Fusões, migrações e trocas de nome: o que os clubes fazem pra sobreviver
A
cada nova temporada, muitas agremiações adotam estratégias arriscadas
para aumentar receita e se tornar competitivas. Porém, nem sempre
conseguem sucesso
Por Eduardo de Sousa e Daniel MundimRio de Janeiro
34 comentários
Uma
cena curiosa vem acontecendo de Norte a Sul do Brasil a cada vez que
começam os Estaduais. Ao olhar a tabela da competição regional, o
torcedor percebe que seu clube está diferente, não só na escalação, como
na estrutura. Às vezes, até no próprio nome. Na tentativa de aumentar
as suas receitas e continuar
montando equipes competitivas, muitos clubes, sobretudo os de menor
investimento,
deixam para trás toda uma história construída no lugar onde
foram fundados e mudam de cidade. Como retirantes, vão para centros
maiores em busca de melhores condições de
sobrevivência. Na esperança de conseguir apoio financeiro de prefeituras
e
patrocinadores longe do local de origem, alguns acabam trocando de
identidade.
Há também aquelas equipes que se fundem, ou então, são compradas por
outras no
melhor estilo ‘a união faz a força’. Tudo com o objetivo de manter suas
contas
devidamente equacionadas e não serem obrigadas a fechar as portas.
O
torcedor acompanha a situação de
longe, muitas vezes sem poder fazer nada para ajudar ou impedir que o
destino e
o futuro dos seus clubes de coração sejam decididos unicamente por
dirigentes. Uns até conseguem
compreender que a decisão foi a melhor e continuam torcendo, mesmo à
distância e se aceitando um outro nome. Outros ficam extremamente
contrariados por se
sentirem traídos e órfãos do clube pelo qual sempre foram apaixonados. O
GloboEsporte.com selecionou alguns casos recentes, uns bem sucedidos,
outros não, mas todos tentando se manter vivos dentro do mercado do
futebol brasileiro.
Paraná
Clube, fundado em 1989, é fruto da fusão entre o Colorado e o
Pinheiros, dois dos mais tradicionais times de Curitiba na época (Foto:
infoesporte / Cláudio Roberto)
Quando o assunto é fusão de clubes, um dos casos mais lembrados, até
pelo êxito que alcançou, é o do Paraná Clube, que teve uma trajetória
vitoriosa logo
após a sua fundação, em 1989. Fruto da fusão
do Colorado com o Pinheiros, dois dos mais tradicionais clubes de
Curitiba, o
time ganhou nada menos do que seis títulos estaduais nos seus primeiros dez anos
de existência, sendo um pentacampeonato (1991, 1993/94/95/96/97).
Além disso, em apenas três anos, o Tricolor da Vila Capanema saiu da
Terceira
Divisão para a elite do Campeonato Brasileiro, conquistando a
Série B
em 1992.
Na opinião do ex-presidente do Paraná, Ernani Buchmann, a
fusão aliada à fase ruim vivida por Coritiba e
Atlético-PR na época da fundação é a principal responsável para que a
criação do Tricolor paranaense tivesse êxito.
Ernani Buchmann, ex-presidente do Paraná, acredita que parte do sucesso do clube se deve ao estatuto (Foto: Arquivo Pessoal)
- A grande vantagem da fusão é que os dois estatutos –
Colorado e Pinheiros – foram extintos, enquanto que um outro exclusivo para o
novo clube, que estava surgindo a partir da junção, foi redigido. O Paraná
incorporou o patrimônio dos dois, sobretudo a estrutura do Pinheiros e a
torcida do Colorado. Ao mesmo tempo, Coritiba e Atlético-PR passavam por
momentos difíceis. O Coxa estava na Terceira Divisão, e o Furacão com enormes
dificuldades financeiras.
