Minotauro nega mágoa com o UFC
e revela que deve parar em três anos
Lutador ainda lamenta não ter encarado Kongo no UFC 149:
'Eu me sinto culpado de não ter lutado em julho. Eu não consegui cumprir
o compromisso'
Por Ivan Raupp
Rio de Janeiro
9 comentários
Rodrigo Minotauro ainda tem um determinado caminho a percorrer antes de
se aposentar. Aos 36 anos e dono de uma bela história no MMA, o
peso-pesado não dá bola para as críticas de que já deveria estar parando
de lutar e se diz, enfim, totalmente recuperado da fratura no braço
direito, causada por uma kimura de Frank Mir no UFC 140 e que o fez
desistir de enfrentar Cheick Kongo no UFC 149, ambos no Canadá. Em
entrevista ao
SPORTV.COM após um treino na Team Nogueira, ele revelou seus planos de seguir em atividade por mais três anos.
- Acho que luto por mais uns três anos ainda. Vamos lutar mais um pouco
(risos). Quando chegar a época em que eu não conseguir mais treinar bem
com esses caras que falei (da Team Nogueira), aí é a hora de parar.
Minotauro entre seus treinadores de boxe, Edelson (à esq.) e Erivan (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
O lutador usou o fato de Dana White ter visto de perto a fratura para
justificar que não acredita que o patrão tenha ficado chateado por ele
ter aceitado o duelo contra Kongo e depois desistido, uma vez que ainda
sentia dores no local. Mesmo assim, ele ainda lamenta ter se retirado do
card:
- Eu até me sinto culpado de não ter lutado em julho (contra Cheick
Kongo). Eu não consegui cumprir o compromisso. Quis lutar, mas poderia
quebrar meu braço. O Kongo chuta muito a perna esquerda, então poderia
me machucar, e eu sofreria um dano irreversível na minha carreira. Eu me
senti mal e queria ter lutado no UFC Rio para dar a volta por cima. Mas
no ano que vem vão ter acho que dois ou três eventos no Brasil, não vai
faltar oportunidade.
Minotauro também mostrou seu lado comentarista e analisou os últimos
casos envolvendo brasileiros no UFC. Ele concorda com a postura de
Anderson Silva de lutar somente quando quiser, por exemplo, e acredita que
Vitor Belfort tem uma chance considerável de vencer
Jon Jones no UFC 152, em 22 de setembro. A seguir, leia a entrevista completa:
SPORTV.COM: Como está o braço? Está 100%?
RODRIGO MINOTAURO: Está 100%. Não sinto mais dor, está bom. Um
dia, na semana passada, senti dores no tríceps, mas é que a musculatura
está voltando. É mais dor muscular. Não tinha muito essa musculatura, e
estou puxando mais. Mas estou treinando bem, praticamente nos meus 100%
de treino. Não estou com receio do braço. Antes eu ficava sempre
protegendo o braço. Agora estou pegando mais forte. Foi o tempo certo
que eu precisava. Fisicamente ainda não estou 100% porque não comecei um
camp, mas fico rapidinho.
Está pesando quanto?
Estou pesando uns 112kg (Minotauro costuma lutar com 108kg).
Eles (UFC) priorizaram outras lutas e acharam que a minha não era
prioridade para o orçamento que tinham planejado (para o UFC Rio III)"
Rodrigo Minotauro
Você se ofereceu para lutar no UFC Rio III, mas ficou fora do card. Como foi isso?
Quando se faz um evento, o pessoal prioriza algumas lutas e tem um
orçamento definido. Eles priorizaram outras lutas e acharam que a minha
não era prioridade para o orçamento que tinham planejado. Normalmente
quando luto contra alguém, esse alguém é caro. Eu me pus à disposição,
mas não recebi uma resposta do Dana White e da organização. Adoro lutar
no Brasil, é um estímulo, a gente não precisa viajar, é em casa.
Você ficou chateado?
Não. Eu até me sinto culpado de não ter lutado em julho (contra Cheick
Kongo). Eu não consegui cumprir o compromisso. Quis lutar, mas poderia
quebrar meu braço. O Kongo chuta muito a perna esquerda, então poderia
me machucar, e eu sofreria um dano irreversível na minha carreira. Eu me
senti mal e queria ter lutado no UFC Rio para dar a volta por cima. Mas
no ano que vem vão ter acho que dois ou três eventos no Brasil, não vai
faltar oportunidade.
O peso-pesado faz um trabalho de força nos braços (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
E você acha que o Dana White ficou chateado por você ter deixado o evento?
Não sei. O Dana White veio comigo no avião (após a luta contra Frank
Mir no UFC 140) e viu a gravidade da lesão (fratura no braço direito).
Ele segurava meu braço, colocava na minha perna, me ajudava a me
levantar no avião para eu ir ao banheiro. Foi um problema grave, ele viu
que o negócio era sério. Eu aceitei a luta porque senti que dava. Mas o
treinamento de MMA é porrada todo dia. Comecei a treinar com atletas
que estavam fazendo exatamente o que faz o Cheick Kongo: chutar com a
perna da frente. E à medida que fui tomando todos aqueles chutes no
braço direito... Aí fui treinar com o Dennis (A Máquina), aqui da Team
Nogueira, ele me deu um chute no braço, eu esgrimei e enrolei o braço
por cima. Quando ele puxou para cima, deu uma torção no meu braço, e a
gente parou na hora. Ali eu senti. Depois já doía só de eu pegar a
sacola para ir treinar. Eu não iria lutar machucado.Tentei treinar mais
uma semana, mas não deu. Falei para o Joinha (seu empresário, Jorge
Guimarães) ligar para o homem (Dana White) e dizer que não daria, e ele
falava: "Tenta mais uns dias. Vamos tentar". Mas eu abaixava para pegar
alguma coisa e já doía. Não tinha como.
