quarta-feira, 1 de maio de 2013

Juiz favorito de Dana White admira brasileiros e quer conhecer baile funk

Ex-lutador, Herb Dean diz que público do Brasil é incomparável, mas não revela seu lutador preferido: 'Sou árbitro, nunca posso ser um fã'

Por Ana Hissa Los Angeles
15 comentários
Fãs do UFC já se acostumaram a ouvir o presidente da companhia, Dana White, "descascando" os árbitros que mediam os combates de seus eventos por erros cometidos. Apenas um escapa da ira do chefão: o californiano Herb Dean, facilmente reconhecido dentro do octógono pelo penteado cheio de "dreadlocks". O ex-lutador peso-pesado conquistou o respeito do dirigente e de milhares de fanáticos por MMA através não só de seu visual inconfundível, mas também por sua consistência ao arbitrar lutas. Hoje, além de seguir atuando no octógono e em outras organizações de MMA, passa seus conhecimentos adiante em cursos para árbitros e juízes laterais.
Herb Dean árbitro MMA UFC (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)Herb Dean em sua academia: bandeira do Brasil presente nas paredes (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)
A vontade de Herb Dean é trazer esse curso para o Brasil, país pelo qual expressa grande admiração. Além de ser bastante influenciado pela família Gracie, o árbitro também considera Anderson Silva e os irmãos Nogueira grandes embaixadores do MMA, e, após atuar em dois eventos do UFC no país, exalta a paixão demonstrada por seus torcedores.
- O público brasileiro não tem comparação com nenhum outro público. Os brasileiros são muito intensos, eles amam as lutas, amam os lutadores. A energia é incrível, sempre vale a pena ir ao Brasil - afirmou Dean, em entrevista exclusiva ao SPORTV.COM.
A admiração não para nos octógonos. Rapper na juventude, Herb Dean é fissurado em conhecer músicas de diversos países e, após a entrevista, pediu para anotar nomes de bandas brasileiras que os lutadores usaram nas entradas no UFC.
- Achei muito interessante o (Fabricio) Werdum com aquela música diferente contra Roy Nelson, o que era? - perguntou. Era "Ai se eu te pego". E assim, Michel Teló se juntou a Tim Maia e Jorge Ben na seleção musical brasileira de Herb Dean, que sonha conhecer "um baile funk de verdade" no Rio de Janeiro.
Confira abaixo a entrevista na íntegra com o homem eleito melhor árbitro do mundo por três anos consecutivos no MMA Awards.
Blog UltiMMAto: confira notícias, vídeos e curiosidades sobre o mundo do MMA
Herb Dean árbitro MMA UFC (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)Herb Dean ainda pratica jiu-jítsu e boxe
regularmente (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)
Como você começou no MMA? Você era lutador, certo?
Sim, eu era. Sempre fui envolvido com artes marciais em geral desde que eu era criança. Eu treinava kickboxe e um dos caras da minha academia lutou no UFC 1 (Zane Frazier), então desde lá nós começamos a treinar e fazer coisas para nos preparar para esses tipos de eventos. Claro que a Família Gracie também estava na nossa área e eles tinham os desafios de garagem naquela época, e isso me despertou um interesse enorme em aprender jiu-jítsu. Eu treinei judô, jiu-jítsu, mais até um estilo japonês do jiu-jítsu por conta do meu professor, e também o jiu-jítsu brasileiro. Eu sempre amei e fiquei obcecado por artes marciais, eu comecei a treinar MMA com Larry Landless em 1996, ele tinha uma equipe e promovia eventos. Então eu treinava e participava desses eventos, às vezes íamos para o Norte lutar com os caras de lá, às vezes eles desciam para lutar com a gente... Eu curti muito, e aquilo me levou a virar árbitro do evento “King of the Cage”, no começo era em uma reserva indígiena e nós tínhamos que levar nosso time para fazer tudo que a Comissão Atlética fazia. Inspetores, se certificar que os córners estavam fazendo tudo corretamente e não estavam trapaceando. Eu era voluntário, mas acabei trabalhando tanto uma vez que disse: “Me dá algo mais, eu trabalho muito aqui. Me deixe ser árbitro em alguns combates, eu sei fazer, eu venho observando o Larry” . E foi assim que eu comecei.

