quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Após acidente, Stacy conclui: 'A vida não pode ser só o voleibol'

Líbero americana que teve traumatismo crânio-encefálico já treina quase diariamente, mas admite ter um pouco de dificuldade para enxergar a bola

Por SporTV.com Anaheim, Estados Unidos
O ônibus que levava Stacy Sykora e todo o time do Vôlei Futuro para o primeiro jogo das semifinais da Superliga, em Osasco, tombou no dia 12 de abril. Outras jogadoras se machucaram, mas somente americana ficou ferida com gravidade. A líbero teve um corte na cabeça e traumatismo crânio-encefálico. E o primeiro prognóstico dos médicos era de 90 dias de internação.
A recuperação surpreendeu os médicos. Em apenas 15 dias, a jogadora estava bem. Quase sete meses depois, ela treina diariamente na cidade de Anaheim (Califórnia), casa da seleção do vôlei nos Estados Unidos. Em entrevista ao SporTV, falou sobre a saudade que tem de Araçatuba, da comida caseira da cidade do interior paulista, das companheiras... mas admitiu que ainda não está completamente recuperada. A visão ainda apresenta problemas e não a deixa jogar vôlei como antigamente.
- Hoje, depois do acidente, passei a saber que a realidade é que a vida não pode ser só o voleibol. E, para mim, 99% da minha vida é voleibol. E agora, 1% da minha vida não é voleibol. Costumava ser 100% - disse Stacy.
Confira alguns trechos da entrevista:
O acidente
- Para mim, eu ouço sobre isso, ouvi falar do que aconteceu. Para mim, não preciso saber. Eu acabei sabendo de tudo depois. Sei de tudo o que sei agora. Não tenho nada de negativo na memória, nada de ruim, nada ruim. Eu sei que, quando tive o acidente, deveria ter ficado realmente triste, chateada ou algo assim, mas só tenho na minha memória o Vôlei Futuro, de como cuidaram de mim. Eles realmente cuidaram de mim. E todos os meus bons amigos, como a Ana Flávia, que é minha empresária, pessoas que me deram apoio e cuidaram de mim. Algumas noites, quando me sento no meu quarto e sorrio e paro para pensar... Uau, eu estava em coma! Minha mãe me viu andar pela primeira vez e disse: "Uau"! Para mim, é como... Eu não posso acreditar em como aconteceu porque para mim tudo está normal, me sinto tão normal. Tudo é normal: andar, falar, tudo... Para mim é louco pensar em tudo o que aconteceu".
Stacy Sykora recebe alta no hospital (Foto: Mariana Maziero / Globoesporte.com)Stacy Sykora após receber alta do hospital, em maio (Foto: Mariana Maziero / Globoesporte.com)
Consequências para a prática do vôlei
Perco a bola do campo de visão algumas vezes"
Stacy
- O maior problema é a visão. Fui a um oftalmologista. Tenho ido toda semana, desde o acidente. Ele falou que é chamado "tracking" em inglês. É como quando você vê algo como isso (mexe com as mãos juntas) com os seus olhos e eu vejo como isso (mexe as mãos separadamente) com os meus. Então, meu "tracking" está fora. Isso faz com que algumas vezes eu não consiga ver a bola claramente. Perco a bola do campo de visão algumas vezes. É o que estou tentando melhorar. É normal acontecer com vítimas de lesões cerebrais, mas está bem melhor agora".
Londres 2012
- Antes (Londres 2012) era tudo o que eu pensava. Hoje, depois do acidente, passei a saber que a realidade de que a vida não pode ser só o voleibol. Tem sido sempre voleibol para mim. E, para mim, 99% da minha vida é voleibol. E agora, 1% da minha vida não é voleibol. Costumava ser 100%. Então, para mim é ainda meu sonho, meu objetivo, o que eu quero. A única coisa na minha lista de prioridades é (disputar) os Jogos de Londres. É tudo o que eu quero na vida, tudo o que eu quero".
.A única coisa na minha lista de prioridades é (disputar) os Jogos de Londres. É tudo o que eu quero na vida"
Stacy
Saudades e agradecimentos
- Mal posso esperar para voltar ao Brasil, mal posso esperar para mostrar a todos que estou bem. Para abraçar meu presidente, Basílio, Marcela... Eu mal posso esperar por meu time, o Vôlei Futuro. Para mostrar a eles. A última vez que eles me viram, não me lembro. Não me lembro. E eu quero me lembrar desta vez. Mal posso esperar pelo Vôlei Futuro, meu time, e reencontrar as pessoas que cozinhavam para mim, da cozinha, e de dizer a elas: "Oi"! ... Em Araçatuba, as pessoas que me deram apoio. Eu nunca posso dizer adeus, nunca posso dizer adeus. Mal posso esperar para dizer obrigado. É simplesmente uma parte da minha vida para qual eu não posso dizer adeus ou virar a página desse capítulo do meu livro. Eu nunca virei essa página, é só uma parada. Mal posso esperar para ver o time, as garotas, minhas irmãs também, eu realmente gosto dessas garotas. Mal posso esperar para voltar, pegar Araçatuba nos meus braços e abraçar".

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