quinta-feira, 13 de abril de 2017

Michelle Waterson, UFC 189, UFC


















Com o duelo contra Rose Namajunas marcado para este sábado, no UFC Kansas, Michelle Waterson já é uma realidade no MMA. Apesar de, hoje, estar consolidada como atleta, a americana não deu seus primeiros passos no esporte como lutadora, mas, sim, como ring girl. Confira no vídeo abaixo um teste de Waterson para a função, em 2009.



Na época em que era "coadjuvante" no MMA, Waterson percebeu que gostaria de ser protagonista no cage. Apesar da vontade de migrar para a luta, a americana encontrou alguns obstáculos, e precisou contar com a ajuda de um lutador consagrado do UFC para cosneguir executar o projeto desejado.


- Eu cresci praticando artes marciais, e lembro de assistir algumas lutar e pensar: "O que eles fazem no octógono parece muito mais divertido do que isso estou fazendo aqui fora". Então falei com um promotor sobre isso, ele me ignorou. Mas Donald (Cerrone) me ouviu dizer o quanto estava interessada, então ele disse: "Ei, se você está falando sério sobre lutar, é melhor ir logo para uma academia" - contou, em entrevista à "Fox Sports" americana.  

Bethe Correia enfrenta Holly Holm no card de Singapura, dia 17 de junho

Brasileira vem de empate contra Marion Reneau, enquanto americana perdeu para Germaine de Randamie pelo título dos pesos-penas em seu último compromisso

Por Rio de Janeiro
O Ultimate marcou mais uma luta para o card de Singapura, marcado para o dia 17 de junho. A brasileira Bethe Correia terá pela frente a ex-campeã Holly Holm, pelo peso-galo (até 61kg), conforme apurou o Combate.com com fontes ligadas à companhia. O confronto será o evento principal do torneio. O UFC anunciou oficialmente o duelo na manhã desta quinta-feira.
Montagem Holly Holm Bethe Correia_690 (Foto: Esporte Arte)Holly Holm e Bethe Correia se enfrentam no dia 17 de junho, em Singapura (Foto: Esporte Arte)
Bethe é a número 9 da divisão vem de empate contra Marion Reneau no UFC Fortaleza, em março. Antes disso, bateu Jessica Eye por decisão dividida. A brasileira tem um cartel de 10 vitórias, duas derrotas e um empate. Um dos reveses foi quando disputou o cinturão da divisão até 61kg, mas foi nocauteada por Ronda Rousey, no Rio de Janeiro.
Holm ocupa a quinta posição no ranking do peso-galo feminino, mas vive péssima fase. São três derrotas consecutivas. A última delas foi para Germaine de Randamie, quando subiu para os penas (até 66kg) para disputar o título da recém-criada categoria. Antes, foi derrotada por Valentina Shevchenko, por pontos, e finalizada por Miesha Tate, quando perdeu o cinturão dos galos.
O site "MMA Fighting" foi o primeiro a noticiar o confronto. Confira o card atualizado:
UFC Fight Night
17 de junho, em Singapura
CARD DO EVENTO (até o momento):
Peso-galo: Holly Holm x Bethe Correia
Peso-meio-médio: Rafael dos Anjos x Tarec Saffiedine
Peso-pesado: Andrei Arlovski x Marcin Tybura
Peso-pesado: Cyril Asker x Walt Harris
Peso-leve: Takanori Gomi x Jon Tuck
Peso-mosca: Ulka Sasaki x Justin Scoggins
Peso-galo: Russell Doane x Kwan Ho Kwak
Peso-mosca: Naoki Inoue x Carls John de Tomas
Peso-pena: Wang Guan x Alex Caceres
Peso-meio-médio: Colby Covington x Dong Hyun Kim

Após vitória no peso-leve, Do Bronx é retirado do ranking dos penas do UFC

Eleitores ignoram pedidos do brasileiro para retornar à categoria de baixo. Anthony Johnson (aposentado) e Kelvin Gastelum (suspenso) também deixam classificação

Por Las Vegas, EUA
Charles do Bronx UFC México 3 (Foto: Getty Images)Charles Do Bronx não está mais nem no ranking dos pesos-penas, nem no dos pesos-leves (Foto: Getty Images)
Os eleitores do ranking do UFC ignoraram a declaração pós-luta de Charles "Do Bronx" Oliveira de que gostaria de voltar ao peso-pena após sua vitória sobre Will Brooks no peso-leve, no UFC 210 do último sábado. Na atualização do ranking divulgada na noite de quarta-feira, o lutador paulista desapareceu da classificação dos penas, onde ocupava a 9ª posição até semana passada.
