quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Brasil Afora: bem na 'D', Cianorte é o Leão que assustou Timão de Tevez

Chamado de 'time de costureiros' em 2005, clube paranaense foi celebridade instantânea' após vencer estrelado Corinthians de 2005, na Copa do Brasil

Por Gabriel Hamilko Curitiba
Dá para dizer que o Leão do Vale ainda é filhote, mas já assustou um gigante. Com oito anos de existência, o Cianorte tem, pelo menos, uma grande história para contar. A equipe, que acabou de conseguir avançar às oitavas de final na Série D, se transformou em celebridade quando surpreendeu o Brasil vencendo por 3 a 0 o poderoso Timão deTevez, Mascherano, Roger, Carlos Alberto & Cia., na Copa do Brasil de 2005, deixando louca a torcida da pequena cidade de quase 70 mil habitantes.
Em 9 de março daquele ano, o Leão do Vale se tornou uma “celebridade instantânea”, quando, com apenas dois anos, disputava a sua primeira competição nacional. Na primeira fase passou pelo Cene (MS), e logo na próxima "esquina" encontrou o Corinthians, que estreava um elenco sob o comando do argentino Daniel Passarela. Chamado de "time de costureiros", pelo fato de a cidade ser considerada a capital do vestuário, o Cianorte entrou mordido com a brincadeira e venceu a primeira partida por 3 a 0. Depois, acabou eliminado no jogo de volta por 5 a 1, mas se orgulha do momento de "alta-costura" nos gramados.
Seis anos se passaram do Cianorte que aprontou com o Timão para os tempos atuais. Nem só de passado vive o clube, que comemorou no último fim de semana a classificação para a segunda fase do Brasileirão da Série D. A equipe joga a primeira partida neste domingo, em Cianorte, contra o Oeste Paulista, pelas oitavas de final. Resultado que a diretoria entende como o desdobramento de um trabalho organizado e iniciado no Campeonato Paranaense, quando o time foi campeão do interior.
cianorte jogadores corrente (Foto: Andye Iore/Cianorte)A corrrente antes dos jogos, prática comum do time do Cianorte (Foto: Andye Iore/site oficial do Cianorte)
- Entendo que a boa fase do Cianorte está associada à administração profissional do clube e também à manutenção do plantel - explicou o atual diretor do clube, Adir Kist. Em 2005, ele era o goleiro e um dos destaques daquele time que aprontou para cima do Timão.
Agora, da melhor equipe do interior paranaense, o Leão conseguiu manter a maior parte, perdendo apenas o atacante Giancarlo e o zagueiro Brinner. Os dois foram para o Paraná Clube disputar a Série B do Brasileirão. Entre os substitutos, Willians já é o artilheiro da equipe, com quatro gols, e um novo líder se destaca com a camisa 10: o meia Felipe Pinto, considerado o organizador do time dentro de campo. Pelo Grupo A8, o Cianorte terminou em segundo lugar, com 14 pontos ganhos. Foram quatro vitórias, dois empates e duas derrotas.
cianorte jogo (Foto: Andye Iore/Cianorte)Time do interior paranaense já está nas oitavas da
Série D (Foto: Andye Iore/site oficial do Cianorte)
Os planos do Cianorte não param na Série D. A diretoria acredita ser possível o acesso para a Série C em 2012 e, de lá, projetar em dois anos um novo acesso para chegar à Série B e figurar entre os principais times do país.
- Nossas metas são a longo prazo e, passo a passo, vamos obter os êxitos.
Time de costureiros?
Certamente, aquele feito de 2005 é usado para servir de inspiração. Adir Kist conta que nenhum integrante na época esperava um resultado tão elástico no primeiro jogo. Enquanto toda a expectativa nacional era de que o Corinthians se classificasse na primeira partida (segundo a regra do campeonato, o time visitante que vence por dois gols de diferença elimina o jogo de volta), o Leão do Vale, além de obrigar a partida em São Paulo, preocupou o Timão, que precisava inverter uma vantagem de três gols, fato inédito até então na Copa do Brasil.
