Lembra dele? Agora como treinador, ex-vascaíno Luisinho conquista a A3
Volante revelado pelo Fogão e que venceu tudo com a
camisa do Vasco, Luisinho Quintanilha leva Rio Branco a título inédito e
sonha com mais
Por Murilo Borges e Heitor Esmeriz
Americana, SP
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Os olhos de quem já viu de perto a Taça Libertadores da América e foi
testemunha ocular de uma das maiores viradas da história do futebol
brasileiro. Os gestos de quem sabe bem o caminho para se quebrar um tabu
de 21 anos sem títulos. Discurso de liderança, tão fundamental para
vencer dois Brasileiros ou um tricampeonato estadual que nunca antes
fora conquistado. De quebra, cabelos brancos que lhe credenciam à
passagem de ex-jogador para treinador. Basta pouco mais de uma hora de
conversa para perceber que os pés de Luís Carlos Quintanilha seguem tão
quentes como se ainda calçasse chuteiras.
Carioca revelado nas categorias de base do Botafogo, Luisinho foi um
volante que passou a vida inteira rodeado por troféus. Em General
Severiano, ajudou o clube a quebrar o jejum de títulos no fim dos anos
80. De casa nova, viveu o auge da carreira no Vasco, camisa que vestiu
entre 1991 e 2000 e lhe deu todos os títulos possíveis. Jogou também por
Celta de Vigo, Corinthians e Seleção Brasileira. Hoje, o quase
cinquentão Luisinho segue espalhando sua fama de pé-quente. Em seu
primeiro trabalho como treinador, levantou a Série A3 do Campeonato
Paulista, quebrando o jejum de 98 anos do Rio Branco sem títulos.
Luisinho Quintanilha fala sobre o sucesso na carreira profissional (Foto: Heitor Esmeriz / Globoesporte.com)
– Pode dizer que sou positivo. Demorei a ganhar os títulos. Comecei a
carreira no Botafogo, ganhei um torneio nos juniores, mas o clube vivia
aquele jejum. Pensava em ganhar um título pelo Botafogo, e conseguimos
em 1989, contra o Flamengo. Depois, veio o bicampeonato em 1990. No ano
seguinte, eu fui para o Vasco, e daí veio uma sequência. É aquela coisa
do pé-quente, da sorte. Estava em uma grande equipe, mas também me
preparei – disse o agora técnico ao GLOBOESPORTE.COM.
Mas esta fama de sortudo nem sempre acompanhou Luisinho. Volante de bom
poder de marcação, virou profissional em 1982, um daqueles anos de
jejum do Botafogo. As temporadas passavam e nada de o tabu acabar. Coube
a Maurício encerrar com esta sina de maus resultados. Com gol do
atacante, o Bota fez 1 a 0 no Flamengo e levantou o Campeonato Carioca
de 1989, a primeira taça do time alvinegro em 21 anos. Na temporada
seguinte, veio o bicampeonato, desta vez em cima do Vasco. Esta partida,
aliás, seria uma das últimas do meio-campista com a camisa
botafoguense. Apesar de o coração de torcedor continuar em General
Severiano, seu futuro seria para sempre ligado a outro alvinegro.
Colecionador de títulos no Vasco
Contratado
para reforçar a marcação do meio-campo do Vasco, Luisinho precisou de
poucos jogos para conquistar o coração da torcida e ter a certeza que a
mudança de clube foi acertada. No primeiro duelo contra o Botafogo, pela
14ª rodada do Campeonato Brasileiro, o volante foi um dos principais
destaques da vitória por 3 a 0. Sorato e Bebeto marcaram os gols da
vitória, mas Luisinho viveu um momento único.
– No final do jogo, embaixo do setor em que a torcida do Botafogo
ficava no Maracanã, tomei uma bola na lateral, limpei o Renato Gaúcho e
passei pelo Paulo Roberto. As duas torcidas gritaram o meu nome. Tenho
um carinho especial pelos dois times. Sou botafoguense, o clube é a
minha casa, até porque cheguei com 13 anos de idade. E o Vasco foi
criando uma identificação pelo tempo. Foram dez anos muito vencedores.
