Simples e direto, Glover avisa: "Se Jon Jones me dominar, ficarei chocado"
Desafiante ao título dos meio-pesados do UFC, mineiro
fala sobre fama, revela emoção ao ver o cinturão e prevê que vencerá no
terceiro ou quarto round
Por Marcelo Russio, Adriano Albuquerque e Evelyn Rodrigues
Direto de Baltimore, EUA
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Quem passava pela rua não imaginava que o homem de moleton cinza
sentado na mesa de uma cafeteria em Baltimore, nos EUA, era um candidato
a campeão mundial. Na tarde da última terça-feira,
Glover Teixeira
seguiu a rotina adotada desde que chegou à cidade para a disputa do
cinturão dos meio-pesados do UFC diante de Jon Jones: sair andando de
chinelos pela rua acompanhado da esposa e tranquilamente sentar-se para
tomar um café e conversar. Um programa simples, como ele. Por cerca de
45 minutos, o mineiro da pequena cidade de Sobrália não deu uma
entrevista apenas ao
Combate.com, mas conversou descontraidamente sobre a luta que fará no próximo sábado, pelo
UFC 172, contra um dos maiores lutadores do mundo na atualidade, e, segundo suas próprias palavras, um dos melhores da história.
Relaxado e tranquilo, Glover Teixeira garante que vê sua vitória contra Jon Jones (Foto: Adriano Albuquerque)
- Sem desmerecer o
Jon Jones,
que é um dos melhores da história, agora acabou. Ele é só mais um que
está ali na minha frente. Eu o vejo como qualquer um que eu venci nos
torneios do Brasil ou no exterior. Ali é mais um oponente que vai sair
na porrada comigo. Ele vai ser mais um.
Glover também falou sobre a declaração de Jon Jones de que irá procurar dominá-lo na luta.
- Eu treino com caras tops, como Chuck Liddell, Lyoto Machida, já
treinei com o Cigano e com o Cain Velásquez e nenhum deles, ninguém, me
dominou. Se acontecer o que ele está falando, eu vou ficar muito
surpreso. Algumas pessoas acreditam nisso, mas se ele fizer mesmo, eu
vou ficar chocado, porque isso nunca aconteceu na minha carreira, nem em
treino e nem em luta.
Combate.com: Jon Jones falou que seria o primeiro cara a te dominar. O que você acha disso?
Glover Teixeira: Nas minhas lutas e nos meus treinos as
pessoas já sabem que isso é muito difícil de acontecer. Eu já lutei
contra o Rampage Jackson e o coloquei pra baixo com muita facilidade.
Foram seis quedas que, sinceramente, nem força eu precisei fazer. Lutei
contra o Ryan Bader e também botei ele pra baixo. E nenhum dos dois me
botou no chão. Eu treino com caras tops, como Chuck Liddell, Lyoto
Machida, já treinei com o Cigano e com o Cain Velásquez e nenhum deles,
nem ninguém, me dominou. Se acontecer o que ele está falando, eu vou
ficar muito surpreso. Algumas pessoas acreditam nisso, mas se ele fizer
mesmo, eu vou ficar chocado, porque isso nunca aconteceu na minha
carreira, nem em treino e nem em luta. Não acredito também que eu vá
dominá-lo assim também, mas acho que a minha mão vai entrar e eu vou
conseguir o nocaute.
Você entra na luta pensando em dominar, como Jon Jones, ou seu pensamento é vencer da forma que for?
Não penso em dominar, mas me preparo para as piores hipóteses. Eu
treino para isso, para ficar tranquilo nas situações que podem
acontecer. Se ele me derrubar, passar a guarda, montar ou pegar as
costas, eu já me preparei para isso. Eu vou lutar contra o Jon Jones no
UFC, que é um dos melhores da história. Espero golpes vindo de todos os
lados. Ele é quase igual ao Anderson Silva, só que mais previsível. O
Anderson é mais surpreendente. Mas minha técnica vai superar a técnica
dele e eu vou chegar ao topo. Vou levar esse cinturão.
Glover revela nervosismo no começo do período de treinos para o UFC 172 (Foto: Adriano Albuquerque)
A alguns dias de disputar o cinturão, passa um filme na sua cabeça com tudo que você já passou?
