Meu Jogo Inesquecível: tricolor Dado Villa-Lobos vê gol de 'escudo' no Fla
'O gol do Renato não foi de barriga', diz músico, ex-Legião Urbana, que ainda vibra ao recordar título carioca sobre o Fla em 95 na vitória por 3 a 2
Dado beija o escudo da camisa, "autor" do gol do título de 1995 (Foto: Alexandre Durão/Globoesporte.com)
- Eu estava atrás do gol, à esquerda das cabines de rádio, e lembro de cada segundo. O time jogando bem, dominando a partida debaixo de um temporal, mas o empate era deles, e a torcida (rubro-negra) começou a gritar “é campeão”. Eu já estava sentado na cadeira quando olhei a jogada do Ailton pela direita. Ele chega, dá um come seco no Charles Guerreiro, cruza e sai o gol. Numa fração de segundo, tudo ficou em silêncio, não se ouvia nada. Eu vi a rede balançando e o Renato (Gaúcho) saindo correndo. Falei: “Não acredito.” Demorou um certo tempo até cair a ficha. É campeão. Adeus Flamengo no ano do “cem ter nada” - relembra Dado, com direito a cutucada no rival.Naquele domingo, o Flamengo, com Sávio e Romário, jogava pelo empate para conquistar o campeonato, mas foi o Fluminense, de Renato Gaúcho, Ailton e Djair, que comemorou. Com gols de Renato Gaúcho, aos 30 minutos, e Leonardo, aos 42, o Tricolor saiu com boa vantagem para o intervalo. O time da Gávea só conseguiu reagir e diminuir o marcador com Romário, aos 26 do segundo tempo. Seis minutos depois, uma finalização de Fabinho deixou tudo igual no Maracanã. Só que, enquanto a torcida rubro-negra comemorava o título, um chute cruzado de Ailton, que não tinha a direção do gol, aos 42 minutos de jogo, desviou em Renato Gaúcho e entrou.
Nascido na Bélgica, músico virou tricolor antes de viver no Brasil (Foto: Alexandre Durão/Globoesporte.com)
O gol, que deu a taça ao Fluminense, para muitos foi de barriga, para outros foi de peito, para o árbitro nem foi de Renato Gaúcho, mas sim de Ailton, como relatou na súmula... Mas Dado deu uma nova interpretação ao lance.- O gol não foi de barriga, foi de escudo. Se você perceber, ele (Renato Gaúcho) faz o movimento, a bola pega no escudo (da camisa) e entra.
Torcedor tipo importação
Dado e a camisa 7 do Saint-Étienne, seu ex-time na
França (Foto: Alexandre Durão/Globoesporte.com)
Filho de brasileiro, Dado nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1965, e desde cedo despertou em si duas paixões: a música e o futebol, sendo a segunda mais especificamente a partir da Copa do Mundo de 1970, quando ganhou admiração pelo Fluminense através do goleiro Félix, da Seleção, que era jogador do clube.França (Foto: Alexandre Durão/Globoesporte.com)
E antes mesmo de vir em definitivo para o Brasil, o músico pôde conhecer de perto o Tricolor das Laranjeiras e o seu ídolo da infância, Rivelino. Em julho de 1976, enquanto residia na França, o time carioca excursionou pelo país e disputou, em Paris, um amistoso contra o Paris Saint-Germain, que terminou empatado em 1 a 1.
- Meu pai não gostava de futebol, mas tenho um irmão mais velho que gostava, e o Fluminense era o time da época. Eu estava em Paris e vi o Rivelino jogar contra o Paris Saint-Germain. Ele acabou saindo machucado da partida e passou do meu lado na maca. Foi o meu primeiro jogo do Fluminense no estádio - recordou o músico, que na época chegou a torcer para o Saint-Étienne, da França.
Linha tênue entre música e futebol
Aos 14 anos, Dado desembarcou no Brasil com o objetivo de seguir a mesma profissão do pai: diplomata. Mas, em 1983, um convite para ser guitarrista da banda Legião Urbana o fez mudar os planos. Passando a se dedicar à carreira musical, sem deixar a paixão pelo futebol de lado, ele se mostrou surpreso com as coincidências envolvendo o sucesso do grupo e as campanhas do Fluminense.
Com o Legião Urbana ou o Flu, Dado viveu momentos parecidos (Foto:Alexandre Durão/Globoesporte.com)
No período de 1983 a 1985, anos da última formação da banda e do lançamento do primeiro disco, o Tricolor foi tricampeão estadual. Além disso, em 1984, conquistou o título do Campeonato Brasileiro. Porém, a fórmula foi invertida: em 1996, ano em que morreu o vocalista Renato Russo e houve o fim do Legião Urbana, a equipe das Laranjeiras começou a viver sua pior fase em 94 anos de história.- Foi um dos piores anos da minha vida, talvez o pior. O Renato se foi em outubro, o Fluminense caiu para a segunda divisão (terminou em penúltimo lugar e só não foi rebaixado por intervenção da CBF. Porém, no ano seguinte, o time voltou a ficar em penúltimo, teve de disputar a Série B em 1998 e a Série C em 1999). Dali para frente foi lamentável, para apagar. Mas agora estamos em 2011 - afirmou Dado.
Colecionador de camisas
Há 25 anos vivendo no Rio de Janeiro, o músico se tornou um torcedor ilustre do Fluminense e já foi até homenageado pelo clube com uma camisa personalizada. E, quase sem querer, adquiriu o hobby de colecionar camisas do Tricolor.
Músico foi homenageado na comemoração dos 109 anos do Fluminense (Foto:Nelson Perez / Divulgação)
- A primeira que comprei quando cheguei ao Rio era aquela (com patrocínio) da Penalty e da Coca-Cola. Eu ganho muitas camisas, então tenho algumas. Devo ter umas dez. Imagina, tenho até uma assinada por aquele time campeão da Série C (risos).Welerson; Ronald, Lima, Sorlei e Lira; Márcio Costa, Aílton, Djair e Rogerinho (Ézio); Renato Gaúcho e Leonardo (Cadu) | Roger, Marcos Adriano (Rodrigo), Gelson, Jorge Luiz e Branco; Charles Guerreiro, Fabinho, Marquinhos e William (Mazinho); Romário e Sávio |
Técnico: Joel Santana | Técnico: Vanderlei Luxemburgo |
Gols: no primeiro tempo, Renato Gaúcho aos 30 minutos e Leonardo aos 42. No segundo tempo, Romário aos 26 minutos, Fabinho aos 32 e Aílton aos 42' | |
Cartões amarelos: Rogerinho e Renato Gaúcho (Flu); Marcos Adriano, Jorge Luiz, Branco e Charles Guerreiro (Fla). Cartões Vermelhos: Sorlei, Lima e Lira (Flu); Marquinhos (Fla) | |
Local: Maracanã, Rio de Janeiro. Data: 25/06/1995. Competição: Campeonato Carioca. Árbitro: Léo Feldman. Renda: R$ 1.621.850,00. Público: 120.418 torcedores |
Nenhum comentário:
Postar um comentário