Do Bronx finalizou Will Brooks no primeiro round no torneio de sábado, e muitos jornalistas e comentaristas pediram nas redes sociais que o brasileiro ficasse nos leves em vez de voltar aos penas, onde falhou em bater o peso quatro vezes em 12 lutas. Presidente do UFC, Dana White ecoou esse sentimento em entrevistas após o evento. O resultado foi a retirada de Oliveira do ranking dos penas, e a ascensão de sete lutadores da categoria, incluindo Renan Barão (subiu de 14º a 13º) e Myles Jury, que estreou na classificação em 15º.
O peso-meio-pesado também viu a subida de diversos lutadores com a saída de Anthony Johnson, que anunciou sua aposentadoria após ser derrotado na disputa do cinturão da categoria contra Daniel Cormier. A mudança deixou Alexander Gustafsson como novo primeiro colocado do ranking, Glover Teixeira em segundo, Jimi Manuwa em terceiro e Maurício Shogun em quarto. Jon Jones, que cumpre suspensão por doping até o início de julho, segue de fora.
Outro que caiu fora do ranking foi Kelvin Gastelum, retirado da classificação do peso-médio enquanto cumpre suspensão preventiva pelo exame antidoping positivo para metabólitos de maconha. A punição é praxe na organização para atletas flagrados com substâncias proibidas. Com isso, oito lutadores subiram entre os médios, incluindo Vitor Belfort (10º), Thales Leites (11º) e o australiano Dan Kelly, que estreou na lista na 15ª posição.
Confira o ranking atualizado do UFC:
Ranking UFC - 13/04/207 (Foto: Editoria de Arte)

Mighty Mouse? Wilson Reis já desviou da pobreza, de balas e até de avião

Conheça a sofrida jornada do desafiante ao cinturão peso-mosca do UFC e os obstáculos que enfrentou antes de encarar o campeão mais dominante da atualidade

Por Rio de Janeiro
Wilson Reis pôster Hulk (Foto: Arquivo pessoal)Wilson Reis na juventude, junto a um pôster do Hulk: lutador é um herói para a família, e se transforma no cage (Foto: Arquivo pessoal)
Capaz de evitar balas e sempre disposto a ajudar o próximo. Essas são características do "Mighty Mouse", personagem cujo nome virou apelido de Demetrious Johnson, mas também são atribuídas ao adversário do americano no próximo sábado, o brasileiro Wilson Reis. O desafiante ao cinturão dos pesos-moscas do UFC é um predestinado. De origem humilde, venceu os obstáculos mais variados para chegar à disputa do título, incluindo tiroteios e até um acidente aéreo. Mesmo na dificuldade, jamais deixou de acreditar e ajudar seus parentes e amigos, o que lhe tornou num verdadeiro herói para quem o conhece de perto.
- Pra todos nós, ele já é o campeão, só tem que ir lá e pegar o cinturão para ele, porque é uma pessoa querida por todos, não tem ninguém para falar uma vírgula dele - diz Roberto Godói, treinador que o formou faixa-preta no jiu-jítsu.
Realmente, encontrar alguém que dissesse algo negativo de Wilson Reis foi impossível para a reportagem. Estas são as histórias de sua caminhada de menino pobre da periferia de São Paulo até desafiante ao cinturão do UFC.