Ao contrário do Paraná
Clube, que não precisou sair de Curitiba para trilhar seu caminho de
vitórias, outros times se veem obrigados a deixar o seu local de origem
para despontar. No entanto, assim que chegam ao seu novo destino,
percebem que
o futuro é incerto e que para conseguir um 'lugar ao sol' é necessário
"matar um
leão por dia". Fundado em 1993 na cidade de Cristinápolis, no interior
de
Sergipe, o Boca Júnior Futebol Clube se transferiu em 2011 para
Estância,
município 49 km distante. Segundo o presidente Gilson Behar, o apoio
financeiro da prefeitura foi determinante para a mudança.
Presidente
Gilson Behar considera que apoio da prefeitura foi determinante para a
mudança do Boca Junior para Estância (Foto: Felipe
Martins/GLOBOESPORTE.COM)
- Numa cidade maior, a chance de conseguir anunciantes e
investidores também aumenta. Cristinápolis tem 18 mil habitantes. Já a
população de Estância beira os 100 mil. A verdade é que Cristinápolis não
suportou o tamanho do time, que cresceu muito rápido num período de dez anos.
Aqui temos o apoio da prefeitura, enquanto que lá não tinha nenhum projeto
voltado para o clube. Em Estância, o estádio da cidade (Francão) comporta 14
mil pessoas. Em Cristinápolis, apenas duas mil.
Apesar da distância, a população de Cristinápolis continua
torcendo pelo Boca Júnior-SE da mesma forma. Nos dias de jogos, os torcedores
pegam a estrada, seja de carro ou de ônibus, e vão para o estádio com bandeiras
e vestidos com a camisa do time. Na
opinião do dirigente sergipano, o mais difícil é conquistar a simpatia dos
torcedores no novo endereço.
- Estamos há três anos na cidade trabalhando diariamente
para que a população de Estância aceite e torça cada vez mais pelo time, pois
temos metas ambiciosas. Visamos a Copa do Brasil e o Campeonato
Brasileiro.
Tal tarefa, porém, se torna menos árdua se o time conquista
títulos em um curto espaço de tempo. Foi o que aconteceu com o Cene-MS. Fundado
em 1999 no município de Jardim, no interior de Mato Grosso do Sul, o
clube se mudou em 2002 para a capital Campo Grande. De lá pra cá, o Furacão Amarelo
conquistou o Estadual cinco vezes (2002, 2004/05, 2011 e 2013), além de uma
Copa Governador do Estado, em 2010. Segundo o presidente, José Rodrigues, agora
até os torcedores de Jardim entendem que a mudança foi melhor para o clube.
José
Rodrigues, presidente do Cene, afirma que títulos conquistados nos
últimos anos foram importantes para crescimento do clube (Foto: Lucas
Lourenço/GE MS)
- Na época, o torcedor de Jardim não gostou da mudança. Até
em Campo Grande encontramos resistências, mas após os recentes títulos, o
Cene-MS acabou conquistando o estado. Já temos torcida suficiente até para
lançar um programa de sócio torcedor. O
time é o número um do ranking da CBF em Mato Grosso do Sul. Como se não
bastasse, temos um dos maiores CTs do Centro-Oeste, inclusive com um estádio (Olho
do Furacão) dentro dele.
Além das conquistas e do aumento do número de torcedores
após a ida para a capital, o clube conseguiu também patrocinadores dispostos a
investir mais.
- Em Campo Grande temos a oportunidade de captar recursos
maiores tanto do poder público como da iniciativa privada. No interior, por sua
vez, contamos basicamente com o apoio das prefeituras e de pequenos
comerciantes – afirma o dirigente.
Além de beneficiar os clubes envolvidos, a fusão também pode
ser positiva para terceiros. Foi o que aconteceu em Alagoas com o Santa Rita
após a união com o Corinthians-AL. Campeão da Segunda Divisão local, o time
herdou a vaga do Timão da Via Expressa na Copa do Brasil deste ano e ainda favoreceu o
Penedense, terceiro colocado da Segundona em 2013 que acabou conseguindo o acesso
para a elite do futebol alagoano em 2014. O curioso é que o presidente da
Federação Alagoana, Gustavo Feijó, é prefeito de Boca da Mata, cidade onde está
a sede do Santa Rita. Além disso, o seu irmão, João Feijó, era o presidente do
Corinthians-AL.
