Era o jogo mais esperado deste Campeonato Brasileiro. O Atlético-MG de
Cuca, vice-líder, sob a batuta em campo de Ronaldinho Gaúcho, tentava em
casa, no estádio Independência, diminuir a vantagem de nove pontos do
líder, o Fluminense de Abel Braga e do artilheiro Fred, o time da moda
da competição. E foi uma "final" daquelas, com todos os ingredientes de
jogão. Polêmica de arbitragem, após o gol de falta anulado de Ronaldinho
Gaúcho. Inesperada vantagem no placar para o Flu, totalmente dominado
mas contando com o oportunismo de Wellington Nem. Virada do Galo com
atuação brilhante do trio Ronaldinho-Bernard-Jô, este último autor dos
dois gols. Brilho, especialmente, do goleiro Diego Cavalieri e de Fred,
que empatou a partida no seu centésimo gol com a camisa tricolor. E,
mais uma vez, a presença de um craque para decidir. R49, decisivo em
dois dos três gols, centrou na medida para o zagueiro Leonardo Silva dar
a vitória por 3 a 2 aos 47 minutos do segundo tempo.
A vitória emocionante diante de 20.096 pagantes - que proporcionaram
renda de R$ 736. 265 - foi fundamental para o Galo, agora com 63 pontos,
se manter na luta pelo seu segundo título brasileiro. Neste domingo,
não há torcedor do Atlético que não esteja comemorando como se fosse um
título, apesar dos seis pontos de desvantagem para o líder. Mas o
triunfo é daqueles que dão mais moral para as rodadas seguintes. O time
volta a campo na quarta-feira dia 31, quando enfrentará, também no
estádio Independência, outro grande rival, o Flamengo. A sequência do
Galo será, após o duelo com a equipe rubro-negra, Coritiba (F), Vasco
(F), Atlético-GO (C), Botafogo (F) e o clássico contra o maior rival, o
Cruzeiro, no último confronto da competição, no Independência. Os
jogadores não esconderam a emoção após o duelo com o Flu.
- Fica até difícil encontrar palavras. Não merecíamos sair daqui com
outro resultado. Jogamos muito bem, impusemos o ritmo. Poderíamos até
ter vencido por mais gols. Deus me iluminou. Vi que tinha uma
oportunidade. Fui para a área, com o ótimo passe do Ronaldinho, e tive
sorte de fazer o gol - afirmou o zagueiro Leonardo Silva, herói da
partida e, curiosamente, um dos protagonistas da polêmica no lance do
gol de falta anulado de Ronaldinho. Foi o zagueiro que, segundo o
árbitro Jaílson Macedo Freitas, empurrou a barreira tricolor na
cobrança.
Ao time tricolor, que se manteve-se com 69 pontos, resta recuperar o
bom futebol e manter a vantagem. Na próxima rodada, a 33ª, o líder do
campeonato receberá o Coritiba, quinta-feira, no Engenhão. Nas rodadas
seguintes, terá pela frente o São Paulo (F), o Palmeiras (F), o Cruzeiro
(C), o Sport (F) e o Vasco, no Engenhão, na última rodada. Sobre a
derrota, o técnico Abel reconheceu a superioridade da equipe mineira e
não poupou críticas à sua equipe.
- Falei com meus jogadores no intervalo que estávamos jogando um
futebol de quem ocupa o meio da tabela e não de quem é o líder. Isso é o
que não pode se repetir. Eles poderiam ter matado o jogo. Igualamos na
etapa final, fizemos dois gols, mas no último lance apareceu a
genialidade - disse, referindo-se ao passe de Ronaldinho.
Bernard
(de costas), Jô (de frente) e Ronaldinho: trio se destaca na vitória
por 3 a 2 sobre o Fluminense, no estádio Independência (Foto: Bruno
Cantini / Flickr do Atlético-MG)
Domínio do Galo
Réver era dúvida. Mas estava em campo. Bernard também era problema. Mas
estava em campo. O Galo entrou quase completo. O Flu tinha Diguinho no
lugar de Jean, suspenso. E a partida começou numa velocidade digna do
que vêm apresentando os times no campeonato. Os dois correndo com dentes
trincados. Com forte marcação na defesa e rapidez do meio-campo para o
ataque, o Galo, que precisava muito mais da vitória, tratou de tomar a
iniciativa na "rinha" do Independência.
Acabou superior em toda a primeira etapa. A forte marcação sobre Deco e
Thiago Neves surtiu efeito. Com os dois meias bem marcados, foram raros
os momentos em que Fred e Wellington Nem dominaram em condições de
puxar o contra-ataque. Ainda por cima, o Galo aproveitava o meio-campo
bem posicionado para fazer a bola chegar mais rápido ao ataque.
A senha do técnico Cuca era explorar o lado esquerdo, que tinha na
dupla Ronaldinho-Bernard velocidade e inspiração. Nos 10 primeiros
minutos, foram duas boas chances. O torcedor atleticano ficou no quase.
Primeiro, Leandro Donizete partiu de trás e tabelou com Ronaldinho.
Recebeu na medida, matou no peito e bateu pelo alto, rente ao travessão.