INDEPENDENTE E RESPONSÁVEL DESDE CEDO
Wilson nasceu em Januária, no norte de Minas Gerais, em 6 de janeiro de 1985 - coincidentemente, "Dia de Reis" na tradição cristã. Ele e o irmão gêmeo, Dilson Jr, ficaram com os avós no município de Bonito de Minas nos primeiros anos de vida, enquanto os pais, Dilson e Elina, seguiram para São Paulo para buscar trabalho e melhores condições para a família. Depois que o caçula Wagner nasceu, dois anos depois, os irmãos seguiram para a capital paulista.
Elina trabalhava como diarista e empregada doméstica, e Dilson se desdobrava em diversos empregos para sustentar a casa. Foi promotor de vendas, padeiro, frentista, segurança, entre outros. A "maratona" impedia que ele pudesse dar muita atenção aos filhos diariamente, e Wilson, apesar de ter saído do útero segundos depois de Dilson, assumiu a postura de "irmão mais velho e responsável".
- Lembro quando eu tinha 7 anos e eles 9, eles tinham acabado de chegar na cidade grande. Meu pai buscou nós três no primeiro dia de aula, entrou com nós três no ônibus e falou, "Presta bem atenção no caminho, porque amanhã o pai não vai poder trazer vocês, porque tenho que trabalhar. Cuida do Wagner que ele é mais novo". E o Wilson prestava atenção. O Wilson começou a olhar para esse lado, ele foi crescendo e, mesmo sendo gêmeo do Dilson, ele sempre tinha uma coisa nele que ele era mais sério, que ele era como se fosse o mais velho. Ele cuidava de mim e do Dilson como se fosse o mais velho - conta Wagner Reis.
Mosaico Wilson Reis infância (Foto: Esporte Arte)No sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: Wilson de mãos dadas ao irmão gêmeo, Dilson Jr; com amigos em São Paulo; andando de bicicleta; de patins; e sentado com irmão e primos em Minas (Fotos: Arquivo pessoal)
A família mudou de casa várias vezes. Já morou numa das firmas em que o pai trabalhava, em pensões, em residências mais humildes, sempre nos bairros mais pobres de São Paulo. Apesar das dificuldades, as crianças tiveram uma infância divertida: iam ao Ibirapuera nos fins de semana e corriam, andavam de bicicleta, faziam argola. Na escola, Wilson era um bom aluno e começou a se destacar no vôlei, mesmo sempre tendo sido "baixinho". Sua paixão pelas artes marciais, contudo, surgiu nas sessões de filmes com o tio Edson em casa. Os longas de Bruce Lee não faziam muito seu gênero, mas os filmes de Jean Claude Van Damme, como "Kickboxer" e "O Grande Dragão Branco", o encantaram.
Wilson logo passou a buscar academias por conta própria no seu bairro. Encontrou uma aula semanal gratuita de kickboxing para residentes da região no Clube Metal. Contudo, disposto a competir em alto nível, buscou o Centro Olímpico do Ibirapuera, onde passou a praticar judô com o sensei Francisco Filho. Ciente que seus pais não tinham condições financeiras de bancar suas aulas, o jovem de 11 anos pedia bolsa por conta própria. Seu primeiro quimono foi um presente de uma das patroas de sua mãe, de uma família japonesa.
- Eles tinham dois filhos, um deles lutava no Centro Olímpico por prazer, e o quimono ficou pequeno nele. Minha patroa falou, "Olha, Elina, tenho um quimono aqui, se servir no Wilson, pode levar pra ele". Eu levei e ele ficou muito feliz, diz que foi o maior incentivo para a carreira dele. Ele usou até ficar pequeno - conta Elina.
A MORTE PASSOU PERTO
Foi nessa época que, há cerca de 20 anos, um acidente aéreo em São Paulo chocava o país. O avião Fokker 100, prefixo PT-MRK, da TAM Linhas Aéreas, caiu 24 segundos após decolar no Aeroporto de Congonhas rumo ao Rio de Janeiro. A aeronave despencou sobre oito casas em Jabaquara, na Zona Sul da capital paulista; 99 pessoas morreram, incluindo 96 ocupantes na aeronave e três no solo. No pouco tempo no ar, o piloto ainda conseguiu desviar da Escola Estadual Doutor Ângelo Mendes de Almeida para "salvar as crianças". Reis estudaria nesse colégio alguns anos depois; na data do acidente, estava em aula em outra escola bem próxima, a 15 minutos a pé do local do acidente.