E o que sentiu quando assistiu àquela luta entre o Kongo e o Shawn Jordan, que foi horrível?
Foi uma luta tecnicamente fraca, né? Acho que poderia ter feito uma
luta melhor do que eles dois. Mas é o casamento da luta também, né? O
outro cara (Jordan) é do wrestling, e o Kongo quis jogar wrestling x
wrestling e não foi para a luta dele. Poderia ter ido para a trocação e
tentado o nocaute, mas preferiu entrar no jogo do cara. Deve ter sentido
a mão do cara e mudou a estratégia.
Mais boxe (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
Espera voltar a lutar quando?
Não tenho ideia. Estou pronto. Se me falarem amanhã que vai ter uma
luta, só vou pedir um tempo antes para treinar, umas seis ou sete
semanas. Se me ligarem agora eu estou disposto, não penso duas vezes em
aceitar.
Contra quem você gostaria de lutar?
Eu lutaria contra o Alistair Overeem, contra o Brock Lesnar (está
aposentado)... São os caras que mais chamam a atenção. Contra o Roy
Nelson... São os caras mais duros.
Como você enxerga hoje a categoria peso-pesado? O Cigano vai dominar por muito tempo?
Acho que o Cigano é rápido, está focado e com bom nível de wrestling e
de chão. Ele é melhor striker (que luta em pé, na trocação) da
categoria. É focado e consegue manter aquele ritmo de treino muito
forte.
Fora o Cain Velásquez, ele tem que se preocupar com mais alguém para um futuro próximo?
O Alistair Overeem é um cara duro. Realmente ele e o Velásquez são os
nomes mais fortes. Não vejo outro. Do Alistair, o Cigano ganha bem.
E em relação a essa luta contra o Velásquez?
O que eu acho é que eles deveriam fazer Velásquez x Overeem para
decidir o rival do Cigano. Mas eles não fazem isso porque queima um
candidato. Contra o Cigano, o Velásquez vai tentar colocar para baixo. É
um cara duro e tem um ritmo muito bom, mas o Cigano sabe pará-lo.
Você foi crítico do Sonnen por ele viver provocando o Anderson Silva. O que achou do Overeem provocando o Cigano?
É a maneira que ele tem para se promover. Quis chamar a atenção. É um
cara duro, top 3 ali da categoria, e quer chamar a atenção. Mas não
seria uma luta boa para ele. O Cigano está mais sólido. O Sonnen chegou a
ser mais pessoal o negócio.
O Anderson está imbatível e tem que ser respeitado. Pode se resguardar e lutar no momento em que ele quiser"
Sobre a postura recente do amigo Spider
O que achou do Anderson ter recusado enfrentar o Chris Weidman?
Ele quer voltar a lutar só em 2013, e contra o Georges St-Pierre...
Acho que ele está certo. Ele está em uma posição em que o desafiante
tem que fazer lutas mais duras. O Weidman é um cara superduro, mas ainda
é um garoto novo para pegar a promoção de uma luta contra o Anderson
Silva. O Anderson está imbatível e tem que ser respeitado. Pode se
resguardar e lutar no momento em que ele quiser.
Como imagina que será esse Spider x St-Pierre?
Acho que o Anderson tem vantagem pela distância. O St-Pierre é muito
bom de wrestling, só que para um pouco a luta. O Anderson leva vantagem
por ser maior. E ele teria que descer de peso.
A luta deve ser em um peso casado de aproximadamente 80kg. O
Anderson consegue bater essa marca, já que ele costuma pesar mais de
100kg quando não está em período de treinos?
Consegue. Ele está andando agora com 92kg. Já chamou o nutricionista
dele exatamente para não passar desses 92kg. Não sei se é se preparando
para a luta (risos), mas ele não quer passar desse peso.
Você está há muitos anos no topo. Chega uma hora que a rotina cansa?
Não, eu gosto desse ambiente. A gente tem muitas funções na academia
também, para manter o local. O treino é a parte mais prazerosa. Amo
estar aqui, amo estar nesse ambiente, amo ver os atletas da academia
ganhando as lutas. Isso para mim é uma gasolina. Acho que durei tanto
tempo porque peguei carona nesses caras (risos).
Minotauro sorri durante entrevista ao SPORTV.COM (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
O Anderson Silva e o Vitor Belfort disseram que vão lutar por mais alguns anos ainda. E o Minotauro?
Acho que luto por mais uns três anos ainda. Vamos lutar mais um pouco
(risos). Quando chegar a época em que eu não conseguir mais treinar bem
com esses caras que falei, aí é a hora de parar.
O que você espera para Jon Jones x Vitor Belfort?
É uma ótima luta. O Vitor não tem nada a perder e pode surpreender, tem
a mão pesada. O Jon Jones, por outro lado, é um cara mais forte. Já
treinei chão com ele uma vez em Las Vegas, e ele é muito forte. É um
cara grande, inteligente, ótimo wrestler. Mas o Vitor só tem a lucrar
com essa luta e pode surpreender.
E Anderson Silva x Jon Jones? Acha que um dia pode acontecer?
Não sei. O Jon Jones é muito grande, quase um peso-pesado, então pela
diferença de peso não seria uma luta vantajosa para o Anderson. Mas o
Anderson teria condições totais de lutar contra ele. Se tem alguém que
pode lutar contra o Jon Jones no meio-pesado, é o Anderson Silva.