quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Do campo às arquibancadas, China tenta encurtar abismo para potências

Jogadores brasileiros e argentinos reforçam futebol chinês, mas as diferenças entre os ocidentais e orientais ainda são enormes dentro e fora de campo

Por Lydia Gismondi Enviada especial a Guangzhou, China
HEADER Negócio da China (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
torcida china Guangzhou (Foto: Lydia Gismondi/Globoesporte.com)Chineses trocam telão pelo joguinho de dados
(Foto: Lydia Gismondi/Globoesporte.com)
O relógio já se aproximava dos 10 minutos de jogo quando, enfim, o telão de um dos principais bares inspirados em esporte da cidade de Guangzhou começou a transmitir o clássico entre o time da casa e o Beijing Guoan, rival direto na disputa do título do campeonato chinês. As paredes dos dois andares decoradas com diversas camisas de futebol – menos a do time local, o Evergrande, - e imagens com personalidades importantes de várias modalidades davam o ar esportivo ao pub. Na plateia, quatro ou cinco mesas eram ocupadas por chineses e outras duas por gringos. Mas só um grupo de jovens realmente prestava atenção, ou se esforçava para isso, na partida. Ainda assim, o que se viu e ouviu foram apenas alguns “Ohhhhh” e muitas palmas. Nenhuma vaia, nenhum xingamento. O placar terminou em 1 a 1. Os seis "fiéis" torcedores, porém, nem perceberam o fim do duelo. A essa altura já se divertiam com um joguinho de dados, tradicional nas noitadas do país.
torcida china Guangzhou (Foto: Lydia Gismondi/Globoesporte.com)O bar de esporte não tem a camiseta do Guangzhou
na parede (Foto: Lydia Gismondi/Globoesporte.com)
Ainda que o alto investimento no futebol possa alavancar o futebol chinês de forma surpreendente, ainda há um enorme abismo entre os orientais e as principais potências do esporte. A cena descrita acima na partida entre os líderes do campeonato chinês Guangzhou Evergrande e Beijing Guoan, por exemplo, jamais seria vista em um duelo entre Corinthians e Flamengo, atuais primeiro e segundo colocados na tabela do Brasileirão.
- A torcida é totalmente diferente. Não tem pressão. Nosso time leva em média 45 mil pessoas para o estádio. A gente nunca perdeu até agora, só empatou. Mas a gente pode jogar mal que eles não vaiam a gente. Eles aplaudem. O torcedor aqui enxerga o jogo de outra forma – avalia o brasileiro Muriqui, uma das estrelas do Evergrande.
estádo do Guangzhou Evergrande, na China (Foto: Lydia Gismondi / GLOBOESPORTE.COM)Em frente ao estádio do Guangzhou Evergrande, o tênis de mesa é que faz sucesso. O esporte com a bolinha menor ainda é muito mais popular entre os chineses (Foto: Lydia Gismondi / GLOBOESPORTE.COM)
Dentro de campo o contraste é ainda mais evidente. Enquanto no Brasil e em outros países de destaque no futebol, o foco é sempre atacar, fazer o gol, os chineses se preocupam mais com a defesa. Na goleada de 7 a 1 sofrida pelo Guangzhou Evergrande em duelo contra o Real Madrid, no início deste mês, a enorme diferença entre o futebol ocidental e o oriental ficou clara, mesmo com o melhor time da China reforçado por craques estrangeiros.
- O jogo é muito mais rápido do que no Brasil. No Brasil, é bem mais cadenciado. Eles batem mais também. A prioridade deles é defender e, se der, fazer um golzinho. Se empatar, para eles está bom. Os times quando vão jogar contra a gente, por exemplo, ficam todos lá atrás. Sem vergonha nenhuma. E, com 15 minutos do segundo tempo, começa a dar câimbra nos caras – contou Muriqui.
cristiano ronaldo amistoso real madrid Guangzhou Evergrande' (Foto: Agência Reuters)Cristiano Ronaldo deixou os chineses atordoados
na goleada por 7 a 1 (Foto: Agência Reuters)
Além de Muriqui, os brasileiros Obina, Cléo e Paulão e o argentino Conca foram contratados recentemente para atuar no futebol chinês. Logo quando chegaram, o que mais impressionou os jogadores foi a diferença no ritmo de treino.
- Eles treinam forte, mas jogam pouco. Tem poucos jogos no ano. Uma hora meia, duas horas por dia, mas é um treino muito forte. No Brasil, com um jogo na semana, você treina um ou dois dias em dois períodos e, depois, a carga vai diminuindo. O mais forte é o coletivo. Aqui, se a gente joga no domingo, treina forte até sexta-feira – destacou Muriqui.
Último e mais badalado reforço do Guangzhou, Conca também concorda que o jogo dos orientais é mais corrido. O ídolo do Fluminense, no entanto, acredita que o futebol chinês está em evolução.

- Mesmo com bola eles dão muito ritmo no treino, querem chegar rápido no gol. Mas eles estão melhorando cada vez mais. Agora, está bem mais parecido. Nosso time tem alguns jogadores que estão na seleção, tem dois ou três que estiveram na Europa - ressalta o craque argentino, contratado pelo time chinês por cerca de R$ 15 milhões, com um salário de quase R$ 2 milhões por mês.
 

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