sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Indeciso, mas feliz, St-Pierre encara Spider e até Lesnar se luta for 'justa'

Em Jaraguá do Sul-SC para ser córner de Francis Carmont, ex-campeão garante que nunca esteve tão bem e não sabe se volta ao octógono um dia

Por Jaraguá do Sul, SC
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É impossível não perceber a diferença entre a última imagem pública do canadense Georges St-Pierre, após a vitória sobre Johny Hendricks no UFC 167, e a imagem atual do lutador licenciado do Ultimate, que está em Jaraguá do Sul-SC para ajudar o amigo e companheiro de treinos Francis Carmont na luta contra Ronaldo Jacaré no "UFC Fight Night no Combate: Machida x Mousasi". Relaxado, brincalhão e disposto a passar um longo tempo falando sobre MMA e seu futuro, o ex-campeão dos meio-médios conversou com o Combate.com na noite de quinta-feira e deixou claro que voltar a lutar, se não está nos planos imediatos, também está longe de ser algo a ser descartado em sua vida. O antes tão comentado duelo contra Anderson Silva, por exemplo, ainda é possível. E até o ex-campeão peso-pesado Brock Lesnar entrou na jogada:
- Sempre há uma possibilidade para tudo. Veja bem, alguns querem lutar contra mim pelo meu nome, outros pelo dinheiro. Eu lutaria contra Anderson Silva. Lutaria até contra Brock Lesnar, desde que fosse uma luta justa para ambos. Se for para lutar contra um peso-pesado, que isso aconteça de uma forma racional. Eu não tenho medo de ninguém, mas também não sou burro (risos).
Georges St-Pierre (Foto: Rodrigo Malinverni)Georges St-Pierre sorri e gesticula durante entrevista ao Combate.com (Foto: Rodrigo Malinverni)
O único assunto que St-Pierre preferiu deixar de lado e não comentar foi a relação atualmente conturbada com o UFC e o presidente Dana White. O desentendimento começou quando GSP disse que um dos motivos que o forçou a dar uma pausa no esporte foi a política antidoping do evento, que segundo ele não é tão eficiente. Antes do duelo contra Hendricks, o canadense propôs que os dois atletas se submetessem ao teste da Associação Voluntária Antidoping (VADA), o que foi negado pelo americano. O dirigente não gostou da declaração, garantiu que nenhuma outra organização de MMA testa tanto seus lutadores quanto o Ultimate e pediu para que St-Pierre fosse até ele para resolver qualquer problema, "como um homem".
Talvez, algum dia, se as coisas acontecerem como eu penso que devem acontecer, eu volte. Não sei quanto tempo pode levar, estou esperando um pouco"
St-Pierre, sobre retorno ao octógono
No momento, GSP se diz feliz em poder relaxar e apenas assistir às lutas de MMA na televisão, treinar apenas por prazer e descansar. Cerca de 2,5kg mais pesado só de músculos, sem lesões e dormindo melhor, o canadense garantiu que não quer ter que pensar em lutar, mas avisa: se - e quando - voltar, estará mais forte, melhor e mais feliz:
- Eu estou realmente muito feliz. Ganhei até massa muscular. O estresse das lutas estava me corroendo. Eu tinha tanta coisa na minha cabeça, e não posso falar delas porque isso faria algumas pessoas pularem da cadeira, mas isso estava me estressando a ponto de me comer vivo. Eu comecei a perder peso. Era algo mental, e eu precisava dessa pausa para recuperar minha saúde mental. A distância está me fazendo bem. Se algum dia eu voltar, voltarei mais forte. Nunca estive mais feliz em toda a minha vida.
A seguir, veja a íntegra da entrevista com Georges St-Pierre por tópicos: 
Semelhança entre Jaraguá do Sul-SC e sua cidade natal, Saint-Isidore (CAN)
"Eu já estive no Brasil três vezes, sempre no Rio de Janeiro, mas jamais estive em Santa Catarina. Achei Jaraguá do Sul legal, muito parecida com a cidade onde eu nasci. É uma cidade pequena, mais calma e sem tanta violência, e as pessoas também são menos tensas, são mais relaxadas, não têm medo de se aproximar, falar com você e te ajudar".