Se até os clubes grandes sofrem para manter as suas contas
em dia, imagine
os
chamados times de menor investimento? Dificuldades a parte, o clube precisa ser tratado
como um negócio para que a história não pare de ser contada.
Neste caso, todo o romantismo, emoção e fanatismo que envolvem o mundo
do futebol são deixados de lado e se tornam um mero detalhe.
Boa Esporte, por exemplo, foi o primeiro nome oficial do
Ituiutaba, criado em 1947, mas que profissionalizou o seu futebol em
1998. Ao se transferir para Varginha, em 2011, em busca de melhor infraestrutura,
o clube teve que retomar o nome de origem por conta de uma cláusula existente
no contrato com a prefeitura da nova cidade. Apesar da insatisfação de alguns
torcedores de Ituiutaba, que desejavam a volta do time, a equipe
renovou no final de 2012 a sua permanência em Varginha por quatro anos. Na
ocasião, o presidente do Boa, Roberto Moraes, fez um apelo para que a cidade abraçasse o clube.
- A gente chegou em Varginha para fazer um trabalho a longo
prazo tendo como principal objetivo chegar na Série A do Brasileiro. Agora é
ter tranquilidade e que o torcedor, a cidade e o povo de Varginha possam nos
abraçar.
O Comercial perdeu a vaga na Série A2 e surgiu essa negociação. Hoje em dia, o futebol é negócio
Giovanni Coutinho, ex-gerente de futebol do Votoraty
Quem
também mudou de cidade, mas por ter sido adquirido por
um grupo empresarial ligado a outro clube foi o Votoraty, que deixou de
existir.
Em 2010, o time estava na Série A2 do Paulista, quando foi comprado pela
empresa que administra o Comercial-SP. Na ocasião, a equipe de Ribeirão
Preto
disputava a Série A3 do Paulista e terminou a competição em quinto
lugar. Com a
negociação, o Leão do Norte acabou conquistando o acesso para disputar a
A2 no ano seguinte na vaga do próprio Votoraty, mesmo sem ter chegado
entre os
quatro primeiros. Na época, inclusive, alguns jogadores e membros da
comissão
técnica foram para o Comercial, sendo que dois deles permanecem lá
ainda.
- Foi um negócio. O Comercial perdeu a vaga na Série A2, aí
surgiu essa situação dessa negociação. O Votoraty não disputou a a competição em
2011, e o Comercial herdou a vaga. Na época, alguns jogadores e
integrantes da comissão técnica foram para o Comercial. Dois deles ainda
permanecem na comissão técnica. Foi uma negociação. Hoje em dia, o
futebol é negócio - afirma Giovanni Coutinho, ex-gerente de futebol do Votoraty.
No entanto, mudar de cidade, fazer fusões, aumentar os
recursos e melhorar a infraestrutura não significa necessariamente resultados
positivos em campo. Em 2013, por exemplo, o Boca Júnior-SE estreou na Primeira
Divisão do Sergipano, mas acabou sendo rebaixado.
os arrependidos; barueri e ipatinga
Grêmio Barueri mudou de nome ao se transferir para Prudente, mas troca não deu certo e time voltou para o seu local de origem (Foto: infoesporte / Cláudio Roberto)
Independente da estratégia escolhida, é preciso de sorte. Muitos
conseguem vencer, enquanto outros ficam perdidos sem saber o que fazer ou para
onde ir. Há também aqueles que sem alternativa acabam voltando pra casa em
busca de um novo recomeço ao lado de quem sempre os acolheram.
O
Grêmio Barueri, que chegou a estar entre os melhores times do país,
teve um declínio enorme, sobretudo
após a mudança de nome e sede para Presidente Prudente em 2011. O
objetivo de
conquistar mais receitas e conseguir estabilidade em um mercado carente
de uma equipe profissional não deu certo por conta da distância e das
condições oferecidas. Em meados de 2012, o clube voltou para o local de
origem. No ano seguinte, se associou ao Grêmio Osasco, passando
a se chamar Grêmio Barueri Osasco. Mas uma série de divergências entre
as
diretorias provocou o fim da parceria quatro meses depois. Com tantas
mudanças, a identidade criada com
os torcedores desde a fundação, em 1989, ficou totalmente destruída.
