quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Chefe do comitê sul-africano alerta o Brasil: 'Não há mais tempo para falar'

Danny Jordaan diz que país precisa se movimentar para realizar uma grande Copa em 2014 e analisa questões fundamentais para a realização do torneio

Por Márcio Iannacca Rio de Janeiro
Danny Jordan durante coletiva do SoccerexDanny Jordaan durante a palestra na Soccerex
(Foto: Márcio Iannaca / GLOBOESPORTE.COM)
Principal convidado da Soccerex, convenção de negócios e futebol, realizada no Forte de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o presidente do comitê organizador da Copa do Mundo da África do Sul, Danny Jordaan, fez um alerta ao Brasil durante a sua palestra no evento. Segundo o dirigente, o país não tem mais tempo para conversa fiada e precisa colocar as mãos na massa para realizar um bom Mundial em 2014.
- Queríamos um novo aeroporto em Durban. Discutimos por 15 anos e as obras nunca começaram. E por causa da Copa do Mundo, construímos o aeroporto em 15 meses. O problema é esse. Às vezes a gente fala demais. O que temos de fazer é um projeto, monitorado e vigiado, com prazo. Um estádio leva 24 a 27 meses para construir. Não há mais tempo para falar, tem de começar a fazer. Tem de dizer, se me chamar para uma reunião, eu não vou. Se me chamar para o local de construção, eu vou - afirmou o dirigente.
Antes do início da palestra de Jordaan, um vídeo com imagens do Mundial da África do Sul foi exibido no local do encontro. O presidente do comitê organizador falou por cerca de 45 minutos antes de conversar com os jornalistas. Ele comentou as dificuldades que o país passou para realizar a Copa do Mundo e de como tudo foi organizado para que a primeira competição em solo africano se tornasse um sucesso em todos os sentidos.
Abaixo, confira os principais trechos da entrevista com Danny Jordaan:
Condição dos aeroportos brasileiros
É muito importante, é o cartão de visita, a porta de entrada do país. A maior parte das seleções vem da Europa, da Ásia, da África, então é um ponto crucial da organização. Na África  do Sul precisaram de um trabalho especial (o país teve três pontos de entrada: Durban, Joanesburgo e Cidade do Cabo).
Lucros do Mundial da África do Sul
O que fizemos é que o comitê organizador era uma companhia registrada e nessa companhia tínhamos o governo, sindicatos, futebol e empresários. Decidimos que qualquer dinheiro gerado iria para o desenvolvimento do futebol no país. Não sei como o comitê aqui é constituído, então não vou comentar. Nós tínhamos que ter relatórios anuais publicados e mostrados a todos, inclusive balanços finaneiros. Sempre tentamos ter um alto grau de transparência. É importante que as pessoas concordem com o projeto. Os sul-africanos apoiaram o evento e isso foi muito importante para se obter sucesso.
Estádios na África do Sul
As cidades receberam o dinheiro do governo para construir os estádios e por isso as cidades são donas dos estádios, de toda a infraestrutura agora. Na África do Sul, funcionou. Agora, após a Copa, estamos buscando parcerias em mais de um esporte, unindo, por exemplo, o futebol e o rugby. O Santiago Bernabéu recebe quatro mil visitas por dia. Temos que começar a captar esses torcedores. No Brasil, o Maracanã precisa ser o melhor. Temos que passar mais tempo nos estádio, não apenas para assistir aos jogos.
Danny Jordan durante coletiva do SoccerexDanny Jordaan diz que Brasil terá muito trabalho até 2014 (Foto: Márcio Iannaca / GLOBOESPORTE.COM)

Copa no Brasil
Será fantástica, é o país do futebol. O desafio agora é a infraestrutura. Para o estádio, você precisa testar, então você precisa de três ou quatro partidas antes da Copa do Mundo. Não sei como está sendo feito aqui, mas é importante que se teste com 25%, depois 50%, e em seguida com 100% da capacidade. Testar tudo, credenciamento, iluminação, estacionamento, enfim tudo o que faz o estádio estar em operação para a Copa do Mundo. Se o Brasil conseguir isso, acho que o resto será tranqüilo. Espero que os brasileiros saibam que essa é uma oportunidade incrível. A nação precisa entregar uma ótima Copa. O mundo vai ver uma Copa no Brasil, não importa se for na Bahia, em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Vocês vão vencer e perder juntos.
Ajuda ao comitê organizador do Brasil
Se o comitê pedir, estou pronto para ajudar.
Pressão da imprensa local e internacional
Nunca tivemos duas Copas seguidas em países em desenvolvimento. Os focos da imprensa internacional ainda não estão no Brasil. Na África do Sul, nós tivemos 245 emissoras de TV.  Quando essas câmeras começarem a mostrar as cidades, os aeroportos, as coisas vão começar a ficar complicadas. É difícil responder tudo, explicar cada situação que você encontra. Vai ser uma Copa incrível, mas o Brasil tem muito trabalho. Não sei se os brasileiros preferem sediar uma boa Copa e sair na primeira rodada, como nós. Ou vencer a Copa sem se importar muito com a organização. Acho que o Brasil quer os dois. Então terão trabalho.
Segurança
É preciso usar as leis nacionais para guiar as regras durante a competição. A segurança, por exemplo, é muito importante, mas é complexa. Em nosso país existiam mais de dois comandos de polícia, mas é preciso ter apenas um plano de segurança, um controle de comando. As pessoas vão se deslocar de uma cidade para a outra, os torcedores seguem suas seleções, e é preciso ter um plano de segurança único, que cubra todo o evento. Quando você tem uma legislação que define tudo, o próximo passo está ligado em definir os papéis e a responsabilidade de cada setor.
Organização do Mundial
Existem muitas estruturas temporárias, pontos de credenciamento. E abre-se o debate: quem é responsável pelo quê? As autoridades precisam entender isso e preparar as operações. Caso não tenha isso, pode-se gerar atrasos e um custo maior das obras. Para que tudo dê certo, deixe as coisas bem claras, escreva no papel e assine.
Cidades-sede descartadas
Tivemos 13 cidades candidatas e nós só queríamos nove. Tivemos que eliminar quatro. Esse foi um grande problema. Tivemos outros eventos fora da Copa e levamos para essas cidades que não foram escolhidas como sedes. Levamos a nossa equipe para jogar em algumas cidades como essas. Fizemos o máximo para incluir esses locais no Mundial. Algumas cidades fizeram upgrades em seus estádios e depois foram cortados do Mundial. O Uruguai ficou em Kimberley, uma das cidades que não tiveram o direito de sediar a Copa. No Brasil, quinze cidades se candidataram, mas apenas 12 foram escolhidas.
Copas de 2018 e 2022
Fui parte da equipe de inspeção da Fifa e visitei os países candidatos. Não dá para perguntar para o juiz antes do jogo quem vai ganhar. Eu sou juiz e posso dizer que será uma briga acirrada. O jogo será decidido nos acréscimos. Nunca vi tanta disputa por uma Copa. O compromisso e a paixão que vimos durante as inspeções foram grandes. Após as escolhas do Brasil e da África do Sul o perfil dos candidatos aumentou. O processo de candidatura ficará ainda mais difícil. Com o Mundial e com as Olimpíadas, o Brasil é invejado pelo mundo.
Sistema de votação para escolha dos Mundiais de 2018 e 2022
Para 2018 e 2022, o sistema de votação permanecerá o mesmo. Temos que ver o que vai acontecer no dia 2 de dezembro. Poderá ter ou não discussões. Vamos aguardar.

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