sexta-feira, 13 de junho de 2014

Diretor médico da CABMMA explica
teste antidoping de Chael Sonnen

Márcio Tannure esclarece dúvidas sobre exame surpresa que o americano passou em Nevada e diz que responsabilidade dos resultados é do lutador

Por Los Angeles, EUA
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A notícia de que Chael Sonnen foi flagrado em exame antidoping surpresa com substâncias proibidas em seu organismo pegou muita gente desprevenida e acabou por colocar um fim na carreira do falastrão, que anunciou a sua aposentadoria do esporte nesta quarta-feira. O lutador, que admitiu ter tomado hCG e clomifeno como parte do período de adaptação após a proibição  da terapia de reposição de testosterona (TRT) no MMA, alegou problemas de fertilidade e acusou a Comissão Atlética do Estado de Nevada de ter mudado as regras do exame antidoping.
A fim de esclarecer as dúvidas sobre o assunto, o Combate.com conversou com o diretor médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA), Márcio Tannure, que explicou que, apesar das justificativas de Sonnen, as substâncias flagradas em seu exame antidoping constavam na lista de substâncias proibidas durante e fora do período de competições da WADA (Agência Mundial Antidoping), que regula os esportes olímpicos.
- Eu acho que são duas coisas distintas e cabe até abrir essa discussão. Uma é a das substâncias que foram pegas e que estão na lista de doping. Todo atleta tem que estudar essa lista e, se tiver alguma dúvida sobre uma medicação que lhe for receitada pelo médico particular, deve procurar a comissão atlética e perguntar se é doping ou não para ficar tudo muito claro. Todo atleta tem essa obrigação de procurar saber o que pode e o que não pode. Outra coisa é se esse tipo de substância realmente melhora a performance ou não. Isso é uma outra questão que eu acho que deva ser debatida sim, com certeza - disse, antes de se aprofundar um pouco mais na explicação.
- A WADA é uma entidade bem antiga que regulamenta o esporte olímpico no mundo. Então, esta é uma lista única que é válida para todos os esportes, independentemente da idade ou atividade. Como ela engloba todos os esportes na mesma lista, é um doping que é muito sensível, porém pouco específico. Isso gera algumas discussões, como essa, por exemplo, porque algumas substâncias em certos esportes são consideradas doping e são realmente e, em outros esportes, não têm esse efeito de melhoria de rendimento ou, em sexos opostos, não tem esse mesmo efeito. Mas isso é uma outra situação que merece ser discutida um pouco melhor, merece ser reavaliada, porque realmente existem substâncias que, na minha opinião, são consideradas doping, mas que não têm função ergogênica no atleta. Mas, no presente momento, elas continuam proibidas.