O parceiro Francis Carmont
"Eu treino muito junto com o Francis, estarei no seu córner e estou sendo seu companheiro de treinos e ajudando-o a montar a estratégia como seu técnico para esta luta. Firas Zahabi (treinador seu e de Carmont) está ocupado com outros lutadores e também tem sua família para cuidar. Por tudo isso, fui o escolhido para vir com ele para cá e garantir que tudo esteja bem do ponto de vista do seu córner. Acredito que Francis tenha potencial para ser campeão. Ele é um ótimo lutador. Tão bom que não sabe o seu potencial e quão bom ele é. Ele é muito melhor do que ele mesmo imagina, muito completo e aprende rápido demais. Quando chegou ao Canadá ele era apenas um kickboxer, e agora ele é um ótimo wrestler, porque aprendeu com grandes atletas canadenses e russos".
Georges St-Pierre (Foto: Rodrigo Malinverni)O canadense não sabe ainda se irá retornar ao octógono (Foto: Rodrigo Malinverni)
O adverário de Carmont: Ronaldo Jacaré
"Jacaré é um dos melhores lutadores do mundo. Não é bom somente no jiu-jítsu, mas também tem poder de nocaute e luta bem em pé. Acho que Francis tem que usar o seu alcance e não ter medo do jogo de chão do Jacaré. Se for para ir para o chão, vá. Isso é MMA, é algo completamente diferente de jiu-jítsu. Francis é muito forte, uma das pessoas mais fortes que eu já conheci na vida, e sua pegada também é fortíssima. Se você não o conhece e treina ou luta contra ele pela primeira vez, acaba se surpreendendo. Acho que ele tem que fazer sua luta e não respeitar demais o jiu-jítsu do Jacaré, que é um campeão mundial, mas muita gente erra ao ter medo de ir para o chão contra um cara desses".
Nasce um treinador?
"Não, não... Eu sou mais um parceiro de treinos e ótimo estrategista. Eu consigo absorver o jeito de um lutador atuar ao observá-lo, e vejo a forma de derrotá-lo. É assim que quero ajudar Francis. Não sei se quero ser treinador algum dia. Hoje eu estou fazendo esse papel por prazer, para ajudar um grande amigo meu. Não tenho muitos amigos no MMA, mas Francis é um deles, e quero que ele seja bem sucedido".
Eu sou mais um parceiro de treinos e ótimo estrategista. Eu consigo absorver o jeito de um lutador atuar ao observá-lo, e vejo a forma de derrotá-lo. É assim que quero ajudar Francis"
Sobre Jacaré x Carmont
O que tem feito fora do MMA
"Tenho ajudado Francis para esta luta, treinado na academia de Renzo Gracie em Nova York com caras excelentes no jiu-jítsu. Tenho viajado bastante para cumprir compromissos com meus patrocinadores. Também passei um ótimo fim de ano com a minha família. Tenho me divertindo bastante".
Futuro: vai voltar a lutar?
"Não sei ao certo. Tenho acompanhado o que tem acontecido no MMA, e gosto de não ter que pensar nisso. Quero apenas me afastar e ver os caras lutando, ver o que vai acontecer com o sistema e com uma porção de coisas das quais eu não posso falar agora (risos). Talvez, algum dia, se as coisas acontecerem como eu penso que devem acontecer, eu volte. Não sei quanto tempo pode levar, estou esperando um pouco. Pessoalmente tem sido muito bom, até terapêutico, estar afastado das lutas. Muita coisa maluca tem sido dita. Li uma vez que achavam que eu estava inativo por estar em tratamento para desintoxicação. Alguns rumores chegam a ser engraçados, me fazem rir. A razão pela qual eu fiz essa pausa foi para manter a minha saúde mental. Pouca gente sabe o quanto é duro ficar no topo por tanto tempo. A pressão não é a mesma de uma luta comum. Toda luta é uma decisão de título mundial, é necessário fazer um número imenso de ações promocionais. Nunca fui obrigado a fazer nada disso, fiz porque queria, e se tiver que fazer de novo, ficarei feliz em fazer".
Johny Hendricks x Robbie Lawler, pelo cinturão
"Pode ser qualquer um dos dois, depende de muitas coisas. Imagino que, em pé, um pode nocautear o outro. Hendricks tem uma certa vantagem no wrestling, mas qualquer um dos dois pode vencer por nocaute".
