domingo, 12 de janeiro de 2014

De férias, Barboza Jr. faz balanço do ano e não descarta troca de categoria

Dono do terceiro melhor nocaute da história do UFC, lutador descansa em Nova Friburgo e relembra a temporada em que disputou três lutas e venceu todas elas

Por Nova Friburgo, RJ
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De volta para casa e com histórias boas para contar. Essa é a sensação do lutador Edson Barboza Júnior depois de viver um ano de 2013 praticamente impecável na categoria leve do UFC. Após três lutas e três vitórias, o friburguense está na terra natal, aproveitando as férias com a família. Um momento incomparável e raro para o lutador, que não passava o Natal e réveillon em Nova Friburgo há pelo menos cinco anos.

Entre o período de descanso, Juninho, como é conhecido na cidade, conversou com a equipe do GloboEsporte.com. A entrevista foi na mesma academia que o lutador arriscou os primeiros golpes. Ele chegou à pé, refazendo o mesmo caminho de quando treinava e buscava o sucesso. Ao lado, o pai, Seu Edson, que acompanha o filho em todos os momentos e sofre em dias de luta.
Edson Barboza Junior Nova Friburgo (Foto: Márvio Filho)Edson Barboza em frente ao quadro com a sequência do seu nocaute, considerado o terceiro melhor da história do UFC (Foto: Márvio Filho)


Na entrevista, um Edson bem autêntico, sincero nas palavras. Ele falou abertamente sobre a troca de time (saiu da The Armory, em meados de 2012, e foi para a  Ricardo Almeida & Valor MMA) e dos desafios após a derrota para Jamie Varner, no meio de 2012. Edson também falou da possibilidade de descer de categoria e ir para os penas: "Por que não tentar?". E, como bom brasileiro e amante de futebol, falou da torcida fanática pelo Botafogo. A íntegra da entrevista você confere abaixo.
Confira abaixo a entrevista completa com Edson Barboza Júnior.
Como está sendo esse período em nova Friburgo? É um momento pra descansar?

É uma bênção mesmo, estar junto da família e dos amigos. Descansar um pouquinho, eu já acordo e vou para a academia. É bom demais, estar junto com todo mundo, não tem nada melhor do que isso, estar junto das pessoas que realmente estão junto comigo.

O que Nova Friburgo tem que os EUA não tem, e que fazem você vir pra cá sempre que tem um tempo?

É a família e os amigos. Estou nos EUA há cinco anos e até falei com meus pais que não havia nada melhor que estar com eles. Já era o quarto ou quinto natal que não passava com eles, e dessa vez estivemos juntos. Não há nada igual. Não tem título do UFC nem dinheiro que compre esse fato de estar junto com a família, essa é a maior bênção que Deus me deu.
UFC Sacramento Danny Castillo x Edson Barboza (Foto: Getty Images)Edson Barboza sofreu, mas conseguiu derrotar Danny Castilho (Foto: Getty Images)
No último dia 14 de dezembro você venceu Danny Castillo após quase ser nocauteado. Aquele foi o seu duelo mais difícil no UFC?

Sinceramente, acho que não. Até porque em nenhum momento eu temi que a luta poderia acabar. Foi um flash muito rápido quando ele me acertou, eu fiquei no chão, meio tonto, mas eu voltei, consegui acordar, saber onde eu estava e o que estava fazendo. E dali para frente eu estava no controle. Ele me acertava, mas eu pensava, olhava pro relógio, ouvia os treinadores. Isso acontece muito nos treinos, e a gente aprende a lidar com essa situação. Quem assistiu ficou realmente muito nervoso, mas para quem treina passa por isso todos os dias, foi só mais uma vez, algo normal.

E então, qual foi a vitória mais difícil?

Foi contra o Anthony Njokuani (nigeriano, no UFC 128). Ele tem um estilo de luta muito parecido com o meu, e eu machuquei o joelho faltando um mês para o combate. Fiz um mês de treinamentos muito ruins. Não conseguia correr nem chutar. A luta também foi bem difícil. Por tudo o que aconteceu essa foi a mais difícil.

Depois da luta contra o americano Danny Castillo, Dana White, chefão do UFC, declarou que o combate deveria ter terminado empatado. Como você recebeu essa declaração?

Ele fala o que ele quiser. Muita gente me perguntou sobre isso. Sinceramente, se eu achasse que a luta deveria ter terminado empatada eu falaria, mas eu vi a luta, e em hipótese nenhuma poderia ter terminado com empate.  Ele realmente me acertou mas não me deu um knock-down, ficou por cima me batendo. No segundo round eu consegui um knock-down, tentei finalização... Eu tentei ver com os olhos deles, ver o empate, mas não consegui.
O seu nocaute contra Terry Etim, no UFC 142, foi eleito o terceiro mais bonito da história do UFC. Como foi receber essa notícia?

