Laudo confirma que PM suspeito de matar Ricardinho ingeriu álcool
Apesar
de uma das versões do crime sustentar que policial estava usando
drogas, nenhum entorpecente foi detectado no exame toxicológico do IGP,
divulgado na quinta
RIP: homenagens nas redes sociais para Ricardinho (Foto: Reprodução/ Instagram)
O
Instituto Geral de Perícias (IGP) de Florianópolis confirmou nesta
quinta-feira que Luis Paulo Mota Brentano, o policial militar de 25 anos
suspeito de atirar em Ricardo dos Santos, teria ingerido álcool na
segunda-feira, dia do crime. O laudo toxicológico do órgão, no entanto,
não detectou a presença de outras drogas. Ricardinho foi atingido por
dois tiros, que perfuraram vários órgãos, e morreu na última
terça-feira.
Em uma das versões do crime relatada para a
Polícia Civil, o PM estaria consumindo drogas em frente à casa do
surfista, o que teria causado o desentendimento entre os dois. A tese
foi contestada pela defesa do suspeito, que alegou que o cliente não usa
tóxicos
- Desde o início, ele se colocou à disposição da Justiça
para fazer o exame toxicológico. Ele fez o exame e deixou o veículo
dele na delegacia. Foi feito uma perícia em todo o veículo para
verificar se foi encontrado algum resquício de droga - afirmou o
advogado, Gilson Schelbauer, em entrevista ao G1.
Conforme o
diretor-geral de IGP, Miguel Acir Colzane, caso o policial tivesse
utilizado outras drogas, haveria vestígios na amostra de sangue
coletada. Conforme o IGP, o sangue de Brentano foi coletado às 14h da
segunda-feira. O crime aconteceu na frente da casa do atleta por volta
das 8h30 do mesmo dia na Guarda do Embaú, em Palhoça, município da
Grande Florianópolis.
- A cocaína fica por até três dias presente na corrente sanguínea. Foi constatado apenas alcoolemia no teste - relatou.
Ricardinho foi homenageado na quarta, no Rio da Madre, na Guarda do Embaú (Foto: Renan Koerich)
De
acordo com informações do IGP, o laudo toxicológico foi entregue na
tarde desta quinta ao delegado Marcelo Arruda, responsável pela
investigação. Com o laudo cadavérico enviado pelo Instituto Médico Legal
(IML) ao delegado na quarta, Arruda deve dar os procedimento ao
inquérito policial. Até as 16h30, o G1 não conseguiu contato com o
investigador.
Inquérito policial
Segundo o laudo do IML, um dos projéteis atingiu o lado esquerdo do
corpo de Ricardo dos Santos, o atravessou e saiu pelo lado direito,
perfurando órgãos internos. O outro tiro acertou as costas, e a bala
ficou alojada na vértebra lombar.
Com essas informações,
segundo a polícia, a versão dada pelo soldado, de legítima defesa, pode
ser descartada perante o inquérito. Apesar do laudo, o advogado do
policial afirma que vai manter o argumento de legítima defesa, que,
segundo ele, independe da posição em que os dois estavam.
Schelbauer
alegou que o agente teria efetuado os disparos "simplesmente para
assustar, e não para acertar [Ricardo dos Santos]". Segundo o advogado,
após uma discussão, a vítima teria voltado com um facão para se
defender. "Ele [o PM] já estava indo embora, e a vítima [Ricardinho]
teria investido contra ele", argumenta.
Brentano foi preso em
flagrante e levado, primeiramente, ao Batalhão da Polícia Militar de
Florianópolis. Na noite de terça, ele foi transferido para o 8º Batalhão
de Joinville. O agente está detido por tempo indeterminado. O irmão
dele, menor de idade, que estava junto no carro, foi liberado e é
considerado testemunha do caso.
O policial já respondeu a outros
processos criminais – e foi absolvido em todos, segundo a PM. Ele será
indiciado pela Polícia Civil por homicídio doloso qualificado. Em
paralelo, o PM também responderá a um inquérito militar pelo mesmo
crime.
Ricardo dos Santos abaixo-assinado (Foto: Reprodução/Avaaz)
PetiçãoAté as 17h desta quinta-feira, mais de 29 mil pessoas haviam assinado uma
petição online para pedir Justiça pelo caso de Ricardo dos Santos. O documento foi criado no dia da morte do surfista.