Desde que eu cheguei ao Vasco, em 1991, até a aposentadoria, em 2000,
vesti a camisa do clube em todos os anos, mesmo jogando por Celta e
Corinthians.
A identificação não é só por tempo de casa, mas também por título. Se
passou em branco na primeira temporada, Luisinho participou da conquista
do primeiro tricampeonato carioca da história do Vasco, entre 1992 e
1994. De volta após passagens relâmpagos por Celta e Corinthians, o
volante ainda levantou seis troféus como jogador do Gigante da Colina:
Brasileiros de 1997 e 2000, Carioca de 1998, Libertadores de 1998,
Rio-São Paulo de 1999 e Mercosul de 2000. Destes, o mais especial é o
Brasileirão de 1997, vencido em cima do Palmeiras.
– Estava com 32 anos e pensei: é a minha chance. Era um time
fantástico: Juninho, Pedrinho, Felipe, Edmundo, Evair, Mauro Galvão.
Queria é fazer meu papel no meio-campo e botar a faixa de campeão. O
elenco era muito forte. Tinha Válber, Vágner e Carlos Germano também –
recorda Luisinho, que ainda se lembra do temperamento intempestivo de
Edmundo, que terminou o torneio como artilheiro, com 29 gols.
– Meu relacionamento com o Edmundo é maravilhoso até hoje, mas em 97
tivemos um processo difícil dentro do grupo do Vasco. Chegou um momento
em que o chamei para tomar um chope comigo e o Mauricinho (atacante).
Ele estava mais agitado do que o normal, e ajudamos a focar de novo.
Disse que ele seria o artilheiro do Brasileiro, e foi mesmo.
Luisinho disputou oito jogos e marcou um gol pelo
Brasil (Foto: Heitor Esmeriz / Globoesporte.com)
Experiências rápidas por Celta, Corinthians e Seleção
O casamento de Luisinho com o Vasco só deu tempo em dois semestres.
Primeiro, em 1993, quando o volante foi contratado pelo Celta de Vigo e
jogou alguns meses na Espanha. Não se adaptou, mas pelo que considera
pensamento pequeno de seus companheiros. Também não teve sucesso nos
meses que vestiu a camisa do Corinthians e disputou o Campeonato
Brasileiro de 1994.
– Na concentração, os jogadores brincavam com os resultados. Uma vez a
gente enfrentou o Valencia e ficaram falando: "E aí, vamos perder de
quanto hoje?". Aquilo me deixava irritado demais, não engolia aquilo.
Tanto que fiquei alguns meses e voltei para o Brasil para disputar o
tricampeonato carioca pelo Vasco. Depois tive a chance de voltar para a
Espanha, mas surgiu uma oportunidade no Corinthians. A adaptação foi
difícil, mas chegamos à final do Brasileiro, contra aquele time
fantástico do Palmeiras. Chegamos, fomos vice-campeões, mas quis voltar
ao Rio.
A passagem pelo Celta, aliás, foi o que causou o fim do ciclo de
Luisinho na Seleção Brasileira. Foi convocado pela primeira vez em
setembro de 1992 e estreou em uma vitória por 4 a 2 sobre a Costa Rica.
Titular na US Cup, marcou um gol no empate por 3 a 3 com a Alemanha, mas
se despediu na semifinal da Copa América de 1993, com a derrota para a
Argentina nos pênaltis.
– Troquei o Vasco, que sempre brigava por títulos, por um time que
disputava para não cair no Espanhol e longe da visão do Parreira. Logo
depois, saiu a convocação para as Eliminatórias de 1994 e eu não estava.
Mas não tenho mágoa. Abriram espaço para outros jogadores que não eram
convocados, como o Mazinho. No fim foi legal participar de um grupo com
Raí, Careca, Branco, Jorginho e outros.
Juninho Pernambucano foi cliente de Luisinho
(Foto: Marcelo Sadio / Site Oficial do Vasco)
Despedida com título e carreira rápida como agente
O
encerramento da carreira profissional foi até forçado. Em 1999,
Luisinho passou por três cirurgias no tornozelo e atrasou seu retorno ao
Vasco em um ano. Só voltou a ficar à disposição de Oswaldo de Oliveira,
então treinador do clube, na metade de 2000. Não houve tempo para
brigar pela vaga de titular, mas pelo menos conseguiu levantar as duas
últimas taças da carreira.
