Joel confirma estreia na terça e critica 5 a 0 em casa: "Como é que pode?"
Após
aceitar proposta, treinador se dirige ao torcedor e clama por união e
respeito à camisa do clube em meio à crise. Diretoria, porém, ainda
evita oficializar contratação
Por GloboEsporte.comRio de Janeiro
Observado por Petkovic, Joel orienta o time do Vasco no fim de 2004 (Foto: O Globo)
Para
Joel Santana,
após dizer sim à proposta ao Vasco, nesta sexta-feira, o trabalho já
começou. Ao menos na tentativa de motivar time e torcida a sair da
situação ruim. Depois que assinar contrato até o fim do ano e
oficializar a volta, o treinador será apresentado na próxima
segunda-feira e confirmou que estreia na terça-feira, contra o
Luverdense, em São Januário. Animado com a nova chance, em entrevista à
Rádio Globo, ele falou em "não passar mais vergonha" e colocou a
determinação acima do papo no dia a dia.
- Quero deixar uma coisa bem clara: falar diretamente com o torcedor, que é
nosso amigo, companheiro e que nunca nos deixou na mão. Sem o torcedor,
não sou nada, nem ninguém. Estou comprando essa situação junto ao
torcedor, de defender a camisa, ir para São Januário colocar nosso
caldeirão, que nem sempre colocamos. Não podemos passar esse tipo de
vergonha e não vamos passar mais. Não tem mais como, chegou ao limite.
Não tem muita conversa, muito papo. Vou trabalhar no que posso fazer e
espero que o torcedor do Vasco nos apoie - afirmou.
Apesar do tom
do discurso, a diretoria, por outro lado, ainda evita o assunto e pede
mais tempo para anunciá-lo através de seu site
oficial. O presidente Roberto Dinamite, por volta das 16h, tratou a
negociação com "90% fechada" mesmo com o acordo selado verbalmente. E o
diretor executivo Rodrigo Caetano disse que "irá se manifestar após
definir todos os detalhes". Pequenas condições financeiras fizeram com
que as partes estendessem a cautela.
Joel
garante que vinha acompanhando as partidas, crê que o elenco tem
qualidade e aproveitou para criticar o vexame de sábado passado, quando o
time caiu por 5 a 0 para o Avaí, em casa. Nos últimos cinco jogos,
foram dois empates e três derrotas, com direito à eliminação da Copa do
Brasil para o ABC, nas oitavas de final. Na Série B, de vice-líder caiu
para o quinto lugar. O duelo com o América-MG, neste sábado, é direto
pelo G-4 e terá o interino Jorge Luiz no banco.
- Estou animado porque temos condições. Não aceitaria
uma situação dessas se não tivesse confiança. Se a torcida rezar do
nosso lado, vamos sair dessa, não tem como. Já saí de coisas piores. E
vamos sair dessa maratona, dessa guerra, vou arrumar um nome (para
classificar essa situação). Não tem como o Vasco conviver com isso. É
o Vasco. Porra, como é que pode? Não podemos aceitar isso. Vamos
trabalhar e fazer o que tem que ser feito. Dentro do Vasco, não
perdíamos nunca e agora estamos perdendo? O que é isso, rapaz? Agora,
chega lá e os caras dão de cinco... Que pomba, para não falar outra
coisa, é essa? O torcedor tem que entender que vamos rezar na mesma
cartilha. Vamos lutar para cacete e vamos ganhar - disse, inflamado.
Dentro do Vasco, não
perdíamos nunca e agora estamos perdendo? O que é isso, rapaz? Agora,
chega lá e os caras dão de cinco... Que pomba, para não falar outra
coisa, é essa?
Joel Santana
O
retorno à elite apenas não satisfaz o técnico, de 65 anos. Ele avisou
que já disse a Dinamite que qualquer resultado que não seja o título da
Série B está abaixo da perspectiva. E se dirigiu aos jogadores que
lideram o vestiário para estar junto com a nova comissão.
- Nós,
hoje, temos que chegar para esses jogadores consagrados do elenco e
dizer: Vocês estão vestindo o manto do Vasco e mostrar a história do
clube. Tivemos Vavá, Roberto, Edmundo... Os maiores artilheiros do
futebol carioca e do mundo. O Vasco é o Vasco. O Vasco tem história, é
conhecido no mundo inteiro. O Vasco vai sair dessa. Conto com esses
jogadores. Se eles acharem que não vale a pena, têm que me falar. São
jogadores cascudos. Quero ser campeão do que for. Como vou me contentar em só me
classificar? Eu falei para o Roberto: estamos aqui para tirar o Vasco
dessa situação e fazer o Vasco campeão. Não podemos ficar mais nisso.
A
possibilidade de Felipe, ídolo do clube, se tornar auxiliar existe,
segundo Joel Santana. A princípio, porém, devem chegar Marcelo Salles e o
preparador físico Ronaldo Torres.
Resistência, amizade e dívida
A negociação, iniciada na terça-feira, foi conduzida diretamente por
Roberto Dinamite. Joel treinou o amigo numa de suas passagens pelo
clube e tem boa relação com o presidente do Vasco, que está em fim de mandato –
enquanto a Justiça não julgar a liminar que o mantém no poder, ele segue
presidente até as eleições de 11 de novembro.
Joel Santana é apresentado em seu último trabalho, no Bahia, no início de 2013 (Foto: Thiago Pereira)
Houve
grande resistência interna ao nome de Joel, mas Dinamite resolveu se
impor em uma de suas últimas decisões em São Januário. A escassez do
mercado e a impossibilidade de acerto
com as alternativas preferenciais - como no caso de Juninho e Oswaldo de
Oliveira -
abriram caminho para o acerto do veterano treinador. O
primeiro contato havia sido feito logo após o pedido de demissão de
Adilson. Joel, depois, esperou outra ligação e se irritou com a
aproximação do acerto do Vasco com Enderson Moreira, que acabou não se
concretizando.
Recentemente,
Joel recebeu cerca de R$ 800 mil do clube. O valor é referente a um
débito da última passagem pelo clube. O Vasco assinou confissão de
dívida que serviu de instrumento para ação do técnico contra o clube em
2010. No início, o débito total era de R$ 840 mil. Com a outra
passagem – Joel treinou o Vasco em 2000 e depois voltou em 2004 –, após
pagamentos de algumas parcelas, a dívida chegou a quase R$ 900 mil. O
clube, na gestão de Dinamite, pôs em dúvida a prova do treinador,
baseada em confissão de dívida assinada pela diretoria do ex-presidente
Eurico Miranda. Mas assim como no caso de Romário, que ainda tem a
receber do Vasco mais de R$ 10 milhões, a Justiça deu ganho de causa a
Joel.
O Vasco, no entanto, ainda tem outra dívida de outras
passagens de Joel por São Januário. No novo acordo, o clube vai sugerir
uma recomposição desse débito. Caso parecido a diretoria vascaína tenta
com Felipe, que, segundo números do balanço financeiro de 2013, tinha R$
1,1 milhão a receber de salário e direitos de imagem atraso desde a sua
conturbada saída, após episódio com o então diretor de futebol René
Simões, no fim de 2012.