A
estudante de direito Aline Adams Veiga, de 22 anos, é uma das pessoas
envolvidas na divulgação da petição. Aline conta que cresceu com
Ricardinho, como era conhecido entre os amigos.
- Nosso objetivo é
que o maior número de pessoas assinem para que a petição seja entregue
diretamente nas mãos do governador Raimundo Colombo. Queremos garantir
que ele se envolva pessoalmente no caso, que o policial seja expulso da
corporação e pague pelo crime que cometeu - disse.
Segundo a
assessoria do governador Raimundo Colombo, é preciso que o inquérito
militar e o inquérito policial sejam concluídos para que qualquer
decisão seja tomada. O governo esclarece que, como qualquer pessoa
suspeita de um crime, o PM precisará ser julgado pela Justiça. A
expulsão da corporação militar pode ocorrer após o término do inquérito.
Carro dos suspeitos de atirarem contra o surfista Ricardo dos Santos (Foto: Renan Koerich)
Diferentes versões
O crime ocorreu na frente da casa do atleta, na Guarda do Embaú, após
um desentendimento com o policial, que estava acompanhado do irmão,
menor de idade.
Segundo testemunhas, o policial estaria consumindo drogas no momento da
discussão. A tese é contestada pelo advogado, que alega que o cliente
não usa drogas.
- Desde o início, ele se colocou à disposição da Justiça
para fazer o exame toxicológico. Ele fez o exame e deixou o veículo dele
na delegacia. Foi feito uma perícia em todo o veículo para verificar se
foi encontrado algum resquício de droga - alega.
Outra versão indica que Ricardinho havia pedido para que o suspeito
retirasse o automóvel de cima de um cano na frente da casa do surfista.
Ele e o avô iriam consertar a tubulação, que leva água para as famílias
daquela área. Segundo moradores, o policial teria agido de forma
agressiva ao responder o surfista, que retrucou, mas não houve uma
discussão forte entre os dois.
Ainda conforme os relatos, quando todos achavam que o motorista estava
saindo com o veículo, o policial sacou uma pistola e atirou duas vezes
contra Ricardo. O atleta ainda tentou fugir, mas foi atingido por mais
um tiro nas costas, conforme testemunhas e laudo. O delegado responsável pela
investigação, Marcelo Arruda, informou que deve ser feita uma
reconstituição dos fatos para confirmar o que realmente ocorreu.
O jovem passou por quatro cirurgias, três delas na segunda (19), mas
não resistiu aos ferimentos e morreu no início da tarde de terça (20) no
Hospital Regional de São José, também na Grande Florianópolis. O rapaz
foi enterrado nesta quarta (21), em Paulo Lopes, cidade vizinha.
Ricardo dos Santos é sepultado em Santa Catarina (Foto: Renan Koerich)
Velório e enterro
O corpo do surfista foi enterrado pouco depois das 12h desta quarta
(21) no cemitério de Paulo Lopes. O velório começou às 23h de terça (20)
no salão da Paróquia Santa Terezinha, na Guarda do Embaú, onde o atleta
nasceu e morava. No local, foram colocadas várias fotos do catarinense
surfando e pranchas que ele usava para praticar o esporte.
Jacqueline Silva, Mineirinho, Alejo Muniz, Renan Rocha e Luan Wood são
alguns dos surfistas que estiveram presentes no adeus a Ricardinho. No
local do sepultamento, parentes e amigos do atleta gritaram por justiça.
Por volta das 18h desta quarta, amigos, familiares e moradores do local
onde Ricardinho morava fizeram uma homenagem ao rapaz, no Rio da Madre,
que fica na frente da praia. Centenas de pessoas participaram do ato,
que pediu justiça e contou com a presença de Paul Speaker, presidente da
Liga Mundial de Surfe (World League Surf).
Doação
O Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, informou que
as córneas de Ricardinho foram retiradas na tarde de terça e doadas. A
direção da unidade de saúde esclareceu que, por não ter ocorrido morte
encefálica, e sim parada cardíaca, demais tecidos e órgãos não puderam
ser aproveitados para doação.