Rivaldo, Ronaldo, R10... Vitinho vê fim da maldição olímpica: "Vamos ganhar"
Atacante
da seleção brasileira sub-21 e do CSKA acredita em grupo formado por
Gallo. Vida na Rússia, Botafogo e crise no futebol brasileiro são temas
da entrevista
Por Richard SouzaDoha, Catar
Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Neymar são jogadores que
Vitinho admira e viu tentarem, sem sucesso, conquistar o ouro olímpico para o
Brasil. Craques que, no caso dos três primeiros, já ganharam até Copa do Mundo,
mas não a tão sonhada medalha. Pois a vez de Vitinho tentar se aproxima. O
atacante do CSKA, da Rússia, faz parte da seleção brasileira sub-21 que Alexandre
Gallo prepara como base para os Jogos Rio 2016.
Em Doha, no Catar, a equipe realiza uma série de amistosos
que servem para testes e para buscar entrosamento. Vitinho foi titular na
vitória por 4 a 0 sobre o time sub-22 do Catar, na quarta-feira, e se diz muito
confiante no grupo. Se outras gerações talentosas não ganharam, é porque algo
bom pode estar guardado para a atual.
- A gente tem que levar nessa linha. Se não aconteceu, são
outros que vão conquistar essa medalha. Eles já conquistaram Mundial, então
essa inédita vai ter que ser por nós.
Vitinho é um dos destaques do time sub-21 do Brasil que está no Catar (Foto: Richard Souza)
A confiança do atacante, que tem 20 anos, está em alta.
Apesar de ter jogado pouco na última temporada, sua primeira pelo clube russo, está
pronto para dias melhores em sua equipe e na Seleção.
Em entrevista ao GloboEsporte.com, Vitinho também falou
sobre a pressão que espera em 2016 e defendeu o talento do jogador brasileiro.
Para ele, o fracasso do Brasil na Copa do Mundo e a derrota por 7 a 1 para a
Alemanha arranham, mas não tiram o prestígio do nosso futebol. A vida na Rússia
e a crise financeira do Botafogo, seu ex-clube, também foram temas da conversa.
Confira a íntegra da entrevista:
Falta pouco mais de um ano e meio para a Olimpíada no Rio. Queria
que chegasse logo para se garantir no time, para jogar?
Dois anos passam rápido, mas muita coisa acontece. Então,
quando tem essa oportunidade, tem que dar o máximo, mostrar que quer
participar, que quer estar nesse torneio, que é muito importante para o Brasil,
para nossa carreira, uma medalha que o Brasil ainda não conquistou. Ficamos
ansiosos, mas tem muita coisa para rolar ainda. Faremos o máximo para ganhar a
vaga, para estar mais próximo, conquistar o professor, e em 2016 poder atuar
pela Seleção.
Gallo e Vitinho em amistoso contra o Catar (Foto: Richard Souza)
O Gallo falou que está se formando um grupo forte, unido.
Agora estão sendo realizados esses amistosos aqui no Catar. Está sentindo que
este grupo está ganhando forma?
A gente meio que já se conhece, já atuamos contra, já joguei
com o Vinícius, com o Dória. Então a gente sabe a características de cada um.
Essa fase é para entrosamento, para entender o estilo de jogo que o Gallo quer.
Essa fase é para juntar, para mostrar como é o grupo, como vamos nos dar. A
gente se dá muito bem, estamos sempre sorrindo, descontraindo. Essa fase é
basicamente para isso.
Muito se falou que depois do que aconteceu com o Brasil na
Copa do Mundo em casa, e a próxima competição coincidentemente também será no
Brasil, que a pressão sobre vocês vai ser ainda maior. Além de nunca ter
conquistado o ouro olímpico, vai ser uma competição no Rio. É por aí? Espera isso?
Pressão sempre vai existir. Porque a gente também veste o
símbolo do Brasil, né? (bate com a mão direita sobre o escudo da Seleção na
camisa). É um país que, independentemente do que aconteceu, é muito respeitado pelos
adversários. O que aconteceu na Copa é algo que ninguém esperava, uma surpresa
para todos. A pressão vai existir, até por não ter essa medalha ainda. Todo
mundo tem que começar a se preparar, tem um tempo para saber se vai estar ou
não, mas todos têm que se preparar porque vai ser normal. Todos já passam
pressão nos clubes, ainda mais quem joga no Brasil. Tem que ver como algo
natural, jogar o futebol que o Brasil sempre jogou, alegre, divertido, com responsabilidade.
E não tentar levar essa pressão muito para si. Tem que ser natural isso.
Se formos campeões (olímpicos) vai
ser como uma renovação. O povo vai ficar mais feliz. Para esquecer um pouco (o fracasso na Copa), a
nossa vitória é fundamental.
Vitinho
É uma forma de apagar o que foi a Copa? Tem a ver?
