Na base da transpiração, Fla cozinha o Brasília e continua na cola do líder
Em clássico tenso e cheio de erros, Rubro-Negro supera o rival no forte calor do ginásio do Tijuca e se iguala ao Pinheiros, que lidera pelo confronto direto
Teichmann passa pela marcação e consegue uma
enterrada (Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)
Para um ginásio que o Flamengo chama de caldeirão, a temperatura devia estar muito perto do ponto de fervura. Enquanto o sol castigava os cariocas – os que não foram à praia, claro – em plena hora do almoço no domingo, o Rubro-Negro abria as portas do Tijuca Tênis Clube para o clássico de maior rivalidade no basquete nacional. Do outro lado da quadra estava o Brasília, com prestígio de líder do NBB. Da beleza técnica, ninguém pôde se orgulhar. Em jogo tenso do início ao fim, repleto de erros e precipitações, riu por último quem manteve o controle. O Flamengo aproveitou o desequilíbrio do adversário no segundo tempo para deslanchar e cravar a vitória por 93 a 80. Mais que o sabor de cozinhar os arquirrivais, o resultado vale o retorno à parte de cima da tabela, a duas rodadas do fim da primeira fase.enterrada (Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)
O Flamengo tem agora 19 vitórias em 26 jogos, mesma campanha do Pinheiros, que leva vantagem no confronto direto e por isso é o líder de fato. Os dois próximos jogos serão na estrada, contra São José e Limeira. Se tivesse vencido por um ponto a mais, o clube carioca teria vantagem no confronto direto com o Brasília – cada um ganhou uma, mas o saldo favorece a equipe da capital. Os atuais campeões do NBB só jogam mais uma vez, em casa, contra Joinville, e precisam torcer muito por tropeços dos concorrentes se quiserem terminar o campeonato no alto da classificação.
No duelo de 58 tiros de três, muitos deles precipitados, até os lances livres contaram com erros acima do normal. O Flamengo venceu com 27 pontos de Marcelinho, mais do que acostumado à tensão de enfrentar o Brasília.
- É uma rivalidade de muito tempo. O jogo teve ingredientes de playoffs, foi mérito das defesas. Sabíamos da importância desta vitória, e agora temos essa sequência fora de casa. É muito difícil. Mesmo faltando apenas duas rodadas, não dá para fazer previsões – comentou Marcelinho logo após a partida, quando o clima tenso já tinha se dissipado e seu filho Gustavo batia bola no garrafão.
O Brasília teve 29 pontos de Alex, único do time a manter a regularidade nos quatro períodos. Nezinho fez 16, mas cometeu oito desperdícios e falhou em lances bobos, tirando do sério o técnico José Carlos Vidal. Encharcado de suor, Alex foi até o banco e pegou uma toalha branca antes de falar sobre a missão de secar os rivais.
- Jogar neste ginásio, neste horário, com o calor do Rio, é muito difícil. Desgasta bastante. Cometemos erros nesta partida e em outras, poderíamos estar mais perto da liderança. Mas todo mundo ainda pode ser surpreendido. Vamos jogar em casa contra Joinville e esperar para ver – afirmou o ala-armador, perseguido pela torcida o tempo todo.
Marcelinho foi o segundo maior pontuador do clássico (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)
Em condições normais, o confronto seria na Arena da Barra, mas o show da banda Iron Maiden neste domingo forçou o Fla a mudar o palco do clássico. O calor implacável do Rio afugentou parte da torcida, que não chegou a lotar as arquibancadas do Tijuca. Mas o número era suficiente não só para brindar os jogadores do Brasília com os "elogios" de sempre como também para abafar o Hino Nacional cantando o do Flamengo por cima a plenos pulmões.Quem também não compareceu, mas por outros motivos, foi a dupla de pivôs que deveria tomar conta dos garrafões. Do lado rubro-negro, Bábby sofreu uma lesão no ombro esquerdo e pode ficar até 20 dias parado. Pelo Brasília, Lucas Tischer, com um estiramento na panturrilha, também era desfalque.
Àquela altura, Pinheiros, Franca, Uberlândia, Bauru e Joinville já tinham vencido na rodada. Ou seja, quem perdesse no Rio ficaria numa enrascada na briga pela liderança.
