Após tragédia que devastou o país, Edson Tavares vê ‘Projeto-2014’ com
bons olhos, apesar de todas as dificuldades: ‘Vida de treinador é 90 minutos’
Uma obra triste do destino colocou o técnico Edson Tavares no caminho do Haiti. Por conta do terremoto de sete graus que chocou o mundo e arruinou o país em janeiro, a Federação de Futebol, em parceria com a ONG Viva Rio, optou por dar chance aos brasileiros no comando - é assim também na seleção feminina. O treinador, que até pensara em abandonar o esporte, em 2007, pediu demissão de seu clube no Omã e aceitou o desafio.
Não está apenas no bigode a semelhança de Edson Tavares com René Simões (Foto: André Durão)Edson Tavares foi para a Suíça, ainda jovem, tentar futuro no futebol como todo jogador deslumbra. Viveu por lá durante 18 anos, incrementou o currículo com o francês entre as línguas fluentes - é como se comunica com os jogadores - e realizou um curso de treinador. Depois, passou muitas temporadas no Oriente Médio, entre Irã, Omã e outros países. Agora são novos tempos.
GALERIA DE FOTOS: veja as imagens do primeiro treino do Haiti no Rio de Janeiro
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, o treinador se mostrou animado com o projeto, apesar de todas as dificuldades dentro e fora de campo e do seu estilo calmo, semelhante ao de René Simões, a quem foi “aluno” nos tempos de Vasco. A meta, é claro, é vaga na Copa do Mundo de 2014, embora admita que ainda é um sonho muito distante da realidade do Haiti, que está no Rio de Janeiro em preparação para a pré-Copa Ouro, em novembro, em Trinidad e Tobago.
Confira a entrevista completa abaixo:
GLOBOESPORTE.COM: como surgiu o convite para treinar o Haiti?
Treinador morou 18 anos na Suíça, onde tentou
fazer sucesso como jogador (Foto: André Durão)EDSON TAVARES: Há três anos, em 2007, eu tinha decidido parar com o futebol. Um amigo que é agente da Fifa me apresentou a uma pessoa que tinha sido dirigente do Flamengo, Nildo Leão. Era diretor de futebol numa equipe da Grécia. Passou um tempo e nesse ano quando eu voltei dos Emirados, de férias, ele ligou para mim. Precisavam de um treinador bilíngue. Encontrei-me com ele, que explicou o projeto da ONG Viva Rio. O presidente veio ao Rio para ver as instalações e deu o aval dele. Só que a decisão demorou e eu voltei para o Omã. Fiquei até agosto, quando confirmaram tudo e pude assinar minha carta de demissão.
Esse projeto é até o fim das eliminatórias?
O projeto de futebol é 90 minutos. A vida de treinador é 90 minutos também. Então, em tese, é até o fim das eliminatórias mesmo. Mas a gente vive uma realidade desagradável no mundo inteiro, exceção à Europa.
O Haiti tem realmente condição de surpreender?
Se houver investimento, sim. Eles têm material humano, o pessoal não é bobo, sabem jogar e têm qualidade, mas falta muita coisa ainda para desenvolver. Refiro-me à base local. A base do exterior, em teoria, é formada de jogadores que estão formados, independentes financeiramente e que não moram no Haiti. Acredito que naquela zona da América Central há poucas equipes para ir à Copa do Mundo. Estados Unidos e México são de carteirinha, mas nem sempre os mexicanos vão. Ainda temos Costa Rica, Honduras, Jamaica... E só. É diferente da América do Sul, que temos dez países mais ou menos no mesmo nível, exceção à Brasil e Argentina. Quase todos já foram à Copa do Mundo. A Venezuela está muito forte. O Brasil não ganhou da Bolívia nas eliminatórias.
O que dá para tirar de proveito do mês que vocês ficam no país (a cada três, os outros dois são no Brasil)?
Lá é observação, pegar os jogadores e colocar para treinar. E só. A estrutura é zero, está tudo destruído. Caiu prédio, morreu treinador... Eu, inclusive, só estou aqui porque o treinador morreu. Mas vai acontecer alguma coisa, pois a Fifa está construindo um novo centro da Federação. É claro que não sabem fazer campo de futebol, fazem sem sistema de drenagem, vestiário sem chuveiro... Esse tempo em que fiquei lá pude ajudar a fazer as coisas profissionalmente. Há outro centro que é o do Viva Rio, esse sim de altíssima qualidade e primeiro mundo. Acho que com capacidade para 200 ou 300 atletas, boas acomodações, piscina, cozinha, quadra de areia... Tem de tudo lá.
