quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Glover Teixeira sobre Jon Jones: 'Eu não ligo para o que esse peão aí diz'

Humilde, meio-pesado sabe onde precisa melhorar para ser campeão, mas rebate críticas injustas: 'Tem gente que critica e que, se eu gritar, sai correndo'

Por Rio de Janeiro
190 comentários
Com andar tranquilo e de braços dados com a esposa, a americana Ingrid Peterson, enquanto cruzava a Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, para uma sessão de fotos, o meio-pesado Glover Teixeira nem de longe parece com o lutador agressivo que sobe no octógono sempre em uma busca constante pelo nocaute para encerrar a luta o mais rápido possível. Tímido, mas sempre com uma piada na ponta da língua para contar a qualquer momento, o mineiro de Sobrália aproveitou suas últimas horas no Brasil - voltará para os Estados Unidos no fim da semana - rodeado das coisas que ele mais gosta: A esposa, amigos e muitas guloseimas trazidas da terra natal.
A tranquilidade do lutador, que enfrenta o vencedor do duelo do próximo dia 21 de setembro, entre o campeão da categoria, Jon Jones, e Alexander Gustafsson no UFC 165, só desaparece quando ele rebate as críticas recebidas - mesmo com uma sequência impressionante de 20 vitórias seguidas - por não ter enfrentado grandes nomes da divisão antes de ter a chance de disputar o cinturão da categoria até 93kg. Em tom sério, Glover Teixeira usou da ironia para responder aos críticos na entrevista ao Combate.com no hotel onde ficou hospedado no Rio de Janeiro, afirmando que tem "cara que se você der um berro, é capaz dele sair correndo".
- Alguns fazem críticas boas, que a gente procura entender. Mas, tem umas que não fazem sentido nenhum, e aí eu não estou nem aí também. Pô, tem cara que não entende p*** nenhuma do que tá falando lá na internet. Lá tem neguinho que assiste novela das oito. Sabe mais de novela das oito do que de MMA e quer...sei lá...cara que se você der um grito com ele, é capaz dele sair correndo. Mas, tem críticas boas. Fãs que sabem, que criticam...e eu sou sincero, humilde e vejo "é verdade mesmo que esse cara tá falando", "preciso melhorar essa parte". Agora, sobre nomes...cara, eu nunca pedi luta nenhuma no UFC. Eles me deram e eu peguei, entendeu? Agora, não sei quem eles poderiam querer. Me dá um nome que eu vou lutar.
Glover (Foto: Alexandre Fernandes)No último dia de "férias" no Rio de Janeiro, Glover Teixeira passeou com a esposa no calçadão de Copacabana. Agora, o mineiro quer estudar os movimento do futuro adversário na disputa do título (Foto: Alexandre Fernandes)
Contrariando as expectativas - a começar por não escolher nem o lado alvinegro nem o lado azul de Minas Gerais no futebol - Glover Teixeira não é adepto da costumeira falação entre lutadores de MMA. Apesar de reconhecer a importância da prática para chamar a atenção dos fãs para o "show" do UFC, o meio-pesado prefere ficar quietinho, e seguir ganhando as lutas. Por esta caracteristica, e por não ficar procurando saber o que os adversários dizem a seu respeito, Glover ficou surpreso ao ser informado que Jon Jones o havia comparado a "Rampage" Jackson. Entretanto, com o sotaque e a calma que são peculiares, o mineiro afirmou não ligar para o que "esse peão diz aí".
Tem neguinho que sabe mais de novela das oito do que de MMA e quer te criticar. Se você der um grito, é capaz de sair correndo"
Glover Teixeira
- Então, eu nem estava sabendo disso. Fiquei sabendo agora. Não fico olhando entrevista de Jon Jones. Eu olho as lutas dele, mas não fico querendo saber o que o Jon Jones está falando de mim, nem entrevista de ninguém. Não fico vendo entrevistas desse peão aí, não. Com relação a comparação, eu acho que eu e o Rampage temos algumas coisas a ver, mas somos dois caras diferentes. Quando o Rampage entrou no ringue, ele já tinha sido campeão, já tinha muito dinheiro no banco, não estava nem aí mais para lutar. Eu não. Eu tô com fome desse cinturão e vou buscar esse cinturão.
Leia a entrevista com o próximo desafiante dos pesos-meio-pesados na íntegra:
COMBATE.COM: Dizem que para falar com mineiro, primeiro tem que saber para qual time ele torce. Você é Galo ou Cruzeiro?
Glover Teixeira:
É cara, eu vou ficar fora disso porque eu não sigo tanto futebol. Se você me perguntar o nome de algum jogador de futebol, eu vou ter que passar. Então eu torço para o time brasileiro quando está jogando com algum time de fora, igual o Galo na Libertadores, né? Eu fiquei torcendo para eles. Quando eu era menor, gostava mais da camisa azul do Cruzeiro. Mas hoje em dia não tem muito isso não.
