segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Herói em atentado, capitão doa 70% do fígado à mãe e sonha com 2016

Capitão da seleção de rúgbi do Afeganistão, Sayed Mustafa Sadat ganha o país após salvar homem durante atentado terrorista em Cabul, em setembro, e quer vir ao Rio

Por Rio de Janeiro
Sayed Mustafa Sadat Rugby ataque terrorista (Foto: AFP)Sayed Mustafa Sadat com a vítima do atentado terrorista no colo, em Cabul (Foto: AFP)
"A nossa religião diz que a pessoa que salva um homem não faz apenas isso, salva toda a humanidade". A frase é de Sayed Mustafa Sadat, 26 anos. Ele não é apenas mais um jovem afegão. Nascido em Cabul, capital do Afeganistão, país que vive há anos uma guerra civil sangrenta e sofre recorrentemente com atentados terroristas, ele é capitão da seleção de rúgbi nacional e, desde o início de setembro, é tratado como um herói, mas não apenas por sua performance em campo.
Sayed sonha levar seu país para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, na modalidade rúgbi "sevens", e entre um treino e outro, ganhou o respeito de seus compatriotas. Depois de um treino com o time em Cabul, ao deixar a atividade em seu carro, Sayed ouviu um grande estrondo e viu muita fumaça no ar. Em poucos minutos, viu pessoas correndo para todos os lados. Não precisou pensar muito para perceber que mais um atentado terrorista havia acontecido no Afeganistão. O capitão não pensou duas vezes. Deixou o carro ali mesmo e foi a pé até o "epicentro". Lá, encontrou um homem, que até hoje ele não conhece, se contorcendo de dor e muito ferido.
Sayed andou por vários quilômetros até encontrar um hospital em Cabul (Foto: AFP)

O capitão pegou o homem no colo e buscou ajuda com outros carros próximos para levá-lo a um hospital. Sem respostas positivas, ele o fez sozinho. Carregou o ferido em seu colo por mais de 3km até o hospital mais próximo. Sem saber se a vítima sobreviveu, ele se dá por satisfeito por ter feito a sua parte.
- Quando o atentado aconteceu, eu estava no meu carro, dirigindo após o treino, e de repente vi que as pessoas estavam deixando a área, correndo, e eu não consegui ouvir mais nada. Vi essas pessoas todas correndo para o sentido contrário e fui em direção ao atentado ajudar as vítimas. Vi um homem ferido debaixo de um veículo e então o peguei nos meus braços e tentei levá-lo até um carro. Ninguém ajudou, então o levei assim mesmo - explicou Sayed, em entrevista por e-mail ao GloboEsporte.com.
Sayed em ação pela seleção do Afeganistão (Foto: Reprodução/Facebook)Sayed em ação pela seleção do Afeganistão (Foto: Reprodução/Facebook)
Ele espera ter dado o exemplo não apenas para seus companheiros de time, mas também para o povo do seu país.
- A minha religião diz que o homem que salva uma pessoa não faz apenas isso, mas salva toda a humanidade. Quando vi os artigos com meu nome sobre tudo o que aconteceu fiquei muito feliz. Espero que isso possa mostrar para as pessoas que ainda existem outras pessoas boas no mundo - frisou Sayed.
Com o esporte ainda engatinhando em Cabul, o afegão sonha com as Olimpíadas de 2016, no Brasil, quando a modalidade será disputada com sete atletas de cada lado. Sayed sabe que o caminho é difícil, mas mostra otimismo, além de ter outras prioridades esportivas.
- Eu acho que vamos estar no Rio 2016, mas ainda não tenho certeza porque não estávamos nos Jogos Asiáticos deste ano na Coreia do Sul, por isso não estamos tão otimistas. Além disso, tenho o sonho de ver o nosso time jogando contra as seleções da União Europeia.
70% do fígado doados para a mãe
Sayed doou 70% do seu fígado para sua mãe (Foto: Arquivo Pessoal)Sayed doou 70% do seu fígado para sua mãe (Foto: Arquivo Pessoal)
O ato heroico de Sayed mexeu com as emoções no Afeganistão, que vive em guerra desde 2001, quando começou a sofrer bombardeios dos Estados Unidos após os atentados terroristas de 11 de setembro do mesmo ano. Desde então, 13 mil pessoas morreram e uma força americana de quase 10 mil soldados ajuda no controle do país, tentando manter a ordem. Há três anos, porém, ele teve outro ato de solidariedade e amor ao próximo, dentro da própria família.
Com a mãe doente, Sayed doou 70% do seu fígado para ela. A cirurgia, chamada de transplante hepático intervivos, com 17 horas de duração, aconteceu em fevereiro de 2013, em Nova Deli, na Índia. Hoje, a mãe de Sayed está viva e saudável e ele segue jogando rúgbi com apenas 30% do seu fígado.

- Fico feliz e satisfeito de ver minha mãe saudável e ao lado dos seus irmãos. Sinto-me orgulhoso do que fiz e por ser um exemplo de como salvar uma mãe. A operação era arriscada, mas a decisão foi fácil. Eu me ofereci para se o doador e estava pronto para sacrificar minha vida por ela. Eu me considero um sortudo por ser capaz de salvar a vida da minha mãe - finalizou.
Cirurgia manteve a mãe de Sayed viva e saudável até hoje (Foto: Arquivo Pessoal)

Nenhum comentário:

Postar um comentário