Técnico não sentou na janela do ônibus e ainda brincou com a equipe de reportagem (Foto: André Durão)Houve algum progresso no futebol do Haiti nos últimos anos?
Tem que se considerar que houve uma catástrofe no país esse ano. Então a liga, que era para começar em março, teve início em agosto. Eles estão jogando com um traumatismo muito grande. Muitos jogadores morreram, familiares, o que acabou igualando o nível. Antes eu soube que estava progredindo muito, talvez pela influência brasileira.
Você comentou sobre a alegria e descontração dos jogadores, algo cultura. Eles chegaram a desabafar e contar histórias sobre a tragédia?
Não. E eu nunca perguntei. Não se deve tocar em ferida fechada ou que se quer fechar. Não vou entrar nesse detalhe. A evidência está lá. O próprio presidente da federação ficou com sequelas, com mão e perna paralisadas.
Não está apenas no bigode a semelhança de Edson Tavares com René Simões (Foto: André Durão)GALERIA DE FOTOS: veja as imagens do primeiro treino do Haiti no Rio de Janeiro
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, o treinador se mostrou animado com o projeto, apesar de todas as dificuldades dentro e fora de campo e do seu estilo calmo, semelhante ao de René Simões, a quem foi “aluno” nos tempos de Vasco. A meta, é claro, é vaga na Copa do Mundo de 2014, embora admita que ainda é um sonho muito distante da realidade do Haiti, que está no Rio de Janeiro em preparação para a pré-Copa Ouro, em novembro, em Trinidad e Tobago.
Confira a entrevista completa abaixo:
GLOBOESPORTE.COM: como surgiu o convite para treinar o Haiti?
Treinador morou 18 anos na Suíça, onde tentoufazer sucesso como jogador (Foto: André Durão)
Esse projeto é até o fim das eliminatórias?
O projeto de futebol é 90 minutos. A vida de treinador é 90 minutos também. Então, em tese, é até o fim das eliminatórias mesmo. Mas a gente vive uma realidade desagradável no mundo inteiro, exceção à Europa.
O Haiti tem realmente condição de surpreender?
Se houver investimento, sim. Eles têm material humano, o pessoal não é bobo, sabem jogar e têm qualidade, mas falta muita coisa ainda para desenvolver. Refiro-me à base local. A base do exterior, em teoria, é formada de jogadores que estão formados, independentes financeiramente e que não moram no Haiti. Acredito que naquela zona da América Central há poucas equipes para ir à Copa do Mundo. Estados Unidos e México são de carteirinha, mas nem sempre os mexicanos vão. Ainda temos Costa Rica, Honduras, Jamaica... E só. É diferente da América do Sul, que temos dez países mais ou menos no mesmo nível, exceção à Brasil e Argentina. Quase todos já foram à Copa do Mundo. A Venezuela está muito forte. O Brasil não ganhou da Bolívia nas eliminatórias.
O que dá para tirar de proveito do mês que vocês ficam no país (a cada três, os outros dois são no Brasil)?
Lá é observação, pegar os jogadores e colocar para treinar. E só. A estrutura é zero, está tudo destruído. Caiu prédio, morreu treinador... Eu, inclusive, só estou aqui porque o treinador morreu. Mas vai acontecer alguma coisa, pois a Fifa está construindo um novo centro da Federação. É claro que não sabem fazer campo de futebol, fazem sem sistema de drenagem, vestiário sem chuveiro... Esse tempo em que fiquei lá pude ajudar a fazer as coisas profissionalmente. Há outro centro que é o do Viva Rio, esse sim de altíssima qualidade e primeiro mundo. Acho que com capacidade para 200 ou 300 atletas, boas acomodações, piscina, cozinha, quadra de areia... Tem de tudo lá.
Técnico não sentou na janela do ônibus e ainda brincou com a equipe de reportagem (Foto: André Durão)Tem que se considerar que houve uma catástrofe no país esse ano. Então a liga, que era para começar em março, teve início em agosto. Eles estão jogando com um traumatismo muito grande. Muitos jogadores morreram, familiares, o que acabou igualando o nível. Antes eu soube que estava progredindo muito, talvez pela influência brasileira.
Você comentou sobre a alegria e descontração dos jogadores, algo cultura. Eles chegaram a desabafar e contar histórias sobre a tragédia?
Não. E eu nunca perguntei. Não se deve tocar em ferida fechada ou que se quer fechar. Não vou entrar nesse detalhe. A evidência está lá. O próprio presidente da federação ficou com sequelas, com mão e perna paralisadas.
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