Kist conta que o menosprezo, tanto por parte do Corinthians como da crítica nacional, ajudou a motivar o elenco cianortense. Como a cidade de Cianorte é conhecida como a capital do vestuário, por ser um dos maiores centros atacadistas do Brasil, Adir lembrou que o elenco ficou bastante chateado com as brincadeiras ouvidas país afora de que o time era formado por costureiros. Isso serviu como combustível para a equipe.
- Lógico que tivemos méritos, mas houve um pouco de subestimação por parte do Corintihians. Ouvimos comentários dizendo que o Cianorte era um time de costureiros, de cidade pequena. Não procuraram saber sobre o nosso futebol.
Tevez do Corinthians contra o Cianorte em 2005 (Foto: Gazeta Press)Corinthians de Tevez & Cia. levou susto do Cianorte em 2005 na Copa do Brasil (Foto: Gazeta Press)
Kist lembrou que, quando o Cianorte abriu o placar, sentiu o adversário pouco preocupado. Achava que, pela superioridade técnica, poderia mudar o resultado a qualquer momento.
- Só quando perceberam que já estava três a zero tentaram correr atrás e se desesperaram, pois a nossa equipe marcava muito bem e não deu espaço para o bom time deles.
2ª fase: da Rua Augusta ao indigno rótulo de ‘vacilão’
Adir Kist, gerente de futebol do Cianorte (Foto: Divulgação / Cianorte)Adir Kist, gerente de futebol do Cianorte, foi o goleiro
no confronto com Timão (Foto: Divulgação / Cianorte)
Hoje em dia, como diretor de futebol, Adir Kist revela que mudaria muitas coisas na organização e logística do clube. Sem muitos recursos, a delegação não passou por bons momentos na capital paulista. Primeiro pela pressão e rivalidade exagerada criada pelos fiéis corintianos, que colocaram o adversário paranaense no mesmo nível de rivais como São Paulo e Palmeiras.
Segundo, pela falta de recursos que não permitiu dar um conforto ideal para os jogadores e comissão técnica. Kist lembra que o Cianorte ficou hospedado num hotel da Rua Augusta, exposto ao movimento diversificado do tradicional point paulista e sem organização na entrada.
A única coisa que não aceito, e que o Cianorte não merece, é o rótulo de que “entregou a partida” para o Corinthians "
Adir Kist
diretor de futebol do Cianorte
- Ficamos muito expostos. A imprensa fazia plantão no saguão do hotel, torcedores pressionavam. Na hora de ir para o estádio, o ônibus que contratamos não chegou e dividiram os atletas em vans. Alguns membros da comissão foram de táxi – reclamou o ex-goleiro, afirmando que o clube aprendeu muito com aquele episódio.
Por outro lado, “o sangue já tinha baixado” da vitória do primeiro jogo, até mesmo pelo grande intervalo entre as duas partidas: quase um mês depois.
- Passaram trinta dias do resultado daqui (no Paraná). A situação era diferente, o embalo da vitória já tinha passado. Foi difícil para a equipe suportar a pressão. A gente queria passar de fase, mas faltou experiência.
Como remanescente daquela equipe histórica, Adir declara que fica ressentido cada vez que ouve boatos de que o Cianorte “entregou” ou “vendeu” o jogo de volta.
Cianorte na série D (Foto: Divulgação / Cianorte)Diretoria acha que com elenco atual time consegue passar para Série C (Foto: Divulgação / Cianorte)
- Mesmo não passando de fase, nós temos um grande orgulho daquela partida. A única coisa que não aceito e que o Cianorte não merece é o rótulo de que “entregou a partida” para o Corinthians, através de uma combinação. Nós lutamos, mas faltou mais experiência para a gente administrar o resultado a favor.