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Georges St-Pierre (Foto: Rodrigo Malinverni)St-Pierre ainda está convicto de que venceu Johny Hendricks (Foto: Rodrigo Malinverni)
Sua luta contra Johny Hendricks
"Vi muitas vezes. Sempre vejo minhas lutas para detectar meus erros, e eu cometi vários naquela luta. Se tivesse que lutar contra ele de novo, faria muitas coisas de forma diferente, mas ainda acho que venci. Respeito as opiniões de todos, mas acho que venci mais rounds. É como uma disputa de playoffs de futebol, hóquei ou basquete. Mesmo que você vença um jogo por 10 a 0, mas perca o outro por 2 a 1, você perdeu aquele jogo. As lutas no MMA têm cinco rounds, e da forma como são as regras, na verdade são cinco lutas de cinco minutos cada. É assim que vejo e é assim que monto a minha estratégia. Se você não gosta da forma como as lutas são julgadas, mude o sistema, as regras ou a sua estratégia. É assim que funciona. Naquela luta, na minha forma de ver, eu venci o terceiro e o quinto rounds. Hendricks venceu o segundo e o quarto. O primeiro foi muito disputado, mas acho que venci porque, mesmo tendo tido o mesmo número de derrubadas e de golpes significativos, o que fez diferença para mim foi a guilhotina que eu encaixei. Cheguei perto de finalizar a luta, e Hendricks não. Por isso eu considero que venci. Muita gente não concorda, mas para mim venci três rounds em cinco. Falam sobre os meus ferimentos, mas a minha pele é muito clara e fina. Vejam minhas lutas contra (Carlos) Condit, (Nick) Diaz e BJ Penn. Em todas eu saí arrebentado. Mesmo quando treino acabo ficando com manchas roxas na pele. São ferimentos superficiais. Eu me corto e sangro facilmente. Fiz uma foto um dia e meio depois da luta contra Johny Hendricks, e todos os ferimentos haviam desaparecido. Ainda assim, ferimentos não tiram a minha capacidade de lutar. Eu sempre fico daquele jeito. Contra Condit foi até pior, porque fiquei com um hematoma imenso na testa. Contra BJ Penn foi ainda pior. E eu venci todas as lutas".
Sentimento de ver o cinturão com outro atleta
"Vou dizer a verdade: no ponto em que eu me encontrava na minha carreira, por mais que eu amasse o cinturão, eu não lutava mais por ele. Tinha mais a ver com o meu adversário e o desafio que ele representava para mim. Eu prefiro lutar contra o melhor lutador sem haver disputa de cinturão a enfrentar um lutador mediano em uma disputa de cinturão. A luta é o que mais me interessa".
Não quero dar conselhos a Anderson, porque ele é muito mais experiente do que eu, mas eu diria para ele se testar nos treinos. Se você der chutes muito fortes nos treinos, o medo de fazer o mesmo na luta desaparecerá"
Sobre a lesão do Spider
Reação à lesão de Anderson Silva
"Acho que Anderson Silva voltar tem mais a ver com a sua força mental do que com a sua condição física. Falei com vários médicos e eles me disseram que, por mais grave que a lesão tenha sido, se ela tivesse acontecido em uma articulação, a cura completa seria muito pouco provável, porque há ligamentos e cartilagens lesionadas. Da forma como a fratura aconteceu, é certo que a cura será total. O que ele terá que ter é a força mental para não sentir medo de chutar novamente. A perna voltará a ser sólida como sempre foi, mas se a sua mente o fizer hesitar, isso sim será um problema. Eu sei porque, quando lesionei o meu joelho, foi a mesma coisa. Não quero dar conselhos a Anderson, porque ele é muito mais experiente do que eu, mas eu diria para ele se testar nos treinos. Se você der chutes muito fortes nos treinos, o medo de fazer o mesmo na luta desaparecerá. Eu fiz isso com o meu joelho. Quando voltei aos treinos, quis fazer sparrings com caras fortes, que levassem o meu joelho ao limite, para que eu tivesse a certeza de que poderia voltar a lutar. Isso é muito difícil. Na primeira vez que fiz as coisas não deram muito certo, porque eu tinha um bloqueio mental. É preciso tirar esse bloqueio da cabeça se quiser continuar lutando".
Superluta contra o Spider
"Sempre há uma possibilidade para tudo. Veja bem, alguns querem lutar comigo pelo meu nome, outros pelo dinheiro. Eu lutaria contra Anderson Silva. Lutaria até contra Brock Lesnar, desde que fosse uma luta justa para ambos. Se for para lutar contra um peso-pesado, que isso aconteça de uma forma racional. Eu não tenho medo de ninguém, mas também não sou burro (risos). Muita gente acha que uma luta determina quem é o mais durão, mas não é o meu caso. Eu vejo as coisas de forma profissional e inteligente".