O diretor da CABMMA ainda explicou como é o processo de licenciamento de um atleta de MMA e esclareceu dúvidas sobre exames antidoping surpresas feitos pelas comissões.
Dr Tannure UFC (Foto: Evelyn Rodrigues) Tannure afirmou ser a favor de discussão sobre as substâncias consideradas doping (Foto: Evelyn Rodrigues)
Confira a entrevista completa:
Combate.com: Como é o processo de licenciamento de um atleta para uma luta?
Márcio Tannure:  Isso não parte do UFC. Na verdade isso é através das comissões atléticas. Cada comissão atlética tem os seus pré-requisitos, mas normalmente o lutador tem que realizar alguns exames e aqueles que já foram pegos no doping e que vinham fazendo o tratamento de reposição de testosterona (TRT)  têm que fazer também, que foi o que aconteceu agora. E, estando tudo correto, estando tudo ok, ele recebe a licença.
Quem dá a entrada no licenciamento: o lutador ou o UFC?
O lutador dá entrada na licença. O UFC, algumas vezes, ajuda nesse processo encaminhando os documentos e fazendo esse intercâmbio entre a comissão e o atleta. Mas isso aí é uma obrigação do atleta.
Qual a validade de cada licença?
Normalmente ela tem a validade de um ano.
E como funcionam os testes antidoping surpresa?
Todo atleta que é associado a uma comissão pode ser testado a qualquer momento. Isso varia de acordo com a comissão, porém, no momento em que a comissão quiser testá-lo, ele tem que estar apto para isso.
Chael Sonnen foi pego no exame antidoping pelo uso de substâncias que ele alega não terem efeito sobre a melhoria de rendimento...
Eu acho que são duas coisas distintas e cabe até abrir essa discussão. Uma é a das substâncias que foram pegas e que estão na lista de doping. Então todo atleta tem que estudar essa lista e se tiver alguma dúvida sobre uma medicação que lhe for receitada  pelo médico particular deve procurar a comissão atlética e perguntar se é doping ou não para ficar tudo muito claro. Mas todas as substâncias estão na lista de substâncias proibidas. Todo atleta tem essa obrigação de procurar saber o que pode e o que não pode. Outra coisa é se esse tipo de substância realmente melhora a performance ou não. Isso é uma outra questão que eu acho que deva ser debatida sim, com certeza. Eu acho que o doping hoje é muito sensível, mas pouco específico. Ele não é dividido em esportes, então realmente existem substâncias que, na minha opinião, são consideradas doping mas que não têm função ergogênica no atleta. Isso é uma outra questão, agora que a sustância estava na lista de doping, isso estava.
Você pode explicar os efeitos do clomifeno e do hCG no organismo?
O clomifeno é um anti-estrogênico , então ele diminui a ação do estrogênio no corpo humano. Já o hCG é um anti-aromatase. Ele diminui a sua conversão de testosterona em estrogênio e, consequentemente, mantém os níveis de testosterona normais do ser humano um pouco mais elevados.
Dr Tannure UFC (Foto: Evelyn Rodrigues) Tannure disse que justificativa de Sonnen para doping faz sentido (Foto: Evelyn Rodrigues)
Sonnen alegou que fez uso dessas substâncias porque estava passando por problemas de fertilidade...
Faz sentido. Esse é um dos tratamentos clínicos para a infertilidade, para tentar aumentar o seu nível de testosterona.
Dana White afirmou essa semana que os lutadores que faziam uso de TRT deveriam ter tido um período de adaptação depois da proibição do TRT no esporte. O que acontece quando um lutador para de fazer uso de TRT, como seu organismo se comporta?
Isso requer um tempo de adaptação mas, nesse caso específico, há também um erro do atleta, pois ele deveria ter procurado a sua comissão, o seu médico particular deveria ter conversado com os médicos da comissão e, dentro disso, chegarem a um consenso sobre quando seria melhor para ele voltar a lutar.
Quanto tempo um lutador que fazia uso de TRT precisa para estar apto a voltar a competir sem a terapia?
Isso é uma coisa variável, vai de organismo para organismo, mas em média de três a seis meses. Esse é um processo longo, cada paciente é diferente. Primeiro de tudo é preciso ver qual a causa desse hipogonadismo, se é primário, se é secundário para você entender. Eu não tenho conhecimento desses dados clínicos do Sonnen, então seria leviano eu falar qualquer coisa. Para você saber qual é a melhor opção, você precisa saber qual é a causa.
E como funciona o teste antidoping?
A WADA é uma entidade bem antiga que regulamenta o esporte olímpico no mundo. Então é uma lista única que é válida para todos os esportes, independentemente da idade ou atividade. Então, como ela engloba todos os esportes na mesma lista, é um doping que é muito sensível, porém pouco específico. Isso gera algumas discussões, como essa, por exemplo, porque algumas substâncias em certos esportes são consideradas doping e são realmente e, em outros esportes, não têm esse efeito de melhoria de rendimento ou, em sexos opostos, não tem esse mesmo efeito. Mas isso é uma outra situação que merece ser discutida um pouco melhor, merece ser reavaliada, mas no momento estão na lista de substâncias dopantes.
Quando um atleta é pego no teste antidoping surpresa e não aplicou ainda para a licença, quais são suas opções?
Ele pode entrar com recurso e isso vai ser julgado. Ele também pode pedir a contraprova se quiser, pois tem esse direito. Quando você colhe o doping, você colhe em duas amostras exatamente para isso. Ele tem esse direito de pedir para abrir a contraprova, por exemplo, e fazer novamente o exame, porque pode ter sido um erro laboratorial ou alguma outra coisa, então esse é um direito do atleta.

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