Já passou, durante o camp. Tinha vezes que, no último treino do dia,
quando eu já não aguentava mais e o pessoal ficava gritando para eu
prosseguir, eu pensava que não precisava mais treinar. Aí vinha aquele
pensamento no cinturão, em levar para a minha cidade e comemorar bebendo
cerveja com os meus amigos e eu dava um gás a mais. Mas hoje, não. Eu
procuro não pensar nisso, porque sei que a popularidade aumenta, a mídia
é maior, o pessoal põe uma pressão maior e até te trata diferente. Para
mim, sem desmerecer o Jon Jones, que é um dos melhores da história,
agora acabou. Ele é mais um que está ali na minha frente. Eu o vejo como
qualquer um que eu venci nos torneios do Brasil ou no exterior. Ali é
mais um oponente que vai sair na porrada comigo. Ali ele vai ser mais
um.
O que existe mais agora? Nervosismo, ansiedade, sentimento de ser a grade chance da vida...
Isso tudo já bateu. Já estive nervoso nos treinos, com meus sparrings,
que eram meus amigos, os caras com quem eu treino todo dia. Era um
nervosismo de cobrança, por torcer para que as técnicas fluíssem, que
meus bloqueios de golpes estivessem prontos. Ali eu me sentia nervoso.
Mas agora acabou. Vocês têm me acompanhado aqui e sabem, eu estou
relaxado. Estou bloqueando mesmo toda essa empolgação com a luta. Estou
aqui agora como se fosse lutar no Brasil, contra qualquer adversário. Já
fiquei nervoso para lutar antes, porque veio a dúvida se eu sentiria a
minha estreia aqui no UFC - no Brasil eu lutava feliz, amarradão mesmo.
Mas tinha mais pressão sobre mim naquelas lutas, no Brasil, do que na
deste sábado. Se eu perder para o Jon Jones, mesmo estando invicto há
oito anos, eu só vou ter que subir a escada de novo. Mas lá, com
problema de visto, já podendo estar no UFC, imagina se eu perdesse! Na
minha última luta, eu já havia sido chamado para o UFC, mas não tinha o
meu green card, que só chegou dia 23 de dezembro. Mesmo assim eu marquei
a luta e lutei contra o Ricco Rodríguez. Meus amigos me chamaram de
maluco, perguntaram a razão pela qual estava lutando. Eu lutava porque
tinha que lutar. É como o Chuck Liddell me falou: se eu perdesse para
aqueles caras, não mereceria mesmo ir para o UFC.
Foi bom para você ter tido a luta contra Jon Jones adiada?
Eu achei bom, porque a minha carreira no Brasil foi intensa. Em 2011 eu
lutei pra caramba e já cheguei ao UFC fazendo cinco lutas em 13 meses.
Eu precisava de umas férias para passar o Natal tranquilo. No ano
anterior, meu Natal foi treinando, porque lutei contra o Rampage dia 26
de janeiro. Decidi curtir o Natal e o fim deste último ano. Mas, se ele
adiasse novamente ou se machucasse, eles iriam me perguntar se eu
preferiria esperar pelo cinturão ou lutar. E eu lutaria. O que eu iria
fazer? Eu só iria esperar se estivesse lesionado. Mas estando bem, eu
luto sempre. Vamos sair na porrada. É mais dinheiro que eu ganho, e mais
experiência. E, se eu perdesse, não mereceria lutar pelo cinturão. É aí
que entra o manager, o empresário. Por exemplo: o Shogun não quis me
enfrentar um tempo atrás. E hoje, será que ele quer? As coisas mudam,
né? Ele vem de derrota e eu vou lutar pelo título. O meu empresário pode
achar que hoje não vale mais a pena, mas eu não estou nem aí. Se me
falarem que eu vou lutar contra um estreante, por mim eu luto. Só que o
manager pode não querer, né?
Brasileiro posa para foto nas ruas de Baltimore e
diz: 'Não penso na fama' (Foto: Adriano Albuquerque)
É verdade que você mesmo faz os seus camps de treinamento?