Com 11 anos como lutador profissional, tendo passado por problema com imigração nos EUA, e perdido por nocaute técnico na sua estreia, você imaginava que chegaria à condição de disputar o título da categoria?
Depois de um certo tempo, sim! Mas sempre foi um sonho, e que agora está sendo realizado. Eu sempre tive esse sonho. Lá atrás eu não imaginava. Mas depois de um certo tempo, sim. Eu pensava que mais cedo ou mais tarde eu teria essa chance.
Das suas últimas oito lutas, seis você venceu no primeiro round. Com a chance de disputar o título, você acha que é melhor se preparar para uma vitória explosiva no primeiro round ou prefere trabalhar o físico para aguentar cinco rounds desgastantes? Lembrando que Jon Jones só foi para o quinto round uma vez, contra Rashad Evans...
Eu vou pra luta sempre para acabar no primeiro round. Mas claro que não vai ser assim contra a maioria dos lutadores. Tem que acertar no lugar certo e ir pra cima na hora certa. Eu acho que não só contra o Jon Jones, mas contra a maioria dos lutadores, a luta vai passar do primeiro round, por isso eu me preparo para cinco rounds. Vou estar super preparado para essa luta. Mas comigo não tem esse negócio de estudar, não. Eu vou partir para cima, para finalizar a luta no primeiro minuto. Se for no primeiro minuto do primeiro round, melhor ainda. Eu vou tentar fazer isso logo de cara.
Glover e Bader UFC BH (Foto: Getty Images)Com alto poder de ataque, Glover Teixeira coleciona nocautes e vitórias. Após Ryan Bader, o mineiro foi confirmado por Dana White como próximo desafiante ao título dos meio-pesados (Foto: Getty Images)
Por falar em título, já tem um lugar especial reservado para levar ou guardar o cinturão quando você for campeão?
Não, ainda não. O lugar que eu vou guardar é aqui comingo, na minha cintura. Depois a gente vê se vai guardar em um cofrezinho ou em algum lugar na minha casa, onde todo mundo que entrar vai ter que ver meu cinturão.
Recentemente Chuck Liddell reclamou que os lutadores hoje em dia parecem ter mais medo de perder do que vontade de ganhar. Você treinou com o Liddell. Acha que conseguiu pegar a essência do americano para seguir vencendo as lutas por nocaute?
Sim, captei muitas coisas dele. Principalmente esse instinto de buscar a vitória. Independente de tudo, você tem que buscar a vitória para levantar a plateia, porque a gente é pago pela plateia, a gente vive disso. Eu acho que não teria graça lutar sem plateia, sem ninguém assistindo. Quando eles gritam seu nome, isso te motiva e você vai pra cima. Por isso você tem que motivar a galera, levar ao delírio. Eu peguei isso dele, ir buscar o nocaute. Mas o poder de nocaute é uma coisa que nasce com você. Tem gente que vai treinar a vida inteira e não vai ser um striker... É o peso da mão.
No estilo mineirinho, você foi lutando, ganhando e agora está há 20 lutas invicto. Isso te traz algum peso extra? Você faz algum trabalho mental para seguir vencendo?
Sim. Sempre esqueço o passado, pensando que a próxima luta é a mais importante. O que passou, passou. Mas ter 20 lutas me dá muita confiança para seguir vencendo. Não tenho esse peso extra, não.
Não fico querendo saber o que Jon Jones diz de mim. Não fico vendo entrevistas desse peão aí, não"
Glover Teixeira
Mesmo com um cartel impressionante, uma das críticas feitas a você, é que você não enfrentou grandes nomes da divisão por ter pouco tempo de UFC. O que você acha disso?
Alguns fazem críticas boas, que a gente procura entender. Mas tem umas que não fazem sentido nenhum, e aí eu não tô nem aí também. Pô, tem cara que não entende p*** nenhuma e está falando lá na internet. Lá tem neguinho que assiste até novela das oito. Sabe mais de novela das oito do que de MMA e quer...sei lá... são caras que, se você der um grito, é capaz deles saírem correndo. Mas tem críticas boas também. Fãs que sabem, que criticam... e eu sou sincero, humilde e penso: "É verdade o que esse cara tá falando". Agora, sobre nomes, cara, eu nunca pedi luta nenhuma no UFC. Eles me deram e eu peguei, entendeu? Agora não sei quem eles poderiam querer. Me dá um nome que eu vou lutar.
Jon Jones comparou você ao Quinton "Rampage" Jackson, apenas com um grappling melhor. Que você acha disso?
Eu nem estava sabendo disso. Fiquei sabendo agora. Não fico olhando entrevista de Jon Jones. Eu olho as lutas dele, mas não fico querendo saber o que o Jon Jones está falando de mim, nem entrevista de ninguém. Não fico vendo entrevistas desse peão aí, não. Com relação à comparação, eu acho que eu e o Rampage temos algumas coisas a ver, mas somos dois caras diferentes. Quando o Rampage entrou no ringue, ele já tinha sido campeão, já tinha muito dinheiro no banco, não estava nem aí mais para lutar. Eu, não. Estou com fome de título e vou buscar esse cinturão.