Caio Júnior: cria do Cianorte
Quem comandava o recém-criado Cianorte do duelo com o Timão era Caio Júnior, atual técnico do Botafogo. Proveniente de Cascavel, o paranaense começou a sua carreira no Paraná Clube, em 2000, mas organizou o Leão do Vale de 2005, conquistando o título de “campeão do interior paranaense”, que deu direito a uma vaga na Copa do Brasil.
O carinho de Caio Júnior pelo clube do noroeste paranaense continua até os dias atuais. A prova foi dada no início deste ano. Mesmo comandando o Al-Gharafa, no Qatar, ele acompanhava o Cianorte e postou em seu twitter uma mensagem de apoio pela liderança momentânea do Campeonato Paranaense deste ano:
- Parabéns ao Cianorte pela liderança no Campeonato Paranaense. Clube sério e organizado – postou no dia 5 de fevereiro.
Elza, a torcedora oficial do Cianorte
Dona Neusa é torcedora do Cianorte e visita os atletas no vestiário, antes de cada jogo (Foto: Andye Iore / Divulgação)Antes de cada jogo, dona Elza visita os atletas no
vestiário (Foto: Andye Iore / Divulgação)
Com 74 anos recém-completados esta semana, dona Elza Bento Ramos é uma "figurinha carimbada" no clube. Todos a conhecem e a respeitam. A cada jogo do Leão do Vale em casa, a sua presença nos vestiários antes de começar a partida é uma espécie de talismã, que pelo menos na Série D está dando resultados.
- Por toda vida eu gostei de futebol. Conheço boa parte dos jogadores desde crianças e aprendi a ter um amor pelo clube e pelas pessoas - afirmou a fanática torcedora.
O conhecimento dela sobre o Cianorte é invejável. Conhece cada um dos atletas da base e acompanha o crescimento profissional dos pupilos.
- Sempre estou acompanhando o que acontece no Leãozinho (base do Cianorte). Vejo e dou carinho para vários jogadores desde que chegaram aqui no clube - disse Elza, listando Marcinho, Fabinho, Fernando e Danilo, que atua no Londrina.
Atualmente, a principal preocupação é com o jovem goleiro Marcelo, que se lesionou em um jogo-treino com o Cambé e perdeu a posição de titular para o veterano Colombo.
- O Marcelo é um goleiraço, está machucado. Mas tenho um carinho especial por todos eles.
cianorte jogo (Foto: Andye Iore/Cianorte)Campanha na primeira fase da Série D foi boa para o Cianorte, que terminou em segundo do Grupo A8, com, 14 pontos - quatro vitórias, dois empates e duas derrotas (Foto: Andye Iore/site oficial do Cianorte)
A assídua frequentadora do estádio Albino Turbay afirmou que todos no clube, de tão acostumados à sua frequente presença, estranham quando não está por lá.
- Quando eu não vou ao jogo, já se preocupam comigo, imaginando que estou doente ou com algum problema.
Confiante no sucesso do clube do Noroeste paranaense, dona Elza acredita que a próxima conquista do Cianorte será chegar à Série C, em 2012.
Uma curta história do Cianorte
O Cianorte é mais um clube de empresários do futebol brasileiro. Marco Franzato é dono de uma marca de roupas, sediada na cidade, e fundou o novo time em 2002, resgatando a tradicional equipe, extinta em 1993.
A ascensão do Leão do Vale foi rápida. Com um ano de existência, o Cianorte subiu para a elite do futebol paranaense e, em 2003, já conquistou o título de campeão do interior, após terminar o Paranaense em terceiro lugar, atrás do campeão Coritiba e do vice Atlético-PR.
Com o feito, conquistou a oportunidade de disputar a Copa do Brasil de 2005, quando conseguiu o memorável resultado de 3 a 0 sobre o Corinthians.
Desde 2003, o Cianorte jamais caiu da Primeira Divisão do estado. Alternando bons e médios resultados, neste ano conquistou, novamente, o título do interior (veja o vídeo ao lado). De leva, granhou o direito de disputar a Série D do Brasileirão.

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