- Estudava na Av. Jabaquara na época. Acabei estudando nessa escola dois ou três anos depois. Teve momentos que andamos e estava tudo bloqueado pela polícia, não podia passar. A gente passava pelo mesmo bairro para chegar em casa. Foi muito triste, muito próximo. Estava (em aula no momento do acidente), sim. Não vi, mas assim que caiu, escutamos o barulho e já fomos dispensados. Eu lembro de passar e tudo estava bloqueado, muita polícia e familiares e moradores apreensivos também - conta Wilson.
 Escutei um barulho, não sei se era nem de tiro. Quando eu olhei pra trás, vi uma bola de fogo, o cara descarregando na barriga de outro! O cara começou a correr na minha direção, então comecei a correr também! A rua ficou deserta
Wilson Reis, sobre episódio que presenciou
Não foi o encontro mais próximo do garoto com a morte. Na adolescência, ele esteve sob risco de ser atingido por balas perdidas duas vezes, quando, após a demissão do pai de um supermercado, a família buscou abrigo com uma tia próximo ao Capão Redondo. Numa dessas ocasiões, narrada por seu irmão Wagner, Wilson chegava de um treino de jiu-jítsu tarde da noite quando estourou um tiroteio nas cercanias. Por sorte, um vizinho abriu o portão quando ele estava chegando, o lutador subiu a rua correndo e conseguiu entrar são e salvo. A outra ocasião foi à tarde, num "sábado lindo e ensolarado", como o próprio Wilson rememora.
- Eu tinha 16 anos. Foi lá na Vila Joaniza, era um bairro familiar e tranquilo, mas era perto das favelas. Minha tia morava um quilômetro mais para o fundo. Eu podia ter ido pela avenida, que era mais tranquilo, mas peguei esse caminho que passava por umas favelinhas, que era mais curto. Escutei um barulho, não sei se era nem de tiro. Quando eu olhei pra trás, vi uma bola de fogo, o cara descarregando na barriga de outro! Foi o tempo de eu olhar para ele e olhar pra frente de novo. Estava na frente do meu portão, mas não daria tempo de abrir, porque o cara começou a correr na minha direção, então comecei a correr também! A rua ficou deserta. Só ficou eu e o cara, e eu fiquei desesperado, correndo pela minha vida! Mas acho que o cara nem queria me pegar, só queria fugir também. Tinha um bar na outra esquina, e eu dei um mergulho de peixinho na mesa de sinuca. Todo mundo dentro do bar ficou bravo, desesperados, achando que o cara estava querendo me pegar e eu estava levando ele pro bar! Meu, estava fugindo! Mas quando eu caí pra dentro do bar, o cara quebrou pra esquerda. Eu não conseguia nem falar direito. Fiquei um pouco impressionado, até queimei toda a roupa que eu estava usando pra não lembrar mais - conta.
QUEM TEM BOCA, VAI A QUALQUER LUGAR
Viciado em revistas de luta, Wilson Reis descobriu o jiu-jítsu aos 13 anos, ao comprar uma publicação que tinha em seu encarte um DVD instrucional de Royce Gracie. O mineiro se interessou e passou a buscar academias para treinar. Após começar com Arthur Andrade e Márcio Guimarães, ele chegou à lendária Godói/Macaco, uma das mais fortes de São Paulo, através de Marcelo "Sinistro", figura famosa na cena paulista de jiu-jítsu.
- Eu sempre ia tomar um açaí em Moema, do lado da loja da Bad Boy. Eu era um menino atrevido, sempre ia na loja e dizia que queria treinar, eu sempre ia pedir um patrocínio, todos os funcionários me conheciam. O dono da loja de açaí era o Sinistro, ele é muito querido na comunidade de jiu-jítsu, e ele me disse que ia me dar uma bolsa. Ele também me apresentou ao representante da Bad Boy, e desde os 14 anos comecei a receber as roupas deles. Isso me ajudou muito - diz Reis.
