Indeciso, mas feliz, St-Pierre encara Spider e até Lesnar se luta for 'justa'
Em Jaraguá do Sul-SC para ser córner de Francis Carmont,
ex-campeão garante que nunca esteve tão bem e não sabe se volta ao
octógono um dia
Por Ivan Raupp e Marcelo Russio
Jaraguá do Sul, SC
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É impossível não perceber a diferença entre a última imagem pública do canadense
Georges St-Pierre,
após a vitória sobre Johny Hendricks no UFC 167, e a imagem atual do
lutador licenciado do Ultimate, que está em Jaraguá do Sul-SC para
ajudar o amigo e companheiro de treinos
Francis Carmont na luta contra
Ronaldo Jacaré
no "UFC Fight Night no Combate: Machida x Mousasi". Relaxado,
brincalhão e disposto a passar um longo tempo falando sobre MMA e seu
futuro, o ex-campeão dos meio-médios conversou com o
Combate.com
na noite de quinta-feira e deixou claro que voltar a lutar, se não está
nos planos imediatos, também está longe de ser algo a ser descartado em
sua vida. O antes tão comentado duelo contra
Anderson Silva, por exemplo, ainda é possível. E até o ex-campeão peso-pesado
Brock Lesnar entrou na jogada:
- Sempre há uma possibilidade para tudo. Veja bem, alguns querem lutar
contra mim pelo meu nome, outros pelo dinheiro. Eu lutaria contra
Anderson Silva. Lutaria até contra Brock Lesnar, desde que fosse uma
luta justa para ambos. Se for para lutar contra um peso-pesado, que isso
aconteça de uma forma racional. Eu não tenho medo de ninguém, mas
também não sou burro (risos).
Georges St-Pierre sorri e gesticula durante entrevista ao Combate.com (Foto: Rodrigo Malinverni)
O único assunto que St-Pierre preferiu deixar de lado e não comentar
foi a relação atualmente conturbada com o UFC e o presidente Dana White.
O
desentendimento
começou quando GSP disse que um dos motivos que o forçou a dar uma
pausa no esporte foi a política antidoping do evento, que segundo ele
não é tão eficiente. Antes do duelo contra Hendricks, o canadense propôs
que os dois atletas se submetessem ao teste da Associação Voluntária
Antidoping (VADA), o que foi negado pelo americano. O dirigente não
gostou da declaração, garantiu que nenhuma outra organização de MMA
testa tanto seus lutadores quanto o Ultimate e pediu para que St-Pierre
fosse até ele para resolver qualquer problema, "como um homem".
Talvez, algum dia, se as coisas acontecerem como eu penso que devem
acontecer, eu volte. Não sei quanto tempo pode levar, estou esperando um
pouco"
St-Pierre, sobre retorno ao octógono
No momento, GSP se diz feliz em poder relaxar e apenas assistir às
lutas de MMA na televisão, treinar apenas por prazer e descansar. Cerca
de 2,5kg mais pesado só de músculos, sem lesões e dormindo melhor, o
canadense garantiu que não quer ter que pensar em lutar, mas avisa: se -
e quando - voltar, estará mais forte, melhor e mais feliz:
- Eu estou realmente muito feliz. Ganhei até massa muscular. O estresse
das lutas estava me corroendo. Eu tinha tanta coisa na minha cabeça, e
não posso falar delas porque isso faria algumas pessoas pularem da
cadeira, mas isso estava me estressando a ponto de me comer vivo. Eu
comecei a perder peso. Era algo mental, e eu precisava dessa pausa para
recuperar minha saúde mental. A distância está me fazendo bem. Se algum
dia eu voltar, voltarei mais forte. Nunca estive mais feliz em toda a
minha vida.
A seguir, veja a íntegra da entrevista com Georges St-Pierre por tópicos:
Semelhança entre Jaraguá do Sul-SC e sua cidade natal, Saint-Isidore (CAN)
"Eu já estive no Brasil três vezes, sempre no Rio de Janeiro, mas
jamais estive em Santa Catarina. Achei Jaraguá do Sul legal, muito
parecida com a cidade onde eu nasci. É uma cidade pequena, mais calma e
sem tanta violência, e as pessoas também são menos tensas, são mais
relaxadas, não têm medo de se aproximar, falar com você e te ajudar".
O parceiro Francis Carmont
"Eu treino muito junto com o Francis, estarei no seu córner e estou
sendo seu companheiro de treinos e ajudando-o a montar a estratégia como
seu técnico para esta luta. Firas Zahabi (treinador seu e de Carmont)
está ocupado com outros lutadores e também tem sua família para cuidar.