Mais ou menos. Eu tenho meus treinadores, que vão me preparar e
corrigir o que estiver errado. Mas eu estou sempre falando com eles,
porque não precisam me dizer o que precisa ser feito. Eu já vou lá e
faço. Às vezes meus técnicos me dizem que é hora de acalmar, de parar um
pouco. Já tive risco de entrar em overtraining por causa disso. No
início desse camp mesmo eu quase entrei em overtraining, porque não
consigo começar a trabalhar devagar. Tive que parar um pouco,
desacelerar. No começo dos camps eu sinto como se fosse lutar em uma
semana. No fim, com o corpo mais acostumado, a coisa fica melhor. No
começo chega a dar tristeza, porque eu sinto que não estou rendendo o
que eu rendo quando estou em fim dos treinos. Por exemplo: com 100kg e
treinadíssimo, eu vou correr 5km em 20 minutos. Mas no começo eu não
consigo, e isso me deixa louco, porque eu quero fazer no início dos
trabalhos o que eu faço no fim. E quase me mato pra fazer. Isso é
perigoso.
O passar dos anos foi benéfico para você?
Foi, sim. Eu estou conhecendo melhor o meu corpo. Meu tempo ideal é
esse agora. Se eu hoje, aos 34 anos, lutasse com o Glover de 26 anos, eu
meteria a porrada nele (risos). Estou no topo, principalmente na parte
técnica e na experiência de treino. Fisicamente é difícil dizer, mas têm
caras na minha academia com 34, 36 anos e que lutam como se tivesse 20.
Por que você decidiu ir treinar integralmente na American Top Team?
Quem fez a transição foi o Dan Kramer, que me levou paara conhecer a
academia. Eu conheci o Ricardo Libório, e o Katel Kulbis eu já conhecia.
Mas na verdade o que me levou a ficar lá não foi o treino, que é ótimo,
mas a energia. Isso faz diferença. Energia ruim atrai lesão. Lá na ATT
eu treino com caras pesados, de 120kg, e cheguei para as minhas três
últimas lutas sem lesão. A negatividade atrai coisa errada. Já aconteceu
comigo no Brasil, não vou dizer aonde, que o treino estava pesado e
acabei machucando o tornozelo. Por isso trago meus amigos para me
ajudar.
A sua fama de ser mais fechado, principalmente em entrevistas na TV é timidez ou mineirice?
Talvez seja timidez mesmo, porque com a minha galera eu brinco e rio o
tempo todo. Já aconteceu, quando eu cheguei ao Rio, das pessoas me
acharem meio marrento porque eu cumprimentava os caras de longe. Mas eu
tinha ficado assim por causa do tempo que eu passei nos EUA. Aqui as
pessoas não se cumprimentam tocando umas nas outras. Lá no Brasil, você
tem que apertar a mão de cada lutador da academia, um por um, senão você
passa por mal-educado. E eu sou meio calado mesmo no começo, depois eu
me solto.
Glover agradece a força que a esposa, Ingrid, teve quando ele voltou ao Brasil (Foto: Adriano Albuquerque)
Você sempre está com a sua esposa, Ingrid, aqui em Baltimore. Qual a importância dela para você chegar aonde chegou hoje?
Quando você casa, você se tranquiliza. Talvez, se eu fosse solteiro, eu
estaria lutando pelo cinturão do mesmo jeito. Mas essa força dela,
principalmente quando eu vim para o Brasil, foi incrível. Ela depositava
US$ 100 na minha conta, porque eu estava quebrado. Teve um evento no
Brasil que eu lutei e não recebi, e o tempo foi passando. Ela que me
ajudou. Eu casei novo, estamos há quase 11 anos casados. Se você é
solteiro e não sai, fica feio. Você tem que pegar uma mulher, senão a
galera cai em cima. Casado a coisa melhora. E ela é calma demais,
resolve os meus negócios, responde os meus e-mails. Só isso já é uma
ajuda imensa.
Qual a primeira coisa que você vai fazer depois de ganhar o cinturão? O que vai mudar?
Eu não vou mudar em nada, com certeza. Mas eu sei que vai aparecer
muito puxa-saco, e com eles eu vou ser arrogante mesmo. Vi acontecer
isso com o Chuck Liddell. A vida vai mudar, porque o campeão tem mais
compromissos. Mas a primeira coisa mesmo vai ser ir para o meu quarto do
hotel com meus amigos, pedir uma pizza pra comer com eles e curtir o
momento. Já em Sobrália eu nem penso muito, porque gera mais pressão. Eu
sei que vai ter festa, carreata, tudo isso. Mas eu penso em chegar lá
exatamente como nas últimas vezes. Vem uma galera boa de Sobrália e de
Danbury - acho que dois ônibus e vários carros. Imagino umas 100 pessoas
vindo aqui torcer por mim.