Mosaico Wilson Reis jiu-jítsu (Foto: Esporte Arte)Wilson Reis com os amigos do jiu-jítsu após conquistar o cinturão do EliteXC; numa competição; em viagem aos EUA para o Pan-Americano; suas medalhas e troféus; e com a turma de Roberto Godói (Fotos: Arquivo pessoal)
O patrocínio, porém, vinha em forma de roupas. Para conseguir algum retorno financeiro e pagar a inscrição nos campeonatos, o lutador vendia as vestimentas no bairro e na escola. Ainda assim, com a necessidade de se deslocar até a escola pela manhã, à academia à tarde e à noite para casa, muitas vezes ele não tinha dinheiro nem para o ônibus. Wilson fez amizade com os cobradores e conseguia assim passar por baixo da catraca, ou entrar pelo fundo do coletivo. Na academia, sua disposição para treinar impressionava os mestres e colegas, que faziam o possível para ajudá-lo.
- Ele chegou com muita vontade, querendo praticamente morar lá, fazer todos os treinos. O Wilson entrava quieto e saía calado, mas sempre sorridente, chegava sempre no horário, com muita vontade de aprender. Às vezes, ele arrumava uma passagem e ia sozinho pra competir no Rio, Espírito Santo... A gente chegava de avião, e ele aparecia depois de pegar vários ônibus, caronas, dava um jeito. Ele nunca foi classificado como "pidão", porque ele é muito do bem e todo mundo tem muito prazer em ajudar ele. Nas primeiras vezes que começou a vir para os EUA, para ele obter materiais e conseguir viajar e competir, ficava na casa de amigos, todos tentavam ajudá-lo, sabiam que não tinha condições. Ele não montava nas costas de ninguém, e isso fazia as pessoas quererem ajudá-lo - diz Roberto Godói, que o graduou faixa-preta após a conquista da medalha de ouro do Mundial de jiu-jítsu de 2004, na faixa-marrom.
Foi durante esse Mundial, no Rio de Janeiro, que surgiu a oportunidade de mudar para os EUA. Wilson ficou hospedado numa casa em São Conrado com outros lutadores, entre eles o americano Jared Weiner. Após a competição, o grupo seguiu de férias para Búzios. Os dois ficaram muito amigos, e Weiner convidou o mineiro, que já dava aulas em Monte Verde-MG, para ajudá-lo em sua academia na Filadélfia.
- Nós treinamos juntos no Brasil e eu achei que ele era um garoto muito legal, sempre muito educado, sorridente, nunca malicioso. Eu gostava da vibe e da energia dele. Foi por acaso, eu o convidei e funcionou perfeitamente. Ele não falava inglês e eu falava português mais ou menos. Eu voei para a Filadélfia dois dias depois e, literalmente, quando cheguei, tinha um e-mail de um dos amigos dele dizendo que o Wilson queria ir sim. Uma semana, depois ele estava na Filadélfia. Foi muito rápido - conta Weiner.
"PERRENGUES" NOS EUA
Foi rápido, mas foi necessário um esforço coletivo para que Wilson viajasse. Seus amigos, colegas de academia e familiares fizeram uma "vaquinha" para pagar a passagem. Na Filadélfia, ele foi acolhido por Weiner, que assinou os papéis para que ele conseguisse o visto de entrada, lhe deu emprego em sua academia e o ajudou a arrumar outros bicos para complementar a renda. Wilson trabalhou de carpinteiro e ajudante de pedreiro; acordava às 5h da manhã, trabalhava até às 17h nas obras, e seguia para a academia para dar aulas de jiu-jítsu. Com o dinheiro que ganhava, pagava as inscrições nos campeonatos e ajudava a família em São Paulo.
Wilson Reis, Jared Weiner (Foto: Arquivo pessoal)Wilson Reis com Jared Weiner na Filadélfia, onde começou sua vida nos EUA (Foto: Arquivo pessoal)
Os primeiros anos foram difíceis. Wilson ainda estava aprendendo inglês, e Weiner e alguns alunos brasileiros traduziam suas aulas para suas turmas. Segundo seu irmão Wagner, que recebeu Weiner como guia turístico em visitas ao Brasil no período, Wilson só foi falar inglês fluentemente após três anos nos EUA. O lutador ultrapassou o período que poderia ficar no país com o visto de turismo e ficou em situação ilegal, sem poder voltar ao Brasil enquanto não se regularizava.