É sempre bom colocar o nome na história do evento. São 20 anos de UFC, e eu estou lá entre os melhores de todos os tempos. Muita gente fala disso ainda, mas já passou, eu sempre penso no futuro. Fico feliz, mas estou pensando no futuro. Foi legal, colho frutos até hoje daquele nocaute, mas estou sempre pensando no futuro.
Terry Etim jamais esquecerá do chute que levou de Edson Barboza no UFC (Foto: Getty Images)Terry Etim jamais esquecerá do chute que levou de Edson Barboza no UFC (Foto: Getty Images)


Dentro do octógono os adversários já olham pra você com respeito por conta desse chute rodado. Essa virou sua marca, sua identidade? E você tem aprimorado esse golpe?

Acho que não é uma identidade. Eu sou um lutador de artes marciais mistas, sou mais completo do que as pessoas imaginam. Vou ter oportunidade de mostrar meu jiu-jítsu, meu wrestling. O chute rodado é um golpe que eu faço muito bem, mas as pessoas podem esperar coisas novas. Cada luta vai ter um Edson Barboza diferente.

Em maio de 2012 você sofreu a primeira derrota no UFC, por nocaute, contra o americano Jamie Varner. Como foi lidar com a derrota naquela época? Teve muita pressão?
 O que aconteceu de melhor na minha carreira foi aquela derrota (para Jamie Varner, em maio de 2012)".
Edson Barboza Júnior
Muitas vezes as pessoas acham que a vitória é o melhor que temos no momento. Eu posso falar que a melhor coisa que aconteceu na minha carreira foi aquele resultado. Depois daquilo, foram três lutas, três vitórias, dois nocautes, uma melhor luta da noite. Existe muita diferença para o Edson Barboza de hoje. Nós trocamos tudo: treinador, estado... Eu não sentia até o momento da derrota, estava tudo dando certo, mas depois eu vi que tinha alguma coisa errada. Abriu os meus olhos. Eu treinava em um lugar bom, mas faltavam parceiros de treino de alto nível. Eu precisava treinar com pessoas melhores, de sparring melhores. Deus faz as coisas certas e me deu o prazer de conhecer o Frankie Edgar, em New Jersey, o Ricardo (Almeida, treinador). Troquei tudo e arrisquei. Tenho certeza que fiz a coisa certa. O que aconteceu de melhor na minha carreira foi aquela derrota.

Você pensa em revanche contra ele?

Sempre. Eu tive oportunidade de estar com ele. Hoje eu vejo o combate, vejo várias coisas que eu poderia ter feito. Mas é luta, de repente acontece e ele me ganha de novo. Tudo pode acontecer mas, se a gente lutasse eu ficaria muito feliz. Eu sei que posso superá-lo.

Treinar com Frankie Edgar te dá uma bagagem maior?

Sem dúvidas, o cara é o ex-campeão da minha categoria. Sempre que treino com ele eu lembro que o cara já bateu em quase todo mundo. E eu treino com ele de igual para igual. Por treinar com ele, eu sei do meu nível. Treino com os melhores do mundo. Isso faz muita diferença.
Aqui na academia existe um projeto social que leva o seu nome, e que ensina artes marciais para crianças. Como essa iniciativa pode contribuir para a formação desses jovens?

O que a gente está menos preocupado aqui é em formar um lutador. Nosso objetivo não é esse. Pode aparecer um, vou ficar muito feliz se isso acontecer, mas nosso objetivo é tirar as crianças das ruas, dar uma oportunidade. A grande maioria não tem condição de pagar uma aula de artes marciais. A gente deixa todo mundo brincar, se divertir. No fim do treino, ainda tem lanche para todo mundo. É uma coisa muito pequena pelo que eu queria fazer, mas no futuro a gente vai poder fazer mais.
E pro ano de 2014, qual a expectativa? Você planeja enfrentar um top 10 dos leves ou, talvez, descer para a categoria dos penas?
Então, eu viajo dia 14 e vou direto pra New Jersey treinar. A expectativa é ótima. Esse ano foi muito bom, abençoado, não me machuquei. Continuo nos leves, mas se tiver boa proposta... Conversei com meu treinador, meu empresário. Tive uma proposta boa de descer e chegar perto do cinturão, e por que não tentar? Mas meu foco é na categoria dos leves, certamente é a mais difícil e concorrida do UFC. Eu sei do meu potencial e creio em Deus. Ele sabe o que faz e tem o melhor pra mim.

Você é torcedor assumido do Botafogo. De longe, como você está vendo esse momento do alvinegro, voltando à Libertadores?

Eu tento assistir ao máximo que eu consigo. Pelo fuso horário fica difícil de acompanhar os jogos. Mas estou sempre acompanhando no Twitter e, quando dá, eu assisto. Sou brasileiro, não tem como não torcer pro nosso time e secar os outros. A expectativa é boa, sou botafoguense, a gente não desiste nunca, vamos acreditar sempre. Nos últimos anos a gente acreditou e deu tudo errado, dessa vez, pelo menos, nos classificamos pela Libertadores. Vamos continuar torcendo.
Como você define hoje o lutador Edson Barboza Jr.? É um lutador completo?

Com certeza. É um lutador completo, e que ama o que faz. Eu amo meu trabalho, pode ter certeza disso.

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