Antes de a bola subir, foi respeitado um minuto de silêncio pela morte da mãe do pivô Átila dos Santos, do Fla – o único momento da tarde com decibéis reduzidos. Em seguida, Teichmann e Cipriano pularam para o tapinha inicial. Deu Cipriano, mas a bola caiu na mão de Duda, que partiu para a bandeja e levantou a torcida pela primeira vez.
O time da casa emplacou um início arrasador com 7 a 0, enquanto os visitantes erravam tudo e só pontuaram após três minutos, com Alex num chute de três. O Brasília chegou a cortar para 9 a 7, mas o Fla emendou sete pontos seguidos e abriu uma vantagem confortável.
Como de hábito no clássico, as duas equipes, nervosas, abusavam dos erros no ataque. O Flamengo ao menos aproveitava as brechas na defesa rival e se mantinha à frente. Chegou a abrir 13 pontos e virou o primeiro quarto vencendo por 20 a 12.
Na volta para o segundo período, mais um festival de falhas. Após um minuto e meio, com o placar ainda zerado, Alex tentou uma infiltração e foi ao chão, levando a mão à perna esquerda. Ficou quase um minuto caído e deixou a quadra mancando, com cara de dor, sob uma chuva de vaias.
A primeira cesta veio após dois minutos de bola quicando, com Nezinho, mas o Fla logo respondeu com duas bolas de três de Jefferson, cestinha da equipe no primeiro tempo com nove pontos. Mesmo sem Alex, o Brasília cortou a vantagem para dois. O ala voltou a quatro minutos do intervalo e viu o Fla abrir cinco outra vez. Antes do estouro do cronômetro, Duda quase acertou do meio da quadra. A torcida ficou com o grito engasgado, mas ao menos viu o time sair para o vestiário vencendo por 34 a 29 – placar baixo que ilustrava os erros.
Na volta para o terceiro período, Nezinho tentava manter o Brasília na briga, mas o Flamengo atacava com Hélio, Duda e Marcelinho. Assim abriu 11 pontos, e o jogo voltou a ficar ruim, cheio de precipitações nos dois lados da quadra. Os chutes eram basicamente de três, e foi preciso que Alex acertasse dois seguidos para enfim mexer no placar. A diferença caiu para meia dúzia, mas voltou para dez com uma cravada de Teichmann que levantou a torcida no ginásio. Logo depois, pulou para 12 com uma bandeja de Marcelinho, e àquela altura o clima era de festa total. Apesar de uma boa bola – de três, claro – de Rossi, os donos da casa venciam por 66 a 56 na virada para os últimos dez minutos, com direito a cesta de Teichmann no estouro do relógio.
O americano David Teague é marcado de perto por Rossi (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)
Depois de um minuto e meio com arremessos precipitados amassando o aro, o placar do último período se mexeu com um tiro de longe de Marcelinho. O Brasília cometia erros bobos no ataque, e os anfitriões aproveitavam para manter sua zona de conforto no placar. Livres ou marcados, os visitantes erravam tudo. Neste momento Vidal pediu tempo e nem permitiu que os atletas se sentassem. Com todos de pé, caprichou na bronca. Não adiantou muito.O primeiro ponto do Brasília no último quarto só veio após quase quatro minutos, quando o Flamengo já liderava por 18. Nezinho, jogando muito mal, bateu boca com Wagner e passou a ser "homenageado" pelos gritos da torcida. O Rubro-Negro ainda conseguiu organizar um pouco seu esquema ofensivo, mas o clima ficou tenso, com faltas técnicas dos dois lados e muita reclamação com a arbitragem. Com o jogo truncado e ainda baseado quase exclusivamente nas bolas de longa distância, o cronômetro correu até o fim.
Ao Brasília, resta vencer sua última partida, contra Joinville, e secar os rivais. O Fla, que ainda joga duas vezes fora de casa, passa a ser o maior rival do Pinheiros na luta pela liderança. Ao fim do jogo, a torcida no Tijuca nem queria saber disso. Só pensava em saudar seus atletas no caldeirão. Sem trégua do calor, mas com a alma lavada.
Confira todos os resultados da rodada:
Joinville 102 x 57 Vila Velha
Franca 92 x 68 Assis
Bauru 95 x 73 Araraquara
Pinheiros 83 x 74 São José
Minas 62 x 96 Uberlândia
Paulistano 70 x 61 Limeira
Flamengo 93 x 80 Brasília
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