Galo dá aula de talento e dedicação ao São Paulo, e segue na Libertadores
Contra um Tricolor apático, Galo
humilha - faz 4 a 1, com show de dribles de Ronaldinho, e agora espera
por Palmeiras ou Tijuana nas quartas
A CRÔNICA
por
Alexandre Lozetti
166 comentários
Um dia o Atlético-MG vai perder no Independência. Um dia... Esse dia
não chegou, e parece longe de chegar. O Galo encontrou no Horto seu
refúgio, seu porto seguro, estádio de onde emana energia inexplicável
que torna o Galo mais forte, e mais vingador. E quem caiu lá dessa vez
foi o São Paulo. Caiu no Morumbi, na verdade, quando perdeu um jogo que
tinha sob domínio. Não conseguiu se levantar, e foi massacrado.
Como se fosse Usain Bolt contra uma tartaruga, o Atlético-MG ignorou a
existência do São Paulo. A vitória atleticana por 4 a 1 (6 a 2 na soma
dos jogos) confirma a campanha avassaladora, a invencibilidade de 33
jogos em seu doce lar, e o favoritismo nas quartas de final, seja contra
Palmeiras, seja contra Tijuana. O rival será conhecido no próximo dia
14, e o Verdão precisa de uma vitória no Pacaembu para ser mais um
paulista entre o sonho do Galo e a taça da Libertadores. Sonho mais do
que real.
Ronaldinho e Jô: pura diversão diante de um adversário apático (Foto: AFP)
São sete vitórias em oito jogos. Números que passam pela segurança de
Victor e dos gigantes Réver e Leonardo Silva, substituído por Gilberto
Silva neste jogo; o equilíbrio de Marcos Rocha e Richarlyson; a marcação
ferrenha de Pierre e Leandro Donizete; o talento de Ronaldinho,
Bernard, Jô e Diego Tardelli. Pelo trabalho de Cuca, que também superou o
trauma pessoal de ser favorito, ter sempre tudo nas mãos, e morrer na
praia. Mais um massacre marcado por inspiração e transpiração, receita
infalível de sucesso.
O São Paulo está eliminado. Paga pela demora de seu técnico em
encontrar a melhor formação, pela ineficiência da diretoria em achar um
substituto para Lucas, por atitudes intempestivas de alguns de seus
jogadores mais experientes, como Luis Fabiano e Lúcio, e até por certa
dose de azar na fase de grupos. E mesmo com tudo isso, tem bom time e
pode ser protagonista no Campeonato Brasileiro. Tempo para se preparar é
o que não falta. O Tricolor só voltará a campo no dia 26 de maio,
contra a Ponte Preta, já pela competição nacional.
Já o Galo terá o tradicional duelo com o Cruzeiro pela final do
Campeonato Mineiro. Neste domingo o primeiro jogo. Na semana seguinte,
assistirá de camarote ao jogo entre Palmeiras e Tijuana. Contra qualquer
adversário, por ter a melhor campanha, fará o primeiro jogo das quartas
de final fora de casa para decidir no Independência.
Ganso foi bem marcado por Leando Donizete (Foto: AP)
Vamos jogar videogame, São Paulo?
Sabe quando você chega em casa irritado e chama seu irmão mais novo
para jogar futebol no videogame, só para relaxar os músculos? Foi mais
ou menos assim que o Atlético-MG tratou o São Paulo no primeiro tempo.
Para dar um simples passe lateral, os visitantes até suavam e mordiam a
língua, tal qual a criança em frente à televisão. Já o Galo fazia de
tudo com a maior naturalidade. Passes, dribles, chutes, desarmes....e
gol.
Com menos de 20 segundos, Jô chutou por cima. Com dois minutos,
Ronaldinho bateu falta no travessão de Rogério Ceni. Não é tempo de
videogame, não. É tempo real, mesmo. Tempo que castigava os
são-paulinos, que precisavam de dois gols, mas ainda não haviam
descoberto como passar do meio-campo.
