sábado, 30 de julho de 2011

Absoluto na defesa, Castán supera drama e agradece ao 'padrinho' Tite

Com raça, zagueiro conquista seu espaço e a torcida no reencontro com o técnico que o revelou. Neste domingo, fará seu 35º jogo em 37 possíveis

Por Carlos Augusto Ferrari São Paulo
Leandro Castán, do Corinthians (Foto: Marcos Ribolli / globoesporte.com)Leandro Castán, feliz da vida no Corinthians
(Foto: Marcos Ribolli / globoesporte.com)
Quando o árbitro Wilson Pereira Sampaio apitar neste domingo o início da partida entre Avaí e Corinthians, Leandro Castán atingirá uma marca que não poderia imaginar. De quarta opção do setor no ano passado, o zagueiro agora é em titular absoluto do Timão e se transforma, neste fim de semana, no segundo jogador que mais vezes vestiu a camisa alvinegra em 2011, com 35 partidas em 37 possíveis (Ralf completará 36). Uma glória para quem chegou a pensar em deixar o clube e viveu recentemente momentos difíceis na vida pessoal.
- É um momento muito bom. Espero continuar crescendo, tenho muito a aprender. Acho que estou aproveitando o momento e não posso me acomodar nunca. Estou procurando fazer o melhor para aprimorar as coisas que ainda tenho deficiência. Ser zagueiro do Corinthians é uma grande responsabilidade – afirmou o defensor, que não atuou nos dois jogos em que Tite decidiu dar descanso a titulares no Paulistão.
Nesta entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, concedida no apartamento em que mora com a família, na área nobre da zona leste de São Paulo, Castán celebra o grande momento da carreira e a identificação que vem criando com a torcida para superar o drama que viveu há quase dois meses ao acertar, acidentalmente, um tiro de chumbinho em um de seus melhores amigos, durante confraternização, em Jaú, sua cidade natal.
- Foi um período muito difícil, mas passamos por cima.
Aos 24 anos e depois de passar momentos engraçados e de sofrimento na Suécia, onde conheceu o gosto do ex-atacante Larsson pelo pagode, o zagueiro evita fazer planos para o futuro e agradece ao técnico Tite por tê-lo revelado no Atlético-MG e agora confiado a ele a chance de formar a dupla com o ídolo Chicão, a menos vazada do Brasileirão (cinco gols).
GLOBOESPORTE.COM: O episódio com seu amigo Leonardo aconteceu há quase dois meses. Como foi passar por aquilo no momento em que se firmava no Corinthians?
Leandro Castán: Foi um período muito difícil, mas passamos por cima. Ainda bem que o Léo se recuperou rapidamente e não teve nenhum problema mais grave. Isso me deu tranquilidade para continuar jogando normalmente. Aquilo foi superado e serviu de lição.
Seu estilo de jogo, com bastante vontade, agrada muito a torcida do Corinthians. Os torcedores vibram muito quando você faz algum corte mais forte. Já notou isso?
Tem de chegar firme. A torcida do Corinthians gosta que mostre raça. Eu vejo que, quando chego junto, num carrinho, a torcida vibra muito. Isso dá moral, dá força. É legal sentir esse carinho. Eu e o Chicão nos completamos. Ele é mais técnico, eu tenho mais força. Formamos um boa dupla, e é muito legal jogar ao lado dele.
Hoje, você é titular absoluto, mas, no ano passado, viveu momentos difíceis no clube por ter poucas chances. Chegou a pensar em ir embora?
Quando vim para cá, sabia que não jogaria porque o William era o titular. Só eu e minha esposa sabemos o que passei. Logo depois da Libertadores, eu não estava nem indo para o banco e ficava chateado. Pensei em ir embora, nunca tinha passado por algo assim, mas minha família me deu tranquilidade para esperar o momento. Foi o que eu fiz. Tive paciência de continuar buscando meu espaço. Foi bom ter esperado.
Leandro Castán, do Corinthians (Foto: Marcos Ribolli / globoesporte.com)Leandro Castán diz que não pensa em sair do Corinthians (Foto: Marcos Ribolli / globoesporte.com)
