Lembra Dele? Aldo vê Flu só com 1% de chance de escapar da B: 'Mas dá'
Campeão brasileiro em 1984 com
Branco e Ricardo Gomes, ex-lateral, hoje técnico no Amapá, treina sub-17
do Santos-AP e critica jogadores do Tricolor
Por Gabriel Penha
Macapá-AP
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Na esquina da Rua Leopoldo Machado com Avenida Diógenes Silva, no
bairro Trem, Zona Sul de Macapá, quase todos os fins de semana é
possível encontrar com um ex-campeão brasileiro. Aos 50 anos, o
amapaense Aldo do Espírito Santo, ou simplesmente Aldo como ficou mais
conhecido, tem o local como um de seus preferidos. É lá que o
ex-lateral-direito, com o nome na história do Fluminense após a
conquista do segundo título brasileiro do Tricolor das Laranjeiras, em
1984, reforça a torcida pela permanência da equipe na Série A do
Campeonato Brasileiro, embora admita: a situação é bastante complicada,
sobretudo pelo fato de o clube depender de outros resultados.
- Acho que o Fluminense vai ter muita dificuldade para permanecer na
Primeira Divisão. Diria que tem apenas 1% de chance de escapar. Além de
fazer a sua parte (vencer o Bahia), ainda vai ter que torcer por outros
resultados. Quando você depende de terceiros, é complicado. Mesmo assim,
com este 1% de chance, continuo acreditando e torcendo. Basta o time
ter união, espírito de vitória, além do apoio total dos seus torcedores.
Ciente de que defendeu e honrou a camisa tricolor com a toda a
dignidade durante a sua passagem pelo Flu, Aldo vê a atual situação como
consequência de sucessão de erros.
- Muitos jogadores que estão lá só pensam em dinheiro, enquanto outros
foram vendidos e o time ficou sem entrosamento. Isso sem falar na troca
de técnicos e na contusão do Fred. A equipe desandou - ponderou.
Perfil do jogador em publicação histórica do Flu
(Foto: Gabriel Penha/GE-AP)
Em seu auge, Aldo era um jogador que dificilmente errava um cruzamento.
Hoje, o ex-atleta determinado deu lugar a um senhor gentil, de sorriso
fácil e palavras comedidas. Dono de uma história de brilho no clube e ao
mesmo tempo frustrante por não ter sido chamado para a Seleção, Aldo
teve uma carreira meteórica, mas que marcou uma geração inteira no
Tricolor carioca. Atualmente, o futebol continua fazendo parte de sua
vida: ele é técnico do time Sub-17 do Santos-AP.
O começo de tudo
Nascido no próprio bairro Trem, Aldo começou a carreira aos 17 anos no
clube União. Pouco tempo depois se transferiu para o Esporte Clube
Macapá para ficar junto dos irmãos, que também jogavam no Azulino -
entre eles, Bira, também campeão brasileiro pelo Internacional, em 1979.
- Foi uma época de dificuldades, quando o esporte ainda era amador.
Para poder jogar tinha de pedir aos pais todo o material - relembrou.
Amapaense figura no livro que mostra as grandes conquistas do Tricolor carioca (Foto: Gabriel Penha/GE-AP)
O primeiro título foi o de campeão do Copão da Amazônia, em 1975, em
Rondônia. Na final, ele começou a partida no banco de reservas, mas
acabou fazendo o terceiro gol da vitória por 3 a 0 do Macapá sobre o
Ferroviário. Dois anos depois foi para Belém, onde ficou um ano só
fazendo testes no Paysandu até ser aprovado. Tanto esforço acabou dando
resultado, já que foi bicampeão estadual em 1980 e 1981 pelo 'Papão' da
Curuzu.
Ser convidado para integrar um time de ponta como era o Fluminense era demais para um jogador do Amapá"
Aldo, sobre o convite para o Flu em 1982
Mas foi no ano seguinte, em 1982, que a carreira do jogador começou
realmente a deslanchar justamente após uma derrota do Paysandu para o
Fluminense por 4 a 1, no Maracanã. Apesar do resultado negativo, Aldo se
destacou naquele jogo e acabou recebendo o convite para compor o elenco
do Tricolor carioca.