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Chuck Liddell é visto por Glover como o maior meio-
pesado da história do MMA (Foto: Evelyn Rodrigues)
Como você visualiza a sua luta contra o Jon Jones?
Vai ser uma luta dura, porque o Jon Jones é um cara muito duro. Mas não
visualizo essa luta indo até o quinto round, porque acho que vou
encurtar essa distância para buscar o chão ou um nocaute. Vamos ver como
eu vou achá-lo melhor no combate. Com certeza penso que a luta deve
acabar no terceiro ou quarto round. O perfeito seria acabando no
primeiro, mas luta é luta. Se um golpe entrar, não tem o que fazer. Acho
que ele vai estudar a luta no primeiro round para, no segundo, começar a
fazer o jogo dele. Mas na hora que ele vir que eu vou pressioná-lo, ele
pode querer pressionar também esperando uma reação minha. Mas estou
preparado para ele pressionar, fugir, estudar. Me preparei
psicologicamente para isso.
Você acha que o Chuck Liddell, no ápice, venceria Jon Jones?
Eu acho que sim. Ele é meu ídolo, e é difícil eu dizer que não. Mas o
Chuck é o melhor lutador meio-pesado da história pelo seu estilo de
luta. Basta você ver a popularidade dele e do Jon Jones na rua. O Chuck é
mais popular mesmo depois de tanto tempo parado. Se o Jon Jones parar
hoje, daqui a três anos ninguém mais vai lembrar dele. Quer dizer, vão
lembrar, mas ele não vai ser visto toda hora na TV. Quando as pessoas
vêem o Chuck, na mesma hora lembram dele.
Você sente que sofreu mais e mereceu mais ser campeão que o Jon Jones?
Todo mundo que implora por misericórdia se dá mal. Não tem isso de
coitado. Todo mundo tem uma história bacana para contar. Não tem isso de
"eu sofri, eu mereço..." Merece? Treinou? Vamos ver! O cara tem que ser
brabo. Achei bacana o Tyrone Spong, que quebrou a perna, deitou no chão
e ficou com a cara serena. Esse é brabo. Nem era muito fã dele, mas
gostei da atitude dele ali. Eu não tenho esse negócio de "eu sofri..."
Me diverti, é o meu trabalho e sou bem pago para isso. Acho que aprendi
isso com o Chuck.
Você pensa em ser lembrado pelas pessoas?
Não. Eu quero ser o melhor do mundo, pegar o cinturão. Quando eu falo, o
coração bate até mais forte, me dá água na boca. Eu nem toco no
cinturão. Vejo os cinturões do Lyoto, do Chuck, no escritório do UFC e
não encosto. Quero pegar o meu. Quero ser o campeão e que digam que eu
sou o melhor lutador do mundo. Mas depois que eu me aposentar, eu quero é
roça! Não quero ser lembrado nem famoso. Não quero viver a fama depois
da fama. Acabou a carreira, acabou. Claro, sempre vou falar com um fã
que venha falar comigo. Mas se ninguém lembrar mais de mim, vou ficar
feliz, porque é mais tranquilidade.
UFC 172
26 de abril de 2014, em Baltimore (EUA)
CARD PRINCIPAL
Peso-meio-pesado: Jon Jones x Glover Teixeira
Peso-meio-pesado: Phil Davis x Anthony Johnson
Peso-médio: Luke Rockhold x Tim Boetsch
Peso-leve: Jim Miller x Yancy Medeiros
Peso-pena: Max Holloway x Andre Fili
CARD PRELIMINAR
Peso-mosca: Joseph Benavidez x Tim Elliott
Peso-leve: Takanori Gomi x Isaac Vallie-Flagg
Peso-galo: Jessamyn Duke x Bethe Correia
Peso-leve: Joe Ellenberger x Vagner Rocha
Peso-leve: Danny Castillo x Charlie Brenneman
Peso-galo: Chris Beal x Patrick Williams