Luis Fabiano e Pierre, em lance de jogo entre
Atlético-MG e São Paulo (Foto: EFE)
Como Pierre não tem o hábito de fazer gols, comemorou cada lateral como
se fosse um chute no ângulo. Como se fosse um chute de Jô. No ataque do
Atlético é assim. Todos podem estar em todas as posições. Tardelli, na
direita, lançou Bernard, como centroavante. Toloi tentou desarmar, mas a
bola sobrou para Jô, recuado, fuzilar e abrir o placar. Ou melhor.
Fuzilar e fazer 3 a 1 no agregado para o Galo, que já vencia desde a
semana passada.
A troca de posições no São Paulo era menos inteligente, menos
empolgante. Era triste. Douglas, que é e já pediu para ser
lateral-direito, foi escalado no ataque mais uma vez. Na esquerda! Após o
gol, foi para a direita. E Ney Franco tinha três atacantes no banco:
Wallyson, Ademilson e Silvinho. Além de Osvaldo, destaque do time no
ano, vetado por dores no quadril.
Em 45 minutos, o Tricolor teve uma chance de gol. Ganso recebeu de
Carleto e bateu de primeira, mas Victor saiu muito bem em seus pés e
defendeu. Do outro lado... Era puro videogame! Jô e Tardelli ganharam de
Rafael Toloi, em noite sofrível, mas pararam em Rogério Ceni e na falta
de sorte. O zagueirão se recuperou em seguida ao salvar, em cima da
linha, tal qual o lateral-esquerdo Ronaldo Luís fazia nos anos 90, um
chute de Bernard. Mas era essa a única semelhança com aquele timaço de
Telê Santana... E lá se foi o primeiro tempo, com dez finalizações do
Galo, e duas do Tricolor. Estatísticas de videogame.
Massacre atleticano, vergonha tricolor
Há duas semanas, Silvinho treinava no Penapolense, à espera do milagre
de vencer o São Paulo no Paulistão. Nesta noite, Silvinho estreou na
Libertadores, à espera do milagre de virar o jogo contra o Atlético-MG.
Como sua trajetória tão rápida é quase um milagre, por que não
acreditar? Quando Luis Fabiano recebeu lançamento de Jadson na direita,
Silvinho acreditou e correu para a área. A bola do Fabuloso passou pelas
mãos de Victor e os pés de Ganso antes de chegar torta ao estreante,
que não conseguiu finalizar.
Foi a grande chegada do Tricolor. A única. O cardápio do Galo era
vasto. Aceita um Bernard? Vai um Tardelli? Que tal um Jô? Narrar lance
por lance desse time regido por Cuca, porque mais parece uma orquestra a
uma equipe de futebol, é desnecessário e tornaria este texto
interminável e cheio de adjetivos. Principalmente quando o outro lado,
em vez de combater, prefere se entregar.
Edson Silva quis fazer linha de impedimento e deixou Jô livre. Rafael
Toloi, com as pernas trêmulas, tentou recuo para Rogério Ceni, e nem viu
Diego Tardelli chegando. Wellington, o jovem Wellington, foi mole tal
qual um senhor de idade na dividida com o veterano Ronaldinho. Três
erros contra três talentos, e o que era para ser uma simples
classificação virou uma humilhação sem precedentes na Libertadores para o
São Paulo. Mais dois de Jô, mais um de Tardelli, os melhores em campo.
Precisou ficar 4 a 0 para Ney Franco decidir se preservar. Antes, havia
improvisado Douglas, lançado o novato Silvinho e aberto ainda mais o
time com Ademilson no lugar de Denilson. Isso que é gostar de andar na
corda bamba...
Luis Fabiano aproveitou rebote de Victor em chute de Carleto, e fez um
dos gols menos comemorados da história do São Paulo. E Ronaldinho, de
olhares, passes e chutes imprevisíveis, não fez mais um gol que entraria
para sua galeria de obras de arte. 4 a 1. De bom tamanho para a apatia
tricolor, de ótimo tamanho para o passeio alvinegro.
Réver e Ronaldinho vibram com um dos três gols de Jô (Foto: AFP)