- Ele ajudava a gente mesmo passando esse perrengue lá. Ele morando sozinho lá, pagava as contas dele, tudo bonitinho e certinho, mas ele chorava. Nesses três anos morando lá, foi quando ele conseguiu dar entrada (no pedido do visto permanente) e contratar um advogado americano pra resolver a situação dele. Foi quando ele conseguiu pagar o advogado, uns US$ 4 mil ou US$ 5 mil, pegou o visto de trabalho e aí as coisas melhoraram - diz Wagner.
Foi na mesma época que Wilson começou a ser atraído para o MMA. Quando passou a dar aulas também na academia Daddis Fight Camp, um time forte da Filadélfia, o mineiro sentiu que tinha condições de competir também nas artes marciais mistas. Além disso, sabia que o MMA pagava bolsas em dinheiro, algo mais difícil de conseguir no jiu-jítsu. Logo, estava treinando muay thai e jiu-jítsu sem quimono para fazer a transição. Sua decisão foi recebida com certo ceticismo pelos familiares e amigos.
- Sinceramente, no começo, eu estava meio nervoso por ele. Seu jiu-jítsu era incrível, ele estava ganhando muitos torneios, mas ele era tão legal, gentil, nunca foi mau para ninguém, nunca esteve numa briga de rua, nunca socou ninguém, então eu e alguns caras estávamos nervosos. "Este é um outro mundo, você tem certeza?" E ele disse que sim. Logo notamos que ele socava forte (risos), mas ele era muito determinado e não levava não como resposta - relata Weiner.
CALIFÓRNIA, PORTA DE ENTRADA PARA O UFC
A decisão se mostrou acertada cedo. Wilson venceu suas sete primeiras lutas e, com menos de um ano de carreira, já conquistou o cinturão peso-galo do EliteXC, organização que chegou a rivalizar com o UFC e fez o primeiro evento de MMA a ser transmitido ao vivo no horário nobre em TV aberta nos EUA. Lá, conheceu Eric Del Fierro e Lloyd Irvin, treinadores da equipe Alliance MMA, de San Diego. Impressionados com seu jiu-jítsu, eles o recrutaram para ajudar nos treinamentos de Dominick Cruz, então campeão peso-galo do WEC, que defenderia o cinturão contra Joseph Benavidez e precisava de um parceiro de sparring da mesma altura. Wilson se encaixou como uma luva no camp.
- Quando você treina atletas, às vezes logo de cara você tem uma conexão e entende que ele tem muito potencial. Ele fez muita coisa apenas com suas habilidades naturais. Foi uma bênção ver isso, e sabíamos que podíamos torna-lo um lutador melhor aqui em San Diego. Queríamos dar uma chance a ele - conta Del Fierro.
Dominick Cruz e Wilson Reis no set do The Ultimate Fighter (Foto: Divulgação)Dominick Cruz e Wilson Reis no set do The Ultimate Fighter 15: primeiro contato com o UFC (Foto: Divulgação)
A partir daí, Wilson passou a se dividir entre a Filadélfia, sua base, e San Diego, para onde rumava sempre que Cruz tinha uma luta em vista. Quando o EliteXC fechou as portas, em 2008, o mineiro assinou com o Bellator, onde foi eliminado nas semifinais do GP peso-pena duas vezes, ambas por Patrício Pitbull. Reis desceu para os galos, onde foi derrotado por Dudu Dantas na última luta de seu contrato. Logo depois disso, em 2012, Dominick foi chamado para ser treinador do reality show The Ultimate Fighter, e convocou Wilson para ser o instrutor de jiu-jítsu de sua equipe. Foi o primeiro contato do brasileiro com o UFC e seu presidente, Dana White. Ali, recebeu feedback positivo, que alimentou seu sonho de chegar ao Ultimate. Ele recusou a oferta de renovação do Bellator e passou a fazer lutas casadas, buscando uma série de vitórias que convencesse o matchmaker Sean Shelby a contratá-lo.