- Eu tremi. Ser convidado para integrar um time de ponta como o
Fluminense era demais para um jogador do Amapá. Confesso que fiquei
muito nervoso, tinha aquela coisa de mudar para uma cidade grande, mas
não podia desperdiçar a oportunidade - recordou.
Título brasileiro e sonho interrompido
Pouco depois de chegar ao clube, o Fluminense dispensou grande parte do
elenco, mas o ex-lateral permaneceu e ajudou o clube a conquistar o
tricampeonato estadual nos anos de 1983, 1984 e 1985, além de duas Taças
Guanabara (1983 e 1985). Nesse período, ele também conquistou o maior
título da carreira: o de campeão brasileiro em 1984. Aldo brilhou num
time que tinha estrelas como Branco, Ricardo Gomes, Deley, Assis,
Washington, Paulo Vítor e Romerito, além do técnico Carlos Alberto
Parreira. Ao todo, foram 211 partidas pelo clube das Laranjeiras.
Amapaense Aldo (1º em pé da esquerda para a direita) no Flu que ganhou Brasil em 84 (Foto: Agência Globo)
Em 1985, ele foi pré-convocado para a seleção brasileira que iria
disputar a Copa do Mundo no ano seguinte no México. No entanto, uma
fratura na perna direita tirou-lhe o sonho de vestir a camisa
amarelinha.
- Tudo estava encaminhado, até mesmo o passaporte. Infelizmente, o
sonho de defender a camisa do Brasil acabou com aquela lesão -
emocionou-se Aldo ao falar sobre o assunto.
Após um ano parado, o jogador voltou aos gramados para atuar em clubes
como Vitória e Sport. Coincidência ou não, Aldo encerrou a carreira no
Paysandu em 1996, onde tudo começou. Hoje, mesmo quase 30 anos depois do
título brasileiro, ainda é respeitado e homenageado pelo Fluminense.
- Sempre recebo passagens para ir ao Rio. O clube festeja seus
ex-atletas. É muito bom saber que eu, um jogador do Amapá, estou entre
os 100 melhores jogadores da história do clube - disse o ex-jogador.
Categorias de base
Para Aldo, um bom futebol depende do investimento nas categorias de
base. Atual treinador do time sub-17 do Santos-AP, ele acredita que só
investindo em novos talentos é possível fortalecer as competições
locais, como o Campeonato Amapaense, e ascender para o cenário nacional.
O técnico Aldo numa das partidas pelo estadual da categoria, em Macapá (Foto: Jonhwene Silva/GE-AP)
- O time que eu treino foi disputar a Copa Norte este ano (2013) e
fizemos uma campanha memorável. Perdemos nos pênaltis nas quartas de
final. Mesmo assim, o trabalho rendeu frutos, já que emprestamos
jogadores para o Remo, do Pará. No caso do Amapá, falta os clubes
criarem identidade, ter seu seus próprios CT´s - avaliou.
Tem que ser profissional, mostrar a importância de seu trabalho, mas com vida regrada, disciplina e responsabilidade"
Aldo, campeão brasileiro pelo Flu em 1984, sobre a postura do jogador profissional
Defensor da profissionalização do futebol no Amapá. Aldo afirmou que a
falta de postura dos próprios atletas não incentiva os clubes a
respeitarem os direitos dos jogadores.
- Quando começarmos a valorizar nossos jogadores, a torcida voltará ao
estádio. Jogador profissional não tem de jogar pelada, pois o torcedor
não vai pagar para ver jogar o atleta que já viu na pelada. Tem que ser
profissional, mostrar a importância de seu trabalho, mas com vida
regrada, disciplina e responsabilidade - reiterou.
Nos treinos do Sub-17 do Santos, essa cobrança com a garotada fica
evidente. Mal sabem os jovens que são privilegiados por serem treinados
por um jogador que levou o nome do Amapá para o futebol nacional.