Trabalho
este, que está sendo refeito pela atual diretoria, que tem como
vice-presidente
o ex-jogador Edmilson.
Thadeu
Gonçalves, Diretor Executivo do Barueri, diz que clube quer resgatar
identidade que tinha com o torcedor antes da mudança pra Prudente (Foto:
Assessoria do Barueri)
- Temos três grandes objetivos neste retorno a Barueri:
resgatar a identidade que o clube tinha com a cidade, ajudando na formação de
atletas e cidadãos; ter uma equipe competitiva na Série A2 do Paulista para que
o torcedor volte a frequentar o estádio; e sensibilizar os empresários sobre os
objetivos do Barueri para que o clube possa atrair recursos e melhorar suas
finanças – afirma o Diretor Executivo Thadeu Gonçalves.
A palavra planejamento no
futebol é bonita, mas passa por dinheiro
Itair Machado, ex-presidente do Ipatinga
Outro exemplo de insucesso recente em tal investida é o
Ipatinga. Fundado em 1998, o time do Vale do Aço mineiro foi campeão estadual
em 2005, semifinalista da Copa do Brasil em 2006 e vice da Série B em 2007. Mas
em 2012, perdeu o apoio da prefeitura da cidade e dos parceiros que o
patrocinavam. Com proposta do poder executivo de Betim, a equipe rumou no ano seguinte para a
cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. No entanto, o clube mandava seus jogos
na Arena do Calçado, em Nova Serrana, distante 90 km. Após uma
temporada com fraca campanha no Módulo II do Campeonato Mineiro, eliminação na
Série C do Brasileiro e frustração com a prefeitura de Betim, o clube voltou ao
seu berço.
- O time nunca teve torcida direito. Subimos para a Série A,
jogávamos com o Flamengo e dava no máximo 5 mil pessoas. Tivemos problemas
financeiros, e essa foi a única saída. Infelizmente, a palavra planejamento no
futebol é bonita, mas passa por dinheiro. E arrumar grana no interior é muito
difícil, por isso parei com o futebol. Em 13 anos fui campeão mineiro, duas
vezes vice, semifinalista da Copa do Brasil, vice da Série B, mas não
conseguimos dinheiro. O sistema do futebol é para matar os pequenos. Não é
possível crescer no futebol brasileiro – opina o ex-presidente do Ipatinga,
Itair Machado, responsável pela mudança para Betim.
Ipatinga
foi para Betim, mas depois voltou para a sua cidade natal. Estratégia
não deu certo e dirigente aconselha ninguém a fazer isto (Foto:
infoesporte / Cláudio Roberto)
Agora com Jaider Moreira
na presidência, e com o ídolo do
Atlético-MG, Reinaldo, à frente do time como técnico, o Ipatinga está de
volta às origens em
2014. As dificuldades financeiras persistem, mas a experiência da última
temporada ficou como lição. Por conta disso, Itair Machado recomenda que
outras equipes não optem por uma mudança tão radical como esta.
- Mesmo se a prefeitura de Betim tivesse apoiado, tivesse
honrado os compromissos, não valeria a pena. Um time precisa ter alma, ter raiz
e isso não se transfere. Sou a favor de transferir clube, mas se for
clube-empresa. Acho que errei pensando que seria melhor para o clube. Depois do
exemplo do Barueri, Guaratinguetá e Ipatinga, se outro tentar, é loucura – declara.