E quando você decidiu trocar a carreira de lutador pela de árbitro?
Eu decidi fazer isso quando eu fui comunicado pela Comissão Atlética, pessoas que queriam ver nosso esporte crescendo, e eles disseram que não era seguro os árbitros lutarem e eu tinha que escolher uma coisa ou outra. Eu gosto de lutar, mas era mediano, meu lugar no esporte é como árbitro. Eu gostaria de ainda poder lutar uma ou duas vezes ao ano porque eu amo o esporte, mas não posso.

O que precisa para ser um bom árbitro?
Eu acho que algumas coisas. Uma delas é saber meticulosamente todas as regras e estudar as lutas, saber como as regras podem ser interpretadas em tantos cenários diferentes que podem surgir, muitas coisas acontecem então sempre vai ter algo que você nunca viu antes. Você também precisa ter um histórico de lutas e entendimento do que você está vendo, porque você toma decisões que podem interferir diretamente no resultado da luta. Se você não tiver um critério e se deixar ser influenciado você pode acabar afetando o resultado de uma luta, e isso não é ao que meu trabalho se propõe, e sim, impor as regras no octógono. Você também ter que ter um poder de tomar decisões rapidamente, acostumar seu olhar com isso, para poder tomar decisões corretas. Também é preciso entender bem as diferentes posições de luta dos lutadores, especialmente as de chão, porque os caras vão com tudo para pegar, e às vezes ficam a segundos de quebrar ou romper algum ligamento, então você precisa saber quando interromper e também estar preparado para dar suporte ao lutador quando a luta acaba.
Fale sobre seu curso.
Eu já dei esse curso algumas vezes, mas agora está crescendo muito. Eu ensino as regras unificadas do MMA, que envolvem questões de julgamentos e arbitragens. Nós ensinamos critérios de pontuação, as regras, damos vários exemplos de como as coisas acontecem, praticamos exemplos. Eu também faço algumas simulações para fazer com que as pessoas envolvidas realmente entendam o que estão vendo. Eu peço para que os próprios alunos apliquem técnicas em mim, porque você ficaria surpresa em saber quantas pessoas chegam para fazer o curso porque assistem de casa e gostam do MMA, mas quando chegam aqui, não sabem demonstrar nenhuma técnica – que é algo que exijo no curso. Chega até a ser engraçado, se eu fosse uma pessoa má, eu até divulgaria o vídeo, mas eu não sou assim (risos). Normalmente são grupos de dez pessoas, mas nesse de abril tivemos 20 alunos. A procura foi tão grande que as inscrições acabaram meses antes do curso começar, então devo abrir mais uma classe extra ainda esse ano.

Já pensou em fazer esse curso em outros países?
Eu fiz no Canadá uma vez, pensei em ir ao Brasil para realizá-lo, tive algumas ofertas. Eu preciso fazer um pouco mais de pesquisa e ter um bom parceiro no Brasil, mas quero muito fazer uma edição do curso no Brasil.

O que você acha sobre a adoção de um round extra no UFC?
Eles pensaram em fazer um round extra, mas voltaram atrás. Não acho que resolveria. Uma coisa que podemos fazer no UFC, que algumas organizações já fazem, é deixar os jurados preencherem todas as notas e somente coletar as papeletas no fim. No UFC, a gente sempre coleta as papeletas a cada round, e acredito que assim muitos fatores podem levar a decisões controversas, já que são julgados os rounds isoladamente e não a luta como um todo. Em lutas muito parelhas, é algo que acaba sendo muito difícil para os juízes, fica muito subjetivo, você tem que avaliar “esse soco foi mais forte que aquele” ou “ele conseguiu um jab a mais no fim”... Um jab, uma queda, uma raspagem acaba fazendo a diferença. Eu já assisti a lutas muito equilibradas que, dependendo do critério de julgamento que eu usasse, dava a vitória para um lado ou para outro. Não é um trabalho fácil para os juízes.
Herb Dean, juiz do UFC (Foto: Getty Images)Herb Dean em ação: atenção ao detalhe o torna destaque entre demais árbitros (Foto: Getty Images)