Depois, Bernard arrancou e centrou para Jô emendar. Foi a primeira boa
defesa de Diego Cavalieri, que deu um tapinha para escanteio.
jogo movimentado
|
CAM |
FLU |
TOTAL |
MÉDIA* |
GOLS |
3 |
2 |
5 |
2.5 |
FINALIZAÇÕES |
27 |
4 |
31 |
23.9 |
DEFESA DIFÍCIL |
0 |
4 |
4 |
3.2 |
*média parcial do campeonato até 21/10/2012 |
Na tentativa de conter o ímpeto atleticano. o Flu tratou logo de botar
mais a bola no chão. E tinha jogador de sobra pra isso. Mas Thiago Neves
era bem contido do lado direito. Deco, sempre que recebia, tinha ora
Pierre ora Leandro Donizete e até Guilherme em sua cola. A tentativa de
avançar com Carlinhos pela esquerda tinha bloqueio eficiente de Marcos
Rocha. Ou seja: o contra-ataque tricolor não funcionava.
Gol anulado
Com 15 minutos, Guilherme desperdiçava para fora a terceira
oportunidade do Galo. Mas nada, absolutamente nada, irritou mais o
torcedor atleticano do que o lance mais discutido da partida, que
promete ser assunto de mesa de bar durante toda a semana. Aos 20
minutos, Ronaldinho Gaúcho, que já voava na partida, ajeitou a bola para
cobrar falta pelo lado esquerdo do ataque. No minuto seguinte, a
cobrança foi impecável, à direita de Diego Cavalieri, sem defesa. Mas
nada valeu: o árbitro Jailson Macedo Freitas anulou o lance. Para ele, o
zagueiro Leonardo Silva empurrou a barreira tricolor.
A partir daí, os gritos de "Vergonha!" tomaram conta do Independência -
antes da partida, um protesto dos torcedores atleticanos contra as
últimas arbitragens já fora contido pela PM. Reclamações à parte, a bola
continuou rolando, e o Galo manteve a superioridade.
Gum e Digão tinham, como há muito não se via, excessivo trabalho na
defesa. Com o lateral Bruno completamente dominado pelo lado direito,
Bernard e Ronaldinho tramavam bem as jogadas. Jõ fazia bem o papel de
pivô. Em outro bom lance, Bernard recebeu pela esquerda e bateu
rasteiro. Cavalieri salvou em outra grande defesa. No rebote, Jô
cabeceou, mas Gum mergulhou para tirar a bola da área.
Cavalieri e trave
Àquela altura, Diguinho tentava conter Ronaldinho, mas em vão. O craque
atleticano exibia o seu melhor repertório: deu elástico, depois drible,
e deixou o marcador no chão. O Flu tentava responder. Na única jogada
perigosa no primeiro tempo, Wellington Nem chegou a tirar da jogada o
goleiro Victor, mas perdeu o ângulo e desperdiçou o lance.
O Galo insistia. Mas a estrela do goleiro Diego Cavalieri seguia a
brilhar. Primeiro, fez outra grande defesa em tiro de Marcos Rocha, pela
direita. Depois, recebeu a boa e velha ajuda da trave. Ora no chute de
Bernard que ainda defendeu, ora no de Jô, resvalado em Gum. Isso aos 44 e
45 minutos. O único tiro a gol da equipe tricolor foi uma falta para
fora de Thiago Neves, já nos acréscimos, sem perigo. A sorte acompanhava
o grande goleiro e o time tricolor, que saiu no lucro com o 0 a 0 dos
primeiros 45 minutos.
Réver e Fred: duelo emocionante no Engenhão (Foto: Nelson Perez / Flickr do Fluminense)
Gols e emoção
O segundo tempo do até então empate sem gols que tinha nas finalizações
o incrível placar de 17 chutes do Galo contra apenas um dos tricolores
lembrava, no décimo minuto, a boa e velha lição do futebol. A de que
para vencer não bastava ser o melhor, e sim aproveitar bem a chance Foi o
que fez o Fluminense. Na segunda bola para o gol atleticano, não
perdoou. O contra-ataque tricolor, enfim, funcionou. Bruno iniciou a
jogada pela direita. Mas o grande garçom foi Fred. Rolou na medida para o
sempre veloz Wellington Nem, que bateu de canhota: 1 a 0 Fluminense.
O gol foi uma ducha para o Galo e sua torcida. Mas o time não desistiu.
Nem depois de outra bola na trave, de Leandro Donizete, de fora da
área. Já com Neto Berola, bem mais veloz, no lugar de Guilherme, buscou e
conseguiu o empate. E foi numa arrancada de Ronaldinho. Pelo meio, ele
tocou para Jô desferir o chute inapelável, sem defesa para Cavalieri,
aos 23 minutos: o estádio Independência até tremeu.
Abel Braga sabia que precisava mexer. Tirou Thiago Neves e Deco,
apagados, e botou Rafael Sóbis e Vágner. Mas nem isso adiantou. O dia
parecia do trio Ronaldinho-Bernard-Jô. E foi exatamente nessa ordem que
nasceu e morreu na rede tricolor o gol da virada atleticana. Sempre pelo
lado esquerdo de ataque. R49 tocou para Bernard, que arrancou e centrou
na medida para Jõ, de cabeça, escorar sem defesa para Cavalieri, aos 36
minutos
A vibração do Galo durou pouco. Quatro minutos depois, Carlinhos
conseguiu sua primeira boa jogada pela esquerda. o centro foi parar nos
pés de quem não perde. Fred mandou para as redes pela centésima vez com a
camisa tricolor. E parecia deixar o Flu mais perto do tetra.
Mas o Galo tinha Ronaldinho em estado de graça. Aos 47, ele centrou na
área como se fosse com a mão. Na medida para a cabeçada certeira de
Leonardo Silva, que antes já tentara o gol em uma arrancada. O torcedor
do Galo parecia não acreditar. Saiu do Independência cheio de esperança.
Mas o Flu continua com boa vantagem. O Brasilleirão promete muito mais
emoção nas seis rodadas finais.