Wilson venceu suas quatro lutas seguintes. A última delas foi em Glasgow, na Escócia, pelo Cage Warriors 50, em dezembro de 2012. A curiosidade: seu adversário era Owen Roddy, companheiro de equipe e treinador de trocação de Conor McGregor, que estava no seu córner e, na época, ainda não estava no UFC, mas já era um dos principais nomes do evento europeu. O brasileiro dominou, venceu por finalização e causou a primeira derrota da carreira do irlandês, que se aposentou do MMA em seguida. O feito foi o bastante para que o UFC o telefonasse e oferecesse um contrato. Wilson aceitou sem pestanejar, mas, com o novo emprego, ele viu também a necessidade de um treinamento mais dedicado, o que significava dar adeus à Filadélfia e se mudar de vez para a Califórnia.
- Eu lembro do dia que ele recebeu a ligação do UFC. Ele veio na minha casa, tomamos uma cerveja, e ele disse, "Pela minha carreira, preciso me mudar para San Diego". Fiquei muito feliz por ele, porque amigos de verdade não se preocupam em perder o amigo pela carreira. Esse é seu sonho, sua paixão, e eu não podia tentar segura-lo. Na nossa academia, temos 20 faixas-pretas, muitos professores para substituí-lo. Eu estava mais triste que estava perdendo um dos meus melhores amigos e não o viria todos os dias. Mas dei muito apoio, nunca tive raiva ou inveja, era algo que ele precisava para ajeitar sua carreira - rememora Weiner.
ORGULHO DA FAMÍLIA
Oito lutas depois, e após descer de categoria para o peso-mosca, Wilson Reis está disputando o cinturão. Roberto Godói estará no córner, Jared Weiner estará na plateia. No Brasil, vai haver três reuniões para assistir ao momento histórico: em São Paulo, onde um grupo de tios e primos vão se juntar numa chácara para um churrasco; em Monte Verde-MG, onde os irmãos Wagner e Dilson Jr. moram e Wilson deu suas primeiras aulas de jiu-jítsu; e em Bonito de Minas-MG, onde moram seus pais, e onde cada luta sua é um acontecimento. Dilson e Elina voltaram para a cidade no norte do estado em 2015, graças ao filho pródigo.
- Minha mãe toma remédio controlado e não pode trabalhar direito, meu pai também trabalhava num haras, os cavalos ficavam na mão dele, aí deu um negócio no nervo, foi fazer um tratamento em São Paulo, mas a mão não ficou boa. O que o Wilson falou: "Tem uma casa nossa no Norte? Vocês querem voltar pra lá? Podem voltar pra lá." Graças ao Wilson, eles voltaram para lá. É roça, o custo de vida é bem barato, e como a gente já tem a casa construída, um terreno, meus pais foram morar lá depois que o Wilson lutou em Goiânia, em 2015. O Wilson deu uma reformada na casa, colocou portão, trocou o telhado da casa... O moleque é sem palavras - conta Wagner, que também foi muito ajudado pelo irmão mais velho, seu ídolo pessoal.
Wilson Reis, Wagner Reis, Dilson Reis Jr. (Foto: Arquivo pessoal)Wilson Reis (centro) posa com os irmãos DIlson Jr. (esq.) e Wagner após conquistar título do EliteXC (Foto: Arquivo pessoal)
- Ele sempre perguntava o que eu queria. Como a gente se afastou, tem 10 anos que ele foi para os EUA e não tínhamos essa convivência, foi o jeito que ele achou. Ele deu um Palio para o meu pai na época. Graças a ele, nossa vida mudou da água para o vinho. Da família inteira. Hoje ele é um ídolo para os tios, para os primos. Em Januária, ele é querido pra caramba. Eu particularmente tenho ele como um pai. Ele estava longe, em outro país, mas era pelo bem da gente. Ele sempre estava muito preocupado comigo, eu fiquei meio abalado por não ter conseguido ser jogador de futebol. Ele sempre perguntava por mim, e ficava uma hora e meia no telefone comigo, me aconselhava - lembra o caçula, que ajudou o irmão nos seus cortes de peso em lutas no Brasil e entrou no palco com ele na pesagem de seu combate em Jaraguá do Sul-SC. Em fevereiro, Wilson dedicou sua vitória sobre Yuta Sasaki a ele, que fazia aniversário na mesma semana.