Por tudo isso, fui o escolhido para vir com ele para cá e garantir que
tudo esteja bem do ponto de vista do seu córner. Acredito que Francis
tenha potencial para ser campeão. Ele é um ótimo lutador. Tão bom que
não sabe o seu potencial e quão bom ele é. Ele é muito melhor do que ele
mesmo imagina, muito completo e aprende rápido demais. Quando chegou ao
Canadá ele era apenas um kickboxer, e agora ele é um ótimo wrestler,
porque aprendeu com grandes atletas canadenses e russos".
O canadense não sabe ainda se irá retornar ao octógono (Foto: Rodrigo Malinverni)
O adverário de Carmont: Ronaldo Jacaré
"Jacaré é um dos melhores lutadores do mundo. Não é bom somente no
jiu-jítsu, mas também tem poder de nocaute e luta bem em pé. Acho que
Francis tem que usar o seu alcance e não ter medo do jogo de chão do
Jacaré. Se for para ir para o chão, vá. Isso é MMA, é algo completamente
diferente de jiu-jítsu. Francis é muito forte, uma das pessoas mais
fortes que eu já conheci na vida, e sua pegada também é fortíssima. Se
você não o conhece e treina ou luta contra ele pela primeira vez, acaba
se surpreendendo. Acho que ele tem que fazer sua luta e não respeitar
demais o jiu-jítsu do Jacaré, que é um campeão mundial, mas muita gente
erra ao ter medo de ir para o chão contra um cara desses".
Nasce um treinador?
"Não, não... Eu sou mais um parceiro de treinos e ótimo estrategista.
Eu consigo absorver o jeito de um lutador atuar ao observá-lo, e vejo a
forma de derrotá-lo. É assim que quero ajudar Francis. Não sei se quero
ser treinador algum dia. Hoje eu estou fazendo esse papel por prazer,
para ajudar um grande amigo meu. Não tenho muitos amigos no MMA, mas
Francis é um deles, e quero que ele seja bem sucedido".
Eu sou mais um parceiro de treinos e ótimo estrategista. Eu consigo
absorver o jeito de um lutador atuar ao observá-lo, e vejo a forma de
derrotá-lo. É assim que quero ajudar Francis"
Sobre Jacaré x Carmont
O que tem feito fora do MMA
"Tenho ajudado Francis para esta luta, treinado na academia de Renzo
Gracie em Nova York com caras excelentes no jiu-jítsu. Tenho viajado
bastante para cumprir compromissos com meus patrocinadores. Também
passei um ótimo fim de ano com a minha família. Tenho me divertindo
bastante".
Futuro: vai voltar a lutar?
"Não sei ao certo. Tenho acompanhado o que tem acontecido no MMA, e
gosto de não ter que pensar nisso. Quero apenas me afastar e ver os
caras lutando, ver o que vai acontecer com o sistema e com uma porção de
coisas das quais eu não posso falar agora (risos). Talvez, algum dia,
se as coisas acontecerem como eu penso que devem acontecer, eu volte.
Não sei quanto tempo pode levar, estou esperando um pouco. Pessoalmente
tem sido muito bom, até terapêutico, estar afastado das lutas. Muita
coisa maluca tem sido dita. Li uma vez que achavam que eu estava inativo
por estar em tratamento para desintoxicação. Alguns rumores chegam a
ser engraçados, me fazem rir. A razão pela qual eu fiz essa pausa foi
para manter a minha saúde mental. Pouca gente sabe o quanto é duro ficar
no topo por tanto tempo. A pressão não é a mesma de uma luta comum.
Toda luta é uma decisão de título mundial, é necessário fazer um número
imenso de ações promocionais. Nunca fui obrigado a fazer nada disso, fiz
porque queria, e se tiver que fazer de novo, ficarei feliz em fazer".
Johny Hendricks x Robbie Lawler, pelo cinturão
"Pode ser qualquer um dos dois, depende de muitas coisas. Imagino que,
em pé, um pode nocautear o outro. Hendricks tem uma certa vantagem no
wrestling, mas qualquer um dos dois pode vencer por nocaute".
St-Pierre ainda está convicto de que venceu Johny Hendricks (Foto: Rodrigo Malinverni)
Sua luta contra Johny Hendricks
"Vi muitas vezes. Sempre vejo minhas lutas para detectar meus erros, e
eu cometi vários naquela luta. Se tivesse que lutar contra ele de novo,
faria muitas coisas de forma diferente, mas ainda acho que venci.