– Participava daquele grupo, mas não jogava mais. Era um time muito
forte, difícil de se recuperar a posição. Pelo menos encerrei com dois
títulos. No jogo final com o Palmeiras, pela Mercosul, nem fiquei no
banco. Depois, teve a final da Copa João Havelange, que só aconteceu em
janeiro por causa da queda de São Januário. Voltamos a treinar depois do
Natal só para aquele jogo. Deu certo. A sorte bateu na porta.
O hiato entre a aposentadoria como jogador e o início da nova carreira
durou um mês. Acostumado a defender o Vasco, Luisinho teve que lutar
contra aquele time que o acolhera nos últimos dez anos.
– Fiz prova na Fifa para ser agente e iniciei logo com o processo do
Juninho Pernambucano, que queria sair do Vasco para jogar no Lyon.
Fiquei chateado com o Eurico Miranda, por uma conversa ruim que tivemos,
e daí entrei com ainda mais vontade de vencer aquele caso. No fim,
fizemos um acordo, mas tínhamos que ser firmes.
Após sucesso em campo, Luisinho sonha com glórias no banco (Foto: Heitor Esmeriz / Globoesporte.com)
Nova etapa, agora como professor
A vitória como agente e os clientes famosos (além de Juninho, trabalhou
com Pedrinho e Odvan) não iludiram Luisinho. Havia uma voz dentro de si
que lamentava a distância do gramado. Depois de sete anos, o ex-volante
ouviu os apelos interiores e formou-se como treinador de futebol no Rio
de Janeiro. Após estágios com Vanderlei Luxemburgo, Ricardo Gomes, PC
Gusmão, Oswaldo de Oliveira e Antônio Lopes, recebeu a primeira
oportunidade: o time júnior do Nova Iguaçu.
No meu primeiro jogo pelo Vasco contra o Botafogo, ganhamos por 3 a 0.
No final do jogo, embaixo do setor que a torcida do Botafogo ficava no
Maracanã, tomei uma bola na lateral, limpei o Renato Gaúcho e passei
pelo Paulo Roberto. As duas torcidas gritaram o meu nome. Tenho um
carinho especial pelos dois times"
Luisinho
– O Zinho me ligou e fez o convite. Na minha cabeça, eu queria o
profissional, até por ver os caras que jogaram comigo, como o Jorginho,
treinando time de cima. Mas aceitei e comecei o trabalho em julho do ano
passado. A garotada ganhou a Taça Guanabara neste ano, mas eu saí uma
semana antes, porque queria mais.
O algo a mais veio em forma de experiência no início de 2012. A saída
de Cilinho fez Luisinho abraçar o projeto do Rio Branco, que tentava se
levantar após anos de insucessos. A equação foi perfeita: a soma de um
técnico sonhador e um time em busca de glórias passadas resultou em uma
campanha quase perfeita. Com 13 vitórias, cinco empates e apenas três
derrotas com o novo treinador, o Tigre conquistou a Série A3 do Paulista
e, além de levantar a primeira taça de sua história, voltou a sonhar
disputar a elite do Paulistão em 2014, quando completa 100 anos.
– Lembro que cheguei numa quinta, conquistamos a primeira vitória no
sábado e já treinamos de novo no domingo. As coisas foram acontecendo
naturalmente. No jogo final, a energia era tão positiva que os
torcedores vieram nos buscar aqui na concentração duas horas antes do
jogo. Foi uma campanha brilhante.
Sem saber se permanecerá no Rio Branco, Luisinho sonha com voos
maiores. Se foi pé-quente para acabar com um jejum de 21 anos no
Botafogo, participar do primeiro tricampeonato carioca do Vasco e ajudar
o clube a vencer sua única Libertadores, o sucesso é o mínimo que
espera.
Luisinho passará alguns dias no Rio antes de decidir o futuro (Foto: Heitor Esmeriz / Globoesporte.com)