Momento atual
"Eu estou realmente muito feliz. Ganhei até massa muscular. O estresse das lutas estava me corroendo. Eu tinha tanta coisa na minha cabeça, e não posso falar delas porque isso faria algumas pessoas pularem da cadeira, mas isso estava me estressando a ponto de me comer vivo. Eu comecei a perder peso. Era psicológico, e eu precisava dessa pausa para recuperar minha saúde mental. Isso está me fazendo bem. Se algum dia eu voltar, voltarei mais forte. Nunca estive mais feliz em toda a minha vida. Nunca fui obrigado a lutar, sempre lutei por opção minha, e quando parei, parei por opção minha também. Eu amo esse esporte e a atmosfera que o cerca. Eu não poderia estar em lugar nenhum que me fizesse mais feliz do que estou agora, aqui, falando sobre MMA. Isso me deixa muito feliz".
Georges St-Pierre (Foto: Rodrigo Malinverni)Após desentendimento, GSP não quis falar sobre a relação com Dana White (Foto: Rodrigo Malinverni)
Saudade de ser campeão
"Na minha forma de ver as coisas, e muita gente pode não concordar, se você chegou a ser campeão, você será campeão para sempre. Royce Gracie será sempre um campeão, assim como Matt Hughes, Matt Serra e tantos outros".
Problemas pessoais melhoraram?
"Não sei, vamos ver no futuro (risos). Vocês, jornalistas, sabem ler as entrelinhas. Eu não preciso dizer. Alguns de vocês são inteligentes, outros não (risos). Podem escrever o que quiserem sobre esse assunto, eu não ligo. Sou uma pessoa pública. Tudo que eu falo cai como uma bomba, e a última coisa que quero fazer é ferir o UFC e o MMA. Sempre lutei em favor do esporte, e não gostaria de feri-lo, nem ao UFC, que é a quem eu devo a minha carreira e quem eu sou. Só gostaria que algumas coisas mudassem. Da forma como estão, eu tenho recebido muitas mensagens, algumas secretas, de pessoas que têm medo de dizer publicamente o que pensam, me dando os parabéns por ter feito o que fiz pelos lutadores e pelo esporte, e me encorajando a seguir em frente. Me parabenizam e me apoiam por eu ser o cara que teve coragem de dizer o que eu disse".
Eu passei a treinar por prazer e provavelmente estou na melhor forma da minha vida, porque treino para me divertir"
Sobre a nova fase de sua vida
Novos hábitos
"Eu passei a treinar por prazer e provavelmente estou na melhor forma da minha vida, porque treino para me divertir. Não é um treino de competição, mas para me dar prazer. Estou melhorando a cada dia, tenho feito exercícios ótimos, ganhei massa muscular - cerca de 2,5kg saudáveis de músculos - sem ter mudado nem a minha alimentação. Só me livrei do estresse. Estou até dormindo melhor, que é uma das melhores coisas que aconteceram, e ainda tenho passado mais tempo com a minha família. Tem valido a pena. Se eu nunca mais lutar novamente, estarei feliz. Não posso dizer que isso vá acontecer, mas se eu decidir voltar, quero ter a certeza que essa decisão me deixará mais feliz. Quando se está feliz, você faz tudo melhor. Se você se forçar a lutar, as coisas não irão tão bem".
O "UFC: Machida x Mousasi" terá transmissão ao vivo e com exclusividade do canal Combate, a partir de 22h (horário de Brasília) deste sábado. O Combate.com acompanha em Tempo Real e exibe em vídeo ao vivo a primeira luta do card preliminar, entre os penas Douglas D'Silva e Zubair Tuhugov. Nesta sexta-feira, o canal e o site exibem a pesagem oficial a partir de 15h30m.
UFC: Machida x Mousasi
15 de fevereiro de 2014, em Jaraguá do Sul-SC
CARD PRINCIPAL
Peso-médio: Lyoto Machida x Gegard Mousasi
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Francis Carmont
Peso-meio-médio: Erick Silva x Takenori Sato
Peso-meio-médio: Viscardi Andrade x Nicholas Musoke
Peso-pena: Charles do Bronx x Andy Ogle
CARD PRELIMINAR
Peso-leve: Cristiano Marcello x Joe Proctor
Peso-leve: Rodrigo Damm x Ivan Batman
Peso-leve: Francisco Massaranduba x Jesse Ronson
Peso-galo: Iuri Marajó x Wilson Reis
Peso-pena: Felipe Sertanejo X Maximo Blanco
Peso-meio-médio: Ildemar Marajó x Albert Tumenov
Peso-pena: Douglas D'Silva x Zubair Tuhugov

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