Tem, lógico que tem. É porque o Brasil está há alguns anos sem
ganhar a Copa. Conquistou a Copa das Confederações (em 2013), mas por nunca ter
conquistado o ouro e passar por esse momento da Copa, se formos campeões vai
ser como uma renovação. O povo vai ficar mais feliz. Para esquecer um pouco, a
nossa vitória é fundamental.
Você saiu com 18 anos do Botafogo, vivia grande fase, mas
passou por um ano difícil no CSKA. Foram poucos jogos, só no último mês de agosto
fez seu primeiro gol. São novos ares? Está mais à vontade?
No início foi difícil pela fase que eu vivia no Botafogo,
jogando bem. Fui com o intuito de seguir jogando bem, só que são momentos
diferentes, foram etapas diferentes. Senti um pouco isso. Por estar jogando bem
(no Botafogo), isso me abateu muito no início. Hoje, mais ambientado com o
grupo, sei como acontece, está mais fácil. Me sinto mais à vontade para jogar.
O ano passado foi um ano de aprendizado, amadurecimento. Aprendi muita coisa
para o meu futebol que tinha dificuldade na Rússia. Está sendo um momento mais tranquilo
para mim. Tenho mais liberdade no jogo, me sinto mais à vontade. Antes, era
pressionado, com medo, com receio. Me sinto mais leve para jogar.
Como é sua vida lá? Quem mora com você? Quem te ajudou nesse
pior momento?
Como lá você tem um limite, tento levar minha esposa
(Thayane), minha filha (Manuela, de um ano), minha sogra, meu empresário. Agora
eles voltaram e vão meus amigos. No início, eu fiquei muito sozinho. Ficava eu
e meu motorista, eu e meu empresário. São muitos dias sozinho, você passa a
ficar triste, não conversa. Fica entediado. Agora, não. Estou levando minha
família, mais gente, meus amigos vão lá para casa. Tentei povoar para ter descontração,
ficar mais à vontade, sentir como se estivesse no Brasil. No tempo que passei
sozinho vi que não dava. É muito difícil ficar longe de todo mundo. E lá sozinho,
na época do frio, você não sai muito de casa, fica sem fazer nada, sem jogar.
Acaba pensando muita besteira. Foi um momento difícil, mas gora está sendo mais
tranquilo.
Que besteiras pensou?
Ah, eu estava bem (no Brasil). Então você pensa: caramba,
será que foi a escolha certa? Passa isso pela cabeça, ainda mais para quem é
jovem. Mas hoje tenho outro entendimento das coisas. Se passei aquilo, foi para
aprender. Valeu a pena o esforço.
Mas se arrependeu?
Não, não me arrependo. Porque tudo que tenho hoje, a
tranquilidade que posso dar para a minha família, para o meu pai, a escola do
meu irmão (Vagner, de 11 anos), foi graças ao CSKA. Sou grato por terem
acreditado no meu trabalho. Não me arrependo de nada que eu fiz.
Entre as besteiras, pensou em voltar ao Brasil?
No início a gente pensa em voltar porque a vida fora do
Brasil é complicada. Isso passa na cabeça de todos no início, aqueles que
saíram novos. Você pensa: o que estou fazendo aqui? É bom para o
amadurecimento, foi uma experiência boa para mim. Estou mais maduro.
Vitinho persegue Robben em jogo da última Liga dos Campeões da Europa (Foto: EFE)
Mas nem tudo foi ruim até aqui no CSKA. Você jogou a Liga
dos Campeões...
É um momento único, até pela idade. Sou novo. Saí novo do
Brasil e minha segunda partida na CSKA foi contra o Bayern de Munique, que era o
atual campeão. Era aquele encantamento, você fica olhando, não acredita no
início. Agora vou ter a chance de jogar novamente, contra eles de novo (risos).
É um momento único para todo jogador participar dessa competição. Junto com a Copa
do Mundo é o que tem de melhor para os jogadores.
Enquanto esperava para fazer a entrevista li que o Seedorf disse
certa vez que você tem talento para vender. Quando o cara passa por um momento
difícil como foi para você no CSKA, chega a duvidar do próprio talento?
Eu penso assim: se esses craques (Rivaldo, Ronaldo, R10) não ganharam, estão
deixando para a gente (risos). Não dava para eles ganharem tudo, tinham que
deixar para quem está chegando. É dessa forma que devemos pensar. Se não
ganharam até agora, é porque nós, que estamos chegando para ser a nova geração
da Seleção, vamos ganhar.
Vitinho
Não. Duvidar do meu talento eu nunca duvido. Acho que muitos
queriam ter. Agradeço pelo talento, por poder jogar futebol. Esse pensamento
não deve passar na cabeça de ninguém. É como se fosse um pecado. Jamais
pensaria isso.
Você falou do encantamento com a Liga dos Campeões. Você encantou
no Botafogo. Esse encanto passou ou só está escondido?
Nesse meu reinício, nesse ano que passou, começa tudo novo.
