Lembra Dele? Hoje nos EUA, Bosco
relembra o fim: 'Ninguém me ligou'
Convocado para a seleção brasileira por um time do nordeste, ex-goleiro
relembra auge no Sport e anos como reserva de Rogério Ceni no São Paulo
Ele
surgiu como um dos principais goleiros do
futebol brasileiro na década
de 1990 e conseguiu ser convocado para a
seleção brasileira
em um
clube do Nordeste - até hoje, uma raridade. Apesar de não ter vingado
com a camisa 1 de nenhuma equipe do eixo Sul-Sudeste, Bosco pode se
orgulhar de ter o currículo recheado de títulos. Hoje aposentado, o
ex-goleiro, que brilhou no Sport e ficou na reserva de Rogério
Ceni no São Paulo, tenta recomeçar a vida longe dos gramados, na cidade
de Orlando, nos Estados Unidos.
Em passagem pelo Recife, o ex-goleiro visitou a Ilha do Retiro.Bosco
encerrou a carreira em 2011, mas garante: não por vontade
própria. Depois de deixar o
São Paulo ao fim do seu contrato, ele viajou
para curtir férias nos Estados Unidos. A intenção era passar apenas 15
dias, mas o "esquecimento" dos clubes prolongou a estadia e encaminhou o
adeus ao futebol.
-
Parei com 36 anos. No meu projeto, eu jogaria por mais dois anos, mas
não apareceu nada para mim. Fui para os Estados Unidos e
na época mantive um celular apenas para receber propostas, mas não
apareceu nada. Ninguém me ligou. Então, fui ficando. Para não dizer que não apareceu nada,
tive conversas com
Santa Cruz e Fortaleza, mas não vingou - relembra o ex-goleiro, que na época dispensou o serviço dos empresários.
A
permanência nos Estados Unidos se deu por conta de um
investimento da época de atleta profissional. Com os Estados Unidos vivendo uma
crise no setor imobiliário, Bosco viu surgir a oportunidade de comprar um
imóvel em Orlando. A princípio, a ideia era ter a casa apenas para
passar férias, mas na prática foi diferente.
Aposentado, Bosco está de bem com a vida
(Foto: Lucas Liausu)
-
Eu já tinha ido aos Estados Unidos algumas vezes, e minha filha estudava
em Boston na época em que decidi comprar a casa. Minha esposa foi lá e
fechou o negócio, mas seria apenas para que a gente passasse as nossas
férias. Não havia a ideia de morar lá, mas hoje posso dizer que é muito bom. Além
disso, pesou o fato de que perdi a infância dos meus filhos. Resolvi
aproveitar isso. Depois de tudo, acho que foi a decisão certa.
Nova carreira longe dos gramados
Nos
Estados Unidos, Bosco ainda curte uma vida de recém-aposentado. Leva os
filhos para o colégio, cozinha para a família e participa de cultos na
igreja. Os dias rotineiros, no entanto, estão perto de acabar. Isso
porque ele está iniciando uma nova carreira. Será um empresário na área
de cosméticos.
-
Eu e minha esposa temos uma clínica de estética em São Paulo e quando
fomos para Orlando queríamos levar uma filial para lá. Até conseguimos
o visto de investidor, mas acabou não dando certo. Depois, minha esposa
conheceu uma pessoa lá que tinha um projeto parecido, e juntos decidimos
abrir uma empresa. Hoje, temos esse projeto da fábrica de cosméticos. Já
contratamos um químico e em janeiro vamos começar a fabricar os
produtos. Já temos até cliente. Estamos entusiasmados.
Bosco exibe a camisa de Magrão, a quem considera o maior goleiro da história do Sport (Foto: Lucas Liausu)
O brilho no Sport
Pernambucano,
o ex-goleiro viveu seu auge na Ilha do Retiro. Na primeira passagem -
entre 1994 e 2000 -, chegou à seleção brasileira pelas mãos de Vanderlei
Luxemburgo em 1999. O ano anterior havia sido o mais importante até
então. Em 1998 e em 2000, Bosco fez parte de dois dos maiores times da
história do Rubro-Negro pernambucano. Campeões estaduais, ambos fizeram
boas campanhas no Brasileirão.