O William se aposentou, o Paulo André foi operado, e você se firmou. Como veio a chance com o Tite?
Quando começou a pré-temporada, o Tite conversou comigo e disse que o Corinthians tentaria trazer um zagueiro, mas que eu começaria jogando. Ele deu o exemplo do Jucilei, que jogou mesmo quando outros volantes foram contratados. Peguei isso como motivação e deu certo. A cada jogo fui ganhando confiança. Nas finais do Paulista fiz grandes apresentações, principalmente nas semifinais contra o Palmeiras, e ganhei moral com o grupo.
O Tite foi o treinador que o lançou no Atlético-MG logo em um clássico contra o Cruzeiro, para marcar o Fred. Qual é o peso que ele tem na sua carreira?
O Tite foi essencial. Foi ele quem deu a minha primeira oportunidade, aos 18 anos. É um cara que me conhece desde moleque, sabe a pessoa que eu sou. Eu nunca esqueço. O Atlético-MG estava passando por um momento difícil financeiramente, com salário atrasado e muita gente sem jogar. Fizemos um jogo-treino contra o profissional e vencemos por 3 a 0. Na saída, o pessoal disse que a partir do dia seguinte iria me trocar com o profissional. Foi uma alegria só. Pouco depois, o André Luis, zagueiro que concentrava comigo, disse que estava sendo vendido e eu jogaria o próximo jogo. Foi logo contra o Cruzeiro. Fiz uma grande partida e me firmei.
com a palavra, o 'padrinho' Tite
  • Leandro Castán estreou como profissional no Atlético-MG, num jogo contra o Cruzeiro, em 2005. O técnico que o promoveu era Tite, seu atual comandante no Corinthians. O treinador é só elogios a Castán. "É um grande jogador. Eu o coloquei para marcar o Fred, e ele fez um grande jogo. Sabia da qualidade, mas não imaginei que pudesse evoluir tanto quanto agora".
Depois do Atlético-MG você foi para o Helsingborgs, da Suécia. Como foi essa época?
Foi uma aventura, cheguei a pegar 15 graus negativos. A comida também era horrível. O pessoal tomava leite puro no almoço, comendo com espaguete. Fiquei oito meses e passei por alguns apuros. Foi bom para amadurecer, joguei uma Copa da Uefa e vi que o futebol não é só um conto de fadas. Pensei que seria difícil voltar para um grande clube. No dia que meu empresário da época me ligou dizendo que eu tinha de voltar rápido para ser inscrito pelo Barueri, peguei um táxi e fui para o aeroporto mais próximo na Dinamarca. Só trouxe o que coube na mala. O resto ficou por lá. Nunca mais falei com ninguém (risos).
Não teve nada de bom?
Uma coisa legal foi ter conhecido o Larsson, que jogou no Barcelona e no Manchester United. O pai dele nasceu na África, e ele conseguia falar português. Ele sempre brincava comigo. Os jogadores lá gostam de ouvir música antes das partidas. De repente, entra uma música do grupo Revelação (pagode). Ele olhou para mim e disse que era um presente do Ronaldinho Gaúcho. Era um cara muito legal, mas perdi contato.
Essa experiência não tão boa deixa você mais cauteloso com propostas do exterior?
Com a família é complicado (ele é casado e tem um filho). Para sair do Corinthians é preciso pensar muito. É o clube que todo mundo quer jogar na América do Sul, com uma torcida apaixonada. No Brasil, na minha opinião, é o melhor clube para se jogar. Claro que todo mundo quer jogar na Seleção Brasileira ou em um grande clube da Europa, mas não fico pensando no futuro. Meu objetivo agora é ser campeão.
A campanha inicial do Corinthians no Brasileirão foi fantástica, mas veio a derrota para o Cruzeiro e a aproximação dos rivais. Como você analisa essa briga pelo título?
O Corinthians é favorito só pela tradição. Acho que as primeiras equipes deram uma boa distanciada. Não acredito que perderão muitos pontos. Sabemos que será muito difícil. A equipe está focada em conquistar esse título tão importante.

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