substâncias que ele alega não terem efeito sobre a melhoria de rendimento...
Eu acho que são duas coisas distintas e cabe até abrir essa discussão.
Uma é a das substâncias que foram pegas e que estão na lista de doping.
Então todo atleta tem que estudar essa lista e se tiver alguma dúvida
sobre uma medicação que lhe for receitada pelo médico particular deve
procurar a comissão atlética e perguntar se é doping ou não para ficar
tudo muito claro. Mas todas as substâncias estão na lista de substâncias
proibidas. Todo atleta tem essa obrigação de procurar saber o que pode e
o que não pode. Outra coisa é se esse tipo de substância realmente
melhora a performance ou não. Isso é uma outra questão que eu acho que
deva ser debatida sim, com certeza. Eu acho que o doping hoje é muito
sensível, mas pouco específico. Ele não é dividido em esportes, então
realmente existem substâncias que, na minha opinião, são consideradas
doping
mas que não têm função ergogênica no atleta. Isso é uma outra questão, agora que a sustância estava na lista de doping, isso estava.
Você pode explicar os efeitos do clomifeno e do hCG no organismo?
O clomifeno é um
anti-estrogênico , então ele diminui a ação do estrogênio no
corpo humano.
Já o hCG é um anti-aromatase. Ele diminui a sua conversão de
testosterona em estrogênio e, consequentemente, mantém os níveis de
testosterona normais do ser humano um pouco mais elevados.
Tannure disse que justificativa de Sonnen para doping faz sentido (Foto: Evelyn Rodrigues)
Sonnen alegou que fez uso dessas substâncias porque estava passando por problemas de fertilidade...
Faz sentido. Esse é um dos tratamentos clínicos para a infertilidade, para tentar aumentar o seu
nível de testosterona.
Dana White afirmou essa semana que os lutadores
que faziam uso de TRT deveriam ter tido um período de adaptação depois
da proibição do TRT no esporte. O que acontece quando um lutador para de
fazer uso de TRT, como seu organismo se comporta?
Isso requer um tempo de adaptação mas, nesse caso específico, há também
um erro do atleta, pois ele deveria ter procurado a sua comissão, o seu
médico particular deveria ter conversado com os médicos da comissão e,
dentro disso, chegarem a um consenso sobre quando seria melhor para ele
voltar a lutar.
Quanto tempo um lutador que fazia uso de TRT precisa para estar apto a voltar a competir sem a terapia?
Isso é uma coisa variável, vai de organismo para organismo, mas em
média de três a seis meses. Esse é um processo longo, cada paciente é
diferente. Primeiro de tudo é preciso ver qual a causa desse
hipogonadismo, se é primário, se é secundário para você entender. Eu não
tenho conhecimento desses dados clínicos do Sonnen, então seria leviano
eu falar qualquer coisa. Para você saber qual é a melhor opção, você
precisa saber qual é a causa.
E como funciona o teste antidoping?
A WADA é uma entidade bem antiga que regulamenta o esporte olímpico no mundo. Então é uma lista única que é válida
para todos
os esportes, independentemente da idade ou atividade. Então, como ela
engloba todos os esportes na mesma lista, é um doping que é muito
sensível, porém pouco específico. Isso gera algumas discussões, como
essa, por exemplo, porque algumas substâncias em certos esportes são
consideradas doping e são realmente e, em outros esportes, não têm esse
efeito de melhoria de rendimento ou, em sexos opostos, não tem esse
mesmo efeito. Mas isso é uma outra situação que merece ser discutida um
pouco melhor, merece ser reavaliada, mas no momento estão na lista de
substâncias dopantes.
Quando um atleta é pego no teste antidoping surpresa e não aplicou ainda para a licença, quais são suas opções?
Ele pode entrar com recurso e isso vai ser julgado. Ele também pode
pedir a contraprova se quiser, pois tem esse direito. Quando você colhe o
doping, você colhe em duas amostras exatamente para isso. Ele tem esse
direito de pedir para abrir a contraprova, por exemplo, e fazer
novamente o exame, porque pode ter sido um erro laboratorial ou alguma
outra coisa, então esse é um direito do atleta.