Respeito as opiniões de todos, mas acho que venci mais rounds. É como
uma disputa de playoffs de futebol, hóquei ou basquete. Mesmo que você
vença um jogo por 10 a 0, mas perca o outro por 2 a 1, você perdeu
aquele jogo. As lutas no MMA têm cinco rounds, e da forma como são as
regras, na verdade são cinco lutas de cinco minutos cada. É assim que
vejo e é assim que monto a minha estratégia. Se você não gosta da forma
como as lutas são julgadas, mude o sistema, as regras ou a sua
estratégia. É assim que funciona. Naquela luta, na minha forma de ver,
eu venci o terceiro e o quinto rounds. Hendricks venceu o segundo e o
quarto. O primeiro foi muito disputado, mas acho que venci porque, mesmo
tendo tido o mesmo número de derrubadas e de golpes significativos, o
que fez diferença para mim foi a guilhotina que eu encaixei. Cheguei
perto de finalizar a luta, e Hendricks não. Por isso eu considero que
venci. Muita gente não concorda, mas para mim venci três rounds em
cinco. Falam sobre os meus ferimentos, mas a minha pele é muito clara e
fina. Vejam minhas lutas contra (Carlos) Condit, (Nick) Diaz e BJ Penn.
Em todas eu saí arrebentado. Mesmo quando treino acabo ficando com
manchas roxas na pele. São ferimentos superficiais. Eu me corto e sangro
facilmente. Fiz uma foto um dia e meio depois da luta contra Johny
Hendricks, e todos os ferimentos haviam desaparecido. Ainda assim,
ferimentos não tiram a minha capacidade de lutar. Eu sempre fico daquele
jeito. Contra Condit foi até pior, porque fiquei com um hematoma imenso
na testa. Contra BJ Penn foi ainda pior. E eu venci todas as lutas".
Sentimento de ver o cinturão com outro atleta
"Vou dizer a verdade: no ponto em que eu me encontrava na minha
carreira, por mais que eu amasse o cinturão, eu não lutava mais por ele.
Tinha mais a ver com o meu adversário e o desafio que ele representava
para mim. Eu prefiro lutar contra o melhor lutador sem haver disputa de
cinturão a enfrentar um lutador mediano em uma disputa de cinturão. A
luta é o que mais me interessa".
Não quero dar conselhos a Anderson, porque ele é muito mais experiente
do que eu, mas eu diria para ele se testar nos treinos. Se você der
chutes muito fortes nos treinos, o medo de fazer o mesmo na luta
desaparecerá"
Sobre a lesão do Spider
Reação à lesão de Anderson Silva
"Acho que Anderson Silva voltar tem mais a ver com a sua força mental
do que com a sua condição física. Falei com vários médicos e eles me
disseram que, por mais grave que a lesão tenha sido, se ela tivesse
acontecido em uma articulação, a cura completa seria muito pouco
provável, porque há ligamentos e cartilagens lesionadas. Da forma como a
fratura aconteceu, é certo que a cura será total. O que ele terá que
ter é a força mental para não sentir medo de chutar novamente. A perna
voltará a ser sólida como sempre foi, mas se a sua mente o fizer
hesitar, isso sim será um problema. Eu sei porque, quando lesionei o meu
joelho, foi a mesma coisa. Não quero dar conselhos a Anderson, porque
ele é muito mais experiente do que eu, mas eu diria para ele se testar
nos treinos. Se você der chutes muito fortes nos treinos, o medo de
fazer o mesmo na luta desaparecerá. Eu fiz isso com o meu joelho. Quando
voltei aos treinos, quis fazer sparrings com caras fortes, que levassem
o meu joelho ao limite, para que eu tivesse a certeza de que poderia
voltar a lutar. Isso é muito difícil. Na primeira vez que fiz as coisas
não deram muito certo, porque eu tinha um bloqueio mental. É preciso
tirar esse bloqueio da cabeça se quiser continuar lutando".
Superluta contra o Spider
"Sempre há uma possibilidade para tudo. Veja bem, alguns querem lutar
comigo pelo meu nome, outros pelo dinheiro. Eu lutaria contra Anderson
Silva. Lutaria até contra Brock Lesnar, desde que fosse uma luta justa
para ambos. Se for para lutar contra um peso-pesado, que isso aconteça
de uma forma racional. Eu não tenho medo de ninguém, mas também não sou
burro (risos). Muita gente acha que uma luta determina quem é o mais
durão, mas não é o meu caso. Eu vejo as coisas de forma profissional e
inteligente".