O de 2000 terminou a primeira
fase da Copa João Havelange em segundo lugar - atrás apenas do Cruzeiro.
Depois, foi eliminado nas quartas de final pelo Grêmio do então
inspiradíssimo Ronaldinho Gaúcho. Aquele time levou o técnico Emerson
Leão à seleção brasileira, mas o ex-goleiro considera o de 1998 - que
colocou o meia Jackson na Seleção - ainda melhor.
- O time de 98 foi melhor, mas o de 2000 foi mais
unido. Tínhamos um time um pouco mais limitado, mas ganhamos muita
coisa. Caímos na Copa João Havelange em um jogo roubado contra o
Grêmio. Passamos por cima de muita coisa em 2000, com salários atrasados inclusive, e
conseguimos vencer. Em 1998, a gente sabia que ia vencer quando entrava
em campo. A confiança era muito grande. Ganhamos vários clássicos de
goleada. Foi um ano brilhante.
Ex-goleiro recebeu homaenagem do São Paulo
(Foto: Wander Roberto/VIPCOMM)
São Paulo: boas lembranças e uma mágoaQuando
é questionado sobre o São Paulo, é nítido o sentimento
"dividido". Os olhos brilham quando fala do momento em que foi contratado,
dos primeiros anos, mas ao mesmo tempo Bosco revela uma ponta de mágoa quando o
assunto é a sua saída, em 2011.
-
Machuquei o joelho no final do meu contrato, fiz uma cirurgia e tinha
seis meses para me recuperar. Pedi para renovar o contrato por oito
meses, mas eles só quiseram por seis. Eu queria ter dois meses, depois
de recuperado, para aparecer, mas não aconteceu.
Para Bosco, muito da sua decisão por encerrar a carreira se deve à atitude da diretoria do São Paulo.
-
Quando eles me liberaram, ficou uma coisa no ar. Ninguém sabia se eu
tinha me recuperado de fato. Poderia ser diferente. Fiquei meio
indignado na época, mas hoje vejo que são coisas do futebol.
A
tristeza da saída, no entanto, nem de longe se parece com a empolgação
quando soube do interesse do São Paulo. Bosco tinha 30 anos na época, já
era ídolo do Sport e defendia o Fortaleza. Contratado em 2004, vivia um bom momento no clube cearense, mas
não pensou duas vezes em aceitar a proposta do clube paulista mesmo
sabendo que seria reserva.
Em seis anos de São Paulo, Bosco diz que sempre se deu bem com Rogério Ceni São Paulo (Foto: AFP)
-
Eu já sabia que seria reserva. Minha esposa até me alertou na época
falando isso, mas eu não poderia deixar a oportunidade passar. Era um
time grande, e eu queria voltar. De dez goleiros que fossem consultados,
nove falariam que iam querer ir. Era o São Paulo, e tudo poderia
acontecer. E aconteceu. No meu primeiro ano, joguei 22 jogos entre
Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro e Copa Libertadores. Tive
muitas oportunidades.
Boa relação com Rogério CeniApesar
de estar no São Paulo como "rival" de Rogério Ceni, Bosco garante que
nunca teve nenhum problema com o eterno camisa 1 do São Paulo. Muito
pelo contrário. A relação é boa desde antes do Tricolor paulista.
-
Sempre tive uma relação muito boa com ele. A gente concentrava junto
quando os jogos eram fora de São Paulo. Quando eram no Morumbi, ele tinha
um quarto especial. Rogério é um cara fantástico. Nunca vi um
profissional assim. Ele trabalha muito. Sempre chega antes de todo mundo
para treinar.
Bosco: de volta ao pedaço de chão onde vivenciou os melhores momentos da carreira (Foto: Lucas Liausu)
Volta para o Brasil
Como está
começando um negócio novo nos Estados Unidos, Bosco ainda não tem planos
para voltar a morar no Brasil. Ele vê o retorno como algo natural, mas
coloca duas condições para que isso aconteça.
-
Hoje eu não voltaria, até porque meus filhos não querem voltar. Depois
que eu deixar esse novo negócio bem tranquilo, posso pensar em voltar,
mas não voltaria para qualquer coisa. Só se fosse um convite de um clube
de futebol para eu trabalhar na comissão técnica.