Estou tentando levar tudo que fazia para poder ser aquele mesmo Vitinho. Jogando,
alegre, divertido, que deu alegrias ao Botafogo jogando, ajudei bastante. Tento
fazer tudo que fiz com a mesma dedicação, com a mesma humildade para retomar
aquela fase.
Continua falando com o Seedorf? Tem contato com ele?
Depois que saí, mantive contato com a maioria, mas com ele
não tinha. Éramos muito amigos, mas quando saí não tive mais contato.
Em algum momento a postura dele em relação a você
atrapalhou? Aquela coisa de dizer que te protegia, de tirar de entrevistas...
Não. É que quando a gente está bem, todo mundo comenta e
tal. Sempre falam alguma coisa. Muitos jogadores se perdem, acham que já
conquistaram tudo. Nunca tive esse pensamento, e ele me tirando desses momentos
foi meio que proteção. Mas tinha na cabeça o que fazer, as coisas certas.
Pensava que ali era só o começo. Aquilo era para ele mostrar que estava junto.
Ele sempre foi assim em todos os momentos lá. E para mim foi bacana, gostei do
que ele fez, não me atrapalhou em momento nenhum. Sempre tive uma boa relação
com ele.
Com Seedorf em treino do Botafogo (Foto: Alexandre Cassiano/Agência Globo)
Tem acompanhando o momento financeiro crítico do Botafogo?
O Botafogo sempre teve esse problema financeiro, desde a
época em que eu jogava lá. As pessoas que assumem o clube não têm culpa do que
acontece, são dívidas antigas, de outros comandos. Mas os jogadores têm esse
pensamento até certo ponto. Quando chega a atingir a parte financeira, fica
difícil para os dois, e aí é complicado. Estava acompanhando. Conseguia ver os
jogos no fim de semana, porque costumam ser mais cedo. Esse momento do Botafogo
não é de agora. É difícil falar porque só quem é jogador e está ali sabe como
é. O Botafogo, desde a época em que eu estava, nunca tirou o pé por causa dos
problemas financeiros. Mas chega uma que os jogadores já não têm mais
paciência, fica difícil para a direção e os jogadores.
Depois do 7 a 1 na Copa, começou a se falar que o talento do
jogador brasileiro acabou, que a base não forma bem. Para um cara que é
talentoso, que é de habilidade, como é ouvir isso? Concorda?
Quando esse tipo de coisa acontece alguém sempre tem que
falar alguma coisa. E acabam dando opiniões que não têm lógica. Acho que não
tem nada a ver. As coisas não acontecem por acaso. Se o Brasil teve de perder
daquele jeito, é para poder melhorar, para poder aprender, recomeçar a
formação. Lá na Rússia todos os caras que jogam comigo querem ser brasileiros. Quando
a gente brinca de altinha, dizem que são brasileiros. Todo mundo fala isso.
Você vê que o que aconteceu tinha que acontecer para poder reformular. E isso
não foi só com o Brasil. A Espanha foi eliminada na primeira fase da Copa do
Mundo. O Barcelona era o melhor time. Isso é de momento, todos passam por
momento difícil. Não vai ser só com o Brasil. Temos de ver dessa forma. Se os
brasileiros pensarem assim, que o talento acabou, fica difícil. A gente que é
jogador nunca vai pensar. Vamos pensar em vencer, em botar nossa bandeira na
parte mais alta da tabela.
O jogador brasileiro
sempre vai ter esse encanto. Não adianta. É essa alegria de jogar futebol que mostrou
na época do Pelé, do Ronaldo, do Rivaldo, Ronaldinho. Se pegar o talento, se quer falar de talento, vai
procurar o Brasil em primeiro lugar para falar de talento. O talento do Brasil
nunca vai morrer.
Vitinho
Jogador brasileiro ainda é o mais talentoso? É o mais
especial?
Se você pegar na lista dos melhores do mundo, né? O número
de brasileiros é maior do que de qualquer outro país. Então o jogador brasileiro
sempre vai ter esse encanto. Não adianta. É essa alegria de jogar futebol que mostrou
na época do Pelé, do Ronaldo, do Rivaldo, Ronaldinho. Se pegar o talento, se quer falar de talento, vai
procurar o Brasil em primeiro lugar para falar de talento. O talento do Brasil
nunca vai morrer.
Você citou Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho. São caras que já
jogaram os Jogos Olímpicos e não conseguiram ganhar. Você, como torcedor,
admirador desses jogadores, fica se perguntando como eles não conseguiram
ganhar o ouro olímpico, já que são tão talentosos. E a cada quatro anos persiste essa busca pela
medalha inédita.
Eu penso assim: se esses craques não ganharam, estão
deixando para a gente (risos). Não dava para eles ganharem tudo, tinham que
deixar para quem está chegando. É dessa forma que devemos pensar. Se não
ganharam até agora, é porque nós, que estamos chegando para ser a nova geração
da Seleção, vamos ganhar. A gente tem que levar nessa linha. Se não aconteceu,
são outros que vão conquistar essa medalha. Eles já conquistaram Mundial, então
essa inédita vai ter que ser por nós.