Momento atual
"Eu estou realmente muito feliz. Ganhei até massa muscular. O estresse
das lutas estava me corroendo. Eu tinha tanta coisa na minha cabeça, e
não posso falar delas porque isso faria algumas pessoas pularem da
cadeira, mas isso estava me estressando a ponto de me comer vivo. Eu
comecei a perder peso. Era psicológico, e eu precisava dessa pausa para
recuperar minha saúde mental. Isso está me fazendo bem. Se algum dia eu
voltar, voltarei mais forte. Nunca estive mais feliz em toda a minha
vida. Nunca fui obrigado a lutar, sempre lutei por opção minha, e quando
parei, parei por opção minha também. Eu amo esse esporte e a atmosfera
que o cerca. Eu não poderia estar em lugar nenhum que me fizesse mais
feliz do que estou agora, aqui, falando sobre MMA. Isso me deixa muito
feliz".
Após desentendimento, GSP não quis falar sobre a relação com Dana White (Foto: Rodrigo Malinverni)
Saudade de ser campeão
"Na minha forma de ver as coisas, e muita gente pode não concordar, se
você chegou a ser campeão, você será campeão para sempre. Royce Gracie
será sempre um campeão, assim como Matt Hughes, Matt Serra e tantos
outros".
Problemas pessoais melhoraram?
"Não sei, vamos ver no futuro (risos). Vocês, jornalistas, sabem ler as
entrelinhas. Eu não preciso dizer. Alguns de vocês são inteligentes,
outros não (risos). Podem escrever o que quiserem sobre esse assunto, eu
não ligo. Sou uma pessoa pública. Tudo que eu falo cai como uma bomba, e
a última coisa que quero fazer é ferir o UFC e o MMA. Sempre lutei em
favor do esporte, e não gostaria de feri-lo, nem ao UFC, que é a quem eu
devo a minha carreira e quem eu sou. Só gostaria que algumas coisas
mudassem. Da forma como estão, eu tenho recebido muitas mensagens,
algumas secretas, de pessoas que têm medo de dizer publicamente o que
pensam, me dando os parabéns por ter feito o que fiz pelos lutadores e
pelo esporte, e me encorajando a seguir em frente. Me parabenizam e me
apoiam por eu ser o cara que teve coragem de dizer o que eu disse".
Eu passei a treinar por prazer e provavelmente estou na melhor forma da minha vida, porque treino para me divertir"
Sobre a nova fase de sua vida
Novos hábitos
"Eu passei a treinar por prazer e provavelmente estou na melhor forma
da minha vida, porque treino para me divertir. Não é um treino de
competição, mas para me dar prazer. Estou melhorando a cada dia, tenho
feito exercícios ótimos, ganhei massa muscular - cerca de 2,5kg
saudáveis de músculos - sem ter mudado nem a minha alimentação. Só me
livrei do estresse. Estou até dormindo melhor, que é uma das melhores
coisas que aconteceram, e ainda tenho passado mais tempo com a minha
família. Tem valido a pena. Se eu nunca mais lutar novamente, estarei
feliz. Não posso dizer que isso vá acontecer, mas se eu decidir voltar,
quero ter a certeza que essa decisão me deixará mais feliz. Quando se
está feliz, você faz tudo melhor. Se você se forçar a lutar, as coisas
não irão tão bem".
O "UFC: Machida x Mousasi" terá transmissão ao vivo e com exclusividade
do canal Combate, a partir de 22h (horário de Brasília) deste sábado. O
Combate.com acompanha em Tempo Real e exibe em vídeo
ao vivo a primeira luta do card preliminar, entre os penas Douglas
D'Silva e Zubair Tuhugov. Nesta sexta-feira, o canal e o site exibem a
pesagem oficial a partir de 15h30m.
UFC: Machida x Mousasi
15 de fevereiro de 2014, em Jaraguá do Sul-SC
CARD PRINCIPAL
Peso-médio: Lyoto Machida x Gegard Mousasi
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Francis Carmont
Peso-meio-médio: Erick Silva x Takenori Sato
Peso-meio-médio: Viscardi Andrade x Nicholas Musoke
Peso-pena: Charles do Bronx x Andy Ogle
CARD PRELIMINAR
Peso-leve: Cristiano Marcello x Joe Proctor
Peso-leve: Rodrigo Damm x Ivan Batman
Peso-leve: Francisco Massaranduba x Jesse Ronson
Peso-galo: Iuri Marajó x Wilson Reis
Peso-pena: Felipe Sertanejo X Maximo Blanco
Peso-meio-médio: Ildemar Marajó x Albert Tumenov
Peso-pena: Douglas D'Silva x Zubair Tuhugov