Irmão gêmeo de Wilson, Dilson Jr. seguiu seus passos e virou competidor de jiu-jítsu. Ele chegou a morar nos EUA com o lutador de MMA, mas não se adaptou e acabou voltando para Minas, onde dá aulas da "arte suave" e de musculação. Da família, foi quem viu de mais perto a caminhada de Wilson ao cinturão.
- Por estar mais perto dele, estar de olho na batalha diária dele, nos percalços, para mim é um orgulho imenso. Eu sempre falava que ele ia chegar, confiava muito nele. Diferentemente do Wagner, eu convivi mais tempo com o Wilson, morei junto com ele nos EUA, a gente se encontrava quase todo dia, toda hora, a gente era muito confidente um do outro. É um orgulho imenso, embora não seja uma surpresa. Não fiquei deslumbrado com ele disputando o titulo, porque sempre soube que essa hora ia chegar. Estava só esperando a hora certa para a oportunidade chegar - diz Dilson Jr.
 "Vocês já viram filho de pobre chegar em algum lugar?" Eu pensava que não, que Deus colocou ele no caminho certo, então eu ajudava ele a fazer o que queria fazer. Passa um filme na minha cabeça, a vida do Wilson Reis é muito sofrida, cara. Tenho certeza que ele vai ganhar mais essa.
Dilson, pai de Wilson Reis
Em Bonito de Minas, Dilson pai vai beber muita cerveja para conseguir assistir à luta do filho ("Rapaz, é uma ansiedade muito grande, o coração vem na boca", confessa), e ver a confirmação de que ele estava certo ao ignorar os parentes que lhe aconselhavam a cobrar de Wilson que arrumasse um emprego e desistisse do esporte.
- Tudo que o Wilson precisava, eu fazia de tudo para ele conseguir. Nós éramos pobres, vivendo de aluguel num barraco apertado. No começo, minha família não acreditava na luta, na arte marcial, e falava para eu colocar meus filhos para trabalhar e me ajudar. "Vocês já viram filho de pobre chegar em algum lugar?" Eu pensava que não, que Deus colocou ele no caminho certo, então eu ajudava ele a fazer o que queria fazer. Passa um filme na minha cabeça, a vida do Wilson Reis é muito sofrida, cara. Tenho certeza que ele vai ganhar mais essa. O Demetrious é muito bom, mas o Demetrious Johnson não precisa mais (do título). É a 10ª defesa de cinturão, ele não precisa mais, nós é que precisamos, então acredito que Jesus vai estar conosco - decreta, com fé, o patriarca da família.
Combate transmite o UFC Kansas City ao vivo e com exclusividade neste sábado a partir de 16h50 (horário de Brasília). O Combate.com acompanha em Tempo Real, e exibe as duas primeiras lutas do card preliminar em vídeo ao vivo. Na sexta-feira, canal e site transmitem a pesagem cerimonial ao vivo às 18h55. Confira o card completo:
UFC Kansas City
15 de abril, em Kansas City (EUA)
CARD PRINCIPAL (a partir de 21h, horário de Brasília):
Peso-mosca: Demetrious Johnson x Wilson Reis
Peso-palha: Rose Namajunas x Michelle Waterson
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Robert Whittaker
Peso-pena: Jeremy Stephens x Renato Moicano
CARD PRELIMINAR (a partir de 17h30, horário de Brasília):
Peso-pesado: Alexander Volkov x Roy Nelson
Peso-galo: Patrick Williams x Tom Duquesnoy
Peso-leve: Bobby Green x Rashid Magomedov
Peso-mosca: Louis Smolka x Tim Elliott
Peso-meio-pesado: Devin Clark x Jake Collier
Peso-médio: Anthony Smith x Andrew Sanchez
Peso-galo: Aljamain Sterling x Augusto Tanquinho
Peso-meio-médio: Zak Cummings x Nathan Coy
Peso-galo: Ashlee-Evans Smith x Ketlen Vieira