Apitei! Loebeling admite erro contra a Ponte a favor do São Paulo em 1999
Ex-árbitro aponta falha de colocação como motivo para não ter visto a falta de Wilson em Piá, que depois segurou a bola na área. Tricolor venceu por 3 a 2 e se classificou
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Alfredo Loebeling deixou de apitar em 2001 (Foto: Reprodução / Facebook)
Um
passo. Para a esquerda ou para a direita. Para trás ou
para a frente. De tão natural, parece irrelevante. Mas não no esporte,
onde um
passo pode representar a diferença entre dentro e fora, acertar ou
errar, vencer
ou perder. Ver ou não ver. Foi um passo que
levou o hoje ex-árbitro Alfredo Loebeling a cometer o que agora
considera um
erro no terceiro jogo das quartas de final do Campeonato Brasileiro de
1999
entre Ponte Preta e São Paulo. Um passo atrás para a Ponte. Um passo à
frente para o São Paulo. Os dois clubes estão novamente lado a lado em
um
confronto mata-mata. Nesta quarta-feira, em Mogi Mirim, definem quem
avançará à final Copa Sul-Americana - como venceu o jogo de ida, quarta
passada, no Morumbi, por 3 a 1, a Macaca passa mesmo perdendo por 2 a 0.
Ao Tricolor resta vencer por três gols ou por dois, desde que marque ao
menos quatro.Dia 24 de novembro de 1999. Moisés Lucarelli, Campinas. O cronômetro marcava 30 minutos do primeiro tempo. Depois de perder por 3 a 2 no Morumbi na abertura da série e dar o troco no segundo duelo ao fazer 2 a 1 em casa, a Macaca vencia o último e decisivo confronto por 1 a 0, gol de pênalti de Régis Pitbull. Um empate bastava para os campineiros avançarem, devido à melhor campanha na primeira fase. Foi quando aconteceu o lance mais polêmico do confronto. Polêmico e decisivo para a classificação do São Paulo e eliminação da Macaca.
No rebote de um escanteio a favor do Tricolor, o meia Piá, da Ponte, tenta dar um drible para trás no zagueiro são-paulino Wilson na entrada da área e é derrubado. Loebeling poderia escolher o toque por baixo ou por cima. Mas não viu. Da meia lua, na diagonal da jogada, foi encoberto por Edmílson e pelo próprio Piá. Só viu o que ocorreu logo a seguir: convicto de que o árbitro marcaria falta para a Ponte, Piá segurou a bola com a mão dentro da área ao cair. Pênalti para o São Paulo. Raí deixou tudo igual. A Ponte ainda ficaria mais uma vez na frente do placar com Luis Fabiano, então apenas Fabiano, e o São Paulo viraria com Wilson, ainda no primeiro tempo, e Edmilson, na etapa final, para ficar com a vaga (assista à reportagem no vídeo abaixo).
- Foi uma partida complicada de apitar. Não tive uma boa atuação. Eu não vi o toque do Wilson, vi apenas a mão na bola do Piá. O meu erro de posicionamento causou a marcação equivocada do pênalti. Era uma jogada difícil, mas dava para acertar se eu estivesse bem posicionado - lembrou Loebeling, por telefone.
Alfredo Loebeling na partida entre Ponte e São Paulo, em 99 (Foto: Reprodução / SporTV)
O
ex-árbitro não precisou dos recursos da televisão para
perceber a falha. A indignação dos jogadores da Ponte na volta do
intervalo o deixou com a sensação de que havia errado. Ele também
precisou ouvir
reclamações dos são-paulinos. Mas, aos tricolores, garante que estava
com a
razão. O motivo era a expulsão do volante Vágner após o fim do primeiro
tempo.
O jogador se envolveu em um bate-boca com o gandula e recebeu o cartão
vermelho
direto. O goleiro Rogério Ceni era o mais exaltado. Com gritos de "O
senhor
está querendo o quê?", chegou a jogar água no árbitro, mas saiu impune. - Os jogadores da Ponte vieram falar comigo depois do intervalo. Pela cara deles, logo vi que errei no lance. Ninguém reclama como eles reclamaram se não tiver convicção. Eles devem ter visto algum vídeo no vestiário ou alguém falou para eles. Os jogadores do São Paulo também estavam revoltados por conta do Vágner, mas ali não tive saída. Se eu falar o que ele falou para o gandula vai dar o problema. Sobre o Rogério, estava de costas. Não vi que ele jogou água em mim. Se visse, poderia ter feito algo - comentou.
Um dos protagonistas da polêmica entre Ponte e São Paulo, Piá lembra que o próprio Wilson reconheceu que cometeu a infração. Para o ex-jogador, no entanto, o destino tratou de corrigir a injustiça com a Ponte. Na fase seguinte, o Tricolor caiu diante do Corinthians. Na vitória do Timão por 3 a 2 no primeiro jogo, Raí, que convertera a penalidade diante da Ponte, desperdiçou duas cobranças, ambas defendidas por Dida, uma em cada canto.
Os jogadores da Ponte vieram falar comigo depois do
intervalo. Pela cara deles, logo vi que errei no lance. Ninguém reclama como
eles reclamaram se não tem convicção. Eles devem ter visto algum vídeo no
vestiário ou alguém falou para eles
Alfredo Loebeling
Para Loebeling, o erro no pênalti para o São Paulo ofuscou os acertos no pênalti para a Macaca e na expulsão de Vágner. Quando o jogo ainda estava 0 a 0, o lateral-direito Daniel invadiu a área e foi derrubado por Nem com um empurrão “indiscutível”, segundo Loebeling. O desempenho em Campinas rendeu uma repreensão do então chefe de arbitragem da CBF, Armando Marques.
- Na semana seguinte, o Armando Marques me chamou no Rio de Janeiro e me cobrou pelo erro. Ele falou que um árbitro com a experiência e a rodagem que eu tinha não poderia cometer um erro infantil de posicionamento. Não chegou a dar nenhuma punição, mas me alertou para a questão do posicionamento. Ele estava certo.
Em 2001, Armando Marques, aliás, foi o responsável pelo fim da carreira de Loebeling. Na final da Série B entre Figueirense e Caxias, em Florianópolis, o ex-árbitro precisou encerrar a partida devido à invasão de torcedores do Figueira ao gramado para comemorar o acesso que estava a um minuto e cinquenta segundos de ser confirmado. Como a torcida levou uniforme, redes e bolas, a partida não pôde ser reiniciada. A súmula, porém, não fez nenhuma menção ao fato. Segundo Loebeling, Marques o pressionou para alterar o relato. Depois daí, ele abandonou a carreira profissional. Atualmente, está no ramo da política.
- O Armando me coagiu a alterar. Me obrigou a colocar que encerrei o jogo e dei dois minutos de acréscimo em vez de três. Fiz porque fui ameaçado, mesmo sabendo que era uma coisa errada – disse o árbitro, sobre mais uma polêmica da sua carreira – talvez a principal, muito maior que o erro no pênalti para o São Paulo contra a Ponte em 1999.