Amarildo
Ribeiro, diretor do Nacional-MG, é a favor do time mudar de cidade e
diz que fazer futebol sem o apoio da prefeitura é difícil (Foto:
Valquíria Souza /Tv Integração)
Com discurso
totalmente contrário, o diretor de futebol do
Nacional-MG recomenda tal solução. Amarildo Ribeiro participou da
fundação do
Fabriciano, em 2008, em Coronel Fabriciano. No ano seguinte, junto com
um
grupo de empresários de Nova Serrana, ele comprou o clube e o transferiu
para a
cidade. Em 2013, sem apoio da prefeitura local, a instituição migrou
para
Patos de Minas. Diante da concorrência dos tradicionais URT e Mamoré na
cidade, o time foi para Muriaé e se uniu com o Nacional Atlético
Clube. Hoje, o Nacional-MG usa as cores e a estrutura física do homônimo
de
Muriaé, que tem a diretoria, comissão técnica e jogadores do antigo time
de
Nova Serrana, que estava em Patos de Minas.
No interior, é muito difícil fazer futebol se não tiver
apoio da prefeitura.
Amarildo Ribeiro, Diretor de futebol do Nacional-MG
- No interior, é muito difícil fazer futebol se não tiver
apoio da prefeitura. Aqui em Muriaé, conversamos com a prefeitura, que não pode
dar apoio financeiro, mas nos indica a possíveis parceiros. Em Nova Serrana, o
prefeito deixou claro que não ia apoiar. Tivemos que sair. E estamos muito
felizes com a mudança. O Nacional tem uma estrutura invejável, com estádio para
15 mil pessoas. Temos um contrato de utilização de bens. A diretoria aceitou
bem, a torcida abraçou, assim como os empresários da cidade. Nem penso em
voltar ou mudar de novo – relatou.
Em alguns casos, o clube se torna um típico nômade do
futebol, trocando de endereço de acordo com o que lhe for mais conveniente ou
vantajoso no momento. Exemplo disso é o União-MS. Fundado em 1998, o time já
teve como sedes a capital Campo Grande – duas vezes – e as cidades de Inocência
e Camapuã, antes de se estabelecer em Dourados, onde está desde 2012. Uma rota
de quase 1.000km, que impedia o clube de ganhar identidade e a empatia
dos torcedores. Após tantas idas e vindas, a diretoria decidiu promover
a fusão com o Inter Flórida, equipe amadora criada em 1992 e que buscava a
profissionalização. Uma solução que foi boa para as duas partes, na opinião do
presidente do União-MS, Jânio Miguel.
Após
percorrer várias cidades de Mato Grosso do Sul, o União se fixou em
Dourados em 2012 onde se juntou com o Inter Flórida (Foto: infoesporte /
Cláudio Roberto)
- Como time amador, o Inter Flórida não pode participar de
campeonatos oficiais, ao contrário do União-MS, que é filiado à Federação
Sul-Mato-Grossense. Por outro lado, o Inter Flórida é importante para o
União-MS, pois já tem uma torcida estabelecida na cidade de Dourados, o que
ajuda a criar uma identidade. Então, todo mundo sai ganhando com o União Inter
Flórida.
Trocar muitas vezes de cidade, independentemente do motivo,
não é uma prática que seduz a maioria dos clubes. Prova disso é o
Boca Júnior-SE. Mesmo que o time receba uma nova proposta para mudar mais uma
vez, o presidente, Gilson Behar, afirma que o clube dificilmente sairá de
Estância.
- Vamos continuar na cidade, pois caso contrário corremos o
risco de ficar sem identidade. Não digo que uma mudança é impossível, mas é bem
difícil. Estamos até montando um centro de treinamento e alojamento pros
jogadores no município.
Há também a situação em que o clube troca o nome, mas
não sai do local onde foi criado. Recém-promovido para a elite do futebol
paranaense, o Metropolitano, fundado em 2010, resolveu usar o nome Maringá na
sua estreia na Primeira Divisão do Estadual, após uma
pesquisa feita com torcedores e empresários da cidade. Na ocasião, 87% dos entrevistados
escolheram esta opção. A prefeitura não interferiu na escolha, mas gostou do
resultado, pois dá maior visibilidade ao município. Segundo o presidente
Zebrão, o mais importante é a cidade ter um time forte e competitivo.