Qual luta você considera como a que fez a sua carreira impulsionar? Foi a luta do Tim Sylvia x Frank Mir?  (Nota: No UFC 48, em 2004, Dean arbitrou a luta entre Tim Sylvia e Frank Mir pelo título vago dos pesos-pesados do UFC. Aos 50s do primeiro round, Dean interrompeu a luta quando viu que o braço direito de Sylvia quebrou por conta de uma chave de braço. Houve controvérsia no momento, porque Sylvia ainda tentava se defender do golpe e discutiu com ele, dizendo que não havia quebrado o braço. Porém, um exame de raio-X comprovou que Sylvia realmente havia quebrado o braço, e o lutador teve que passar por cirurgia e um longo período de recuperação. Posteriormente, Sylvia admitiu que sabia que o braço estava quebrado, mas queria continuar lutado, e agradeceu Herb Dean pela interrupção que salvou a continuidade de sua carreira)
Eu acho que sim. Normalmente as pessoas focam no árbitro quando ele faz a coisa errada. Então, naquela hora, todo mundo estava focado em mim, me vaiando... Até que, por sorte, o Joe Rogan (comentarista do UFC) achou um vídeo que mostrava que eu estava certo, e aí eu acho que foi quando pensaram, “esse é o cara certo para a gente ter na organização” .