Você é um lutador das antigas, e o Josh Barnett (peso-pesado que retornou ao UFC após 11 anos) também é. Ele disse que os lutadores hoje falam muito, promovem muito as lutas, enquanto os antigos lutam por sangue e honra. Você tem isso também? Você acha que, apesar do UFC ser show business, você luta pelo espírito guerreiro?
Eu adoro a luta, e acho que quem promove a luta faz bem para o esporte também. Os fãs gostam de ver isso. É claro que eu não vou falar mal de alguém que eu goste.  Se tiver alguém que eu não goste, eu falo mesmo. Mas o Josh Barnett é das antigas, antigas mesmo. Eu comecei praticamente agora (risos).
Na sua cadeira, tranquilo, no dia 21 de setembro, com o status de já estar garantido na próxima disputa de título, como você vai assistir a essa luta entre Jon Jones e Gustafsson? Muito pão de queijo e uma cachacinha para relaxar?
(Risos) Não, cachaça nada. Beber uma cervejinha só mesmo na semana depois da luta porque é uma semana para comemorar. Mas eu já vou estar treinando quando for ver essa luta, já vou estar observando de perto, todos os movimentos. E é importante ver, analisar os movimentos que eles podem fazer. Vai ser bom para mim.
Glover (Foto: Alexandre Fernandes)Concentrado apenas em subir no octógono para nocautear, Glover Teixeira não pensa em fazer propaganda como outros ídolos do MMA nacional (Foto: Alexandre Fernandes)
O Brasil tem alguns ídolos no MMA, como o Anderson Silva, Vitor Belfort, José Aldo e você está surgindo. O público brasileiro está cada vez mais te conhecendo. Você se imagina fazendo propaganda de barbeador, de cerveja, de cueca para consolidar a sua imagem?
Eu não me imagino. Eu só penso nas lutas. Mas é claro que propaganda vindo e me pagando, meu irmão, eu vou e faço. Faço o que for preciso. Mas, assim, eu não fico pensando muito nesse lado de propaganda, de dinheiro. O dinheiro que eu ganho no UFC é algo que eu nunca pensei em ganhar, e estou feliz com o que está acontecendo. Só tenho pensamento na luta, no esporte. Essa parte aí eu deixo para o meu empresário.
Faço o que for preciso. Mas, não fico pensando muito nesse lado de propaganda. O dinheiro que ganho no UFC, eu nunca imaginei que ganharia"
Glover Teixeira
Foi divulgado que na sua última luta você ganhou mais de R$ 100 mil. Mas uma luta de título vale muito mais, o prêmio é muito maior. Já pensou no que fazer ganhando R$ 500 mil, R$ 1 milhão, como outros grandes nomes do esporte?
Não, não imaginei isso. Eu penso só na luta, mas claro, se ganhar um dinheiro desses você tem que guardar, para depois não precisar fazer mais nada e viver só da luta mesmo. Viver só do esporte, que é uma coisa que eu gosto. Mas no momento eu só penso em vencer. Ir para a luta e lutar. Claro que eu penso no dinheiro, mas eu quero o cinturão. Se falarem que eu vou lutar de graça, eu vou lutar, mas para pegar o cinturão para mim.
Você falou antes que não escolhe lutador. O que o UFC te passar, você vai enfrentar. Aqui no Brasil sempre teve essa coisa de não querer lutar com companheiro de treino, ou com um amigo... Você não teria problema nenhum com isso?
É, eu não tenho nenhum companheiro de treino na minha categoria agora. Tenho grandes amigos, mas é aquele negócio. É o esporte, e a gente tem que lutar pelo esporte. E o único companheiro de treino que eu tinha na minha categoria, era o Lyoto Machida, que baixou agora.
Trouxeram pra essa entrevista muitos doces, tem ali um refrigerante, e os lutadores têm essa briga com a balança sempre. Você acabou de passar por isso. Depois da luta você dá uma relaxada legal? Mete o "pé na jaca"?
É, uma semana depois da luta eu sempre faço isso, mas também não é assim. É moderado, eu como um doce aqui, uma coxinha nesse último dia de mini-férias, mas amanhã já começa a rotina de treinos de novo nos EUA, dando uma corridinha leve. Eu sempre tiro uma semana para fazer isso aí. Comer e beber umas coisinhas.
E você, bom mineiro, come um pãozinho de queijo, um doce de leite, um torresminho. Já levou lá para os gringos provarem? Qual a reação deles quando você leva os quitutes para lá?
Agora eu tô levando rapadura, doce de leite e cachaça para eles lá. Pão de queijo eles comem bem lá, porque tem uma padaria brasileira. Mas vou levar uma cachacinha boa daqui para deixar eles bêbados (risos).

Nenhum comentário:

Postar um comentário