Bahia
de Feira trocou o nome para Esporte Clube Feira de Santana para não ser
confundido com o rival da capital baiana (Foto: infoesporte / Cláudio
Roberto)
- Independente de ser Metropolitano, Grêmio Maringá ou
simplesmente Maringá, o que o torcedor mais quer é um time da cidade
despontando no cenário estadual e nacional.
A história do Bahia de Feira é semelhante. Além de estreitar
ainda mais a relação com o
torcedor de Feira de Santana, o clube queria deixar de ser tratado como o Bahia genérico, em função do já existente
na capital. Então, o nome foi alterado para Esporte Clube Feira de Santana. Apesar da troca já ter sido
feita na sede, nos uniformes e até mesmo no site, no Baianão o time ainda será
chamado de Bahia de Feira por conta de trâmites burocráticos na CBF, mesmo
tendo dado entrada com o pedido de mudança em julho do ano passado.
vale tudo para o clube não acabar
Em nome da paixão pelo time de coração vale tudo. Até mesmo
criar um outro após pedido de afastamento do original, que posteriormente decidiu retomar
suas atividades, dando origem a uma batalha judicial que até agora nenhuma
fusão conseguiu resolver.
Em Mato Grosso, o Ceov é o tradicional Clube Esportivo
Operário Várzea-Grandense, fundado em 1º de maio de 1949 e dono de 13 estaduais
(1964, 1967/68, 1972/73, 1983, 1985/86/87, 1994/95, 1997 e
2002), mas pelo excesso de dívidas, pediu afastamento após conquistar o último título. Na época, para
o time continuar atuando, os dirigentes criaram o chamado Operário Empresa,
equipe que herdou as cores, uniforme, escudo, história e títulos do anterior. Além
de participações na Copa do Brasil, o clube foi campeão da Copa Mato Grosso em
2005 e do Estadual em 2006. Eis que, em 2013, um empresário de
São Paulo
reativou o antigo Ceov.
O fato é que os dois Operários – Ceov e Empresa
– chegaram a se enfrentar duas vezes. Em uma delas, o Operário Empresa teve que jogar de preto, pois
o Ceov tinha conseguido na Justiça uma liminar proibindo que o time jogasse com
suas cores e escudo. O Ceov acabou conquistando posteriormente uma vaga na
Primeira Divisão do Estadual em 2014, enquanto que o Operário Empresa segue na
Segundona. Mas o impasse entre ambos permanece indefinido na Justiça.
Operário
Empresa surgiu em 2002 após título Estadual do Ceov, com mesmas cores,
escudo e uniforme. Clubes atualmente são rivais (Foto: infoesporte /
Cláudio Roberto)
Na opinião do treinador Eder Taques, que já dirigiu os dois
Operários, essa situação não era nem para ter existido. O ideal seria que eles
fizessem uma fusão. No entanto, como ambas as diretorias já fizeram
investimentos e tomam rumos opostos, embora tenham a mesma origem,
esta é uma possibilidade cada vez mais remota.
- Quando o Ceov se licenciou em 2002 foi criado o Operário
Futebol Clube, que não era um clube empresa, mas sim, uma empresa para
administrar o Ceov. Mas acho que esqueceram de dar baixa no registro do Ceov,
que estava licenciado, na Federação e na CBF. Como isso não foi feito, os dois
puderam continuar atuando. Pior para o torcedor, que não sabia para qual
Operário torcer, sendo que ambos tinham o mesmo uniforme, escudo e hino. O
resultado foi este imbróglio, que dura até hoje.
Seja grande ou pequeno, todo clube tem a obrigação de manter em dia os salários dos jogadores e da comissão
técnica, dos funcionários, além das despesas com viagens, hospedagem, alimentação, material
esportivo e manutenção do local de treinamento. Como só cada um sabe o tamanho
do seu ‘aperto’, as estratégias para manter o orçamento equilibrado variam. Não há uma fórmula definida.
Ainda é cedo para afirmar que tais práticas serão comuns no
futebol brasileiro e atingirão até mesmo os clubes de maior expressão. No
entanto, exemplos recentes mostram que estes são procedimentos adotados com
cada vez mais frequência, sobretudo pelas equipes de pequeno e médio porte.