Mas qual a luta mais memorável?
É tão difícil escolher a mais memorável... Eu arbitrei tantas lutas boas, lutas de ícones no esporte. Eu arbitrei uma luta do Royce Gracie no Japão, foi muito especial. Eu posso falar horas e horas em lutas especiais, porque isso que é especial no nosso esporte. Existem tantas maneiras de alguém vencer, sempre é especial.
Ok, vou mudar a minha pergunta... Qual foi a luta mais difícil que você teve que arbitrou?
Hmmm... Chris Leben x Brian Sleeman (WEC 8)... Tiveram tantas faltas naquela luta... Como árbitro, minha missão é deixar a ação rolar, eu não gosto de tirar pontos, gosto que os caras entrem lá e façam o que têm que fazer, mas tentando manter a ordem... Principalmente nessa luta, que o esporte era ainda novo... Foi difícil...
Principais lutas arbitradas  
Frank Mir x Tim Sylvia UFC 48, 19/6/2004
Forrest Griffin x Stephan Bonnar I TUF 1 Finale, 9/4/2005
Georges St. Pierre x BJ Penn I UFC 58, 4/3/2006
Tito Ortiz x Ken Shamrock II UFC 61, 8/7/2006
Gabriel Napão x Mirko Cro Cop UFC 70, 21/4/2007
Rodrigo Minotauro x Tim Sylvia UFC 81, 2/2/2008
Brock Lesnar x Frank Mir II UFC 100, 11/7/2009
Lyoto Machida x Maurício Shogun I UFC 104, 29/8/2009
Cain Velásquez x Brock Lesnar UFC 123, 20/11/2010
Anthony Pettis x Ben Henderson WEC 53, 16/12/2010
Jon Jones x Maurício Shogun UFC 128, 19/3/2011
Dan Henderson x Fedor Emelianenko Strikeforce, 30/7/2011
Anderson Silva x Yushin Okami II UFC Rio I, 27/8/2011
Frank Mir x Rodrigo Minotauro II UFC 140, 10/12/2011
Cain Velásquez x Junior Cigano II UFC 155, 29/12/2012
 Teve alguma luta que realmente te impressionou?
A última luta entre Junior dos Santos e Cain Velasquez... Eu acho que foi uma performance especial do Cigano, ele mostrou do que ele é feito... Não tirando o mérito do Cain, é claro, foi incrível o que ele fez, mas Cigano ter aguentado o que ele aguentou... Foi incrível.
Tem alguma luta que você se arrependeu depois de ter visto no vídeo?
Algumas talvez no início, quando eu poderia ter impedido algumas lutas de terem continuado porque um cara quebrou o nariz ou algo parecido, mas nada muito grave.
Como você vê a tecnologia a serviço do MMA?
A gente usa o replay para algumas coisas, quando a luta termina com algum golpe, podemos rever alguns golpes, se foi um golpe legal ou uma falta... Vamos ver o que podemos usar com a tecnologia no futuro.
O que você acha sobre as lutas femininas?
Estou muito feliz com as lutas femininas, as meninas trazem muitas técnicas diferentes, elas são diferenciadas.
Quais seus atletas favoritos no Brasil? Algum que você tenha uma admiração especial?
Antes de tudo, eu sou um árbitro. Eu não tenho um lutador favorito, eu não posso ter...
Mas como fã?
Eu não posso, eu nunca sou um fã... Imagina se a Comissão Atlética me ouve dizer que um lutador é meu favorito, eles nunca mais me deixam arbitrar uma luta dele. Mas eu acho que existem vários lutadores brasileiros que eu admiro e tenho muito respeito, acho que fazem um grande trabalho para o esporte. Eu acho que Anderson Silva é um ótimo embaixador do esporte, ele faz um ótimo trabalho, faz sempre algo especial. Ele traz uma energia incrível, sempre traz algo novo em cada luta, além de ser humilde. Outras lendas, como os irmãos Nogueira, eles sempre fazem coisas que achamos que não são possíveis, desde a época do Pride, e é disso que o nosso esporte se trata, fazer coisas que as pessoas não acham que sejam possíveis de serem feitas.
Mas de repente você pode falar dos aposentados?
Claro! Royce Gracie, todos nós devemos isso tudo a ele, né? Ele é incrível, fazer tudo que ele fez contra caras bem maiores. Inspirou todos nós a olhar e pensar, "Talvez a luta não seja apenas para caras grandes, é para todos".
E o público brasileiro? Te impressionou?
OK, o público brasileiro não tem comparação com nenhum outro público. Os brasileiros são muito intensos, eles amam as lutas, amam os lutadores. A energia é incrível, sempre vale a pena ir ao Brasil.
Herb Dean árbitro MMA UFC Savant Young Bellator (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)Herb Dean posa com o lutador Savant Young, do Bellator (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)
Você imaginou que o MMA teria essa proporção?
Eu sempre acreditei que o MMA seria gigantesco, foi por isso que eu estava ali desde o início. Se você acredita em alguma coisa e acha que é a melhor coisa que existe no mundo, você acha que um dia as pessoas vão perceber isso, é só questão de tempo. Agora temos vários empresários e pessoas com muito know-how chegando e trabalhando para o crescimento do nosso esporte, e eu fico muito feliz com isso. Eu acho que o futuro é imensurável. Os estigmas que ainda carregamos, precisamos continuar trabalhando em cima deles. Acho que precisamos de mais regras para o esporte amador e também expandir mais o esporte para que, assim como em outras modalidades, todos possam participar e entender o que está acontecendo.
E o futuro em relação a arbitragem e julgamentos?
Sempre vai haver decisões controversas, não é como os outros esportes. Mas uma coisa que nós vamos eliminar, com certeza, é a questão, "O que aquele árbitro está olhando, ele entende o que está acontecendo, já passou por situações como aquela", como se ele não entendesse o que se passa ali. Essa vai ser uma questão crucial e que estamos trabalhando muito em cima.
E sua família? Como ela reage com a sua fama?
Ah, minha família... Meus pais ficam muito felizes, meus filhos acompanham isso desde o início, desde que eles eram bebês, eles já engatinhavam no tatame (um menino de 19, e duas meninas). Eles já se acostumaram com isso.
Você tem um sonho de arbitrar alguma luta?
Um sonho? Posso imaginar qualquer luta? Se eu pudesse escolher? Mestre Hélio Gracie!! Mas nos tempos atuais, eu fico muito feliz em arbitrar qualquer luta que me colocam!

Nenhum comentário:

Postar um comentário